terça-feira, 24 de novembro de 2009

Edublogueiros: reescrevendo o princípio educativo de educar pela pesquisa


O Pará revitaliza escolas estaduais através de concurso de blogs em duas modalidades: de escolas e a outra de professores, ajudando a mobilizar cotidianos, percepções, idéias, conhecimentos, relações, criatividades e autorias. Sucesso garantido a toda comunidade envolvida.

Há poucos dias, navegando pela net, encontrei os blogs de 19 professores participantes do I Concurso de Blogs Educativos do Estado do Pará 2009, através do CTAE, e fiquei muito contente com a iniciativa desse evento promovido pela Seduc que dinamiza o uso de blog na educação. Nas escolas estaduais! Parabéns a todos que chegaram a esta fase. São vitoriosos!


A nova etapa requer novas exigências, não só bom design ou boas postagens de conteúdos que desvelem a práxis interativa, mas, como constroem suas linguagens e buscam cultivar leitores virtuais, em sua dinâmica, estabelecer links e conquistar bons comentários para juntos a outros na rede, potencializar o conhecimento coletivo e a construção de sentidos a se renovar, personalizar, entrecruzar e pluralizar suas leituras de mundo, os seus lugares de vida, os discursos representados que devem culminar na constelação multicultural e necessária da/na escola sem paredes e para além de seus muros. Apesar de hoje alguns tão vulneráveis, frágeis... A educação pode mudar. É o nosso compromisso.


A pedagogia de projetos pode ressignificar a concepção de currículo, desdobrar-se e ampliar ações integradas e promotoras do processo interdisciplinar. Alguns questionamentos vem a cooperar com o processo de construção do perfil desse novo, amplo e aberto ambiente pedagógico, a informática educativa promovida no laboratório de informática disponível, na escola ou na comunidade, define a janela para o mundo, assim se faz necessário re-olhar:


- a identidade construída pela equipe do "laboratório de informática" da escola;
- as referências identitárias de sua imagem e suas afirmações na comunidade escolar;

- o objeto de pesquisa desse ambiente pedagógico;
- os impactos provocados nas aprendizagens.


Acerca da modernidade e de como os novos recursos tecnológicos vão se assentando e ocupando o território pedagógico da escola, encontrei o vídeo abaixo no
Blog da Tati Martins:
Em conversa com o Professor Pedro Demo, via e-mail, tomei conhecimento acerca do livro "Educação hoje: 'novas' tecnologias, pressões e oportunidades", editado pela Atlas e lançado no começo deste ano, em que discute sobre a “web 2.0” e a sua relação com educação. Em nossas habilidades metacognitivas e desenvolvimento, tomamos consciência hoje de que o professor aprende a "ser pedagogicamente correto, como o profissional da aprendizagem, e tecnologicamente correto, como profissional do século XXI" (DEMO, 2009). O que nos espera? Vem vindo por aí a nova onda do Google, que promete revolucionar a forma de comunicação na web, veja aqui e aqui.

O uso das novas tecnologias desperta interesse, remexe bastante com alunos "desmotivados", por isso se torna estimulante e desafiante desenvolver a mediação pedagógica e nos mais diferentes ambientes, mas é necessário que seus protagonistas reúnam e rediscutam interfaces, competências, habilidades, técnicas, meios, recursos para reinventar a educação e não se sintam desprovidos desses conhecimentos e de formação continuada.

Cabe a nós professores voltar o nosso olhar não só para a nossa própria identidade, e que junto a outras e de outros grupos estão sempre em processo, capaz de reconstruir relacionamentos em diferentes espaços e tempos de aprendizagens, que inclui o saber incorporar a globalização midiática na práxis com qualidade e pertinência.


Face às nossas realidades culturais e contemporâneas, de passos acelerados e por vezes energéticos, indecisos, contraditórios, tensos, estressados, Paulo Freire (1996) nos sacode e nos convida a repensar a violência, as relações, os medos, as ansiedades, os sonhos, as esperanças e a tocar na palavra ética, e de como se aplica ao uso do computador e da net enquanto recursos de interação, equidade e qualidade de vida. É um alerta para ao estarmos ligados no mundo a gente não se desconecte de nosso próprio mundo, sabendo potencializar o uso
de tecnologias integradas e o das múltiplas inteligências relacionando-as sempre à educação para o sensível.

