sexta-feira, 30 de agosto de 2013

30 de agosto de 1988: dia de luto e luta dos trabalhadores da educação

O que é estar em greve?
Lutar por direitos ou por privilégios?


Apesar da escoriação medir um centímetro de extensão, a dor foi profunda, aguda...
como medir a invasão na carne e na alma educadora?
Não ir para a escola ou deixar os alunos sem aula? Ou dar uma aula de cidadania, mostrar na práxis os significados e o sentido da escola cidadã, feita de educadores que defendem uma escola pública de qualidade em todos os sentidos; que batalham para que o aluno aprenda; que buscam entender as dificuldades de aprendizagem e a questão das diferenças que pode estar atrapalhando o desempenho do coração do estudante, ou seja, de seu corpo inteiro.


Quem diz que está de greve e fica no sofá da sala, dentre lençóis da cama ou entre embrulhos das compras, pode dizer que luta pela classe que representa? O que é o ônus e não somente o "bônus" da profissão? Deixar que o outro faça ou sofra as consequências sozinho? É preciso mostrar a cara na luta, ter assinatura e não ser somente um anônimo, que se acovarda ou se privilegia.

Dia de greve não é dia de folga. Também, é preciso contribuir com o Sindicato dos Professores, mês a mês, participar de reuniões agendadas ou outras formas requeridas, para que tenhamos sempre boa representação e com debate competente e ético.

Ser professora e orientadora educacional é estar na escola lutando contra o analfabetismo, as dificuldades de aprendizagem, valorizar a participação dos estudantes através de seus representantes de turma, ou a criação/mediação dos grêmios estudantis.


"Para ser grande, sê inteiro: nada / Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és / No mínimo que fazes. Assim em cada lado a lua toda / Brilha, porque alta vive".
Ricardo Reis, segundo heterônomo criado por Fernando Pessoa, em 14-2-1933.
Referência
Odes de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. Ed. Ática, 1994.

sábado, 3 de agosto de 2013

Crianças ou adultos como sujeitos de afetos e não objetos de ensinagens

Como acontece a fala e a escuta em sala de aula? Onde se situam o lugar e a posição das falas e das escutas? Quem são os sujeitos interlocutores nesses lugares, posições e tempo? Quando acontece a troca?


O mal-estar na escola tem diversas faces para serem olhadas e pensadas: é como se olhássemos um cubo, que tem seis faces, como sabemos, mas só podemos, de um determinado lugar, ver três faces, é necessário que nos desloquemos para que vejamos todas as faces” (OUTEIRAL, CEREZER, 2003, p.1).

Escutar é dar sentido ao espaço que cerca o aluno. Ouvir ditos e não ditos, produz-se, amplia-se e repete-se o afeto prazeroso e desprazeroso. Na repetição pode emergir o processo da criação. Na fala, a falta, a lacuna, o desejo ou o recuo. Escuta sensível mexe com afetos. A fala se reorienta no processo do ensino-aprendizagem. O saber do aluno e o conhecimento da forma apresentada pelo professor cooperam na compreensão do conteúdo exposto. A leitura ajuda a reler o dito e o não-dito, mexe com os significantes e o significado das relações. A pesquisa ajuda nas releituras do conteúdo, sob novos pontos de vistas e com isso facilita a formação de opinião, que pode afirmar ou negar o dito pelos não-ditos ou outros ditos.

A fala faz fazer operar na sua cadeia de palavras, o divórcio entre significante e significado e aí o sujeito do inconsciente emergirá nos tropeços da fala, nos atos falhados, nos chistes, nos sonhos etc. A fala, fala, mas esta é incompleta porque o sujeito falante sempre tem algo por dizer, a fala comporta um furo no dizer, um semidizer.

Uma lição a ser ressignificada, é preciso saber matar o mestre, aprendendo a falar, escutar e a tornar o mestre de si mesmo. Uma rede de sentidos, escutas, falas, faltas, afetos. A autoria acontece nesse movimento intenso de argumentação e contra-argumentação, de ensino, pesquisa e releituras.

