terça-feira, 27 de março de 2012

Gepetos e seus bonecos: o movimento das aprendizagens

Na brinquedoteca procuramos desenvolver o movimento lúdico das aprendizagens. Sabemos que o movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento da criança durante a fase da educação infantil, partindo do pressuposto que, a primeira  mensagem transmitida para o outro é a do corpo, e desde que somos ainda bebê. Ao brincar, a criança supera, pouco a pouco, a distância entre a escola, as práticas sociais, a sua cotidianidade e a forma como sente, pensa e se relaciona com o mundo, assim na escola, aprende a ler o mundo com outros olhos, a questionar e a exercer sua cidadania.

Representação do Pinóquio (aluno de 5 anos)
e o boneco referência


Os exercícios psicomotores como uma das aprendizagens escolares básicas favorecem a aprendizagem da escrita e da leitura. Tomamos como referência, no processo de alfabetização, que as dificuldades de aprendizagem vivenciadas pelas crianças são também decorrentes de um todo vivido com seu próprio corpo, e não apenas problemas específicos de aprendizagem de leitura, escrita etc.


Quando uma criança apresenta desenhos da figura humana empobrecidos no esquema e imagem corporal percebe-se uma dificuldade na escrita. Assim, visando contribuir com o desenvolvimento psicomotor e a evolução do desenho da figura humana, entre outros objetivos, as professoras que atuam na brinquedoteca de nossa escola, propuseram atividades para perceber a consciência corporal das crianças, como parte de avaliação diagnóstica de início de ano letivo, a também ajudá-las a se desinibir, representar e aprender entre seus colegas e professoras.


As atividades vivenciadas, com base na concepção de letramentos múltiplos, procuram valorizar a diversidade de práticas culturais e sociais de leitura e escrita além de servir como base de aprendizagens motoras, cognitivas e reconstrutivas no processo de aquisição da linguagem escrita.
O bom contador faz uso da cultura local, no caso, os brinquedos de miriti
e os cantos regionais ajudaram a encantar ainda mais as crianças...
A contação enreda personagem conhecido de muitas crianças, o Pinóquio, um boneco construído por Gepeto. E se desenrola junto às expressões faciais, corporais, gestuais, falares, cantares, desejos e reinvenções dos novos protagonistas.

Encantadas as crianças fizeram mágica e do nada aparece um boneco de papel
para logo surgir a grande surpresa do dia: o boneco de madeira.
Movimento das Aprendizagens e a arte de mover o corpo: afetos de corpo inteiro,
corpos dançam, recriam movimentos e se alegram entre si. O boneco de Gepeto vai ganhando Vida.
Os esquemas corporais ganham corpo e vida.
Percebe-se ali que eles formam seus bonecos de papel como desenham a lápis...
O primeiro boneco superior à esquerda, já está finalizado. O aluno identificou deste modo:
"aqui está a cabeça e os braços", e este aqui o que é? apontei para o triângulo,
e ele reservadamente me respondeu: é a parte dele... (referindo-se à genitália)
"Nos movimentos serão expressos sentimentos de prazer, frustração, desagrado, euforia, como dimensão de um estado emocional, reconstruindo, assim, uma memória afetiva desde os gestos iniciais das crianças, na medida em que melhor o indivíduo domina seu corpo e sentimentos. Gradativamente, ele irá conduzir-se com mais segurança no seu meio ambiente, e desta forma movimentar-se adequadamente dentro de todo um processo educativo". (Quirós apud Elman, Barth, Unchalo. Psimotricidade: aspectos ligados à construção do esquema corporal. In: Revista do Professor, 1992).

sábado, 24 de março de 2012

Fios que entrelaçam saberes: educadores ambientais

Na semana passada, em ação comunitária, a nossa escola recebeu a visita de educadores, crianças e adolescentes do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) para desenvolver atividades educacionais no espaço do nosso bosque junto aos nossos educadores ambientais que atuam no Projeto AMA (Agentes e Monitores Ambientais).


O currículo de vida é repleto de representações simbólicas, é espaço de escolhas e lugar de inclusões ou exclusões. Diante de um currículo escolar contextualizado sabemos que parte dos fluxos do ecossistema pertence a ordem dos signos e por isso mesmo é capaz de desencadear profundos processos de aprendizagem. Há saberes múltiplos, dores e delícias, e no processo reconstrutivo vamos nos questionando porque aprendemos tais palavras e não outras, tais conceitos e não outros, tais autores ou tais obras...


Mas, o que nos interessa é construir uma teia que nos ajude com o alunado a tecer saberes para uma cultura ambiental, mais sensível, responsável, criativa, solidária... Sabemos que juntos podemos devolver as vozes, a flexibilidade e a horizontalidade nos processos da aprendizagem.


A biodiversidade é um elemento natural e cultural. Educadores tem um papel estratégico e decisivo na inserção da educação ambiental no cotidiano escolar. Por aqui retratos de múltiplas aprendizagens de educadores ambientais qualificando sujeitos na construção de um olhar sensível, encantado e solidário e de um posicionamento crítico face à crise socioambiental.

