sábado, 28 de julho de 2012

Do desenho sobre a pele ao desenho sobre o papel

O primeiro lugar da escrita é a própria pele. Os primeiros aprendizados trazem o vínculo corporal com a vida. A criança espia o mundo através do corpo de sua mãe. Segundo Fernandéz (1994), "quando uma criança nasce precisa habitar o corpo da mãe de outra maneira". Esse vínculo traz algumas marcas de contato, sejam de afetos ou golpes recebidos.


As mãos de Sofia brincam no corpo de sua mãe:
tocam o cabelo, deslizam pela boca ou nariz, acariciam o colo, pressionam o peito, assim vai Sofia sendo alfabetizada através do corpo de sua mãe.


As mãos desenham o corpo de sua mãe - essas cenas de escrita do corpo - logo logo suas impressões de afeto marcarão o papel. Pele Papel.


"Traçar riscos dispersos sobre uma folha, tão 'elementar' como parece, é a resultante de longos trabalhos de escrita realizados sobre outro terreno" (Rodulfo, 2004, p. 72).


O toque é terapêutico. Tocar faz bem!


Faz bem ler:


- Fernández, Alícia. A mulher escondida na professora: uma leitura psicopedagógica do ser mulher, da corporalidade e da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1994.
- Rodulfo. Ricardo. Desenhos fora do papel: da carícia à leitura-escrita na criança. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Literatura para crianças em tela: enredo, fluência, escrita, som, silêncio, imagem e muita alegria


Tonucci, 1973

Segundo Rubem Alves, a primeira tarefa da educação é ensinar a ver, ou aprender a ver com a criança, talvez ainda, com os olhos de criança, e como nos ensina bem Francesco Tonucci nos desenhos de seus livros.

Cruzo leituras e me deleito a sorrir, a rir e a gargalhar, assim me deixando levar com o espírito da criança.

Tonucci, 1974
Vi também em Jean-Paul Sartre que a nossa existência é confirmada pelo olhar do outro: basta que o outro me olhe, me inquiete, me chame, me deixe... para que eu seja quem sou; coisas da auto-estima positiva, da psicopedagogia que atravessa minha formação, e esse outro constitui-me através do olhar. É fundamental buscarmos o entendimento, o ato de ver se aprende na interação. Não vemos pelo outro, mas, com ele.

Tonucci, 1979
O Pessoa, pois é, o Fernando, nos afeta a desaprender, afinal, para ele, o essencial é saber ver, saber ver quando se vê... Precisamos nos despir diante de uma criança, que tudo renova com o seu olhar, é a educação do sensível nos re-tocando.

Os olhos se reeducam. Sem a educação das sensibilidades todas as habilidades são tolas e sem sentido. O ato de ver não é coisa tão natural, precisa ser aprendido com o outro.


Ultimamente, venho lendo com a Sofia, e no brilho de seu olhar por ali me vejo a contar e a ver histórias, dentre os livros que disponho à leitura estão alguns como a Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque com as ilustrações de Ziraldo; a Menina Bonita do Laço de Fita, de Ana Maria Machado, com as ilustrações de Claudius; Chapeuzinho Vermelho, história clássica recontada por Maurício de Sousa.


Recortes aqui dão ideias das ilustrações e liberdade...
As várias faces da Chapeuzinho Amarelo
Do Lobo Mau ao Lobo Bolo
Chapeuzinho Vermelho - o clássico na versão de Maurício de Sousa.
O importante é deixarmos que as crianças vejam novas combinações, enfrentamentos e reconstruções... Minha neta de 9 meses [e desde os 6 meses], por enquanto, se deleita com as imagens, a minha forma de contar, virar a página, guardar na estante ou retirar segundo pedidos insistentes - inquietantes - esfuziantes, entremeando toda a magia que esse movimento mexe com sua forma de ver o mundo, manejar e comunicar percepções e na forma de interagir com o Outro que lhe - e se - faz emocionar...


A literatura mexe com o desenvolvimento e o pensamento cognitivo das crianças, com a sua capacidade afetiva, a sensibilidade, a autoestima, o raciocínio, o pensamento e a linguagem. Tudo acontece de forma integrada e simultânea. Mexe com o que pensamos saber, nós que adoramos ouvir, ver melhor, contar histórias e aprender a olhar com os olhos das crianças que tanto volvem o nosso...


