quinta-feira, 9 de junho de 2011

Persistência e Esperança: o pouco pode ser muito

Aluna, 12 anos.
O ato da escrita: emoção, desenho e expressividade.
Debates ou gestos? “Deseinhos bobinhos" ou grandes dissertações?

Não interessa a forma, pois, na batalha contra a violência e o bullying, toda e qualquer atitude com alunos e alunas pode fazer a diferença. Só sei que deve sair dos bancos e teses acadêmicas e se voltar para a escola. Com afeto e inteligência. Consciência e compromisso pedagógico. Sem oposição pela paz.

E não demorar muito, pois, a cada dia muita coisa acontece e ali na escola elas precisam da gente. Um ou cinco minutos no lance de um olhar significativo pode modificar alguma coisa dentro da criança ou do jovem. Nada efêmero.

Prevenção, cura ou reeducação qual a medida certa para cada caso? Você distingue no momento seguinte ao olhar. Experimente e ali você decide com a criança de toda idade.

Estou por aqui no blog a escrever sobre o tema desde 2010. Neste ano a mídia pipocou de exemplos vivos, marcas profundas na vida de muita gente que vive a escola ou passa na frente dela ou ao seu largo na memória, críticas ao moderno ou cheio de saudosismo, apoiando ou banalizando o tempo atual.

Antigamente existiam ou pouco se comentava. Hoje se tem mais estudos sobre o assunto. Quantas referências por aí e por quê? A vida corre, as pessoas sem tempo para olhar o outro. A moral e a ética exigem paciência e respeito pelo outro e pela nossa outridade. Pior que tem muita gente opinando e pouco fazendo.

Menina, 11 anos.
Assim na escola deixamos o papo e vamos lá conversar com as crianças. A cada dia sabemos de histórias de abandono, separação, marcas no corpo da criança, marcas no coração da criança que torna-se adolescente ou adulto, consequências sociais enormes, desconversas de alguns, preconceitos, maus-tratos, escárnios, denúncias, queixas, choros, voz contida, desenhos fauve, evocação do vazio, bonecos sem vida no papel, cenas incompletas, entrecortadas, composição borrada, trêmula, amasso do papel, sofrimento nele, pressão intensa, cores fortes, energias atravessadas, ocultação, simbolismos variados a dizer o que a boca não consegue falar, mas, também pensa que desenhos nada revelam.

Voltamos mais uma vez e outra, não cansamos de falar, cantar, representar o amor, o respeito, o cuidado como bandeiras da paz e da esperança. Ação positivista ou neoliberal? Qual é o enquadre de nosso fazer? Murmúrios por ali ou aqui nos acessos furtivos. Lá vem ela com aquela bobeira de novo. O aluno precisa ser expulso da escola! Medidas enérgicas. Aos órgãos de correção a solução do problema social. Punir ou transferir. O que fazer?

Ouvir a criança. Sentir a criança. Olho no olho.
Não há olhar sem escuta e escuta sem olhar (Wallon e Lacan).
E a educação? Qual é a filosofia da escola pública? Não, não pode ser "escola pobre para o pobre" (Demo, 2011). O que os governantes pensam? Tantas ideias novas surgem, programas, bolsas auxílios e kits são criados tomando o tempo do que mais importa: a aprendizagem do alunado. Estar ali com eles. Sentindo a temperatura de suas mãos e olhando o rosto que se desvia, envergonhado ou sofrido, cabeças e olhos rebaixados e quase sem esperança.

Deixar a criança falar.
Dizer sobre atos de escrita. Mediar saberes.
Vai demorar quanto tempo para chegar aqui com o aluno ou a aluna tudo o que se pensa lá em cima? Na academia, no governo... Quantos atravessamentos por aí vão e o que chega à sala de aula ou pátios escolares corresponde ao dito e escrito lá em cima? Quem confere? Como avalia?

Enquanto isso vamos nós criando as formas possíveis do amor, tendo paciência e persistência de lidar com a violência de todos os sentidos. Nada nos afasta das crianças de todos os tempos que ali estão matriculadas na escola. Algumas sem referência de educador em casa.

Destaco algumas passagens diante desta batalha do amor que me acorrem no fazer articulado e cujas alternâncias perpassam às funções e conexões da inteligência e da afetividade e que preponderam em diferentes momentos do desenvolvimento infantil e da consciência humana. Ora uma um pouco mais do que a outra, e não ao largo da outra. A natureza humana é dinâmica: pensar e fazer, fazer e pensar junto. A leitura aperfeiçoa o fazer. Torna-o melhor. É o que se espera, estudar torna as pessoas melhores.

