terça-feira, 28 de junho de 2011

As folhas pretas do café: histórias de muito frio


Como professora que adora contar histórias para crianças inicio esta postagem. Existem histórias sem muitos finais felizes. Onde estão nossos velhos contadores de histórias e os jovens interessados em saber da História?

A que trago aqui movida por uma conversa de casa assistindo noticiários ontem, foi das lembranças paranaenses de quem está bem longe só com lembranças da sensação térmica do "muito frio". Tempo legal até, porque nos aproxima mais do outro. Muitos de nós entregamos calor aos moradores de favela ou pessoas que estão nos bancos das praças, em marquises, embaixo das pontes ou envoltas em jornais ou papelão. Sem esquecer dos animais que também podem - e muitos acabam morrendo de hipotermia.

Sobre histórias vou contar esta daqui com o título de "Geada Negra". O Paraná produzia "UM TERÇO" de todo o café consumido no mundo inteiro. Em 1975, e uma semana antes do fatídico dia 17 de julho, 10 milhões e 200 mil sacas foram colhidas. E, no ano seguinte somente 3 mil e 800 sacas colhidas. Algo muito simbólico.

Em Paranaguá, litoral paranaense, o único prédio de 12 andares que tínhamos era o "PALÁCIO DO CAFÉ", até um bocado de tempo despontou ali sozinho no centro de nossa cidade histórica, logo em seguida mais dois edifícios residenciais em outros cantos. Foi inaugurado em 29 de julho de 1961, como grande acontecimento do Estado. Era o 313o. aniversário de nossa litorânea cidade e na fase áurea do café.

Assista ao vídeo da inauguração aqui:
O Porto de Paranaguá tinha o status de ser o maior exportador de café do mundo. Na década de 60, o Paraná produzia mais de 20 milhões de sacas ao ano.

Mas a história de fato vocês poderão ver parte dela no documentário a seguir. A história para crianças e jovens de todas as idades, pode ser classificada como drama ou até ficar na sessão de horror, por onde atravessa o sentimento de muitas famílias, como eu disse no começo, a essas particularmente o fim da história não foi nada feliz. Afetou a todos nós paranaenses ou brasileiros.

Pobres e ricos choraram juntos, fossem autoridades ou indistintos pequenos, médios e grandes agricultores:

A nossa história se faz com respeito às histórias de todos outros que nos antecederam e para com suas experiências fazermos do nosso lugar e no nosso estar nesses lugares um novo tempo de gente mais feliz e humana.


Somos a continuidade das esperanças deles e das que por aqui fazemos e sonhamos aos que virão. Sejamos todos felizes! E vamos que vamos...

terça-feira, 21 de junho de 2011

Padrão de testes e a questão do não-aprender: médias ou situações marginais

[Clique na imagem para ampliá-la]. Quino, Toda Mafalda, p. 5.

Preocupa-me em ler tabelas e gráficos que estampam notas do alunado, escolas e sistemas. Ali os números falam das médias. Quando acompanhamos na escola os alunos que aprendem bem nos angustiamos com o não-aprender. E é aí que devemos reunir nossos esforços.

A média das escolas de "uma rede" gira em torno de 50% a 60%. Os números estatísticos variam percentual acima ou abaixo como margem de segurança. Neste perímetro, inclusive alunos que não vão tão bem no dia da prova oscilam por questão de humor ou saúde. Fora ainda a questão da inabilidade de manusear o cartão-resposta. Talvez, acrescenta-se ainda nesta margem mais 5%, além da margem do alunado com necessidades educacionais especiais.

Questão 1: Quem são estes alunos do miolo - da média? Há um perfil comum deles que se espalha nas diferentes escolas... a saber.

Material Dourado: possibilidades criadoras, contexto e lógica matemática
Questão 2: E os outros alunos dos 40% ou 50% que ficam à margem dos melhores resultados? Como aprendem? Programas de aceleração de aprendizagem atendem bem a qual objetivo? Espero que da felicidade de alunos e alunas, identificados em suas identidades ou respeitados em suas singularidades, as aprendizagens situadas e pelo objetivo das possibilidades criadoras e sonhos talvez.

A coisa fica mais feia quando nos deparamos com os resultados da matemática, a média de uma rede de escolas cai para 40% a 30% como segurança dos resultados mais bem-sucedidos.

