sábado, 28 de maio de 2011

Ninguém é igual a ninguém: bullying em rede de desassossegos pedagógicos

Sensibilizar e conscientizar - dois infinitivos em situações singulares e contínuas. Desconstruir preconceitos é permanente tarefa do educador comprometido em construir práticas que previnam, minimizem ou solucionem situações  bullying percebidas no ambiente da escola.
Ninguém é igual a ninguém: o lúdico no conhecimento do ser,
de Regina Otero e Regina Rennó, Ed. do Brasil, 1994.
A linguagem favorece e estimula os processos de formação intersubjetiva da consciência e representação de mundo. O processo de apropriação cultural, plural ou situado, exerce o papel de mediador da linguagem. Por isso o valor do projeto de “Sala de Leitura” de nossa escola está no potencializar a construção da leitura de mundo relacionada ao prazer de ler, em descobrir coisas novas, valorizar imaginários, ideias e aproximar pessoas.

A novidade pode estar no saber conectar memórias, religar sentimentos e vivenciar emoções pela palavra. O novo e a memória podem assim ressignificar o cotidiano. Aí o valor da releitura coopera na formação do pensamento, na produção de narrativas, no fomento das múltiplas relações, comparativas, aproximadas ou contraditórias, conversas ou discursos escritos e imagéticos, de falas, livros, jornais, revistas ou textos, impressos ou virtuais.

O professor é um criador de ambientes de aprendizagem, parceiro e colaborador no processo de construção do conhecimento. Cada criança é capaz de construir a sua versão individual e subjetiva de sentidos, reinventando signos culturais. A palavra e a imagem ressignificam o todo dinâmico, fluido e complexo. Na primeira fase do ensino fundamental, o cotidiano revisitado e o processo de conscientização re-ligam professores e alunado e suas vivências dialógicas.

Ler para (trans)formar pensamentos, objetivo que ajuda a repensar o tema e o problema da violência, tomando como referência os relatórios de 2010 apresentados pelas professoras da Sala de Leitura. É preciso mudar a forma de pensar e agir até porque, segundo Fernando Pessoa, “a violência, seja qual for, foi sempre uma forma esbugalhada de estupidez humana. (...) Impotente para dominar e reformar a sua própria atitude para com a vida, que é tudo, ou o seu próprio ser, que é quase tudo, o homem foge para querer modificar os outros e o mundo externo. (...) Combater é não ser capaz de combater-se. (...) O homem de sensibilidade justa e reta razão, se se acha preocupado com o mal e a injustiça do mundo, busca naturalmente emendá-la, primeiro, naquilo em que ela mais perto se manifesta; e encontrará isso em seu próprio ser. Levar-lhe-á essa obra toda a vida. Tudo para nós está em nosso conceito do mundo(Fernando Pessoa, como Bernardo Soares, em “Reformar é não ter emenda possível”. In: “O livro do desassossego”).

As crianças gostam de apelidar umas às outras por uma característica que marca a pessoa, porém, a pessoa pode também sofrer na pele o embaraço de ser apelidada. Pouco a pouco, o desenvolvimento moral vai permeando as relações.

Sobre situações de bullying é preciso: (a) criar estratégias de mediação de conflitos, identificação, análise e resolução de problemas comuns e nas crises; (b) incentivar ajuda entre iguais onde colegas atuam como conselheiros do outro conversando nas dificuldades; (c) aplicar estratégias para desenvolver assertividade que reforcem a autoestima das vítimas e para que se defendam dos agressores; (d) investir em estratégias de desenvolvimento da empatia para agressores, buscando restabelecer a sensibilidade emocional dos estudantes.

De acordo com Fante (2005), podemos propor para que cada grupo ou turma de alunos elabore o seu estatuto de como solucionar os problemas apontados na diagnose inicial. E no caso da nossa escola foi realizada no semestre anterior. Grupos operativos podem começar a conversar sobre algumas das questões respondidas no questionário, por exemplo: “Se cada um de vocês se sentiu maltratado ou agredido por algum(a) colega(a) da escola, imaginar o que aconteceu com você e com que freqüência ocorreu”. Podem surgir questões de ameaças, brincadeiras de mau gosto que constrangem ou chateiam, apelidos que incomodam, objetos retirados do outro, agressões físicas, acusações injustas, preconceitos, abandonos, chantagens diversas, exclusão de colegas das brincadeiras e que provocam reações diversas. O bom é que juntos podem se ajudar e fortalecer a amizade.

