sábado, 21 de novembro de 2009

Escritores da Liberdade


Para alunos desmotivados e professores ansiosos

Em reunião ocorrida nesta semana com professores referências das turmas do segundo segmento do ensino fundamental e coordenação, discutimos sobre o caso de bebidas alcoólicas entre alunos de uma turma de 8º. ano/7ª. série, que é a mais velha na modalidade, cuja média etária é de 14 a 16 anos de idade. Muitos foram retidos por falta no ano anterior e apresentam poucas presenças neste. A desmotivação, a dificuldade na socialização entre eles, e a questão da leitura e escrita foram apontados como seus principais problemas.


A queixa predominou e a sentença foi a de rever ou transferir responsabilidades para outros órgãos ou a instituição família. E daí refletimos sobre qual é a proposta pedagógica necessária, e se havia alguma sugestão. Os alunos vão continuar na turma até o final do ano. Deste modo, é preciso pensar sobre o que provoca a desmotivação. O contexto social problemático pela violência (a)cometida, a falta de perspectivas, carências, baixa-estima etc. Por quê?


Duas passagens de Arendt (2001) nos sacodem mais um pouco e nos levam a re-olhar a realidade, pois, inicialmente para ela, há duas causas que podem ter relação profunda com a crise da educação atual: a incapacidade de a escola levar os alunos para pensar e a perda da autoridade de pais e professores.
O novo alerta é sobre a questão desconstrutiva do (in)sucesso escolar: “a educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para expulsá-las a seus próprios recursos, [ou transferir a outrem] e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum”.
Precisamos manter acesa a chama das esperanças alimentando novas perspectivas.
O caso parecia se redesenhar lembrei-me do filme “Escritores da Liberdade”, pois, nada li de concreto nessa direção na “memória da reunião” que me foi repassada.
Final de ano e alunos novamente retidos e outros com promoção automática no ciclo quatro, e no próximo ano, se voltarem, como estarão? No filme, a professora sozinha se depara com alunos turbulentos, a falta de recursos e de cooperação da direção da escola.

Cada aluno escreve um diário sobre seus conflitos internos e entrega se quiser à professora e a interface com “O diário de Anne Frank”, daí decorre a tolerância entre eles, aos poucos se aproximam pelos problemas comuns. O legal é que eles produziram um livro que relata a série de dificuldades sofrida na questão racial e a necessidade de se implantar novas realidades sociais.

Penso que a discussão do filme irá acender na equipe docente da turma várias luzinhas no fim do túnel, e provocar a integração entre professores e entre eles e os alunos numa ação interdisciplinar possível e necessária para que a sala de aula faça a diferença na vida dos alunos. Erin Gruwell, a recém advogada que quis ser professora, ou carinhosamente para os alunos, a Miss G, enfrenta problemas íntimos, mas, não se deixa abater, inclusive no próprio ambiente de trabalho.
Veja um trecho do filme, logo abaixo, para re-pensar o desafio da educação que vimos enfrentando:


Fiquei bastante animada para começar a próxima semana. Durante conversa sobre o projeto pedagógico com a professora referência dessa turma, sugeri eventos comuns entre professores da turma para ajudá-los a pensar na situação vivida e percebida. Músicas, filmes, leituras etc. Encontrei esse filme em uma das prateleiras da locadora, espero que ela também tenha obtido sucesso na escolha do gênero.

Se você sabe de algum outro que trate dessa temática por gentileza estamos precisando dessa ajudinha. Se passou por uma experiência semelhante aqui estamos nós para ouvi-la.
Uma pergunta não quer calar:
- Por que "Miss G" fez a opção pela profissão "professora"?

Referência: ARENDT, Hanna. A crise na educação. In: Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2001.

6 comentários:

  1. Olá querida, um prazer receber seu comentários no meu post, me senti realmente dialogando,sua leitura é cuidadosa e profunda.
    Sobre a questão do seu post, também gosto muito do filme a que vc se refere ("Escritores...") e já trabalhei com ele em muitas turmas de graduação e pós-graduação. Dá boas conversas. Um outro, que na verdade é documentários, é "Pro dia nascer feliz" de João Jardim. Não é otimista, não tem essa mágica hollywodiana de finais heróicos (que confesso gostar) mas levanta discussões fundamentais, é um retrato da juventude brasileira, ou melhor da escola que trabalha com os jovens e de seus dilemas. Duro retrato. Mas bom para ver com grupo de professores e deixar as inquietações virem a tona.
    Um abraço, gosto muito quando você me visita.

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  2. Rocio. Acho legal a idéia de interface com "O Diário de Anne Frank". É um livro que fala da dor e das dificuldades reais com um tom de poesia apesar do contexto grotesco daquele momento... Ela era só uma menina, mas com uma força interior absurda...Acho que podemos tocá-los por essa via da emoção.
    Gosto de te ver animada assim....

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  3. Adrianne,
    Adorei também a tua visita e a dica que poderá ajudar bastante a proposição de novas idéias pedagógicas despertadas pelas inquietação atual e reflexão da realidade, comum a todos os brasileiros e especificamente pela qual passamos na escola, na turma, com nossos sujeitos históricos, cuja vida e aprendizagens não deixam de se atrelar às nossas e às decorrentes até aqui.
    Continuarei aprendendo com você, seus post são sempre uma boa viagem, já lhe escrevi sobre isso.
    Beijinhos!
    Maria do Rocio

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  4. Oi Nalzira,
    Sinto-me sempre animada a enfrentar a realidade pedagógica, pois, a educação precisa sempre de resposta, os alunos estão na escola para aprender. Embora fique triste com o que lhes e nos assola, a bebida é um fator social, o abuso é reflexo de que algo não vai bem e por isso mesmo precisamos estudar e avaliar nossa forma de atuação enquanto professores, técnicos e pais. Antes mesmo de esgotar as forças e entregar a ouitros órgãos que podem sim dar apoio, mas, a escola tem um dos papéis principais na formação do cidadão. Não podemos discutir repressão sem antes falar de educação. Educação combina com afetividade, disciplina e perspectivas de vida. Os alunos pedem atitudes pedagógicas. Estamos na escola para a tomada dessa consciência coletiva. O A-COR-DAR - que significa dar a cor, colocar o coração em tudo que se faz... Ali estamos. Volte sempre!
    Abraços!
    Maria do Rocio

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  5. Muito bom o trecho que escolheu do filme para postar. Lembro de, em uma das assessorias que dei a professores do município, ouvir de uma professora que os livros da biblioteca não eram utilizados pelos alunos para não estragar. A biblioteca era maravilhosa, cheia de ótimos títulos, nunca imaginamos que o acervo das escolas públicas seja bom. Mas é. Os Planos da Biblioteca Escolar do MEC atendem a muitas escolas e o que vi deu "àgua na boca". Mas a cultura de não permitir o acesso por receio de estragar o material é complicada. Bom tema para debates.

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  6. Rocio!
    Não vi ainda o filme, mas vou guardar a dica. Concordo contigo. A escola é a instituição onde precisamos lutar para resgatar o sujeito da melhor forma possível. Dizem que ao amor nada resiste. Não é fácil, mas como você diz, colocando o coração no que se faz, aos poucos as mudanças acontecem. Sem amor, não dá pra pensar em soluções na educação. Espero que obtenham sucesso!

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