Na escola com crianças menores de sete anos a gente aprende a ouvir como se aprende a ler o mundo através da palavra e sua rede de significados. A palavra loja revela o lugar de trânsito diário, da proximidade de moradia do colega, do ponto de referência que marca o início de uma rua, o lugar de compras, o sorriso dos encontros diários, os olhares desconfiados, os compassos furtivos, acenos de alegrias, o sonho de consumo, o endereço de brinquedos, e não somente a confusão fonêmica do "g" na consoante "j".

A fala e a escuta ocupam um lugar singular no modo de educar.

No lugar de avó fortaleci ainda mais a maneira de olhar a criança como sujeito de afetos, sem pressa para aprender sobre seus movimentos, gestos, falas e faltas e não no afã de que aprenda algo mas, que veja o belo em tudo que vê, onde aprenda a respeitar o outro, o diferente, o exótico. Compreendendo os sinais da ansiedade, do medo, da falta, da falha, da brecha e da indagação como importantes para motivar a busca, a reinvenção.

O que se cultiva em outros meios, como as pessoas de outros espaços, discursos, lugares ou tempos, aprendem com o seu meio e o que esse olhar múltiplo ajuda a gente a se refazer em nossas relações cotidianas e complexas?

Entram aí nesse contexto das aprendências, a palavra letramento e o desafio de se alfabetizar letrando. Questões bastante presentes em turmas das séries iniciais, de educação infantil ou salas de alfabetização de adultos onde aprendemos a nos apropriar do discurso escrito através da palavramundo*. E bem ali próximo do universo aprendente dos sujeitos de afetos, prazerosos ou não, provenientes de sedução, de relação transferencial, de situação ambivalente, de repressão ou frustração, sempre observadas nas relações com objetos de estudo e nos mais diferentes ambientes educativos de uma escola ou comunidade escolar envolvida.

No conjunto é preciso saber enlaçar educação, representação e afetos como escuta de interfaces a ser construída nas relações do processo educativo que acontece na escola ou na vida. Ensinantes e aprendentes, em seus papéis de escuta, fala e falta, trazem nos atos educativos seus afetos manifestos ou latentes que facilitam ou dificultam a troca de conhecimentos.

Nessas releituras, “vamos bordando a nossa vida, sem conhecer por inteiro o risco; representamos o nosso papel, sem conhecer por inteiro a peça. De vez em quando, voltamos a olhar para o bordado já feito e sob ele desvendamos o risco desconhecido” (SOARES, 1990, p. 25).

* palavramundo, é neologismo, criado por Freire (1982), para nomear os contatos iniciais do sujeito leitor do mundo em suas múltiplas dimensões, ou seja, por ser a leitura da palavra, para ele, sempre precedida da leitura de mundo.

Referências
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 13 ed. São Paulo: Cortez, 1982.
OUTEIRAL, José; CEREZER, Cleon. O mal-estar na escola. Rio de Janeiro: Revinter, 2003.
SOARES, Magda. Metamemória, memórias: travessia de uma educadora. São Paulo: Cortez, 1990.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Livro para morar

Livro para morar...
Estátua de Hans Christian Andersen servindo de moradia para crianças no Central Park, Nova Yorque.
Neste mundo virtualíssimo, o encanto continua, o livro ainda fascina crianças, os educadores reencantam-se, o conhecimento se difunde no mundo tecnológico, as inteligências se multiplicam nas redes e a vida se torna cada mais interdependente, sustentável, solidária. Pera aí... "E os poços de fantasia acabam sempre por secar e o contador de histórias, cansado tentou escapar como podia...", coisas de Alice no País das Maravilhas (Lewis Caroll).
"Eu sei que algo interessante sempre acontece...", e logo Alice encontra a lagarta azul, quase próxima da transformação.

Reencanta-se...