Os slides abaixo trazem releituras do livro “Ninguém é igual a ninguém”, de Regina Otero e Regina Rennó, realizadas por alunos e alunas do 4º. ano relacionando vivências na escola, na rua ou em casa:


Algumas representações acabam sendo curiosas como, por exemplo, o cabelo de borboleta, cujo repertório criador vale-se de elementos externos para exemplificar a “metáfora” do apelido.
Os desenhos trazem realismos intelectuais e visuais. Segundo Luquet (1979, p. 9): “o desenho pode em certo sentido ser considerado como um processo que permite representar objetos, tanto pelo conhecimento que temos dele ou pela maneira como o conhecemos, como pela aparência que oferecem aos nossos olhos”.

O realismo intelectual traz a transparência dos objetos representados e a noção de rebatimento, noção primeira da profundidade, demonstra conflito na representação.
Realismo intelectual, transparência e rebatimento no telhado e nas dimensões da casa.
No estágio do realismo visual, ao contrário, a criança reproduz o objeto do jeito que ela vê, relacionando tamanho e distância.
Realismo visual, sem transparência, mas, o volume ainda não foi percebido/representado
Referências
FANTE, Cléo. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. São Paulo: Verus, 2005.
LUQUET, G. H. O desenho infantil. Trad. Maria Teresa Gonçalves de Azevedo. Porto: Livraria Civilização, 1979.

Construtores de Pontes: os limiares de experiências na escola

O mundo entra na gente se estamos abertos para ele. Baseio-me em Nietzsche para compreender as expressões humanas, quando retira todos os recursos da linguagem para dizer o que ela recobre: o corpo, a realidade, as marcas do caminho. Estamos nus ou enuviados. A pulsão criativa reinventa a linguagem e as expressões. A criança, a nossa semente, acentua suas aprendizagens reinventando os modos de dizer. Ela constrói sua identidade se identificando ou se estranhando com o ambiente. A linguagem primeira do corpo é o gesto, após domínio inconsciente do próprio corpo, e a linguagem primeira da escrita é o desenho. Gesto e desenho se relacionam. O corpo é subutilizado ou é conceituado nas expressões humanas.

A construção do conhecimento e as influências constantes do meio marcam as relações aprendentes. As formas de observar a atuação e o desempenho facilitam e aperfeiçoam o modo de capturar, acompanhar e interpretar o processo longitudinal das aprendizagens. O processo educacional é construído através do estabelecimento de relações entre as pessoas aprendentes, mediatizadas pelo mundo.

A linguagem se traduz nos movimentos corporais, referências dos gestos, acenos, falares, dizeres e suas representações. A linguagem sinestésica é básica de compreensão e tece a trama viva das interrelações, muitas vezes invisíveis ao olhar hierárquico da cultura visual e auditiva. Os canais corporais de percepção tátil, olfativa, palatal são menos observáveis. Costumo exemplificar quando escrevo nas costas do colega com o dedo indicador uma letra qualquer ou uma forma geométrica e peço que ele reproduza no papel a mensagem recebida. A informação corresponde às percepções sentidas pelo toque. Como fomos ou somos tocados pelo(s) outro(s)? Memórias evocadas nos dizeres e suas interpretações recriam-se.

Essa forma de dizer/interpretar ajuda muito o surdocego a realizar sua leitura de mundo e nós a entender como se aprende a interagir e a ler o ambiente através do corpo. Somos muito mais visuais que auditivos. Mas sem a base corporal nada podemos comunicar. Por vezes sentimo-nos confusos diante de quem não enxerga ou não ouve. Algumas pessoas evitam se relacionar com cegos e surdos. Pior ainda com surdocegos. Além das sensoriais, outras sentem dificuldades de lidar com as deficiências mentais. E as psicológicas ou sociais?

Com o conhecimento, aos poucos pré-conceitos são derrubados. Múltiplas linguagens incorporam-se às experiências educativas. Este salto de dimensão consegue instituir relações complexas de reciprocidade e cooperação, desenvolvendo simultaneamente múltiplos canais de comunicação e interação humana. O olhar sobre o outro deve admitir a condição de também ser olhado pelo outro. As pessoas estão aí.