Material Dourado e a (de)composição. Quantas dezenas tem em 2968?
O aluno responde? O professor conhece?
O que os números da matemática nos alertam? A dificuldade de pensar. Ainda mais quando descobrimos que os erros incidiram na questão da decomposição (contém – está contido – inclusão – agrupamento). Penso que o maior problema está mais é na “composição” desse conhecimento. Desconstruir saberes é ajudar o aluno no processo de andaimagem*, identificar o que o aluno conhece dentro dos saberes de seu cotidiano que permeiam seu fazer.

Qual é o grau de "consciência" e como fazê-lo tomar consciência do que sabe? Resgatar a auto-estima é um dos pressupostos. Aproximar-se do que sabem e gostam para ampliar o conhecimento do que sabem e gostam e ter gosto de ler, pensar e dizer. Saber ensinar é saber aprender e atuar na ZDP (zona de próximo desenvolvimento) de Vigotsky. Parece fácil nos discursos para alguns ou puro chavão para outros.

Se o teste é um padrão, o que está às margens dele? A escola sabe? O sistema sabe? Os avaliadores sabem? Como transformar esses saberes em conhecimento e melhor desempenho do alunado? Caso contrário, corre-se o risco de se procurar culpados e nada resolver.


Aprendizagem situada. Modelagem matemática. Textos matemáticos. Letramentos múltiplos. Leitura de mundo. A escola centra nos alunos que são da média, o erro é não olhar para o não-aprender.

Texto Matemático. (Quino. Toda Mafalda, p. 61). 
O discurso da escola é para alguns – de 30% a 60%. Varia de acordo com o lugar que ocupa esta escola. Do bairro e comunidade circundantes e a forma como lida com as emoções, as cotidianidades, as influências sociais e dentre elas, a violência que fica à margem dos padrões e belezas.

Material Cuisenaire: reguinhas coloridas, ideias matemáticas e equivalências. 
Sobem um pouquinho mais ou descem um pouquinho menos – previsível nas margens dos 10%. Margem estatística. Precisamos trabalhar a formação integral do alunado e continuada de educadores.

O que privilegiamos na escola, a formação da média ou a inclusão dos alunos que se situam na margem menos privilegiada? O que é mais difícil: dirigir o discurso aos alunos da média ou saber incluir todos no mesmo discurso? O que nos falta?

Quino. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 2003 (p. 63).


* Andaimagem é um conceito metafórico que se refere a um auxílio visível ou audível que um membro mais experiente de uma cultura pode dar a um aprendiz [...] em qualquer ambiente social onde tenham lugar processos de sociabilização. (Bortoni-Ricardo et. al., 2010, p. 26).


Referência
- BORTONI-RICARDO, Stella Maris; MACHADO, Veruska Ribeiro; CASTANHEIRA, Salete Flores. Formação do professor como agente letrador. São Paulo: Contexto, 2010.
FINO, Carlos Nogueira. Vygotsky e a zona de desenvolvimento proximal (ZDP): três implicações pedagógicas. Disponível em: http://www3.uma.pt/carlosfino/publicacoes/11.pdf

sábado, 11 de junho de 2011

Como "apede a le": os deleites de morar dentro de livros

Menina a ler, Anónimo (c. 1860)
Gente,


"Como apende a le" (e assim mesmo sem ponto de interrogação). Desculpe-me, mas, achei tão bonitinho quando vi esta escrita dentre as palavras-chave nas "origens de tráfego", na data de ontem, que não resisti em fazer este breve post.


Quem será que escreveu estas palavras-chave?




Lembro-me do meu outro blog - já encerrado - e que eu conversava com crianças através de acadêmicas e acadêmicos. Chamávamos de crianças colaboradoras. Levavam para sala crianças ou brincavam com elas em casa ou na casa delas. Criança atrai criança. Bom tempo de ser criança!


Deste modo, o "Literagindo-paraoara" nasceu com esta intenção de ser para crianças...


Mas, resolvi voltar para aprender mais com as crianças da escola. E deixei o Curso de Pedagogia que lecionei de 2003 a 2010.


Flash das múltiplas linguagens da Pedagogia: eu era feliz e sabia!!



Loucura para alguns. Para mim, o deleite. Voltei para a escola.


Sou assim fascinada por Lobato que lá nas cartas para seu amigo Godofredo Rangel, já manifestava a ele a sua bela e inspirada intenção: "ando com ideias de entrar por esse caminho: livro para crianças. De escrever para marmanjos já me enjoei. Bichos sem graça. Mas para as crianças um livro é todo um mundo. Lembro-me de como vivi dentro do Robinson Crusoé do Laemmert. Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar. Não ler e jogar fora; sim, morar, como morei no Robinson e n'Os filhos do Capitão Grant".


