segunda-feira, 21 de março de 2011

BBB fascina nativos digitais: tecnologia humana e contraponto pedagógico

Brincadeiras. Coisas de crianças ou jovens. Tornam-se cada vez mais sérias. Por que estamos assim hoje? O fio se alonga na história... A internet hoje é um espaço por excelência da exploração da identidade, além de ser um meio de socialização. Cada vez mais adolescentes aderem às redes sociais a fim de difundir cotidianos e sonhar melhor. Torna-se urgente a revisão de segurança, acompanhamento de educadores e atitudes de formação/informação. Maus-tratos atravessam a rede, cotidianos e os sonhos.


Chega a ser perversa a resistência pedagógica contra a cegueira de que o fenômeno bullying existe, persiste, como se torna banal, também, a queixa da indisciplina, da evasão, da retenção escolar, da pobreza, da situação da escola pública. Trivialidades na pauta das justificativas que permeiam diferentes estágios do período letivo a emperrar o trabalho ou o desenvolvimento pedagógico. Qual é a proposta?

Informação e prevenção se fazem necessárias no interior da escola. Assim como atitudes pedagógicas inteligentes, humanas e solidárias. Tolerância e ações cordatas a favor das alegrias culturais e escolares. Adjetivações pejorativas, omissões ou descasos, são atitudes que tornam a escola refém da violência escolar, por isso nada inteligentes. É preciso fazer a diferença na ação pedagógica.

Movimento contra maus-tratos presenciais ou virtuais requer compromisso ético daqueles que imediatamente se relacionam com estudantes, logo se considera como ação preventiva, a conscientização da família e de toda comunidade escolar. Cuidar das aprendizagens.

Se a tecnologia humaniza, a escola discute contraponto ético pedagógico. Boa lógica a exigir bons argumentos da comunidade escolar que empunha a bandeira da promoção da leitura como fonte de prazer e de conhecimento. É a leitura em suas interfaces pedagógicas e tecnológicas. O desafio da linguagem neste século é diminuir a distância entre nativos e imigrantes. E o desafio docente é ter nascido imigrante e tornar-se nativo.

Nativos digitais refere-se à nova geração que nasceu respirando tecnologia, logo após os anos 80, diferente da maioria dos adultos de hoje, que somos imigrantes digitais, sejamos pais ou mães, tios ou avós, professores ou professoras, amigos solidários, espectadores ou pacificadores.

Conscientização chama atitude, trabalho pedagógico sério e urgente até porque se espalham “os maus-tratos virtuais [que] são modalidades novas, bem mais requintadas do que as utilizadas no passado. As ferramentas disponíveis na internet, especialmente o Orkut, as minicâmeras fotográficas, os celulares com câmeras fotográficas e filmadoras, possibilitam aos praticantes o anonimato, uma vez que sua identidade e imagem não são expostas” (Fante; Pedra, 2008, p.63-4). Qual a motivação dos maus-tratos?

Como testemunhos de maus-tratos recebidos e recentes é o caso do adolescente de 15 anos que revidou a agressão de outro estudante (Richard Gale), de 12 anos, no pátio da escola. Vale a pena parar para assistir a entrevista e conhecer a história de Casey Heynes, repensar atitudes pedagógicas de informação e prevenção como fortalecimento de projetos inteligentes e solidários. Campanhas anti-bullying merecem atenção mundial.

A irmã de Casey foi responsável pelo ganho de sua auto-estima contra constantes agressões, intimidações e assédios sofridos frequentemente há três anos e desde pequeno quando estava no 2o. ano do Ensino Fundamental. O pai não tinha ideia do sofrimento do filho. E a história do agressor, qual é? A dor da batida no tornozelo ou o arranhão no joelho ajudarão no processo de cura? Conhece alguém como Richard Gale? Depois da repercussão, em sua defesa, afirma ter sido agredido antes. Sua própria mãe disse que ninguém deveria se machucar mais com a história e que Richard irá pedir perdão a Casey.