O corpo fala. O desenho revela. As palavras indicam. A linguagem se multiplica com a palavra impressa. As imagens ilustram sentimentos mais que a palavra escrita. As formas comunicacionais orientam dizeres através dos diferentes sentires e suas percepções. A escola privilegiou por um bom tempo somente a palavra escrita.

Depois que se aprendia a ler, o desenhar rareava. O prazer se restringia. Mente inquieta ou desocupada desenhava para não atrapalhar quem escrevia. Na escola, havia quem terminasse cedo para desenhar. Linguagem imagética desprivilegiada. Bonito, lindo, capriche mais, vistos que desencantam, esgotam o desenho.

Por que as pessoas preferem ler mais fotos, desenhos, filmes onde há mais figurinhas do que a palavra escrita? As palavras na net diminuem. Mini-blog ganha destaque. Menos palavras e maior poder de comunicação. Palavras-chaves.

Corpos ambientes. Leitura de mundo. Aprendizagem escolar. Combinam? A aprendizagem situada ganha destaque. É mais significativa às pessoas. Compõem o cotidiano da leitura de mundo. Mediar é saber religá-la às outras culturas. Evocar processos interativos.

A criança sente o papel. O papel é como se fosse sua pele. Por ali impressões táteis se configuram e se traduzem, os movimentos ganham formas e contornam ideias. A pressão do papel é algo fisiológico. Revela emoções. A raiva é energia pesada no papel, a pressão do lápis fere, fura o papel... O medo indica desproteção, movimentos tremidos, hesitantes, apagados, duplos... A timidez se recua num canto da folha. O lápis fere, desliza, sinaliza... Borracha oculta incertezas. Marcas a tatuar a pele ou a folha do desenho.

Gestos. Desenhos. Comunicação primeira. Imagens atraem. Somos visuais. As palavras sintetizam dizeres. Leituras e releituras. Fluências ou profusões. Interlocutores. Culturas. Hábitos. Significados. Concepções relacionam ou discriminam.

Educar as emoções. Educação moral. Ética relacional. Educação ambiental. Culturas entrelaçadas. Valores ressignificados. Formação ou punição. Integração ou segregação. Educação ou reeducação. Criatividade ou coerção. Pulsão ou repulsão. Expressões coibidas. Aplicação ou desvio. O contexto e o fim. Educação é fim. O social é relação, é meio que permeia e influencia. A influência é política. A mídia é relacional e política. Inteligências mobilizam cultura e sentimento, emoções comunicacionais, estilos e tendências.


A professora ou o professor aprende a se relacionar com as aprendizagens e o não-aprender na práxis escolar. A vida na escola vai nos tornando cada vez mais humanos. O locus das aprendizagens valorizam o ensino. Os pássaros ensinantes são capazes de construir em comum um locus de aprendizagem capaz de tornar os aprendizes pássaros sábios e felizes. Diante da violência que se estampa nas escolas e nas intertelas da comunicação integrada redesenhamos juntos os pássaros da paz.

sábado, 21 de maio de 2011

Menina bonita do laço de fita: retratos e os encantos da diferença

Ana Maria Machado e Claudius conseguem bem relacionar discurso e imagem, articular conceito de beleza, consciência negra e respeito às diferenças, em “A menina bonita do laço de fita”. E os alunos e as alunas do quinto ano se animam no projeto da Sala de Leitura de nossa escola, a conversar e a representar significados.
Nos desenhos do alunado. As emoções texturizadas. Os toques expressivos. Expressão fauve. Estilos próprios. Grandezas afetivas. Conduta de mira. Sem linha de base. Inclusão de novos objetos. Traços leves e ligeiros. Traço interativo. Signos e enigmas. Discurso interativo. Discurso narrativo. Bom enquadramento. A menina caiu na tinta. Sei não. É café. É jabuticaba. É feijoada. Não, é a arte de uma avó preta!

Alunos e alunas reescreveram o texto e fizeram a releitura das imagens, até mesmo aqueles que mais sentiam dificuldades de lidar com a palavra escrita, reconstruíram sequência, reorganizaram discursos, balões vazios, balões transbordantes, ensaios de perspectivas, linguagem não-verbal cheia de bossa, pitadas de humor, problemas com soluções inteligentes, diálogos de referência, necessidade de auto-afirmação. Mas, o que mais se percebeu foi paixão pela menina bonita do laço de fita. Desejavam ser a menina.