À noite, ou Ilusões Perdidas (Le Soir Les perdues Ou Ilusões ).1843.
Charles Gleyre. 
Óleo sobre tela. 23,27 x 41,5 cm (59,1 x 105,4 centímetros
Momentos de solidão, sentimento de fracasso com o devir misturado às esperanças e aos sonhos de um mundo melhor. Sentimentos, emoções e pensamentos que acometem e atravessam todo e qualquer jovem, não é mesmo? Ainda mais inspirado pelo quadro de Gleyre (1843). Na ocasião das cartas, Lobato tinha somente 22 anos quando escrevia para Rangel, seu amigo de estudos, e lia a vida através da barca de Gleyre.


A metáfora da "ilusões perdidas" é retomada em 1944, quando batizou-se o livro "A barca de Gleyre: quarenta anos de correspondência literária entre Monteiro Lobato e Godofredo Rangel".


Gosto de vivenciar e estudar para ajudar as crianças aprender a ler junto com outros aprendentes como eu.


Referências


LAJOLO, Marisa; CECCANTINI, João Luís (Org.). Monteiro Lobato livro a livro: obra infantil. São Paulo: Editora UNESP: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008.


LOBATO, Monteiro. A barca de Gleyre: quarenta anos de correspondência literária entre Monteiro Lobato e Godofredo Rangel. 9 ed. São Paulo: Brasiliense, 1959. (p.239)

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Persistência e Esperança: o pouco pode ser muito

Aluna, 12 anos.
O ato da escrita: emoção, desenho e expressividade.
Debates ou gestos? “Deseinhos bobinhos" ou grandes dissertações?

Não interessa a forma, pois, na batalha contra a violência e o bullying, toda e qualquer atitude com alunos e alunas pode fazer a diferença. Só sei que deve sair dos bancos e teses acadêmicas e se voltar para a escola. Com afeto e inteligência. Consciência e compromisso pedagógico. Sem oposição pela paz.

E não demorar muito, pois, a cada dia muita coisa acontece e ali na escola elas precisam da gente. Um ou cinco minutos no lance de um olhar significativo pode modificar alguma coisa dentro da criança ou do jovem. Nada efêmero.

Prevenção, cura ou reeducação qual a medida certa para cada caso? Você distingue no momento seguinte ao olhar. Experimente e ali você decide com a criança de toda idade.

Estou por aqui no blog a escrever sobre o tema desde 2010. Neste ano a mídia pipocou de exemplos vivos, marcas profundas na vida de muita gente que vive a escola ou passa na frente dela ou ao seu largo na memória, críticas ao moderno ou cheio de saudosismo, apoiando ou banalizando o tempo atual.

Antigamente existiam ou pouco se comentava. Hoje se tem mais estudos sobre o assunto. Quantas referências por aí e por quê? A vida corre, as pessoas sem tempo para olhar o outro. A moral e a ética exigem paciência e respeito pelo outro e pela nossa outridade. Pior que tem muita gente opinando e pouco fazendo.

Menina, 11 anos.
Assim na escola deixamos o papo e vamos lá conversar com as crianças. A cada dia sabemos de histórias de abandono, separação, marcas no corpo da criança, marcas no coração da criança que torna-se adolescente ou adulto, consequências sociais enormes, desconversas de alguns, preconceitos, maus-tratos, escárnios, denúncias, queixas, choros, voz contida, desenhos fauve, evocação do vazio, bonecos sem vida no papel, cenas incompletas, entrecortadas, composição borrada, trêmula, amasso do papel, sofrimento nele, pressão intensa, cores fortes, energias atravessadas, ocultação, simbolismos variados a dizer o que a boca não consegue falar, mas, também pensa que desenhos nada revelam.

Voltamos mais uma vez e outra, não cansamos de falar, cantar, representar o amor, o respeito, o cuidado como bandeiras da paz e da esperança. Ação positivista ou neoliberal? Qual é o enquadre de nosso fazer? Murmúrios por ali ou aqui nos acessos furtivos. Lá vem ela com aquela bobeira de novo. O aluno precisa ser expulso da escola! Medidas enérgicas. Aos órgãos de correção a solução do problema social. Punir ou transferir. O que fazer?