Todos necessitamos amar. Quem cuida do agressor?
Poucos que protagonizam a “vítima típica” do bullying escolar conseguem dar a volta por cima, como os casos resilientes do presidente Barack Obama, Steve Spielberg, Rubem Alves, ou de mulheres famosas como Kate Middleton, a noiva do príncipe William, Britney Spears, Demi Lovato, a cantora Madonna, ou ainda de poucas identidades anônimas, como era o menino australiano Casey.

Bullying é o terror silencioso ou exacerbado, persistente ou ignorado. Histórias de muita submissão e rebeldia são reflexos do fracasso da escola (Patto, 1999) porque ganham força no interior da escola, nas relações de colegas sob olhar pedagógico, cuja omissão ou cegueira pode favorecer, mesmo sem querer, a própria violência que realimenta manchetes e páginas cotidianas de sangue dos jornais.

É preciso reencantar a educação (Assmann, 1996; 1998). Gostar de ler e escrever ou sofrer para aprender é a questão incorporada nas pedagogias que aproximam ou afastam alunos das aprendizagens escolares, mas, também os desafetos não percebidos nos ambientes da escola. O não gostar pode ser orientado pela sensibilidade educadora em sutilezas didáticas. Segundo Pedro Demo: "professor não é quem dá aula, mas sim quem sabe fazer o aluno aprender".

Inteligências mobilizam e elaboram projetos contra repetência, evasão, abandono e refletem as mudanças de escola e residência ou migração constante de localidades, bairros ou municípios. Esperanças de um mundo mais humano e melhor para todos podem ser materializadas e servir de exemplo na mídia daqui a pouco.


Termino aqui com uma reflexão para nós que estamos na escola. Segundo um entrevistado: "Casey é a fantasia de vingança para qualquer garoto que já sofreu bully". A escola suspendeu imediatamente os dois: a vítima e o agressor. Tolerância zero a lutas. E o conselho de Casey para tantos outros que sofrem do mesmo mal é: "foque nos dias bons e mantenha o queixo erguido. A escola não irá durar para sempre". Pelo que parece a escola está mesmo desacreditada para tantas crianças do mundo todo.


Para conhecer mais sobre os sentimentos de Richard Gale, acesse entrevista aqui, para pensar mais sobre a pessoa daquele que protagoniza o papel de agressor nessa fase da história. Penso que eles terão sim um final feliz.


Como se medeia as famílias e seus sentimentos?
O que atravessa toda essa gente que nos enovela?

Referências
ASSMANN, Hugo. Metáforas novas para reencantar a educação: epistemologia e didática. Piracicaba: Unimep, 1996.
____. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. Petrópolis: Vozes, 1998.
DEMO, Pedro. Saber pensar. São Paulo: Cortez, 2000.
____. Outro professor: alunos podem aprender bem com professores que aprendem bem. Jundiaí, SP: Paco Editorial, 2011.
FANTE, Cleo; PEDRA, José Augusto. Bullying escolar: perguntas e respostas. Porto Alegre: Artmed, 2008.
PATTO, Maria Helena Souza. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.

5 comentários:

  1. Oi, Maria

    Os primeiros passos já foram dados. Identificar as atitudes que caracterizam o bullying, bem como os personagens que fazem parte dele.

    Como nada na vida docente é fácil, surgiu o cyberbullying. Muito do que acontece no mundo virtual é reflexo do que acontece na vida de cada um e, nesse caso, o agressor pode continuar atacando a sua vítima.

    O que a escola pode fazer nesse caso? Acredito que o papel da escola, em primeiro lugar, é reduzir o bullying e cuidar do restabelecimento dessas crianças, tanto do agressor quanto da vítima. Provavelmente, se não houver bullying no ambiente escolar, não há motivos para que apareça nas redes sociais. Sei que não é tão simples assim, mas é como vejo a situação. Como disse antes, um dos primeiros passos.

    Quanto aos professores (imigrantes digitais), acho que devem sair da zona de conforto o mais rápido possível e conhecer como funcionam as redes sociais. É o único meio que vejo para que sejam capazes de orientar os jovens sobre a utilização adequada das novas mídias. Não dá pra falar com propriedade sobre algo que não dominamos ou mesmo vivenciamos.