A aluna Elizabeth, de 6 anos, que estuda no 1º. ano, achegou-se à professora para lhe perguntar: “Professora, queria conhecer a menina bonita do laço de fita. Acha que ela ia gostar de mim, mesmo sendo loirinha? Queria saber se ela gostava da sua infância”. Será que Ana Maria Machado poderia responder a ela? Talvez a professora, seus coleguinhas, sua família ou mesmo Você querid@ leitor@.

Veja, nos slides abaixo, as amostras dessas representações da linda menina de Ana Maria e Claudius:


E as crianças não serão mais as mesmas... Ana Maria brota na alma, a expressão de um novo olhar. Assim sentimos nas representações e escritas dos alunos que montaram quadrinhos com sequências lógicas e bem-humoradas, sentimentos que encantam... Fonte dos recortes que compõem os slides a ilustrar possibilidades outras. Crédito da professora que soube cativar os alunos e desconstruir conceitos.


Podemos conhecer alguns planos dessas e outras ilustrações, naturalmente preferidos/focados pel@s alun@s. Planos representam e mostram processos criativos: um tempo de leitura, possibilidade criadora expressiva ou grau emocional diferente. Questões técnicas a incorporar nas mediações pedagógicas, após tempo das fluências e dialogias.


a) Plano geral (PG): mostra paisagem, uma área maior, a figura fica diminuta.
Lucas, 11 anos (PG)
b) Plano de conjunto (PC): ambiente registrado, as figuras se mostram de corpo inteiro.
Leise, 11 anos (PC - outra turma, outro contexto, somente para efeito de compreensão)
c) Plano inteiro (PI): figuras inteiras e pouca referência ao ambiente, concentra-se no movimento das figuras.
Palmila, 12 anos (PI)
d) Plano americano (PA): figuras cortadas pelos joelhos, personagens ocupam totalmente o centro da atenção do leitor.
Marlenson, 12 anos (PA)
e) Plano médio (PM): figuras mais próximas, da cintura para cima. Aprecia-se mais o rosto e o que refletem.
João, 11 anos (PM)
f) Plano médio aproximado (PMA): figura cortada pelo peito.
Ciane, 11 anos (PMA)
g) Primeiro plano (PP): enquadra o rosto, aprecia-se mais a expressão facial das personagens, muitas vezes fica sem balão pelo tempo breve.
Rodrigo, 11 anos (outro contexto, outra turma - somente para efeito de ilustração)
Darley, 13 anos (PI, PMA, PP - dois tipos de balão - um pouco confuso requer mediação)
h) Primeiríssimo plano (PPP): mostra somente uma parte do rosto, como, por exemplo, os olhos numa expressão de angústia, espanto, surpresa, alegria...
(Ilustrador Suppa, do livro "Nico", detalhe da boca - em outro tempo do Projeto Sala de Leitura para o mesmo fim)
i) Plano de detalhe (PD): usado somente em casos especiais e de acordo com o desenrolar da história: um pé chutando algo, uma mão acenando, uma gota caindo, uma carta sobre a mesa...
Victor, 12 anos (PG e PD - detalhe da árvore,  sem balão)
Quer conhecer a história ou relê-la? Ou quem sabe assistir a esta animação? É uma boa alternativa a complementar didáticas.

sábado, 14 de maio de 2011

Bullying e Arte: re-ligação do sujeito ecológico

Mestre do Impressionismo: Claude Monet (1840-1926)

Violência não combina com afetividade? Se pensarmos direitinho e com um pouquinho mais de inclinação, veremos que esse antônimo é a única forma de modificar a realidade. E queremos sim que seja para melhor. O melhor para todos. Assim persigo temas do amor e da compreensão como forma de resistir às tantas violências que nos assolam em todo canto por onde percorremos ou nos colocamos em ideia, imagem, vivências ou situações novas.

Gosto de pincelar assim na tela imaginária a alma do educador. E não poderia aqui deixar de ver a beleza da professora Cintya, de Artes e de nossa escola. Mesmo recebendo a missão de assumir turmas no finalzinho de um período letivo consegue fazer o seu melhor no melhor das crianças e jovens que abraça em sua arte-educação.