“Se sonhamos com uma sociedade menos agressiva, menos injusta, menos violenta, mais humana, o nosso testemunho deve ser o de quem, dizendo não a qualquer possibilidade em face dos fatos, defende a capacidade do ser humano em avaliar, de compreender, de escolher, de decidir e, finalmente, de intervir no mundo”. (FREIRE, Pedagogia da Autonomia, 1996, p. 58-9).
A canoa virou, e eu deixei ela virar... Se eu fosse um peixinho e soubesse nadar...”



- Para onde vai o barco? Para onde queremos que o barco vá? (Rubem Alves, Conversas com quem gosta de ensinar).

Para os 19 professores participantes desse momento histórico da educação paraense a ampliar suas possibilidades pedagógicas diante da rede de computadores e novos relacionamentos e aprendizagens, encontrei e filtrei o poema de Quintana como bom fortificante: "existe uma idade para a gente ser feliz... para a gente se encontrar com a vida... em que a gente pode criar e recriar a vida... e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores. Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO". (Quintana, A idade de ser feliz).

sábado, 21 de novembro de 2009

Escritores da Liberdade


Para alunos desmotivados e professores ansiosos

Em reunião ocorrida nesta semana com professores referências das turmas do segundo segmento do ensino fundamental e coordenação, discutimos sobre o caso de bebidas alcoólicas entre alunos de uma turma de 8º. ano/7ª. série, que é a mais velha na modalidade, cuja média etária é de 14 a 16 anos de idade. Muitos foram retidos por falta no ano anterior e apresentam poucas presenças neste. A desmotivação, a dificuldade na socialização entre eles, e a questão da leitura e escrita foram apontados como seus principais problemas.


A queixa predominou e a sentença foi a de rever ou transferir responsabilidades para outros órgãos ou a instituição família. E daí refletimos sobre qual é a proposta pedagógica necessária, e se havia alguma sugestão. Os alunos vão continuar na turma até o final do ano. Deste modo, é preciso pensar sobre o que provoca a desmotivação. O contexto social problemático pela violência (a)cometida, a falta de perspectivas, carências, baixa-estima etc. Por quê?


Duas passagens de Arendt (2001) nos sacodem mais um pouco e nos levam a re-olhar a realidade, pois, inicialmente para ela, há duas causas que podem ter relação profunda com a crise da educação atual: a incapacidade de a escola levar os alunos para pensar e a perda da autoridade de pais e professores.
O novo alerta é sobre a questão desconstrutiva do (in)sucesso escolar: “a educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para expulsá-las a seus próprios recursos, [ou transferir a outrem] e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum”.
Precisamos manter acesa a chama das esperanças alimentando novas perspectivas.
O caso parecia se redesenhar lembrei-me do filme “Escritores da Liberdade”, pois, nada li de concreto nessa direção na “memória da reunião” que me foi repassada.
Final de ano e alunos novamente retidos e outros com promoção automática no ciclo quatro, e no próximo ano, se voltarem, como estarão? No filme, a professora sozinha se depara com alunos turbulentos, a falta de recursos e de cooperação da direção da escola.

Cada aluno escreve um diário sobre seus conflitos internos e entrega se quiser à professora e a interface com “O diário de Anne Frank”, daí decorre a tolerância entre eles, aos poucos se aproximam pelos problemas comuns. O legal é que eles produziram um livro que relata a série de dificuldades sofrida na questão racial e a necessidade de se implantar novas realidades sociais.