Piaget: O afeto é o motor da inteligência. Entretanto, Piaget baseia-se na noção do autismo e do egocentrismo a defender que a consciência é primeiro individual para depois se tornar social, preocupar-se com o Outro. O pensamento egocêntrico das crianças “situa-se a meio caminho entre o autismo no sentido estrito da palavra e o pensamento socializado” (Piaget apud Vygotsky, p. 12).

Freud: ressalta o aspecto social e a pressão exercida pela sociedade sobre as nossas pulsões infantis. A consciência individual não é um fato primitivo. Há uma simbiose afetiva esboçada nos primeiros movimentos de diferenciação.

Wallon:para apreender-se como um corpo dentre os corpos, como um ser entre os seres, é preciso utilizar-se de analogias, assimilar o que já sabe, perceber, individualizar-se, e discernir os diferentes aspectos que vão lhe possibilitar ter uma representação de si mesmo” (1995, p. 211). O fantasma do outro, que cada um traz dentro de si influencia em nossas relações com o outro. Ou seja, “as relações entre o eu e o socius, ou outro íntimo, podem variar do normal ao patológico, como é o caso dos delírios de influência” (Bastos, p. 60). O socius é também denominado alter – interdependente, antagônico, confidente, conselheiro, censor e até espião. De onde vem o medo e a insegurança da criança ao representar suas emoções? E no processo expressivo de seu dizer(se)?

Maturana:O emocionar da convivência no discurso, na linguagem, não pode nem deve ser negado, porque é com ele que se dá o viver humano. É no emocionar que surgem tanto o amigo como o inimigo, não na razão ou no racional” (p.77).

Aurora Rabelo, no prefácio de Maturana (p. 7) “‘emoções são fenômenos próprios do reino animal, onde nós humanos, também nos encontramos, e que o chamado ‘humano’ se constitui justamente no entrelaçamento do racional com o emocional, na linguagem, faz desabar o imperialismo da razão”. Continua ela dizendo adiante sobre ele: “Maturana funda o social numa emoção em particular, o amor, por ser esta a emoção que permite a aceitação do outro como legítimo outro na convivência” (p.8).

Freinet:a criança dá provas das suas aptidões criadoras, porque incessantemente imagina, inventa e cria” (p.14) e é preciso “aclimatar a expressão livre da criança em aulas resolutamente abertas para a vida” (p. 15). Freinet critica: “o desenho e a pintura são tidos como atividades de luxo e que não devem usurpar as técnicas escolares consideradas essenciais” (p. 19). Entretanto, para ele: “o desenho e a pintura são para a criança actividades naturais e excitantes como a marcha, a linguagem, o canto e a dança” (p.26). Assim, a criança avança mais segura de si, é o que nos pondera Wallon mais adiante.

Falar com a criança e entre outras
é saber dialogar com os saberes que nos atravessam.
Ali com os alunos e as alunas nos sentimos bem em persistir neste complexo antídoto: o amor!

Desculpem-nos, mas, não dá tempo de elucubrações em determinadas horas, a escola está clamando por atitudes urgentes. Vamos conversando sem deixar a escola à mercê dos tempos ou programas que estão a chegar sabemos lá quando e quanto de fato da fonte chegará ao destino. Ela nos exige competências e atitudes. Saber se relacionar com as aprendizagens e nas atividades experimentais do laboratório da vida.

A escola é o nosso campus. “A pedagogia ensina a técnica mas não a arte”, segundo Freinet. O tempo urge, pois, “a criança estará engaiolada e mesmo que lhe abram a porta não se aventurará a sair” (p.120). Só pelo amor e persistência, e dadas às circunstâncias ou algumas mediações inteligentemente sensíveis!


As emoções são mediadoras das aprendizagens e dos aprendentes-ensinantes!

Leia:
















Referências
BASTOS, Alice Beatriz B. Izique. A construção da pessoa em Wallon e a constituição do sujeito em Lacan. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
DEMO, Pedro. Sobre falar e escrever errado: comentário sobre um debate duvidoso. Brasília, 2011. Disponível em: http://pedrodemo.sites.uol.com.br/textos/errado.html
FREINET, Célestin. O método natural II: a aprendizagem do desenho. 2 ed. Lisboa: Editorial Estampa, 1977.
MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.
VYGOTSKY, Lev. Pensamento e linguagem. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

Imagens primeiras: arquivo pessoal.

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