E sobre os livros onde crianças possam morar dentro, o mote de Monteiro Lobato, no começo do século passado? Que tal começarmos, na educação de nossas crianças, com uma bebeteca em casa? Pelo menos, por aqui, a gente acredita e a Dona Sofia faz a festa, dia-a-dia, com seus livros na estante, bem a seu alcance. Os livros estão entre seus brinquedos prediletos. Mas, ela entrou em crise dias desses, pois queria ali materializar o fato de entrar no livro, construiu um caminho com eles e, ao final da linha, largou o engatinhar, subiu no último, a pedir para nós: "abra, abra", e eu disse a ela brincando: "trouxeste a chave?", drummondiando. Olhou-me com aqueles olhinhos de quem tenta entender adultos pegos de surpresa... É, mas, são as crianças que têm as chaves dos saberes e dos encantos que reencantam adultos, ou são elas que despertam as nossas crianças escondidas. Não sei ao certo. Estamos mesmo bem conectadas, pessoas e crianças, e é só nos dispor a ouvi-las. Assim tenho pensado nesses últimos dias dos últimos dois anos com a pequena Sofia entre nós.
Hoje, crianças, jovens ou adultos vivem conectados, circulando ideias, movendo telas, exercitando o ato de compartilhar e recriar o mundo, pois, são esses os novos tempos interativos e virtuais. Nas telas há variados estilos, conturbados, incompletos, e até suspeitos na produção on line. Importante aprender a se expressar com devida autonomia e autoria, com maneiras criativas de expressão própria, ativando identidades. E que sejam para um mundo melhor para todos. 
Aprendendo a Aprender com a Dona Sofia
Aproveito para repensar as aprendizagens sobre a inteligência humana, pois segundo Piaget, "as funções da inteligência consistem em compreender e inventar, em outras palavras, construir estruturas estruturando o real" (Piaget, 1998, p.36), e daí me deparo que o livro na infância é tudo isso e muito mais. Reinvenção. "Se eu tivesse um mundo só meu, tudo seria um disparate. Nada seria o que é, porque tudo seria o que não é...". E coisas do balacobaco acontecem. Puft. Plum. Somem. Desaparecem. Modificam-se. Modernas são as demais tecnologias, mas, o livro cumpre o papel imaginativo, sensorial, psicomotor e social, mais delicioso que existe, desde ali com o bebê. Tocar, cheirar, virar... o avesso do avesso do avesso. Vai espiando o mundo com novos olhos em nossas conversas e contos.

Sofia adora assistir as histórias na tela do celular, do computador, do tablet, com as mídias bem integradas, animadas com todas as motivações possíveis. Mas, o livro continua sendo insubstituível para as crianças. E isso me deixa muito contente como pedagoga que sou e amante das crianças.

Referências
- Carroll, Lewis. Alice: edição comentada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
- _____. Aventuras de Alice no país das maravilhas; Através do espelho e o que Alice encontrou por lá. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.
- Alice_in_Wonderland. in: http://www.cswap.com/1951/Alice_in_Wonderland/cap/pt/25fps/a/00_03
- Piaget, J. Psicologia e Pedagogia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998.

domingo, 16 de junho de 2013

Pedagoga e Blogueira: pela não-violência

Perdoar o ego ofensor?
"Um elefante deixa-se acariciar. O piolho, não." Lautréamont
Pois é, como Pedagoga Blogueira, Orientadora Educacional e Psicopedagoga, aprendi com Gandhi a palavra bem composta da "não-violência". A Luz é mesmo imune às ofensas e a qualquer impureza que possa vir.

"O que quer que façam conosco, não iremos atacar ninguém nem matar ninguém; estou pedindo que vocês lutem, lutem contra o ódio deles..." (Gandhi)

"Se alguém te ferir na tua face direita, oferece-lhe também a outra" (Mateus, Cap.5). Jesus não proibiu a defesa, mas condenou a vingança...

sábado, 25 de maio de 2013

Comentários Anônimos Ofensivos

Constituição Federal de 1988
Art. 5° Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
(...)
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
Opiniões são respeitadas desde que o comentário tenha nome e sobrenome. O blog quer trocar experiências, discutir ideias sobre educação, e não agressões. É muito fácil ao covarde agredir, acusar ou denegrir esta educadora e se esconder no anonimato. Pior ainda em se tratando de um educador, bastante ignorante em sua política, o que entende de educação? só de assédio, é o que parece.


Acusar sem provas e agredir são crimes previstos na Lei. Comentar em computadores públicos é outra covardia, mas, uma hora ou outra o IP de onde acessa irá te acusar. E nós te pegamos, cuidado!

Como blogueiros temos a opção de aceitar ou não comentários anônimos, a fim de tornar o espaço interativo, sem preconceito. Mas, o tipo de comentários ofensivos no anonimato não se pode tolerar. Podemos moderar. Mas, para que dar asas para uma pessoa doente como tu!

