terça-feira, 23 de agosto de 2011

Do simbolismo de 2ª. ordem ao simbolismo de 1ª. ordem: produção de sentidos é a referência


Saussure e Vygotsky falam sobre a relação entre significado (conceito da palavra) e significante (código: som + letra). Porém Vygotsky nos esclarece que a linguagem escrita é de início um simbolismo de segunda ordem no processo discursivo, nas formas de comunicação, nas trocas... Primeiro vem a sensação, o desejo, o sentimento, a vontade, o envolvimento, o gesto, a mímica, a brincadeira, o jogo, e tudo assim é natural. Quando aparece a exigência de aprender e decifrar exige compreender o que o outro diz, exige apropriação do código, da técnica que permeia, às vezes de forma exaustiva, cansativa... É a aprendizagem escolar.

A necessidade de aprender faz o sujeito enfrentar as barreiras do código e vislumbrar o sentido, para isso a função social sobrevem, os estilos mostram novas possibilidades, os gêneros fazem a tarefa ser prazerosa, e a inteligência alia-se ao prazer, e vice-e-versa, a diferença está no mediador, no intérprete da língua, na forma como o ensinante se tornou leitor também.

Assim o simbolismo de segunda ordem se transforma em simbolismo de primeira ordem. Pelo prazer e capacidade de reinventar a palavra, o texto, o contexto, o pretexto, o subtexto e deixar textualizar-se na própria escrita e seus enigmas, permeando-se na estilística e na regra, na força do pensamento e da linguagem.

Brincando com as palavras, a relação significado e significante, e reinventando a palavra, ou seja, atribuindo sentido ao dito/ouvido, ou seja, o social interage com o individual a exigir compreensão mútua, e se reconhece a palavra como fundamental no processo comunicativo e discursivo, Ruth Rocha nos premia com o seu Marcelo, Marmelo, Martelo:

E Marcelo continuou pensando: ‘Pois é, está tudo errado! Bola é bola, porque é redonda. Mas bolo nem sempre é redondo. E por que será que a bola não é a mulher do bolo? E bule? E belo? E bala? Eu acho que as coisas deviam ter nome mais apropriado. Cadeira, por exemplo. Devia chamar sentador, não cadeira, que não quer dizer nada. E travesseiro? Devia chamar cabeceiro, lógico! Também, agora, eu só vou falar assim... [e o que aconteceu depois a Marcelo?]

Nessa compreensão é fundamental entender que Vygotsky nos ensina a pensar e a relacionar sobre o processo de internalização que se reconstrói no processo subjetivo a partir de situações intersubjetivas, ou seja, segundo Oliveira (1992, p. 80):


"A passagem do nível interpsicológico para o nível intrapsicológico envolve, assim, relações interpessoais densas, mediadas simbolicamente, e não trocas mecânicas limitadas a um patamar puramente intelectual. (...) A questão de formação da consciência e a questão da constituição da subjetividade a partir de situações de intersubjetividade nos remetem à mediação simbólica e, consequentemente, à importância da linguagem no desenvolvimento psicológico do homem".


"Cada macaco no seu galho"
O Outro é importante no processo das aprendizagens. Por isso não podemos dizer que a alfabetização é um processo natural, por necessitar a mediação de signos e através do mediador - ensinante leitor, que tem gosto de ler - que sabe bem contagiar, seduzir ou desafiar o outro em estratégias didáticas próprias do ensino. Aos poucos, o simbolismo de segunda ordem vira simbolismo de primeira ordem.


Ensinar é um deleite desafiador, inquietante, único em cada processo mediador!

Vygotsky relaciona dois planos: o interior (semântico e significativo) e o exterior (fonético) na construção da fala social e na escrita significativa/representativa. Juntos, o interior e o exterior, formam uma verdadeira unidade, cada qual possui leis próprias e apresenta movimento independente.

Saussure fala em estrutura, do valor linguístico da palavra; Vygotsky em desenvolvimento, enfatiza, desvenda que os significados das palavras se transformam com o tempo, com o uso, com a colocação da palavra no seu conjunto. Um valoriza a unidade estrutural e o outro a unidade de sentido. Ambos valorizam a cultura do sujeito porque somos constituídos pela linguagem que conhecemos.

Alfabetizar é saber unir com graça e harmonia código e produção de sentidos, mediados pela linguagem de nossa gente e de outras gentes, assim vamos desenvolvendo e recriando a linguagem através de nossas interações e discursos.

Referências
OLIVEIRA, Marta Kohl. O problema da afetividade em Vygotsky. In: La Taille, Y., Dantas, H., Oliveira, M. K. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
Rocha, Ruth. Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias. 43 ed. Rio de Janeiro: Salamandra, 1976.

2 comentários:

  1. Olá,

    Seu blog está cada vez mais interessante, tanto pelo conteúdo quando pela estética.

    Aproveito para manifestar meu agradecimento por sua gentileza de indicar meu nome para participar da XV Feira do Livro.

    Agradeço de coração.

    Marcelo Carvalho

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  2. Oi Marcelo!

    Fico feliz mesmo que o convite tenha chegado até você! Com certeza vai me representar melhor ainda. Desejo muito sucesso, e depois conta-nos como foi no teu blog, o papo-cabeça com a juventude via ser maravilhoso!

    Procuro harmonizar o blog na temática que mais gosto de aprender e me desenvolver com outros aprendentes como Você!

    Abraços Afetuosos!

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