Ouvir a criança. Sentir a criança. Olho no olho.
Não há olhar sem escuta e escuta sem olhar (Wallon e Lacan).
E a educação? Qual é a filosofia da escola pública? Não, não pode ser "escola pobre para o pobre" (Demo, 2011). O que os governantes pensam? Tantas ideias novas surgem, programas, bolsas auxílios e kits são criados tomando o tempo do que mais importa: a aprendizagem do alunado. Estar ali com eles. Sentindo a temperatura de suas mãos e olhando o rosto que se desvia, envergonhado ou sofrido, cabeças e olhos rebaixados e quase sem esperança.

Deixar a criança falar.
Dizer sobre atos de escrita. Mediar saberes.
Vai demorar quanto tempo para chegar aqui com o aluno ou a aluna tudo o que se pensa lá em cima? Na academia, no governo... Quantos atravessamentos por aí vão e o que chega à sala de aula ou pátios escolares corresponde ao dito e escrito lá em cima? Quem confere? Como avalia?

Enquanto isso vamos nós criando as formas possíveis do amor, tendo paciência e persistência de lidar com a violência de todos os sentidos. Nada nos afasta das crianças de todos os tempos que ali estão matriculadas na escola. Algumas sem referência de educador em casa.

Destaco algumas passagens diante desta batalha do amor que me acorrem no fazer articulado e cujas alternâncias perpassam às funções e conexões da inteligência e da afetividade e que preponderam em diferentes momentos do desenvolvimento infantil e da consciência humana. Ora uma um pouco mais do que a outra, e não ao largo da outra. A natureza humana é dinâmica: pensar e fazer, fazer e pensar junto. A leitura aperfeiçoa o fazer. Torna-o melhor. É o que se espera, estudar torna as pessoas melhores.

Piaget: O afeto é o motor da inteligência. Entretanto, Piaget baseia-se na noção do autismo e do egocentrismo a defender que a consciência é primeiro individual para depois se tornar social, preocupar-se com o Outro. O pensamento egocêntrico das crianças “situa-se a meio caminho entre o autismo no sentido estrito da palavra e o pensamento socializado” (Piaget apud Vygotsky, p. 12).

Freud: ressalta o aspecto social e a pressão exercida pela sociedade sobre as nossas pulsões infantis. A consciência individual não é um fato primitivo. Há uma simbiose afetiva esboçada nos primeiros movimentos de diferenciação.

Wallon:para apreender-se como um corpo dentre os corpos, como um ser entre os seres, é preciso utilizar-se de analogias, assimilar o que já sabe, perceber, individualizar-se, e discernir os diferentes aspectos que vão lhe possibilitar ter uma representação de si mesmo” (1995, p. 211). O fantasma do outro, que cada um traz dentro de si influencia em nossas relações com o outro. Ou seja, “as relações entre o eu e o socius, ou outro íntimo, podem variar do normal ao patológico, como é o caso dos delírios de influência” (Bastos, p. 60). O socius é também denominado alter – interdependente, antagônico, confidente, conselheiro, censor e até espião. De onde vem o medo e a insegurança da criança ao representar suas emoções? E no processo expressivo de seu dizer(se)?

Maturana:O emocionar da convivência no discurso, na linguagem, não pode nem deve ser negado, porque é com ele que se dá o viver humano. É no emocionar que surgem tanto o amigo como o inimigo, não na razão ou no racional” (p.77).

Aurora Rabelo, no prefácio de Maturana (p. 7) “‘emoções são fenômenos próprios do reino animal, onde nós humanos, também nos encontramos, e que o chamado ‘humano’ se constitui justamente no entrelaçamento do racional com o emocional, na linguagem, faz desabar o imperialismo da razão”. Continua ela dizendo adiante sobre ele: “Maturana funda o social numa emoção em particular, o amor, por ser esta a emoção que permite a aceitação do outro como legítimo outro na convivência” (p.8).

Freinet:a criança dá provas das suas aptidões criadoras, porque incessantemente imagina, inventa e cria” (p.14) e é preciso “aclimatar a expressão livre da criança em aulas resolutamente abertas para a vida” (p. 15). Freinet critica: “o desenho e a pintura são tidos como atividades de luxo e que não devem usurpar as técnicas escolares consideradas essenciais” (p. 19). Entretanto, para ele: “o desenho e a pintura são para a criança actividades naturais e excitantes como a marcha, a linguagem, o canto e a dança” (p.26). Assim, a criança avança mais segura de si, é o que nos pondera Wallon mais adiante.

