Não que se queiram imputar a existência da violência em crianças e jovens que frequentam as escolas públicas, mas, é o que se percebe quando a estatística e a mídia levantam sobre a realidade de números e fatos cotidianos. E não só em escola pública. A cada dia nos assombramos com a existência de novas práticas que estampam os jornais e telejornais materializando a presença da geração atual agonizando a violência entre si ou aliciada por adultos.
O que aprendemos em nossa formação de professores e pedagogos? O que as cartilhas sobre Bullying nos ensinam na prática que se interdisciplinariza com a Vida e o cotidiano, ou seja, também perpassa, se modifica e se enreda nos saberes dos alunos? Regras de convivência, de fazer melhor, de discursar o tema que lhes é tão dolorido, de assistir outras realidades em filmes... De se escancarar o Sistema Febem, os números dos Conselhos Tutelares, dos CRAS, de noticiários sanguinolentos, ou mesmo de ouvir sobre relatos mais próximos... Mas, o que os alunos querem? Silenciar o tema ou apagar da memória, se possível, a realidade desassistida.
Carteiras quebradas, paredes riscadas, banheiros sujos, latas de lixos vazias, chãos sujos, copos ou pratos de merenda largados no recreio, plantas arrancadas ou pisadas, volumes de livros de ocorrências se apinhando e desvelando choros, soluços, ironias, vinganças, faltas, lacunas, abandonos, maus-tratos, fomes, ausências, abusos e silêncios nas salas de técnicos pedagógicos. O encaminhamento diante das mazelas sociais desassistidas é o de repassar aos órgãos disciplinadores competentes as realidades que atrapalham a práxis pedagógica.
- Qual é a função da escola?
Essas crianças e jovens parecem nos dizer que querem aprender. É a esperança da família depositada na escola e decantada a eles. A escola continua promovendo as aprendizagens, e as não-aprendizagens como vem sendo trabalhadas? Qual é o perfil de aluno que aprende e obtém melhor desempenho nas escolas? O de boa família ou o da bolsa-família? E as bolsas de estudos e as premiações, quem promove e quem as recebe? Quem recebe elogios, abraços, chamegos, atenção, palavras de estímulo? Qual é o mérito? Qual a dignidade?
Assim se faz necessário pelo que venho lendo nas produções de diferentes alunos, fazermos revisão de nossa práxis. A visão cartesiana da educação, capitalista ou neoliberal, vê lugar no mundo do trabalho e das boas famílias os melhores alunos e no submundo os alunos que não conseguiram aprender nos “bancos escolares”, porque ali na escola é lugar de alunos de famílias onde se tem afetos, cuidados e valores aprovados, santificados e justificados. Discurso moral, moralizante ou amedrontador consegue promover as não-aprendizagens e evitar a formação de futuros marginais?
Os alunos após palestras, conversas, releituras de filmes e livros de literatura parecem querer dizer do que costumam ou mesmo gostariam de ouvir e ver como válido, mas, há aqueles que se fazem fruir e preencher de versos os encantos que guardam em seus ouvidos e corações, ou mesmo admitem a realidade que lhes confronta ou perturba no cotidiano e nos perguntam como adultos e senhores de conhecimento: o que podem fazer para além das lições ou sermões?
Desafio de escrever na cartilha da escola as experiências recolocadas daqueles que testemunham ou são alvos de seus cotidianos que integram os sistemas governamentais de nossas relações escolares e interdependentes, a partir do percebido nas múltiplas linguagens do alunado.
Buscamos ouvir os alunos em turmas de ensino fundamental I, II e ensino médio a fim de pensar junto a eles os caminhos que precisamos trilhar e propor como projeto as ações que nos ensinam a saber pensar, fazer e aprender com seus protagonismos. Desafios, desconstruções, dificuldades, perspectivas são tantas e necessárias nesse processo.
O que a nossa formação é capaz de aprender a dialogar com seus pensamentos estará fazendo parte desse percurso continuado das aprendizagens, porém, se mistura com a vontade de fazer a partir da forma de saber ouvir os silenciadores que aplacam as dores de falar, insinuar e definir a violência que assola a realidade das escolas brasileiras neste aqui, mas, que nos percebemos a partir de nossa escola e por intermédio de nosso alunado os riscos de dizer e reunir mais conhecimentos que nos fundamentem no alento de realizar e pelo menos descruzar nossos braços. Se o erro para nós é como fonte de virtude então não se pode retroceder. Chega de lavar as mãos. Coragem de nos assumir frágeis no percurso e refletir juntos diante de um erro faz parte de quem quer aprender fazendo. Sabemos que são eles, os alunos, capazes de nos apontar o caminho a pensar e a fazer.
O que a política tem a ver como o nosso projeto pedagógico? Tudo. E por isso chamamos de projeto político pedagógico. As definições que chegamos e vamos complementar precisam se consolidar em ações. Por enquanto a ação de ouvir se configura como levantamento da realidade vivida e percebida em nossas práxis, com o diagnóstico desta fase podemos apontar caminhos a discutir com alunos a melhor forma de percorremos juntos as trilhas de nossa escola.
Questiona-se também sobre o que os políticos sabem e colocam em suas pautas quando dizem nas campanhas ou assistem jornais a respeito da violência nas escolas? Chega de conceber o Bullying, é preciso ressignificar, e principalmente, com urgência, através de medidas e subsídios que nos ajudem a modificar essa realidade que há tempo nos assola, desencontra e causa tanta maresia, como marujos de primeira viagem, paradoxalmente, navegando há mais tempo por mares tão revoltos.
Educadores e escolas não podem ser reféns de um sistema, pois, nele estão reunindo saberes adquiridos no processo curricular da vida, na formação universitária ou continuada, com diálogos entre si e a realidade da escola. O cotidiano dessa escola teoriza saberes que atravessam realidades, conhecimentos e Vidas. E vamos por ali, aqui e acolá nos formando na complexidade desses saberes.
Espero não estar sendo repetitiva, mas persistente, como ainda me falta sistematizar as produções de alunos do ensino médio reavaliando o contexto que ali desnudam junto a outros, estarei em breve reescrevendo o conjunto desse primeiro estágio visto por três ângulos diferentes das linguagens mediadoras, no aguardo também da aplicação de questionário de perguntas objetivas que preserva a identidade do sujeito, marca somente o gênero, a idade e a turma que nos ajuda nas diferentes compreensões ou intervenções no âmbito escolar.
- O que você pode nos contar e ensinar a respeito de realidades, projetos ou sonhos?
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