O terror silencioso. A violência velada. Um mundo à parte. A desigualdade entre iguais. Os personagens do bullying na escola escolhem a sala de aula para melhor atuar à revelia do adulto simbólico. Aliás, a maioria dos atos de bullying ocorre fora da visão dos adultos. Subjacentes aos planos didáticos, as brincadeiras se disfarçam e ali definem as vítimas típicas, as vítimas provocadoras, as vítimas agressoras sob comando de seu predador, o agressor típico. É próprio da idade, e assim, brincadeiras aparentemente inocentes assumem, aos poucos, consequências morais e psicológicas graves.
A violência não é somente física. Criam-se situações onde o indivíduo sofre o que Bourdieu chama de "violência simbólica", cuja manifestação entre estudantes faz com que suas vítimas se sintam inferiorizadas, humilhadas constantemente seja por questões de raça ou gênero, com isso, afetam sua auto-estima e também por isso prejudicam não só seu desempenho escolar mas a forma de viver a vida e se relacionar com o diferente. Para ele, essas manifestações "nada mais são que a manifestação visível dos efeitos permanentes das contradições da instituição escolar e da violência de uma espécie absolutamente nova que a escola pratica sobre aqueles que não são feitos para ela".
Fiquei a pensar sobre o encontro desse ecossistema característico e os projetos pedagógicos. A forma de tratamento, as palavras no conjunto da turma, os dizeres expressivos, os olhares silenciosos, as folhas em branco... Deparei-me com alguns sentimentos dos alunos na pesquisa que estou desenvolvendo na escola e do tipo: "eu não vô fala", "sou negro", "sou gay", "sou "thuana do setor", sou 157... Medo de uns e ousadias de outros. Os personagens dessa tragédia oculta se fazem presente e de forma segura situam-se no anonimato da pesquisa. Ficamos assustados diante de suas escritas, quem não fica?
Procurei algo que representasse as lacunas em branco deixadas por alguns desses personagens característicos, silenciosos, suscetíveis, perdidos em meio a tantos discursos, gestos e olhares entrecortados. Inverno rigoroso? Primavera sem pássaros? Pássaros sem asas. E de repente olhei para o ecossistema da escola e vi ali o verde do uniforme a ganhar tons acinzentados. É o verde-cinza!
Nessa associação do verde-cinza cheguei aos florais de Bach e deparei-me com a flor de aspen e a sua descrição promete a cura silenciosa de Bach. O verde desbotado de Aspen representa o medo silencioso das vítimas de bullying ressignificado. É a beleza do cinza no verde vinda da sabedoria, do húmus, do conhecimento, da cromoterapia...
Bela definição do medo típico de Aspen, em desequilíbrio, uma essência descoberta por Edward Bach, em 1935: "Tenho um pressentimento de que algo terrível vai ocorrer. Algo terrível vai bater à minha porta. À noite eu acordo apavorado. Algo me acomete de repente nos lugares mais estranhos e improváveis. Estou conversando com meus amigos em uma festa e de repente um medo pavoroso toma conta de mim. Eu não consigo definir o que se passa comigo. Sofro de calafrios, de suores noturnos. A consciência de minha mortalidade me invade diante da enormidade do universo como se eu fosse uma partícula de pó. É tão estranho o que eu sinto que não ouso discutir o assunto com ninguém" (Mariza Helena Ribeiro Facci Ruiz)
Aspen é um floral representativo da jornada do herói, "aquele que sai pelo mundo, passando por obstáculo e perigos em busca de um prêmio outro senão que o resgate de sua própria alma. Para resgatá-la precisará munir-se de coragem e audácia. Deverá facear a morte e percebê-la como um dos lados da mesma moeda, nada amedrontador em definitivo, mas a possibilidade de crescer e transformar-se. Um mergulhar nas águas do inconsciente não para deixar que elas nos submerjam, mas para fluir com elas, com muita alegria pelos caminhos que nos cabem e pelos quais nossa alma ansiou". (Ruiz)
Atividades de relaxamento ajudam não só a respiração como propiciam abertura para o nível intuitivo, facilitando fluência e criatividade, além de tornar o clima escolar mais pacífico e de qualidade. As melodias da natureza ou músicas instrumentais ajudam a aliviar tensões físicas. Tanto quanto os jogos pedagógicos que estimulem o compartilhar e ressignificam o competir. O alunado pode ilustrar ideias que ocorreram nas atividades de relaxamento ou vivências dos jogos pedagógicos.
INDAGAÇÃO
Na morta biosfera
o fantasma do pássaro
inquiriu
ao fantasma da árvore
(que não lhe respondeu):
A Primavera já era
ou ainda não nasceu?
Carlos Drummond de Andrade – 1978
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