domingo, 10 de janeiro de 2010

Novos neurônios, música barroca e mais aprendizagens: renovação da vida


Início de ano. Matrículas. Aquisição de material escolar. Impostos. Faxinas. Revisão. Restaurações. Promessas. Desejos. Caminhos. Novas aprendizagens. Revitalização. Desafios. Medos. Enfrentamentos. Resiliências. Renascimentos. Novos amores. Renovação de promessas.

Parênteses. Estou a completar neste ano com o meu esposo 30 anos de casados. Daqui a alguns dias. Quantas emoções passamos juntos. Nossas filhas estão com 28 e 26 anos de idade. E eu continuo amando as crianças.

Algumas crianças começam a ingressar na escola. Pré-adolescentes iniciam a segunda etapa do ensino fundamental. Jovens encaram o desafio do ensino médio. Outros procuram ver a profissão que mais se identificam e preocupam-se com os aspectos motivacionais. Adultos encaram a primeira pós-graduação. Quantos a concluir etapas de estudos.

E quantos estão à margem desses sonhos. E nós educadores devemos nos preocupar com os alunos que não aprendem o que a escola deseja. E o que eles querem aprender? Que sonhos se esvaem e por quais são substituídos? Chega de ilusões à base de drogas psicotrópicas. Há muito por fazer.


Todo certificado/titulação vale a pena quando percebemos resultados que minimizam este estado de coisas. Todo mundo é capaz de aprender! Quais as determinações? O conhecimento pode tornar verdadeiro muitos saberes e tornar possíveis os sonhos. E tudo começa com a nossa sensibilidade e a nossa sensibilização. Os sentimentos abrem caminhos. Há ligação com o sagrado. A vida é sagrada!

Interesses e novidades nos relacionam à vida. O hipocampo é uma região do cérebro fortemente ligada à memória, à aprendizagem humana e bem ali também ocorre a neurogênese, ou seja, o crescimento de novos neurônios.

Nós temos dois hemisférios cerebrais e o temperamento das pessoas tem relação direta com a predominância de um desses hemisférios. Quem tem o lado esquerdo mais desenvolvido tem tendência a usar de forma adequada a lógica, possui habilidades para planejar e organizar suas ações. É o nosso lado mais intuitivo. Ser introspectivo, amoroso, delicado e mais racional. As pessoas que usam mais o lado direito do cérebro possuem habilidades para analisar esquemas e técnicas em oratórias, pois, esse lado é responsável pela imaginação criativa, a serenidade, a capacidade de síntese, a facilidade de memorizar.

A música altera a atividade das ondas cerebrais assim como o ritmo respiratório provoca um estado psicofísico de concentração relaxada, ajudando-nos a aprender melhor. O Dr. Norio Owaki durante 10 anos identificou pautas sonoras que geram ondas cerebrais alfa, batem como um pulso humano (60 compassos por minuto), são movimentos lentos, largos barrocos, como os mantras.

O ser humano distrai-se com muita facilidade. Com a mente mais alerta, Bach, Vivaldi, Handel embalam a superaprendizagem. A música é como uma massagem que alivia a tensão do trabalho mental intenso, ajuda a centrar a atenção para dentro, em vez de escapar para fora. É o relaxamento aprendente.

A escola deve estimular a linguagem falada, desenhada, cantada, dramatizada e escrita de forma a criar um clima mais afetivo com a presença de cor, de música, de cheiros, de interações e jogos que desenvolvem as capacidades cognitivas e memórias futuras. Somos mais seres emocionais do que seres cognitivos (JENSEN, 2002).

Todo ser humano possui habilidade para expandir e aumentar sua própria aprendizagem. Apreciando, escutando e respeitando o Outro mobiliza a capacidade de crescer e aprender e aproveita-se mais o potencial da aprendizagem.

A escrita começa bem antes da criança entrar na fase escolar. E "a leitura e a escrita deve ser algo de que a criança necessite", pois, a "escrita é uma atividade cultural complexa" (VYGOTSKY, 1988, p.133). E esse desejo deve permanecer até suas pretensões/conclusões/ressignificações.

- O que eu quero ser quando crescer? (quais as influências ou inculcações? e os contrapontos ou dialogias?). Como o meu pai, diz a criança, outras querem ser bombeiro, polícia e há quem queira ser ladrão. Minhas alunas ficaram "perplexas" quando veio à tona na locução de uma criança de 1a. série. Por quê? Oras! Seus desenhos eram convites às nossas leituras. Sua escrita, seus dizeres, podem ser um alerta para nós... A fala modela a maior parte da vida interior, e isso inclui o desenho (VYGOTSKY, 1988, p.127).

Nota-se que quando "uma criança libera seus repositórios de memória através do desenho, ela o faz à maneira da fala, contando uma história", nesta outra passagem Vygotsky (p.127) nos faz repensar a narrativa como significativa à compreensão da escrita. É a alma, o espírito da criança que flui. A escrita é o nosso instrumento de comunicação, interlocução, interação, de encontro ou desconstruções.