Falar com a criança e entre outras
é saber dialogar com os saberes que nos atravessam.
Ali com os alunos e as alunas nos sentimos bem em persistir neste complexo antídoto: o amor!

Desculpem-nos, mas, não dá tempo de elucubrações em determinadas horas, a escola está clamando por atitudes urgentes. Vamos conversando sem deixar a escola à mercê dos tempos ou programas que estão a chegar sabemos lá quando e quanto de fato da fonte chegará ao destino. Ela nos exige competências e atitudes. Saber se relacionar com as aprendizagens e nas atividades experimentais do laboratório da vida.

A escola é o nosso campus. “A pedagogia ensina a técnica mas não a arte”, segundo Freinet. O tempo urge, pois, “a criança estará engaiolada e mesmo que lhe abram a porta não se aventurará a sair” (p.120). Só pelo amor e persistência, e dadas às circunstâncias ou algumas mediações inteligentemente sensíveis!


As emoções são mediadoras das aprendizagens e dos aprendentes-ensinantes!

Leia:
















Referências
BASTOS, Alice Beatriz B. Izique. A construção da pessoa em Wallon e a constituição do sujeito em Lacan. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
DEMO, Pedro. Sobre falar e escrever errado: comentário sobre um debate duvidoso. Brasília, 2011. Disponível em: http://pedrodemo.sites.uol.com.br/textos/errado.html
FREINET, Célestin. O método natural II: a aprendizagem do desenho. 2 ed. Lisboa: Editorial Estampa, 1977.
MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.
VYGOTSKY, Lev. Pensamento e linguagem. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

Imagens primeiras: arquivo pessoal.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Retratos do Bullying e acenos de paz: olhar da inclusão e suas traduções

Menino, 9 anos
O trabalho desta exposição adveio de duas turmas: uma de alunos de Ciclo I (1o. ano ou Alfabetização) e a segunda é de uma turma de Ciclo II iniciante (4o. ano ou 3a. série).


Na turma 1, as crianças de 6 anos assistiram ao vídeo "Convivência" e a turma viajou junta na narrativa e através das imagens do livro "A Tartaruga Infeliz", de Therezinha Casasanta, conta a história que uma tartaruga gostava dos lustrosos pelos do coelho e de uma cachorrinha, além da agilidade deles na locomoção. Até que, no meio do passeio dos três amigos, uma mudança inesperada do tempo fê-los perceber que o casco duro servia sim como uma boa sombrinha, protegendo a amiga da chuva. E, ao contrário, os pelos dos dois amigos como barbantes encharcados. E ela mesma não mais se achou bicho sem graça. E "se você conhecer uma tartaruga infeliz conte esta história".


Já o vídeo "Convivência", retrata a forma de tratamento de quinze passarinhos, muito dos mal-educados, para com o passarinhão desengonçado com suas altas pernocas, bastante simpático e que tanto queria ser amigo deles. Sem acordo!


A conversa deu gosto a todos. Muita gente queria falar e tudo teve que se organizar direitinho. Um falava e outros ouviam. Assim todos puderam falar e ouvir. Os dizeres continuaram dando vazão às memórias casadas ao novo exibido ou narrado e assim as narrativas adequaram-se aos limites do papel e traduziram a imaginação e a relação de cada aluno com as experiências em comum na sala de aula.


Na turma da tarde, ao contrário, os alunos assistiram às mesmas apresentações expostas nos dois post anteriores, aqui e aqui, cantaram as músicas da paz, representaram seus saberes e emoções e, por último, formaram grupos operativos na hora do recreio e realizaram trabalhos em suas equipes.


Agrupamos algumas ideias por aqui.


1. Primeiro, o olhar de dois queridos alunos com necessidades educacionais especiais:
A menina, de 7 anos, foca a violência estampada na figura de corpo larvário. Sentiu medo?
O menino, de 6 anos, dá corpo à violência central, porém, ladeada pelo círculo da amizade, antagonismo que se defronta com a representação da professora (maior círculo azul na roda). São figuras continentes circulares. Bela mandala. Bela composição! Conversa nos trinques ao gosto da representação.
Os alunos frequentemente fazem desenho para a professora, ou outro leitor, como nós virtuais. Poucas são as representações que trazem os corpos relacionais, ou seja, que os protagonistas da cena interagem entre si, vivem o enredo, sem se preocupar de se mostrar ao leitor. Olhar dramático, com mais sentido e que sabe mostrar o significado das relações humanas. Alguns detalhes caminham para essa troca.