Penso que a discussão do filme irá acender na equipe docente da turma várias luzinhas no fim do túnel, e provocar a integração entre professores e entre eles e os alunos numa ação interdisciplinar possível e necessária para que a sala de aula faça a diferença na vida dos alunos. Erin Gruwell, a recém advogada que quis ser professora, ou carinhosamente para os alunos, a Miss G, enfrenta problemas íntimos, mas, não se deixa abater, inclusive no próprio ambiente de trabalho.
Veja um trecho do filme, logo abaixo, para re-pensar o desafio da educação que vimos enfrentando:


Fiquei bastante animada para começar a próxima semana. Durante conversa sobre o projeto pedagógico com a professora referência dessa turma, sugeri eventos comuns entre professores da turma para ajudá-los a pensar na situação vivida e percebida. Músicas, filmes, leituras etc. Encontrei esse filme em uma das prateleiras da locadora, espero que ela também tenha obtido sucesso na escolha do gênero.

Se você sabe de algum outro que trate dessa temática por gentileza estamos precisando dessa ajudinha. Se passou por uma experiência semelhante aqui estamos nós para ouvi-la.
Uma pergunta não quer calar:
- Por que "Miss G" fez a opção pela profissão "professora"?

Referência: ARENDT, Hanna. A crise na educação. In: Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2001.

Educação, ética e tecnologia


Repressão ao crime ou reencantar a aprendizagem

Com a abertura do Shopping nesta semana em plena Avenida Visconde de Souza Franco, a Doca, cheia de charme e juventude, de caminhadas e buzinas, traz consigo as mazelas do progresso, tendência ao aumento da criminalidade na área e circunvizinha.

Outras palavras ouvidas nas palestras para diretores das escolas municipais proferidas por representantes da guarda municipal e da polícia militar, no dia 17 de novembro, na mesma data da inauguração: o maior câncer são as casas de jogos eletrônicos e as lan-houses que ficam próximos das instituições escolares.

O que é que há? O que está faltando? Vem-me leituras de contraponto, pois, a ciência e a tecnologia devem estar servindo à cidadania e à felicidade humana. Paulo Freire (1996) afirmava que “conhecemos para: entender o mundo – palavra, significação e mundo; para averiguar – o certo e o errado, numa busca da verdade e para interpretar e transformar o mundo”.

Nesses dezessete da tercina manhã belemense, estampou-se preocupação na maioria ouvinte, uma diretora declarou seu apavoramento com os números da violência que envolve menores, crianças ou adolescentes. 97% dos crimes contam com a participação de menores. Cerca de 15 denúncias diárias surgem das escolas municipais ou estaduais. Quem trafica a droga na escola não é mais o bombomzeiro pelo muro da escola, mas, o próprio aluno dentro da escola. Há mais de cinco vídeos eróticos produzidos por alunos em escolas, na competição cega de qual adolescente de qual escola é a mais ousada. Arrepia-se saber que as autoras fazem questão de mostrar a farda. Falam orgulhosas a respeito dos tantos minutos de fama na internet. Todos apreendidos no último mês. Consolo?

Os preletores falaram sobre a nova modalidade de crime, novas inteligências exigem mais inteligências, o seqüestro relâmpago passou a bola para a abordagem na escola, feita por alunos contra outros alunos e professores, tomam celulares e os trocados para o recreio que somam grande monta, além de cooptar novas crianças para a escola do crime. O ambiente escolar é visto como ponto frágil, vulnerável, interessante.

O menor em conflito aprende logo o significado da impunidade. Choque de realidade. A família entrega a criança para a escola e, ironicamente, a criminalidade a toma das duas instâncias educadoras. Pessimismo? Discurso impactante dos policiais.

Valores distorcidos. No mundo atual, o que não é valor está sendo valorizado.

Oração. Reverência. Respeito. Amor. Solidariedade. Humildade. Caminhadas pela paz. Criam dificuldades para a formação do meliante. Novo vocabulário. Novos sentidos.

O que me deixou triste neste dia foi escutar que o progresso, com destaque ao desenvolvimento da tecnologia, pode estar atrelado às mazelas existentes pela falta de diálogo, a falta de projetos pedagógicos que retratem a(s) realidade(s) que permeia(m) a escola, propostas educativas que saibam dialogar com a Vida circundante e relacionar saber-conhecimento-esperanças.