Monet - japonese bridge, 1922
show de Cores, texturas, tempo e sentimento: suavizante e deslizante pincel 
Seu estilo é impressionista. Falei a ela que assim sentia e me descobria no seu saber-fazer. Você sabe o que isto significa? Não pensamos na forma, descobrimos ela no conjunto emaranhado de cores, texturas e almas que colocamos no papel que se misturam aos sentimentos e às tantas sensações, percepções e sensibilidades criadoras e visionárias do seu leitor e autentificam seu autor, tradutor, interlocutor de sentimentos internalizados e do mundo. Parece poesia, mas é arte que se naturaliza em nossas expressões. Isto é poesia sim - na essência cuja forma se encontra, se modifica, transcende a forma na tela, no papel, no chão, no ar.

Como mexer com a sensibilidade de alunos e alunas que apresentam energias entrecortadas, confusas, embaralhadas, embaçadas, copiosas, tenebrosas pelos sentimentos que maltratam a eles e os fazem maltratar outros? Pela beleza e onde vamos encontrá-la, despertá-la, acordar para o abraço transpirante, revigorante e interdependente do sujeito ecológico?

Caminho da arte. Caminho da melodia interior. Caminho do respeito. Caminho do amor. Caminho da ética. Caminho da religação. Caminho da paz.

Por que é tão difícil perceber no conjunto esta unidade que singulariza a pluralidade? Cada qual tem sua resposta ao observar da realidade, potencializar-se nela. Mas, antes de nos armamos devemos baixar as armas, olhar a beleza e contemplar nosso interior - plural - que se singulariza nas relações aprendentes. Suavizam-se as expressões.

Alunos em busca da expressão: olhar-se no fazer
Enxerga-se o mundo não de adversários ou aliados, mas de pontinhos de um planeta que é também um pontinho no cosmo que é também um pontinho no multiverso, que é um pontinho divino da grandeza maior que as estrelas de primeira. Crianças integradas. Grupos Operativos (boa terapia - transposição didática)!

Inimigo é uma palavra equivocada. Quem pronuncia talvez prefira o nebuloso, a penumbra... Se o preto é ausência de luz, o branco é a reunião de todas as cores. Aprendi com Newton na roda das cores. Dá para combinar, acalmar-se. A noite se faz presente para facilitar nosso repouso, inspirar nossa alma, a manhãzinha chega com os cantos dos pássaros aos primeiros raios solares e acordes que despertam.

Para o bullying a arte. Orgulho-me em estar convivendo com professor@s bastante sensíveis, habilidos@s e comprometid@s com a questão da responsabilidade social da educação e na escola, que sabem trabalhar a fúria e transformá-la em beleza. Chega de preâmbulos, as imagens traduzem melhor do que mil palavras. Silêncio despertante!
Bolinhas de Sabão: sopro da Vida
Bolinhas de Sabão: transparência colorida
A menina e o besouro encontrado - quase sem Vida:
 novos olhares, novas experiências, sopro - despertar da Vida!
Crianças encantadas com o filhote de tartaruga no laguinho da escola
Alunos escalando montanha: energia inquieta, conflitante esvanecendo-se nas  interações aprendentes
Crianças imitando o macaco no bosquinho da escola
Olhar e vivências transdisciplinares
Crianças apreciando outro lado do laguinho da nossa escola - com formato de borboleta
Crianças descobrindo os Planetas na biblioteca da escola...
Impressão com guache: momentos das expressões

Obra (in)Acabada: para uns borboleta, para outros leque...
Impressionante o que a arte faz com pessoas de todas as idades, raças, credos, sentimentos... Encadeamos as belezas! Esperanças acenadas: a educação do sensível trans-forma!


PS. Vim aqui depois, só para dizer sobre "releitura", afinal me encantei com o "besouro" na mão e não pude deixar de vincular - fazer o link - com "A maior flor do mundo", de José Saramago, e que você pode re-Ver ou assistir ao curta por aqui: http://www.youtube.com/watch?v=YUJ7cDSuS1UVou mostrar o que chamo de sincronicidade da arte e cotidianeidade: "a amizade na mão", através dessa imagem relacionada...

sábado, 7 de maio de 2011

Minha Escola de Pesadelos e Sonhos

Para contribuir com nossas esperanças de um mundo melhor, revisito e aqui trago a redação de uma aluna, de 10 anos - e lá de tempinho atrás, ou seja, na transição deste milênio [estudava ela no segundo ciclo de uma escola municipal, equivale ao final do Ensino Fundamental I]. Naquele tempo nada se falava sobre bullying, mas alguns rumores já despontavam fora do Brasil, por aqui o "sem nome" se fazia motivo desta bela escrita. O título do post é o título de sua redação.