2. Retratos para o leitor - corpos frontais e alguns ainda combinam elementos de perfil, mostrando transição, pequena rotação, porém, é conflito natural das representações iniciais:
Menina, 9 anos. Não resolve na imagem, único quadro e um só tempo,
o problema exposto entre dois personagens à esquerda.
Menina, 6 anos, proteção reforçada às mudas (arco-íris escuro)
Menina, 6 anos. Meninos e Meninas em Paz.
Menina, 9 anos.  Deboche e Dança: violência e paz. Como integrar?
3. Corpos Interativos ou Relacionais: personagens dramatizam suas relações (bom esquema corporal).
Menino, 8 anos. No primeiro quadro, representa a violência, no segundo, busca  recuperar a amizade.
Observa-se sequenciação. São os mesmos personagens (de perfil, de frente ou de costa). Estes ainda sem as mãos.
Menina, 9 anos. Briga e reconciliação em tempos diferentes. Mesmos personagens de perfil. Pés com movimentos coordenados. Mãos um pouco ocultas ou indefinidas. Braços desproporcionais.
4. Letramentos incorporados: signos culturais
Menino, 6 anos. Linguagem das placas de trânsito e metáfora do coração.
(5) Encontramos esta representação de um aluno batendo na professora. Mostra o motivo da violência no balão. Inquietante!
Aluno, 9 anos. De onde vem esta memória? 
Acontece? Esperamos que sejam somente exceções. E muito raras. Sabemos que há casos igualmente esdrúxulos, de filhos que batem nos pais. De qualquer forma é um alerta. Falar palavrão em sala de aula, ou mesmo adulto preconceituoso que ofende crianças não são bons exemplos de educação. É igualmente pernicioso sejam os "educadores" pais ou professores. Adultos são sempre referências para as crianças.


Que seja só mais um pesadelo de criança, daqueles depois de ouvir uma história horripilante contada à meia-luz pelos mais velhos da casa... E do tipo "matinta-perêra", "mula-sem-cabeça" etc.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A paz ainda é um sonho possível...

Para Jonatha, do 4o. ano (terceira série): "a Paz está nas nossas mãos".
- Como construir a Paz? É o nosso desafio atual. Segundo Maturana e Varela (2005, p. 11), "nós nem sempre aceitamos as perguntas que nos são formuladas, ainda quando dizemos que as aceitamos. Aceitar uma pergunta significa mergulhar-se na procura de sua resposta".


Estou trazendo aqui a música que cantamos na escola e que, enunciei na postagem anterior, clique aqui para conhecê-la. Não sabemos ainda a autoria, mas, estamos chegando lá. Se souber nos ajude. Com ela fechamos a segunda etapa do projeto sobre fenômeno bullying na percepção de alunos e alunas da nossa escola. A questão para as equipes era problematizar a violência e encontrar uma solução possível. O primeiro momento consistiu nas percepções e representações do alunado, articulando memórias e o novo como forma de nos fortalecer diante de nossos medos, vergonhas, tristezas, isolamentos...


Vamos relembrar, a vinheta de final do ano 1990-1991, da Rede Globo de Televisão...


Os alunos e as alunas ficaram muito emocionados, colocamos a música conseguida por um conhecido e montamos um vídeo com as imagens de violência encontradas na net e outro vídeo com as imagens da escola, do alunado, em diferentes atividades pedagógicas, e suas relações aprendentes.
"Um mundo novo é possível", na opinião do aluno Luiz, do 7o. ano (sexta série).
"Todo conhecer faz surgir um mundo" (Maturana e Varela, 2005, p.35). Isto que nos anima a aprender, porque o "conhecimento não é passivo - e sim construído pelo ser vivo em suas interações com o mundo -, a postura de só levar em conta o que é observado deixa de ter sentido" (id, p. 16).


Referência
MATURANA, Humberto R.; VARELA, Francisco J. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. 5 ed. São Paulo: Palas Athena, 2005.

Diálogos da beleza: xô, violência!

- Contemplar as belezas da escola e harmonizar o olhar:


O verde novo (na opinião das crianças): a natureza, a criança, o desenho, o aperto de mão, o abraço, a alegria, a esperança, o carinho, a amizade, a gratidão, a bondade, a obediência, a sinceridade, a harmonia, a sabedoria.