Um novo "olhar" sobre o "humano" e suas relações
A seringueira dentre as belas árvores: olhar prospectivo e multirreferencial
Alunos vibravam em suas aprendências: "todo ser vivo só pode ser conhecido
na sua relação com o meio que o cerca, onde vai buscar energia e organização".
(Edgar Morin apud Isabel Petraglia, 1995, p.69)
Relações Aprendentes - Dinâmicas de Sensibilização
"as crianças aprendem a história, a geografia, a química e a física dentro de categorias isoladas,
sem saber, ao mesmo tempo, que a história sempre se situa dentro de espaços geográficos e que
cada paisagem geográfica é fruto de uma história terrestre. (...) As crianças aprendem a conhecer
os objetos isolando-os, quando seria preciso também recolocá-los em seu meio ambiente
para melhor conhecê-lo". (Morin apud Petraglia, 1995)
Produção escrita e desenhos de vivências
"O que era uma experiência de campo fragmentada e diversa acaba sendo retratado como um todo coerente
e integrado. O que era um processo de comunicação, de trocas, de negociação entre [educadores e alunado]
vira autônomo... O que era diálogo, vira um monólogo encenado... voz única que subsume todas as outras
e sua diversidade à sua própria elaboração. O que era interação vira descrição". (Caldeira, 1988, p. 138)
E no meio do caminho... muitos animais.
E os alunos interagem com o ecossistema de nossa escola.
"O ambiente emerge como um saber reintegrador da diversidade, de novos valores éticos e estéticos e dos potenciais sinergéticos gerados pela articulação de processos ecológicos, tecnológicos e culturais. O saber ambiental ocupa seu lugar no vazio deixado pelo progresso da racionalidade científica, como sintoma de sua falta de conhecimento e como sinal de um processo interminável de produção teórica e de ações práticas orientadas por uma utopia: a construção de um mundo sustentável, democrático, igualitário e diverso". (Enrique Leff, Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Ed. Vozes, 2001, p.17).

terça-feira, 13 de março de 2012

Crianças Lindas: olhar-se no singular e no plural

Início de ano e os tratados começam a tomar corpo nas salas de aula e nos diferentes espaços da escola. E a proposta de olhar-se aparece para ver a quantas andam as emoções e os sentimentos das crianças da Educação Infantil, no contexto das regras de convívio.


Sensibilizar, envolver e fortalecer os laços das amizades de crianças tão lindas, e que muito nos podem ensinar também, é algo surpreendente nesse contexto.


Na brinquedoteca, os valores da diferença movimentam as lindas crianças da Educação Infantil que se descobrem felizes nesse amplo espaço. O que nos animou com eles foi o exercício de estar com o outro e perceber também a própria beleza, vivenciamos espaço do soltar-se com elas, as crianças lindas de nossa escola.


Uma vida sustentável... precisamos do outro. A origem do ser humano se dá na dinâmica da cooperação e da linguagem, de acordo com Maturana: "o humano surge na história evolutiva a qual pertencemos ao surgir a linguagem, porém se constitui de fato como tal na conservação de um modo de viver particular centrado em compartilhar alimentos, na colaboração de machos e fêmeas na criação das crianças (...) o emocionar, em cuja conservação se constitui o humano ao surgir a linguagem, se centra no prazer da convivência, na aceitação do outro junto a nós" (Humberto Maturana. Da biologia a psicologia". 3 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. p. 86).

Primeira cena, a apresentação da poesia de Ruth Rocha, "Crianças Lindas". E exploramos com elas os limites entre realidade, criação e a arte de reler-se no ambiente. O alunado ouviu uma das professoras ler a poesia, depois leram juntos. Em seguida, um novo momento do ouvir, a poesia gravada na voz da outra professora.

Próxima cena: aguardar a surpresa do dia! As duas professoras se vestem como "lindas crianças" e desfilam entre elas. Pouco a pouco se animam a desfilar. As fantasias ganham o cenário, e os tais encantados se identificam e movimentam-se entre seus colegas.

As músicas da "Arca de Noé", de Vinícius de Moraes, embalam os passos, a marcha, as voltas, o giro, o pisar na ponta do pé, a pisada mais firme, mais suave, mais solta, sorridentes, orgulhosos de si, as trocas de fantasias, os olhares se tornam cúmplices. A bicharada fica solta e toda garbosa.

Olham-se no espelho, os inibidos se desinibem, os extrovertidos interagem no grupo e se misturam tanto que não se sabe mais quais deles eram os inibidos. As professoras se misturam e sorriem com o desenvolvimento do trabalho.

A culminância acontece com as crianças de 5 anos desenhando-se. Uma aluna sentiu dificuldade nesta última atividade, voltou com a professora diante do espelho e teve um acesso de choro, emocionada com o fato de se perceber bonita e abraçada nesse conjunto vivenciado.


SOMOS PESSOAS LINDAS!
"...o emocionar; em cuja conservação se constitui o humano ao surgir a linguagem, centra-se no prazer da convivência, na aceitação do outro junto a nós, ou seja, no amor; que é a emoção que constitui o espaço de ações no qual aceitamos o outro na proximidade da convivência. Sendo o amor a emoção que funda a origem do humano, e sendo o prazer do conversar nossa característica, resulta em que tanto nosso bem estar como nosso sofrimento dependem de nosso conversar". (Maturana, Humberto, A ontologia de realidade. Belo Horizonte: UFMG, 1997. p. 175)
Educar para a sensibilidade