Para Paulo Freire (1980), ser alfabetizado é ser capaz de usar a leitura e a escrita como instrumentos para conhecer e transformar a realidade. E por este conceito não nos cabe ler soletrando palavras para só depois compreender a leitura.
Somos sensíveis a pensar a leitura do ponto de vista da experiência da criança, situando a aprendizagem. Animamo-nos a incentivar a criação de campos semânticos e a trocar ideias sobre palavramundo, que é a vinculação entre realidade e linguagem, assim o aluno aprende a relação de sua linguagem com o mundo.
Na definição de Luria (1991, p.35), o campo semântico de uma palavra é "o complexo de significados associativos que surgem involuntariamente durante a captação da palavra dada". Explicando o campo semântico da palavra, Luria (ibid, p.35) exemplifica: "sendo assim, a palavra jardim pode evocar involuntariamente as palavras árvores, flores, banco, encontro etc. e a palavra horta, as palavras batata, cebola, pá etc.".
Tomamos algumas referências em nosso estudo, analisando o pensamento sincrético, o realismo nominal ontológico e lógico que constitui o pensamento pré-operatório da criança da educação infantil e a sua transição para o operatório concreto a partir de como a criança representa o mundo. Nos estudos piagetianos distinguimos também o pensamento por coerção e por cooperação e as formas das aprendizagens.
A educação é entendida deste modo como criação de condições para que cada criança possa ler e escrever a sua própria história, enredar-se na vida e reinventar cenários, personagens e a palavramundo como releitura do cotidiano e suas várias ligações.
Aprendemos neste conjunto com o alunado de nossa escola e entre professoras e coordenação pedagógica a estudar a leitura como um problema antropológico.
Compreendemos que uma palavra não se esgota em uma referência objetal fixa e unissignificativa, o conceito de campo semântico ajuda a enlaçar as palavras que são escolhidas pelos alunos em seu contexto e no desejo de aprender e interagir.
O campo
semântico escolhido a partir do contexto dos alunos (de 5 anos e meio a 6 anos, neste segundo semestre letivo) facilita
compreender melhor cada palavra, que indica não somente um objeto determinado
como provoca uma série de enlaces complementares. As narrativas são mesmo muito ricas!
[Todos escolhem uma palavra, leem para mim, questiono, tentam me explicar como a palavra é composta, duvido mais um pouco, pedem ajuda para o colega ou a professora deles, a fim de ter certeza sobre a escrita/leitura da palavra e depois querem que eu bata a foto deles com a palavra do nosso jogo. Exemplo: A palavra "camarão" foi apontada por eles quando perguntei-lhes sobre a cartela com esta palavra, duas crianças saíram correndo para tocá-la. Ao questioná-las porque pensavam que esta era a palavra camarão, uma delas disse que ali estava o "MA", e a outra disse que sabia porque ali estava o "CA" e esperavam que eu dissesse que estavam certas. E eu perguntei se tinham certeza mesmo, se entreolharam, coçaram a cabeça, com olhos bastante expressivos afirmaram que sim e exigiam o meu "acertaram", dei risada e elas inquietavam-se... correram para a professora].
Preocupamo-nos com o pensamento
cooperativo (pensar e agir em conjunto) e vamos abolindo a prática coercitiva
(determinista). A alegria na escola é possível sim, com isso a leitura se torna
cada vez mais compreensiva.
Segundo Luria (1987, p.190), "a palavra evoca uma rede de imagens e os complexos significados que a ela se associam, constituem seus campos semânticos". O movimento perceptivo, constituído pela análise e síntese do objeto perceptível, permite a construção de hipóteses e decisões.
- Adoro provocá-los a pensar!
E as professoras estão cada vez mais animadas a ler, a pesquisar, a mediar, a interagir entre colegas, a reinventar com os alunos e juntos aprendemos muitoooooo!
Referências
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação, uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Morais, 1980.
LURIA, Alexander. Curso de Psicologia Geral. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991.
_____. Pensamento e linguagem: as últimas conferências de Luria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
SMOLKA, Ana Luiza Bustamante; GÓES, Maria Cecília Rafael de (Org.). A linguagem e o outro no espaço escolar: Vygotsky e a construção do conhecimento. Campinas, SP: Papirus, 1993.
O trabalho que estás orientando na escola é uma semente que tens tratado com desvelo e atenção incomparáveis, típico dos apaixonados. Os frutos desse cultivo começam a se delinear em algumas iniciativas, idéias e falas que já mostram a qualidade da mudança. A criançada agradece. ;)
ResponderExcluirPois é, Jamille,
ResponderExcluirA gente aprende a pensar e a fazer com as professoras, através de nossas conversas cotidianas, de estar dia-a-dia em sala de aula com elas e as crianças, de repensarmos sobre o modo delas pensar através de suas interações com os objetos de conhecimento e relações que estabelecem com o outro, assim nos dão pistas sobre como entendem, pensam ao fazer, ao brincar, nas travessias, nos nós, em seus silêncios, desejos e em suas exigências.
Para nós professores, com a criança tudo se renova, inclusive nosso conhecimento...
Obrigada por fazer parte desse grupo que me faz aprender muitoooo!
Abraços Afetuosos!
Blog excelente!!!
ResponderExcluirEdificante!!
Parabéns!!!