sábado, 4 de agosto de 2012

Portfólio ou Sanfona Didática: o tempo das aprendizagens

Análise do grafismo da criança pelas professoras de Educação Infantil
A formação do educador "não se constrói por acumulação (de cursos, conhecimentos, ou técnicas), mas sim, mediante um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de reconstrução permanente de uma identidade pessoal" (Nóvoa, 1995, p.25).

Propus às professoras avaliarem o grafismo dos alunos e apreciarem o desenho das crianças de 3 a 6 anos. Durante duas semanas e meia do mês de julho houve a "Colônia de Férias", em nossa escola. Após o tempo com as crianças, diariamente, ficamos outro tempo conversando sobre as formas de ver e interpretar o que elas inscrevem no papel. Uma delícia, assim avaliamos ao final. As professoras e monitoras ficaram impressionadas com a descrição do perfil que eu mesma fiz ao avaliar, logo de início, desenho a desenho das crianças, coincidindo com o comportamento delas.

Ao final, elas começam a perceber e entender alguns sinais gráficos, mas, também manifestam desejo de ler as referências sobre o desenho das crianças, indiquei a bibliografia para saber mais. A teorização das práticas pedagógicas dão aos docentes à autonomia de compreender melhor o processo de construção do conhecimento e as aprendizagens das crianças.

Compreendemos, no movimento das aprendizagens, que "o saber da experiência é fator preponderante na formação que acontece na reflexividade das práticas [até porque] é no contexto da escola que o docente constrói a sua profissão" (Nóvoa, 1995, p. 25). Esta é a nossa responsabilidade como pedagogos, quando atuamos na função coordenadora ou na direção de uma escola, fazer acontecer a formação continuada.


Sanfona Pedagógica: organização cronológica do tempo das aprendizagens
A proposta de análise do grafismo segue-se pela construção de sanfonas pedagógicas, ou seja, sanfona como portfólios, de forma a organizar o trabalho das crianças em ordem cronológica, observando a direcionalidade dos traços ou a predominância desses mesmos traços inscritos nas folhas e representações. Há crianças que desenham girando a folha e outras preferem a folha na vertical, em forma de retrato, ou na horizontal, em forma de paisagem. A professora precisa anotar a data e a atividade desenvolvida, atrás da folha, ou anexar um papel colante no verso da folha com as observações necessárias.

A sanfona serve como instrumento para documentar as aprendizagens e a construção do conhecimento, assim como:

- entender sobre sequência didática, roteiro pedagógico e questionamentos reconstrutivos;
- repensar planejamento de aula, semanal, mensal ou por semestre;
- identificar a qualidade do ensino-aprendizagem mediante avaliação do desempenho docente e discente;
- ajudar alunos ou familiares a desenvolver a habilidade de avaliar seu próprio trabalho e desempenho;
- instaurar o diálogo com as crianças individualmente;
- conhecer melhor a função mediadora da avaliação da aprendizagem;
- explicar a natureza do trabalho realizado e o tipo de desenvolvimento que cada atividade possibilitou;
- os educadores melhoram sua habilidade de avaliar os alunos;
- os alunos melhoram sua habilidade de desenhar, comunicar ideias e interagir com o Outro.

É importante construir diferentes sanfonas para cada projeto ou plano semanal, por exemplo. Este material sobretudo facilita o diálogo com a família em reuniões pedagógicas. Cada sanfona pode ser guardada apresentando objetivo ou justificativa do trabalho, incluindo texto redigido pelo aluno com criatividade, ou ilustração que sintetize toda a ideia de cada projeto. Como, por exemplo, este se relaciona ao "Eu no mundo" a partir das próprias referências do alunado.

A maior parte dos desenhos da sanfona foram feitas no dia posterior à atividade, como forma de também observar que a memória é a base da aprendizagem, além de perceber a relação signo (entendido como aquilo que representa algo pra alguém) - significado (a parte material do signo) - significante (a parte conceitual do signo) no processo de construção do conhecimento. Por exemplo, a palavra "ônibus" ouvida na história e o signo que se tatua nas experiências do aluno, que faz com que recrie as cenas, o significado ele busca traduzir em seu desenho, na composição gráfica, mas, o significante é a forma desenhada em si, do próprio objeto, a coisa em si, ou a palavra escrita, fora do contexto da frase.

"Cada macaco no seu galho", o significado da palavra macaco, neste dito, ultrapassa a simples visão do animal. Como aqui se desenha este significante: o ma-ca-co?

A maioria dos desenhos foram feitos na folha livre, o da ilustração aconteceu após o conto da Chapeuzinho Vermelho. As professoras circundaram um balão de fala e colocaram a questão: "O que aconteceu com a vovozinha?", para as crianças responderem e desenharem.

Muitas ideias e memórias registraram a audição do conto clássico. Interessante observar esse registro feito por um aluno de 5 anos. Nele está a casa, da vovó, circundada por traçados coloridos de verde (a mata), azul (o rio) ou preto (sem vida = conceito de fauve = fera) que originam do começo do balão...

Relembrando a questão da fala do lobo, em uma das versões, que fala a Chapeuzinho indicando os dois caminhos: o das agulhas (mais longo) e o dos alfinetes (mais curto), mas, inverte sua indicação. E ele segue pelo caminho dos alfinetes. Falei para as professoras o forte indicativo de que o caminho pintado de preto é do lobo e o caminho colorido (verde e azul) e longo parece ser o da Chapeuzinho Vermelho. Foi a minha percepção e elas consideraram concordaram com esta percepção/interpretação.

Para saber melhor precisamos ouvir a criança. Enfim, cada desenho nos faz encompridar a conversa. Que delícia de aprendizagem vamos trocando a cada desenho e no conjunto de cada sanfona.

Referência
NÓVOA, Antônio (Org.). Os professores e sua formação. 3 ed. Lisboa: Dom Quixote, 1997.

Um comentário:

  1. Vamos ao que realmente interessa?Impossível não lembrar da fantástica experiência que tivemos no CEFI(Centro Educacional Fundação IBIFAM)escola inovadora de período integral na qual eu como consultora de RH,tive o prazer de selecionar equipe multidisciplinar da mais alta competência,dentre todos você,coordenadora e professora de Educação Ambiental,que me deu o prazer de aprender com e de você o melhor!Contratada como psicóloga escolar e educacional,ou seja educadora e especialista que sou em Educação Pela Universidade de Ribeirão Preto,vivenciamos a prática do que foi tão bem exposto acima.Precisamos ouvir melhor a criança!Uma vez chamada para diagnosticar um aluno que compulsivamente desenhava uma árvore cheia de frutos e um apenas caindo,ao ouvi-lo em escuta amorosa pude entender que representava seus irmãos na mãe grávida ,cujo caçula estava por nascer,o fruto caindo!Simples assim!Deus capacita os escolhidos e você é uma delas,siga em frente não deixe que nenhuma estrela cadente(ou será decadente?)ofusque o seu brilho!Que Deus te abençoe,ilumine,dê sabedoria e te livre de todo o mal!Beijos&abraços terapêuticos,

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