Referências
- BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. Ilustrações Ziraldo. 27 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.
- MACHADO, Ana Maria. Menina Bonita do Laço de Fita. Ilustrações Claudius. 7 ed. 12 impr. São Paulo: Ática, 2005.
- SOUSA, Mauricio de. Chapeuzinho Vermelho. Coleção Girassol, Ed. Mauricio de Sousa, 2011.
- TONUCCI, Francesco. Com os olhos de criança. Porto Alegre: Artmed, 1997.

sábado, 7 de julho de 2012

Literatura Infantil ou para Crianças: ler é mais importante que estudar


A Chapeuzinho sem medo do Lobo, no olhar de Ziraldo e
na escrita de Chico Buarque, em "Chapeuzinho Amarelo".
A criança educada em liberdade deve aprender a não temer,
segundo Emílio de Rousseau (escrito em 1762). "Aquele
que melhor souber suportar os bens e os males desta vida é,
para mim, o mais bem educado" (Rousseau, 2004, p.15) .

Assim entendo.
Não que eu não goste da palavra infância.
Mas, prefiro dizer que é Literatura para Crianças.

Literatura Infantil
Literatura para Crianças
Leitura para Crianças
Ler para Crianças
Ler para Sofia
Ler por com Ela.

Sua visão de mundo através do livro e do livro na tela do computador. E Aprender com a sua forma de Aprender, é o que tem me encantado nos últimos meses, e desde que minha neta Sofia nasceu.

O livro na prateleira fascina. E a imagem da capa do livro na tela do computador a faz vibrar. Encanta-se nas duas e com as duas possibilidades.

Onde tiver dois é uma questão de múltiplos, ou seja, dois é a base de todos os múltiplos. Múltiplas leituras. Duas pessoas. E o adulto aqui aprende com a criança ali, lá e em todo lugar ou tempo.

O vocábulo "infantil" tem uma origem triste. Antes a criança nascia em pecado, precisava ser boa, era má. Depois se pensou que era um adulto infantil, bastante imperfeito. Sem direito à fala, o adulto falava e ela reproduzia, copiava, a inteligência do adulto a calava.

Infância – vem do Latim infantia, formado por in, negativo, mais fari, falar – não fala; infante – não falante. Criança não fala. Afinal, o que tem a falar? O que tem a dizer? Tem talvez a muito ouvir... Uma folha em branco, triste, pálida. O infante aprende para depois ter o que dizer.

A criança não fala? Talvez ela não seja ouvida...

Literatura para Criança. Ler com a Criança. Criar com Ela. Reinventar-se nela. Assim estou nas aprendências atuais. A criança deve expressar seu simbolismo e, portanto, a ação deve estar sendo semiotizada (representada), em nossas relações.

Os sistemas vivos se auto-organizam por processos que envolvem todas as partes, formas altamente complexas que são capazes de, neste movimento de manter e produzir vida, conservar sua capacidade autopoiética, nosso corpo é múltiplo pela autopoieses*, virtualidades e limites, tão cheio de diálogos, adaptações, mudanças e outras possibilidades nos entremeios. Viva a Vida em nós que se renova sempre!

- Toda criança nasce boa? Bem, em Emílio (1762; 2004, p.91), o educador filósofo Rousseau nos diz que "a natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens".

Criança - vem do Latim creare, "produzir, erguer - CRIAR", também se relaciona a crescere, "crescer, aumentar", do Indo-Europeu ker- "crescer".

A criança, que pensa, fala e cria, fortalece nosso conceito de corpo-sujeito e bem diferente do corpo-objeto, que se constitui em uma sociedade capitalista, como a nossa... Sofia e Eu somos corpos-parceiros nessas aprendizagens mútuas.

A maior dificuldade do homem moderno é o seu desconhecimento do conhecer,
segundo Maturana e Varela (1997), este é um dos motivos que ratifica a minha necessidade constante
de aprender sobre o como se aprende, para ajudar outras pessoas a também aprender.
A educação dos filhos e filhas, e dos filhos e filhas destes, é uma Arte, não uma ciência fechada...
Jess (Joshua Ryan Hutcherson)
em "Ponte para Terabítia".
"Feche os olhos, mas, deixe a mente aberta", segundo a garota Leslie Burke para seu amigo Jess Aaarons, ambos com 11 anos, no filme "A ponte para Terabítia" (2006).


* autopoiese é a capacidade de reagir de todo ser vivo. A autopoiese humana significa uma complexificação da capacidade de reordenar seus componentes em uma nova organização.


Referências
- BRUHNS, Heloisa Turini. O corpo parceiro e o corpo adversário. 2 ed. Campinas: Papirus, 1999.
- MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco Garcia. De máquinas e seres vivos: autopoiese, a organiação do vivo. 3 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
- ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou Da educação. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
- Sobre o filme, veja algumas cenas aqui: http://babiesdream.wordpress.com/2011/12/30/meu-vicio-12/