Fique em paz, se a tua consciência assim o permitir. Estou bem e muito feliz, meu querido! Para enriquecer o bom debate que tal, Chico Xavier, por aqui: "Se as críticas a você são verdadeiras, não reclame: se não são, não ligue para elas". Por este motivo deixei você livre por mais de três anos, mas, cansei de encher a tua bola. Se declare, querido anônimo, um dia você se cansa de me perseguir. Dá até para desconfiar, né? O que tu queres, meu bem? Chega de dar espaço para as tuas loucuras, de publicar teus comentários como isca. A tecnologia avança, assim como os modos de rastreamento!

Esta é uma forma mais humana e solidária de te reeducar. Tudo poderia continuar no silêncio. Afinal, somos educadores e como Orientadora Educacional e Psicopedagoga escolhi esta opção, por enquanto. Fique em paz!

domingo, 19 de maio de 2013

Orientador Educacional: uma profissão em extinção?

Uma das funções da pedagogia que mais me identifiquei foi a da "Orientação Educacional", embora tenha cursado Administração Escolar, entre 88 e 90, no Paraná. Cursei no Pará, a Orientação Educacional e depois a Psicopedagogia.
A "Federação Nacional dos Orientadores Educacionais" (FENOE) foi extinta em meados da década de 90. Os conhecimentos que fundamentam a prática interdisciplinar do orientador educacional entrecruza os saberes de Psicologia, Sociologia, História da Educação, e outros como Antropologia, Ciências Políticas, Metodologia e a Pesquisa como abordagem qualitativa.

Falo de extinção nos cursos de Pedagogia desta função pedagógica importante por ter ficado em aberto a formação profissional do orientador, pelas palavras publicadas na própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), que em seu artigo 64, orienta/induz:


"A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feira em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional".

Ou seja, deixa a critério das instituições que, na maioria, relegam para a pós-graduação tal demanda, se houver... As escolas precisam desta função pedagógica e a nossa faz acontecer através das intervenções que urge na comunidade escolar.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura, aprovado em 13/12/2005, e a Resolução CNE/CP n.1, de 15/05/2006, reduzem a "orientação educacional" à área de serviços e apoio escolar. Contraditoriamente, o artigo 5° de ambos, mencionam que "o egresso do curso de pedagogia deverá estar apto..." para uma série de ações/intervenções, e que a gente na prática verifica que nossos colegas não foram formados para atuar, e nos angustia diante do projeto da escola que clama por essas competências/habilidades, que no caso as orientações legais apontam para a necessidade de um trabalho integrado com outros profissionais da educação ou parceiros institucionais como o psicólogo e o assistente social. Antes éramos formados por dois anos e dali saíamos como Pedagogos/Orientadores Educacionais ou Pedagogos/Administradores Escolares ou Supervisores Escolares. Para cursarmos a Pedagogia inteira levávamos em média 6 anos.

Como poderemos cumprir como egressos, sem a formação específica, com o que esses importantes documentos prescrevem no artigo 5°...


II compreender, cuidar e educar crianças de zero a cinco anos, de forma a contribuir para o seu desenvolvimento nas dimensões, entre outras, física, psicológica, intelectual, social;
VII promover e facilitar relações de cooperação entre a instituição educativa, a família e a comunidade;
XIV realizar pesquisas que proporcionem conhecimentos, entre outros: sobre alunos e alunas e a realidade sociocultural em que estes desenvolvem suas experiências não-escolares; sobre processos de ensinar e de aprender, em diferentes meios ambiental-ecológicos; sobre propostas curriculares e sobre organização do trabalho educativo e práticas pedagógicas.

Cheguei a orientar um TCC que traz esse questionamento (O papel do orientador educacional na escola, 2007). Após a LDB 9394/96, se dá mais ênfase à gestão escolar e pouco se estuda/discute sobre as dificuldades de aprendizagem ou inclusão/adaptação escolar, que atualmente necessitam de pesquisa pedagógica, na área da orientação educacional.