    A internet é um lugar maravilhoso, onde podemos aprender de tudo. Dia desses, alguém falou que o Google é prejudicial ao aprendizado, pois é só digitar um termo que aparecem milhões de resultados. Pode ser. Ainda assim, o aluno tem que saber filtrar o que realmente é relevante. Isso é, a pesquisa é infinitamente mais rápida do que antes, mas o trabalho de seleção é maior.

    Não é o Twitter, o Facebook, o Orkut etc. que "imbecilizam" as pessoas. Ao contrário, são as pessoas que não fazem mau uso das ferramentas.

    Mais um texto excelente!

    Um forte abraço =)

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  2. Pois é, Max!

    Por que as mídias fascinam tanto, chamam seus leitores e aguçam o poder criador? Os nativos planejam ações, traçam estratégias, fazem mix ou remix, combinam ideias e tecnologias, pesquisam em outras fontes... Assim quantos e tantos itens de interrogação ocupam nosso questionamento e nos levam a pensar se eles são ou não criativos, críticos, habilidosos...

    Sim, mas, e daí qual o nosso movimento para responder e por que queremos saber? Conhecer a motivação do leitor virtual e escolar vai ajudar em quê? Pontos e contrapontos... As contradições incomodam?

    - Qual é o problema? Dificuldade de lidar com a realidade e desejo de que nada disso exista? Então podemos cair no que você diz: precisamos sair da zona de conforto e estudar bem mais. Somos nós os imigrantes digitais a aprender com a tecnologia as novas formas de atrair, de fazer, de bricolar, de comunicar, de rir, de pensar mais...

    Seduções colam. Leitura-prazer. Leitura-conhecimento. A sedução fisgada do leitor.

    E a ética? O bullying grita na escola também, o cyberbullying é sua extensão.

    Usar a agressividade e reconstruí-la em aprendizagem é combinar a pulsão que aproxima aprendizagem e criatividade e traz satisfação ao aprendente. A psicopedagoga Alicia Fernandéz (2001) nos orienta nesse re-olhar, até porque, "a agressividade faz parte do impulso de conhecer, de possuir o objeto do conhecimento, de dominá-lo e por isso está a serviço da autoria do pensamento. A agressão dificulta a possibilidade de pensar e aprender e pode estar a serviço da destruição do pensamento".

    A sua contribuição faz a pauta mais rica e por isso fomenta boas e novas discussões.

    Outro forte abraço!

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  3. A referência da citação acima:
    Fernández, Alicia. A mulher escondida na professora: uma leitura psicopedagógica do ser mulher, da corporalidade e da aprendizagem. 2a. reimp. Porto Alegre: Artmed, 2001. (Cap. 8: A agressividade e a aprendizagem, p.119-141)

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  4. Olá, Maria! tudo bom? Muito obrigado pela visita ao meu blogue (De desenhos & livros).Agradeço o comentário. Foi proveitoso ver que tenha encontrado aquela entrevista com o aluno australiano, legendado e no youtube. Vou aproveitar para encrementar a minha postagem com este vídeo!

    Adorei os temas abordados no seu espaço, repletos artigos motivadores e de profundo humanismo. Acredito que se pudermos usar o blogue para conscientizar e incentivar valores humanos, já estaremos transformando muita coisa.

    Participo de um grupo voluntário,que atende escolas estaduais, passando oficinas como arte educador.

    Caso precise da tirinha do Bullying, sinta-se à vontade em usar, tudo bem? Abração!

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  5. Olá Nanuka!
    Como fico feliz com a tua visita aqui também e com seu comentário carinhoso e prestativo.
    Adoro arte-educadores pela forma como redesenham a vida em sua forma de ler o mundo e nos encantar diante de tantas mazelas, desesperanças, sonhos, encontros, novas caminhadas, passos atrás e outros adiantes, assim vamos...
    Continuarei por lá aprendendo com Você!
    Seja bem-vindo ao Aprendências!
    Outro Abração!

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