Podemos crucificar recursos e ações se não soubermos pensar, re-olhar ao derredor. As instituições educadoras demonstram que, por vezes, também precisam de colo. A formação continuada é sempre bem-vinda. É urgente saber trabalhar a educação para o sensível, para além da abordagem dos conteúdos, e o favorecimento do diálogo a partir de questionamentos éticos e reconstrutivos.

Um ponto comum com Terezinha Rios (1999), a escola é o espaço de “transmissão sistemática do saber historicamente acumulado pela sociedade”, que tem por objetivos formar indivíduos, capacitando-os a participar como agentes na construção dessa sociedade. Pais, mães, professores, professoras, alunos, alunas e todos que fazem a escola da vida são os protagonistas de uma nova história que precisa saber ocupar seu espaço na cotidianidade, comprometendo-se com a transformação do lugar, de vidas, pontos de vista a tracejar perspectivas.

Essa corrente educadora é por um mundo com mais equidade, comprometido com a alegria e os bens que nos circundam, se entrecruzam e interpenetram.

É o novo tom das aprendências! É preciso saber viver.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Educação para o sensível: borboletinhas ou cruzes


Poéticas em construção reinventando o derredor

A evolução é um processo conservador. Quando falamos dos seres vivos, da sua diversidade, e pensamos na explicação evolutiva – que propõe cada ancestral comum a todos eles - nos maravilhamos com as mudanças que tiveram que ocorrer desde a origem dos seres vivos até o presente. Essa maravilha, contudo, não deve ocultar-nos o que é fundamental para que a história se produza: a conservação do novo na conservação do velho. (Humberto Maturana)

Olhar a escrita de um menino de 3 anos em pleno vôo da escrita é compreender a fluência e a autenticidade de suas representações, a criança traça dois segmentos de retas um vertical mais comprido sob um outro risco horizontal bem mais curto que o primeiro, faz a cruz e diz que ela representa as borboletinhas, pois, no ato da escrita vai dizendo em sua fala socializada, para si mesmo, “muitas borboletas” e ao final faz uma cruz maior e indica “esta é a mãe”.

No ato da escrita está a nos comunicar algo, e segundo Vygostky (1988), “comunicar é o ato de compartilhar pensamentos”, assim se estabelecem vínculos para as aprendizagens. O que esta criança está a nos chamar atenção? Ver o mundo mais integrado? Ela produz sentidos enquanto canta, dança, se move, pára, olha, coça a cabeça, leva o lápis à boca, sorri, dá-lhe mais animação e acredita estar escrevendo, e de fato está. Qual é o seu conhecimento sobre a escrita? A escrita como representação de significados que ela mesma atribui enquanto vai cantando e nos fazendo visualizar e buscar novos sentidos como mediadores.

Pensamento lógico-matemático, movimentos, sentimentos, acanhamentos, desembaraços, segurança no outro, papel, lápis, escrita, segmentos de retas, geometrias mil, tamanhos e comprimentos, representações, sorrisos, dizeres conexos, a memória do canto entre colegas, muitas borboletinhas e a borboletona.
Apenas três anos a nos ensinar a pensar mais um pouco com nossos borbotões e referências. E se tivéssemos tido a oportunidade de expressão?

Tudo podia ser diferente do jeito que hoje a gente vê. Dá-lhe lembrança de Jandira Masur, em o “Jogo do Contrário”. Livro que vale a pena ler por brincar com as contrariedades.

Falando em contrariedades: e as provas dos vestibulares em que diferem desta prática conceitual dos testes da psicogênese da língua escrita? Aqui e ali na educação infantil a criança aprende a escrever do seu jeitinho e lá mais adiante por que desaprende? O discurso é outro. Os modelos didáticos da escola tradicional não conseguem ser interdisciplinares e contextualizados. Os alunos não conseguem mais dançar sobre o conhecimento com suas memórias e reinvenções geométricas, as narrativas se escondem ou se anulam.