Apresento alguns flashes que aconteceram nas últimas quinta-feira e sexta-feira, em nossa escola, através da abordagem da "Orientação Educacional", sendo o orientador educacional, na pessoa do Professor Elias Gomes, da Fundação Escola Bosque, como ponte entre estudantes, educadores - que inclui na nossa concepção todos os funcionários da escola, pais ou responsáveis do alunado.











terça-feira, 19 de março de 2013

Ler e aprender com a criança: histórias das interações e mediações da palavra


Como professora eu preciso de uma avaliação diagnóstica para pensar num programa de ensino e de meus estudos cujo princípio necessita da hesitação, da pausa, da dúvida, do olhar no ar, da mão que encobre a palavra e deixa visível, sem querer, o movimento do lápis que nos faz ler a palavra sobre suas mãos, o sorriso escorregadio e o apelo de aprovação ou da dica de qual a letra ou o fonema, mesmo que seja só o movimento de sua emissão... e vem a gente dizer tenta de novo, fale a palavra, pense na primeira letra e na última, mas, se está lendo a palavra dizemos quantas letras tem, quantos sons possui, qual a primeira e a última, quantas vogais têm e a lógica ajuda a repensar a palavra, a buscar combinações de seu repertório, abandonar a estratégia de dizer qualquer letra ou som em busca de nossa afirmação sem contar com a sua própria certeza... afinal, porque quer a nossa aprovação, algumas letras e sons se confundem, as complexas palavramundos dos textos musicados, poetados, contados, informativos e que são homófonas (de igual pronúncia, grafia e significado diferente), homógrafas (de pronúncia e significado diferentes e mesma grafia) , parônimas (grafia e pronúncia “parecidas” e de significados diferentes), homônimas (significados diferentes, mas, de “mesma” pronúncia e grafia)... Será que teme o erro? O que já sabe sobre escrever errado? E lá vamos juntos tentar entender porque são tão parecidas, de posse do conhecimento da língua vamos interagindo com o nosso tal português.

Afora adentrar no mundo das imagens, das lembranças, dos movimentos, da dinâmica da vida, das emoções e sentimentos, dos símbolos, dos recursos visuais tão múltiplos e encantadores como as palavras e seus significados e sentidos no contexto... e que viagem, meus queridos amigos, já passamos e estamos passando na escola com nossos coleguinhas, é são mesmo muitas aprendências novas, e o papo vai longe por vezes e lá vem um nova palavra compor essa aventura de aprender a ler e que tem o poder de nos reviver, de nos enviesar... coisas a torto e a direito que nos recompõe mais parceiros das letras nas palavras e seus tantos mais dizeres e modos de usá-las nesse mundão aí, lá em casa, afora de nós e por dentro que nos espezinha e poeta também, afinal, ninguém é de ferro.
E quem quiser que conte outra, me dá licença agora que estou louquinha para voltar a interagir com as nossas crianças lá da nossa escola. Beijinhos mil e bye, bye, ao astral mil de bom.
Múltiplas linguagens. É a vida na escola. Obrigado, crianças!

domingo, 17 de março de 2013

Escrita da vida

ASSUNTOS DO VENTO... e melhor assim com Mil-tons "Com o coração aberto em vento. Por toda a eternidade. Com o coração doendo. De tanta felicidade. Coração, coração, coração. Coração, coração... ".

FOLHA CORAÇÃO, a educação para mim é isso, papel e lápis de folhas, de árvores, de vida! Precisamos saber escrever nela a nossa história, marcada de alegrias de tantas mãos que escrevem, olhos que espiam o mundo e pensamentos que se registram nas folhas da vida, carregadinhas de nós.

domingo, 3 de março de 2013

Escolha da Palavra: o rio é rua, a ilha é o Paraíso

Aprendo com leituras e por aqui reaprendo a "palavramundo" das crianças da Ilha de Mosqueiro, alunado advindo de 13 localidades. Repenso a palavra e o contexto junto com os educadores de lá, porque “cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo dialeticamente” (Santos, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção, Ed. Hucitec, 1996, p. 273). Essa população é urbano-ribeirinha-extrativista, exige-nos atenção ao discurso, importante escolha da palavra, conforme Paulo Freire, afinal, a palavra é um "signo social ideológico" (Bakhtin - Marxismo e filosofia da linguagem, 2004).