Melhor ainda foi ouvir as definições que o alunado deu para cada palavra, "somos um dicionário ambulante", como nos disseram.

- Discutir sobre as formas de violência do cotidiano

O verde desmaiado (na opinião das crianças): o abandono, a tristeza, o xingamento, o racismo, o desrespeito, a ingratidão, a encrenca, a desunião, o palavrão, a desobediência, o pecado, o ciúme, a inveja, o ódio.

Limites percebidos: “pedir desculpas é difícil...”, sempre nos achamos com razão, a raiva é maior”.

- Cantar a paz que temos no coração

Músicas: A Paz (Roupa Nova), de Michael Jackson; e “Eu não pedi para nascer...”. Esta última não sabemos o título da música e nem a autoria, só temos a lembrança de que fez parte de uma campanha publicitária no final da década de 80 e participou do encerramento do programa “Criança Esperança”, da Rede Globo de Televisão, no início deste milênio. Se alguém conhecer, por gentileza, nos ajude a dar os créditos. Ela é muito bonita, as crianças adoraram, e também se encaixa com as nossas conversas sobre bullying e a cultura de paz na escola.

- E no trabalho dos grupos operativos (azul, amarelo, laranja, vermelho, roxo, branco), e durante nossas conversas, ouvimos as opiniões dos alunos sobre:

Motivos de bullying: não existe de fato, para eles, porque a causa é pequena. Apontam a inveja e o ciúme como motivo de brigas. Inveja do corte de cabelo, do sapato, da pulseira, do lápis com borracha na ponta, do celular, do ter dinheiro para comprar lanche no recreio... Ciúme da professora que dá mais atenção para um aluno do que para outro, ou do colega que sabe escrever, se dar bem nos cálculos ou responder questões de sala.

Na onda da conversa disseram que o bullying só acontece porque: “o colega não conta para a professora”, “muitos de nós sentem vergonha de contar para a mãe em casa e cheios de medo resolvem não contar para ninguém”, “todo mundo ri e nos chama de bobo como os meninos maiores”, “apanhamos mais”.

Solução: "separar os colegas na hora da briga", "e não ficar rindo e incentivando mais, se não vai dar uma confusão danada com os pais e a escola", "e todos saem machucados", "os professores tem que dar mais atenção aos alunos e conversar conosco"...

Conclusão: “só existe bullying porque permitimos que ele aconteça”. Consideram que a queixa para a professora na escola pode ser uma boa, é o primeiro passo dado, já que a maioria das vezes o problema começa na escola entre colegas. Para eles não devem contar aos adultos porque é briga boba entre colegas e que eles mesmos devem resolver. Preferem a ideia da resiliência - da fortaleza de si mesmo, da auto-estima, da autoconfiança, ao invés de chatear a família, os responsáveis de alguns, os professores e a escola.

- Nos problemas, e em busca de suas soluções, durante atos de escritas e suas representações, ali eles e elas atravessam cotidianos e sentimentos com muita emoção e atenção, como se observam nos slides abaixo:


Expressar e harmonizar nossos contrastes: sensibilidade, beleza, violência, tristeza, medo, amizade, e pelo amor em busca de paz. É possível sim! Depende de nós. O mundo pode mudar. É o que desejamos!

Saímos de cada turma com estas palavras e seus cantos.



De outubro a dezembro de 2010, envolvemos inicialmente, 33 turmas e 762 alunos. Novo ano letivo sempre exige reorganização das turmas, assim, o alunado se espalhou em outras turmas, incluindo novos e diferentes colegas na discussão temática. Vamos atingir assim a maioria dos mais de dois mil alunos.
O fenômeno bullying nos retratos de nossos alunos e alunas
Sabemos que ainda é pouco, mas, “alguma coisa precisa ser feita”, usando as palavras animadas do alunado.
Enquanto tivermos força para lutar, na batalha estamos! Pelo amor e em nome da EDUCAÇÃO somos como beija-flores que, de gotinha em gotinha, pretende apagar o incêndio da floresta!
Marcelino, 6a. série
A sugestão para nossa escola, vinda do aluno Paulo "Fiel", da turma "Cobra-Grande":
A crítica
A proposta
Para finalizar a alegria do aprender juntos - a boa energia - de nossos alunos, alunas e professores envolvidos para todos os nossos leitores e amigos virtuais:
Sejamos TODOS felizes!