A escola dá excessiva valorização à memória e aos conteúdos em si e assim deixa de colocar o estudante diante de situações-problemas como estudos de caso, aulas-passeio etc. A escola pode solicitar que além dos conceitos o aluno saiba aplicá-los. O espaço cotidiano do currículo deve possibilitar tempos de aprender entre pares, professores na ecologia das salas interativas e abertas.

Por que o futuro profissional ao sair dos bancos universitários sente dificuldade de vivenciar a prática? Como o novo professor se coloca mediando conhecimento e saberes pela primeira vez em uma turma de alunos?

O que perturba, no bom sentido, um acadêmico de Pedagogia no segundo semestre, quando vai a campo, é lembrar que deverá sair da saia justa que as crianças lhes deixam como em outras ocasiões. O teste da psicogênese da língua escrita é o mote para a fluência criativa e autorias quando deixa a criança à vontade para escrever do seu jeitinho.

Educar para o sensível é buscar compreender, a saber interpretar e mediar por sobre conhecimentos e saberes. Que perguntas surgem? Que silêncios operam? Que desafios se colocam?

Os futuros pedagogos voltam-se a fazer o relatório após vivências com a criança colaboradora com bons episódios, belas imagens e sorrisos. E isto nos faz bem por nos encher de esperanças e nessas diferenças criadoras quando podem sensivelmente dizer, e também como Jandira, em um outro seu livro, que “o frio pode ser quente”.
Com Morin (2000) aprendemos que “é preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas, em meio a arquipélagos de certezas”, as desconstruções abrem e expandem a nossa sensibilidade em pleno vôo reconstrutivo.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O saber, o aprender e o ensinar: autonomia da criança x autoridade do professor



A professora e a mãe: conversas sobre processos de mediação

Muitas vezes as mães se mostram inseguras e, até mesmo sem querer, criam dependências em seus filhas e filhos, nossos alunos e alunas. Elas querem que seus filhos aprendam, mas, não percebem os limites das aprendizagens e acabam gerando dependência mútua. A conversa entre uma acadêmica do curso e a mãe de uma criança colaboradora despertou-me a vontade de falar sobre tal assunto. A menina de seis anos é sua aluna na igreja de Escola Sabatina. A mãe se surpreendeu com a criança, a professora foi firme, amorosa e decidida na mediação. A criança confiante se sentiu livre para acreditar no seu próprio saber.

"No domingo à noite, após falar com sua mãe levei-a para uma sala reservada e expliquei sobre o trabalho. Antes sua mãe me falou que Marcelle escreve com uma pessoa falando para ela as letras, mas expliquei que ela iria escrever sozinha. Concordou em ajudar e dei as instrucoes. Comecei a ditar a primeira palavra (borboleta - após cantar com ela animadamente a música da borboletinha), e ela me perguntou qual era a letra. Falei novamente sobre escrever como sabia, e então começou a escrever. Soletrava sílabas enquanto escrevia, e assim continuou com o dedo na boca, pensando e soletrando. Quando chegou na palavra nariz, ela parou pensou, falou o som do iz no final da palavra e escreveu marisi. Na frase 'A borboleta está na cozinha', antecipou o s do está. Escrita alfabética, sem segmentação entre palavras. Escolheu a borboleta, o pau e o nariz. Falou bem baixinho, meio sem-jeito, sobre o fato de só saber desenhar o nariz como triângulo, como se desculpando".

O que é o erro? Por que no ato do desenho da borboleta, lembrou-se do nariz? Por sentir vergonha de desenhar assim o nariz e ter exitado em escrever a palavra? O erro deve ser entendido como uma oportunidade, um desafio e não uma ameaça. Na confiança da mediadora que lhe conferiu espaço para problematizar, questionar e reformular estratégias, a criança foi percebendo que o erro pode ser construtivo. Não apagou a sua primeira tentativa de escrever pau, apesar de ter rabiscado em volta. Se verbalizasse seu conflito, encorajada pela mediação, poderia rever saberes, problematizar e encontrar soluções remediativas. Mesmo em seu silenciar, ela encontrou o que buscava. Bons ensaios de Mediação! Comprovada Autoridade!