Amanheci com as histórias do povo daqui, aclimatada pelo inverno típico de Belém. Um sonhar acordado de olhos amanhecidos. Hum! ...a vida é sonho (La Barca, 2007) e tudo se mistura, e aí é preciso manter o caráter enigmático do sonho, segundo Benjamin (1984), por isso vou seguindo entre enigmas e aprendências.

Redescubro Mosqueiro nas matutinas idas pedagógicas para lá e enriquecida com o tempo das aprendizagens de lá venho da nossa Escola a Belém.

Chego às "palavramundo" de Paes Loureiro (Cultura amazônica: uma poética do imaginário, Ed. Cejup, 1991), no vai e vem das ondas da Praia do Paraíso, e entremeio aos barcos e à mata ciliar ecoam as palavras dessas águas pardas, por lá reli que os rios “escondem embarcações encantadas na manga de sua casaca de lendas, devora cidades, alimenta populações, guarda em suas profundezas ricas encantarias habitadas pelos Botos, Uiaras, Anhangás, Boiúnas, Cobra Honorato”.

E a música de Ruy Barata e Paulo André, vai nos reencantando no cenário da escola e no chão de assentamentos ou ocupações...

ESSE RIO É MINHA RUA

Esse rio é minha rua / Minha e tua, mururé/ Piso no peito da lua / Deito no chão da maré / Pois é, pois é.../ Eu não sou de igarapé / Quem montou na cobra grande / Não se escancha em poraqué / Rio abaixo, rio acima / Minha sina cana é / Só em pensar na mardita / Me alembrei de Abaeté / Pois é, pois é... / Eu não sou de igarapé / Quem montou na cobra grande/ Não se escancha em poraqué / Arresponde boto preto / Quem te deu esse piché / Foi limo de maresia / Ou inhaca de mulher? / Pois é, pois é... / Eu não sou de igarapé / Quem montou na cobra grande / Não se escancha em puraqué.



sábado, 2 de março de 2013

Pacto com a práxis libertadora

O que chama o menino, à esquerda, para essa atividade de escrita? 

[Esta é uma boa pergunta].



- O que chama o aluno à escola?
- O que seduz o educador?

A escola é o lugar da cultura viva, do dia-a-dia do aprendente, de (re)encantos, de novas combinações que ajudam a reinventar, reescrever a história e transformar vidas.

O contexto sociocultural, o pensar reconstrutivo, o processo interativo, mediado, interdisciplinar, contextualizado. Um currículo com dois olhares: um interno/internalizado e outro no mundo lá fora/articulado. A linha pedagógica do socioconstrutivismo/etnopedagogia quer formar cidadãos que saibam pensar, ouvir o outro e respeitar o diferente.

O pacto da alfabetização deve respeitar essa autonomia do pensar, reinventar, de sentir-se bem, de construção das autorias (autoimagem, respeito próprio, autoestima, percepções), das argumentações, da cooperação, do processo reconstrutivo...



E o "mas" acontece, é um conectivo... é preciso reencantar a educação!


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

domingo, 27 de janeiro de 2013

Despertar do ano letivo: do chão da vida às portas da escola


 O galo canta... o cotidiano se descortina!
 
... às janelas do paraíso no percurso da Escola,
são as travessias, e ondas vem e vão...
Tem criança que acorda bem cedinho para percorrer 3,5 km por cerca de 1h30 até o ponto da rota escolar, onde o ônibus lhe apanha por volta das 7h. Veículo que percorre, em média, o seu trajeto de uma hora até a escola. A ponte de um dos "Projetos de Assentamentos do Incra" está em estado crítico e impede o acesso do ônibus nessa localidade, que dista da pista 5 km.

As aulas começam sempre às oito da manhã. Algumas crianças acordam às cinco, ou seja, levam em média três horas para fazer a sua primeira refeição. Algumas delas nem jantaram. Sua última refeição foi a da escola e à tarde. Nossa escola é de tempo integral.