Queria Escolas sem grades, nos dá a impressão de liberdade e paz.
As paredes claras com desenhos infantis refletindo esperança no futuro.
As carteiras e cadeiras não deveriam ser riscadas, quebradas, pichadas ou desenhadas, demonstram que os alunos não têm cuidado e amor pela escola. E também serem pintadas de tons claros e não marrom dando impressão de sujeira e aspecto triste.
Todas as escolas deveriam ter material de pesquisa e estudos, uma biblioteca, videoteca e sala de computador rico de acervo educativo, para facilitar o acesso escolar dos alunos e sermos futuros pesquisadores.
Professores / educadores menos agressivos com os alunos / educandos, no seu tom de voz, nas palavras, nos seus hábitos e atitudes e violência física, no dia a dia na escola.
Que o carinho no olhar e falar deles, nos de mais segurança e esperança não ameaças.
Queríamos ir para a escola com alegria, que ela representasse para nós momentos igual a 'comer um sorvete de creme', gostoso e cheiroso e de prazer de estar lá estudando para a vida futura.
Deveriam ter outros tipos de recursos para os professores nos ensinarem, coisas diferentes e de melhor qualidade e do nosso interesse, nos perguntando e negociando o que gostaríamos de estudar durante as aulas, pois aprendemos mais com a sociedade e meios de comunicação, muitas vezes coisas ruins, faltam-nos melhor orientação.
Um recreio com muitas brincadeiras legais e divertidas, sem brigas e que todos se respeitem. Os professores ficassem participando das brincadeiras no recreio com nós, com isso iriam recordar seu tempo de criança diminuindo seu stress, ficaríamos assim mais próximos professores e alunos.
Queremos uma escola diferente, possível e com pessoas interessadas em nos ajudar a construir nosso futuro onde o amor e união devem permanecer.
Precisamos modificar as Escolas que estão aí e rever que estamos fazendo, como aluna e como educadores distribuir mais amor quando falamos e olhamos as pessoas. As flores são perfumadas, nós humanos não podemos perfumar as escolas? Amor, esperança, união e humildade.
Este é meu sonho, acredito que vamos conseguir conquistar. O que você acha?

- O que os sonhos desta menina conseguem mexer em nós?


É só uma criança que pensa como adulto. Alguns adultos precisariam ter sua sensibilidade. Apaixonei-me por esta escrita! Arrepiei-me! E a cada vez que releio.

Assim não posso deixar de revisitar, uma vez mais, Calderón (La vida es sueño, 1635), na fala de Segismundo logo após acordar, e em meio ao sonho e à realidade despertada, interstício que nos premia a uma das mais belas páginas poéticas de La Barca (p.71-73) e já escritas neste mundo afora e a dentro:
É certo; então reprimamos
esta fera condição,
esta fúria, esta ambição,
pois pode ser que sonhemos;
e o faremos, pois estamos
em mundo tão singular
que o viver é só sonhar
e a vida ao fim nos imponha
que o homem que vive, sonha
o que é, até despertar.

- Sonha o rei que é rei, e segue
com esse engano mandando,
resolvendo e governando.
E os aplausos que recebe,
Vazios, no vento escreve;
e em cinzas a sua sorte
a morte talha de um corte.
E há quem queira reinar
vendo que há de despertar
no negro sonho da morte?

- Sonha o rico sua riqueza
que trabalhos lhe oferece;
sonha o pobre que padece
sua miséria e pobreza;
sonha o que o triunfo preza,
sonha o que luta e pretende,
sonha o que agrava e ofende
e no mundo, em conclusão,
todos sonham o que são,
no entanto ninguém entende.

- Eu sonho que estou aqui
de correntes carregado
e sonhei que em outro estado
mais lisonjeiro me vi.

Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonhos são.
Calderón (2008, p.71): "mesmo em sonhos, / nada se perde em praticar o bem/ o homem que vive, sonha ".

- O que seria de nós sem nossos sonhos.
Abraços Afetuosos!
[e a todos leitores e aprendentes como também sou]

Referências
BARCA, Calderón de la. A vida é sonho. Tradução Renata Pallotini. São Paulo: Hedra, 2008.