- E agora, mamãe? Para ajudar as mamães a repensar saberes e rever a função educadora também enquanto mediadoras do conhecimento na escola da vida, tão intensamente entrecruzada de olhares e tocares, idéias, vivências e confluências de sentimentos, emoções, razões, mitos, ilusões, sonhos, verdades e utopias...

Didática Piagetiana e a Orientação Pedagógica: o que as mães precisam saber para se sentirem mais tranquilas, sem deixar de serem amorosas.

A criança paparicada demais pode se sentir tolhida quando a mãe faz tudo por ela como prova do seu grande amor. A pequenina não come sozinha, não escolhe a roupa que quer vestir, não calça seu sapato, não pega um copo de água (?!).

A criança aprende é com a experimentação. O bebê cai e se levanta quando está aprendendo a andar. Ao tentar proteger o filho ou a filha para que não tenha nenhuma queda contribuímos para que essa criança se torne medrosa e receosa.

O meio termo é a melhor medida. A criança que se sente amada na medida certa se torna muito mais segura, se desenvolve cognitivamente, sente vontade de explorar, de aprender coisas novas, enfim, se sente equilibrada. É preciso amar com responsabilidade.

A afetividade é o motor da inteligência, segundo Piaget. E uma forma de se relacionar afetuosamente é demonstrar que se está realmente interessado na aprendizagem da criança. Em sua autonomia. E a nossa autoridade? Ressignificar os próprios sentimentos.

Desenvolvimento Cognitivo• Nunca subestimar a criança quanto as suas capacidades. É muito comum esperarmos que elas não sejam capazes de realizar determinadas tarefas e facilitarmos suas ações como a abrir uma lata de biscoito, a se limpar no banheiro, a desembalar uma bala, a alcançar um objeto que esteja no alto etc.
• Não fazer pela criança aquilo que ela pode fazer sozinha. Propor sempre que ela resolva por si mesma. Quando muito, dar uma pequena ajuda, mas nunca substituir a ação da criança pela sua.
• Não basta que ela faça algo é preciso que compreenda o que faz. Ela precisa construir e edificar as aprendizagens, através de seus próprios modelos, conceitos e estratégias.
• O adulto mediador gradua a atividade de acordo com o nível da criança. E o grau de dificuldade deve ser crescente, por andaimagem.
• Se a criança aprende pela própria ação é preciso deixar que ela tente, experimente, observe...
• Não ensinar verbalizando ou explicando. A criança aprende com a ação! É escrevendo que ela aprende a escrever. Deixá-la consultar suas "memórias", dar espaço para pensar e interpretar.
• Deixá-la e se sentir livre para ler o mundo, falar com o outro etc. A criança conversa quando trabalha. Conversa é socialização. Para ela, é difícil realizar uma tarefa sem conversar. É-lhe natural. Mais espontâneo.
• Se não for possivel uma ação sobre o conteúdo é porque não é útil para a criança. O conhecimento útil é passível de ser transformado numa ação apropriada (motora, representada ou verbal). Torna-se bem mais significativo.

No mundo atual, percebemos que os pais e as mães se sentem meio perdidos diante da correria, da influência midiática, do controle da própria ansiedade, no fortalecimento das próprias inseguranças olhando com a criança o tal amanhã. Nesse atropelo, ouvimos de um pai na escola que nos disse, em desabafo: "eu não sei mais o que fazer com meu filho, ele está aqui para que vocês façam alguma coisa por ele, entrego na mão de vocês ...". Somos mediadores no papel de orientadores educacionais. E vamos enfrentando as realidades assistencialistas e escassa geração de renda. Trabalhamos o imaterial: a formação das crianças.

- E o Brasil?

E daí? Como fica a professora, a coordenação pedagógica frente aos pais que se rendem a determinadas condutas de seus filhos-alunos? O que está errado? E a bolsa-professor? Inspirei-me na postagem da Jenny refletindo sobre a profissão-professor e o comentário que deixei lá em Professores do Brasil.