Ponte de Assentamento sem condições da trafegabilidade
do ônibus escolar, com peso bruto total acima de 5 toneladas 
A criança de diferentes lugares de Mosqueiro, das bandas dos Assentamentos ou Invasão, é da idade de 3 a 6 anos, por vezes de família discriminada das demais da Ilha no posto de saúde, sempre volta para casa sem atendimento, e conforme relato dessas famílias, dizem ainda que não encontram um médico para crianças. Apesar de não ser papel da escola, por vezes é que leva às crianças a esse lugar público para que seja atendida.

Não mais a Secretária de Educação, mas, na semana passada, a Senhora Therezinha nos indicou uma médica da família que irá nos orientar como partícipe de ação educativa e em importantes intervenções.

Esse janeiro valeu a pena porque nossos estudos também aconteceram no chão das comunidades, onde as crianças foram maravilhosamente as nossas ensinantes, talvez umas das melhores que já tivemos na Academia - da Vida - e como guias reapresentaram o lugar donde moram. Saboreamos muito a posição de aprendentes e vestimos a camisa do Projeto Eco Político Pedagógico.

O chão da escola foi ressignificado pelas crianças em suas comunidades. Aulas fora de sala de aula.
Pira-Macaca, Pira-se-esconde, Pira-lata, Pira-Garrafa, Corrida, Saltos, Balanços...
Escritas pelo chão marcam as infâncias!

Novos tempos de aprender se iniciam amanhã com o primeiro dia letivo de aula deste 2013.

Agradeço a todos, às professoras e aos monitores pedagógicos que acreditaram na palavramundo e neste trabalho de campo, aos funcionários que também participaram dessas ações educativas e tornaram nossa escola ainda mais feliz.

E a história segue o seu curso... O Projeto Eco Político Pedagógico abre o novo ano, dados importantes irão recompô-lo nessa obra coletiva.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Projeto Eco Político Pedagógico: uma obra coletiva

O professor pesquisador deve ser um observador sensível e delicado, apaixonado por tudo aquilo que vê e sente a uma só vez. Entretanto, nada impede que trabalhe com fotografias, imagens em movimentos, depoimentos, entrevistas etc. (Colodete e Pinel, 2004).

"A transposição da fotografia para a memória empresta-lhe o movimento contínuo do pensamento, que é o que se torna necessário fazer para que a foto isolada exprima o seu conteúdo latente e não explícito". (Marcel Proust. Em busca do tempo perdido, apud Míriam Leite, 2001).

"Os passos tecem lugares, moldam espaços, esboçam discursos [por onde andam] (...) O caminhar é uma enunciação pois o pedestre se apropria do sistema topográfico (como nos apropriamos da língua), faz do lugar um espaço (como fazemos da língua um som) e se relaciona com a cidade através de seus movimentos (como nos relacionamos com o outro através da língua)". (Michel de Certeau. Caminhadas pela cidade. In: A invenção do cotidiano: arte do fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994).

 Estar com o aluno, a aluna fora de sala de aula é enriquecedor... "O sujeito aprendente situa-se nos diversos 'entre', mas, por sua vez, os constrói como lugares de produção e lugares transicionais. Entre a responsabilidade que o conhecer exige e a energia desejante que surge do desconhecer insistente. Entre a certeza e a dúvida. Entre o brincar e o trabalhar. Entre o sujeito desejante e o cognoscente. Entre o ser sujeito do desejo do outro e ser autor de sua própria história. Entre a alegria e a tristeza. Entre os limites e a transgressão". Enfim, "o 'entre' que se constrói entre o sujeito aprendente do aprendente e o sujeito ensinante do ensinante é um espaço de produção de diferenças". (Alícia Fernández, O saber em jogo: a psicopedagogia propiciando autorias de pensamentos. Artmed, 2001, p.56).

Ponto alto do trabalho na comunidade é o acontecimento da escuta sensível, processos de saber ouvir narrativas orais... memórias vivas da história que se redesenha no presente, assim, o homem reconstrói o seu passado.

"Para que nossa memória se beneficie da dos outros, não basta que eles nos tragam seus testemunhos: é preciso também que ela não tenha deixado de concordar com suas memórias e que haja suficientes pontos de contato entre ela e as outras para que a lembrança que os outros nos trazem possa ser reconstruída sobre base comum". (Maurice Halbwachs apud Michael Pollack. Memória, esquecimento e silêncio. Estudos Históricos, 1989, p.3-4).