sábado, 7 de julho de 2012

Literatura Infantil ou para Crianças: ler é mais importante que estudar


A Chapeuzinho sem medo do Lobo, no olhar de Ziraldo e
na escrita de Chico Buarque, em "Chapeuzinho Amarelo".
A criança educada em liberdade deve aprender a não temer,
segundo Emílio de Rousseau (escrito em 1762). "Aquele
que melhor souber suportar os bens e os males desta vida é,
para mim, o mais bem educado" (Rousseau, 2004, p.15) .

Assim entendo.
Não que eu não goste da palavra infância.
Mas, prefiro dizer que é Literatura para Crianças.

Literatura Infantil
Literatura para Crianças
Leitura para Crianças
Ler para Crianças
Ler para Sofia
Ler por com Ela.

Sua visão de mundo através do livro e do livro na tela do computador. E Aprender com a sua forma de Aprender, é o que tem me encantado nos últimos meses, e desde que minha neta Sofia nasceu.

O livro na prateleira fascina. E a imagem da capa do livro na tela do computador a faz vibrar. Encanta-se nas duas e com as duas possibilidades.

Onde tiver dois é uma questão de múltiplos, ou seja, dois é a base de todos os múltiplos. Múltiplas leituras. Duas pessoas. E o adulto aqui aprende com a criança ali, lá e em todo lugar ou tempo.

O vocábulo "infantil" tem uma origem triste. Antes a criança nascia em pecado, precisava ser boa, era má. Depois se pensou que era um adulto infantil, bastante imperfeito. Sem direito à fala, o adulto falava e ela reproduzia, copiava, a inteligência do adulto a calava.

Infância – vem do Latim infantia, formado por in, negativo, mais fari, falar – não fala; infante – não falante. Criança não fala. Afinal, o que tem a falar? O que tem a dizer? Tem talvez a muito ouvir... Uma folha em branco, triste, pálida. O infante aprende para depois ter o que dizer.

A criança não fala? Talvez ela não seja ouvida...

Literatura para Criança. Ler com a Criança. Criar com Ela. Reinventar-se nela. Assim estou nas aprendências atuais. A criança deve expressar seu simbolismo e, portanto, a ação deve estar sendo semiotizada (representada), em nossas relações.

Os sistemas vivos se auto-organizam por processos que envolvem todas as partes, formas altamente complexas que são capazes de, neste movimento de manter e produzir vida, conservar sua capacidade autopoiética, nosso corpo é múltiplo pela autopoieses*, virtualidades e limites, tão cheio de diálogos, adaptações, mudanças e outras possibilidades nos entremeios. Viva a Vida em nós que se renova sempre!

- Toda criança nasce boa? Bem, em Emílio (1762; 2004, p.91), o educador filósofo Rousseau nos diz que "a natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens".

Criança - vem do Latim creare, "produzir, erguer - CRIAR", também se relaciona a crescere, "crescer, aumentar", do Indo-Europeu ker- "crescer".

A criança, que pensa, fala e cria, fortalece nosso conceito de corpo-sujeito e bem diferente do corpo-objeto, que se constitui em uma sociedade capitalista, como a nossa... Sofia e Eu somos corpos-parceiros nessas aprendizagens mútuas.

A maior dificuldade do homem moderno é o seu desconhecimento do conhecer,
segundo Maturana e Varela (1997), este é um dos motivos que ratifica a minha necessidade constante
de aprender sobre o como se aprende, para ajudar outras pessoas a também aprender.
A educação dos filhos e filhas, e dos filhos e filhas destes, é uma Arte, não uma ciência fechada...
Jess (Joshua Ryan Hutcherson)
em "Ponte para Terabítia".
"Feche os olhos, mas, deixe a mente aberta", segundo a garota Leslie Burke para seu amigo Jess Aaarons, ambos com 11 anos, no filme "A ponte para Terabítia" (2006).


* autopoiese é a capacidade de reagir de todo ser vivo. A autopoiese humana significa uma complexificação da capacidade de reordenar seus componentes em uma nova organização.


Referências
- BRUHNS, Heloisa Turini. O corpo parceiro e o corpo adversário. 2 ed. Campinas: Papirus, 1999.
- MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco Garcia. De máquinas e seres vivos: autopoiese, a organiação do vivo. 3 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
- ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou Da educação. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
- Sobre o filme, veja algumas cenas aqui: http://babiesdream.wordpress.com/2011/12/30/meu-vicio-12/

2 comentários:

  1. Parabéns, pelo texto riquíssimo em reflexões e que contribui para indicar caminhos para reconstrução de conceitos e opiniões acerca de como a criança aprende a ler na infância. Gostei mt de sua defesa pela preferência da expressão literatura para crianças (ao invés de literatura infantil), baseada na etimologia da palavra infância.
    Excelente trabalho!

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  2. Aos colegas virtuais e leitores deste espaço,

    Por falar de vivências, aprendi a escrever teorizando a própria práxis da delícia de saber aprender com alunos de todas as idades e gêneros, e mais particularmente, com as crianças, objeto de meus estudos como psicopedagoga e orientadora educacional, aqui vai uma excelente lição dos pequeninos blogueiros sobre aqueles que preferem viver no anonimato, vem de uma mineirinha de 12 anos, acessem por aqui: http://meninacute-s2.blogspot.com.br/2012/01/como-lidar-com-anonimos.html.

    Abraços Afetuosos!

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