As pessoas, em geral, tem pressa para que as crianças escrevam, entretanto, aprender antes não significa aprender melhor. É preciso saber ouvir as crianças, ler com elas seus dizeres. As atividades corporais são como a escrita no ar e "os signos escritos são, frequentemente, simples gestos que foram fixados" (op. cit., p. 121). Os riscos e rabiscos das crianças, inicialmente, tendem a ser mais gestos do que desenhos, pois "quando ela tem de desenhar o ato de pular, sua mão começa a fazer movimentos indicativos do pular o que acaba aparecendo no papel"(p. 122). Os jogos fazem um elo entre os gestos e a linguagem escrita, segundo Vygotsky, "o mais importante é a utilização de alguns objetos como brinquedos e a possibilidade de executar, com eles, um gesto representativo. Essa é a chave para toda a função simbólica do brinquedo das crianças” (id.).

Quantas descobertas nos fazem as releituras diante de novos contextos. Obrigada hipocampo! É a sacralidade da vida. As crianças de todos os tempos nos fazem renascer sempre. A corporeidade do Outro, e a nossa em particular, contam-nos múltiplas estórias, transpiram símbolos e aventuras míticas e vamos redescobrindo o horizonte multicolorido da inteireza humana. Há uma ligação entre os gestos e a escrita pictórica. A escrita pictórica é a primeira forma de comunicação humana com o mundo. A deusa-mãe do alfabeto.

As crianças usam a dramatização, demonstrando por gestos o que elas deveriam mostrar nos desenhos. Para falar sobre corrida, seus dedos galgam primeiro a folha do papel, depois vem os rabiscos. Esses são rudimentos da escrita?

A emoção move a vida. Move o papel. Move a comunicação. "O que torna um lugar sagrado é a nossa maneira de andar nele" (LELOUP, 1998). É a nossa maneira de ler e respeitar o outro.


Referências
JENSEN, Eric. O cérebro, a bioquímica e as aprendizagens: um guia para pais e educadores. Lisboa: Ed. Asa, 2002.
LELOUP, Jean-Yves. O corpo e seus símbolos. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
___. Cuidar do ser. Petrópolis: Vozes, 1997.
MATURANA, Humberto. Cognição, ciência e vida cotidiana. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001.
VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

7 comentários:

  1. Oi Maria, parabéns pelo aniversário de casamento! Bem sei como é uma construção diária, assim como o é a tarefa de educar, que mobiliza disposição para constante transformação. Um beijo, lindo ano de vida-trabalho para você querida. Já te disse, mas repito, seu texto é tão próximo, tão bom de ler. Carinho.

    ResponderExcluir
  2. Maravilha de postagem, Rocio. Parabéns, mais uma vez!
    A educadora que há em ti está sempre estimulando o educador/a que há em nós.
    Ah! Quando puder passe no NIED para damos um jeito nessa barra lateral que está um tanto estreita.
    E obrigado pela visita e comentário na postagem sobre o aniversário de Belém.
    Amazônicamente, Franz

    ResponderExcluir
  3. Nossa, você não imagina o quanto esse assunto me interessa. Se você puder me indicar alguns livros...
    Lendo o seu post lembrei um pouco da minha infância. Eu sou filha de professores, e como apanhei porque não era a primeira aluna da sala. Surras e surras homéricas. Minha mãe, que dava nó em pingo d'água dentro de sala de aula, era considerada a melhor professora, não conseguia enxergar que não podia fazer de mim aquilo que ela foi.
    Foram anos e anos de terror psicológico e pancadas.
    Nossa, como apanhei, amiga.

    ResponderExcluir
  4. Oi Rocio!
    Muito bacana a postagem! Nunca sabemos o suficiente para essa nossa missão de educar.Nossos alunos são únicos, cada um com sua história, sua personalidade... Abração!

    ResponderExcluir
  5. Franz, Adrianne e Marli,
    Reverências mil às presenças de vocês aqui, me fazem muito feliz pois sempre aprendo com vocês por lá também. O maravilhoso dessa rede de amizade é a multiplicidade e complementariedade de nossos discursos, são vozes a agradecer as oportunidades de aprendências, co-autorias em pontos, contrapontos e resignificações.
    Que tenhamos uma boa semana neste início de ano que faz o Planeta Chorar e as pessoas se olhar mais...

    ResponderExcluir
  6. Querida Silvana,
    Seu depoimento faz parte da nossa narrativa sociohistórica, um país que esteve por muito tempo submisso fez de nós competidores, cartesianos pensando que éramos folhas em branco, sequer desconfiávamos das possiblidades das construções polifônicas do conhecimento, hoje aprendemos noções de MULTIRREFERENCIALIDADE e AUTORREFERENCIALIDADE necessárias ao processo ensino-aprendizagem, pertencentes às co-autorias, somos capazes de aprender e consultar nossas memórias e afetividades, sentimentos e sonhos. Identidades, criatividade, cooperação-interdependência à serviço de nossa humanidade e pertença. Somos Gaia!
    Luria é um bom nome para conhecermos mais sobre a escrita das crianças de 3-4 anos. Ou seja, é a pré-história da nossa linguagem escrita, no faz-de-conta o potencial acende, a capacidade de pensar já deixa suas marcas interativas.... Há uma variedade de livros sobre desenho das crianças. Diga o que quer e podemos conversar mais.
    Um abração!
    Maria do Rocio

    ResponderExcluir
  7. Lindo momento. Maravilha de post. Hum... parabéns pelos 30 anos de casamento, não é toda hora que encontramos um casal com tanto tempo de união - coisa muito rara nos dias de hoje.
    FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... deseja um bom final de semana.
    Saudações Florestais !

    ResponderExcluir