Qual é matemática que nos ensinaram e a que aprendemos? Escolhi
a expressão numérica para conversar com as professoras e coordenadoras de nossa
escola e conhecer um pouco mais da compreensão que tinham sobre concepção e
conhecimento matemático. Este foi um dos objetivos da formação continuada durante
o mês de setembro, revitalizar vínculos da matemática com a cotidianidade da vida.
Por que a matemática é o bicho-papão também no conceito das
professoras? Ao final da mediação pelo menos consegui fazer com que este grupo
de educadoras desconstruísse alguns mitos, pudesse olhar a matemática de uma
forma bem mais positiva e provocar nelas o desejo de aprender diferente. Deu certo!
“Professora quanto a senhora cobra a hora de estudos?”, “Professora eu quero
aprender mais, é instigante e divertido”... e por aí vai, novos olhos perceberam essa linguagem tão especial
que é a matemática.
É preciso enxergar a Linguagem Matemática na aprendizagem da
Língua Materna e relacioná-las ao processo de alfabetização e letramento das
crianças menores. Segundo Machado, “a Matemática e a Língua Materna representam
elementos fundamentais e complementares, que constituem condição de possibilidade
do conhecimento, em qualquer setor, mas que não podem ser plenamente
compreendidos quando considerados de maneira isolada” (1993, p.83).
Destacam-se dois aspectos básicos da matemática na escola: (1) relacionar observações do mundo real com representações
(esquemas, tabelas, figuras); (2) relacionar essas representações
com princípios e conceitos matemáticos. Nesse processo, a comunicação tem
grande importância e deve ser estimulada, levando-se o aluno a
"falar" e a "escrever" sobre Matemática, a trabalhar com
representações gráficas, desenhos, construções, a aprender como organizar e
tratar dados.
Quantos alunos têm na
nossa escola por turma e modalidade?
Qual é o total de alunos do turno da manhã?
Qual é o total de alunos do turno da manhã?
Apresento aqui 2 (duas) formas de resolver o problema: expressões numéricas ou por tabela.
{[( a + b )]
+ [( a
+ b )
+ ( a
+ b )]
+ [( a + b )
+ ( a
+ b )]}
O primeiro colchete se refere aos alunos de 6 anos da turma
do 1º ano do Ensino Fundamental.
O segundo colchete se refere aos alunos de 5 e 4 anos das
duas turmas de Jardim da Educação Infantil.
O terceiro colchete se refere aos alunos de 3 anos das duas
turmas de Maternal da Educação Infantil.
O “a” representa as meninas de cada turma e o “b” representa
os meninos de cada turma.
Conforme a regra, primeiro resolvemos os parênteses, depois
os colchetes e por último as chaves.
Neste caso, obteremos as seguintes somas:
- total de alunos por turma: primeiro parênteses, alunos de 6 anos da professora Francisca* (F); o segundo parênteses, alunos de 5 anos da
professora Isabel (I); o terceiro parênteses, alunos de 4 anos da
professora Marisa (M); o quarto parênteses, alunos de 3 anos da professora Taiz
(T); o quinto parênteses, alunos de 3 anos da professora Denise (D).
- total de alunos por modalidade: o primeiro colchete se
refere aos alunos do Ensino Fundamental; o segundo colchete se refere aos
alunos da Educação Infantil de 4 a 5 anos (antiga pré-escola); o terceiro
colchete se refere aos alunos da Educação Infantil de 3 anos (Maternal II - Creche).
- total de alunos da escola no turno da manhã: o cálculo
final resulta nas chaves.
Os números são estes:
{[( 6+8 )]
+ [( 5+20
) + ( 13+13
)] + [( 10+8
) + ( 9+10
)]} = {[( F )] + [( I ) + ( M )] + [( T ) + ( D )]}
{[( 14 )] + [(
25
) + ( 26 )]
+ [( 18
) + ( 19
)]} = {[( CI
)] + [( JII
) + ( JI)]
+ [( MII
) + ( MII
)]}
{[( 14 )] + [(
51
)] + [( 37
)]} = {[( CICLO
I )] + [( JARDIM )] + [( MATERNAL II )]}
{[ 14 ] + [ 88 ]} = {[ ENSINO FUNDAMENTAL
] + [ EDUCAÇÃO
INFANTIL ]}
{102}
= alunos do turno da manhã
MENINOS E MENINAS POR TURMA E MODALIDADE
MENINOS E MENINAS POR TURMA E MODALIDADE
1º ano
|
Jardim II
|
Jardim I
|
Maternal II
|
Maternal II
|
Total
|
|
Meninas
|
06
|
05
|
13
|
10
|
09
|
43
|
Meninos
|
08
|
20
|
13
|
08
|
10
|
59
|
Total
|
14
|
25
|
26
|
18
|
19
|
102
|
Alguns princípios dos “PCNs” sobre a Matemática: “A
Matemática é componente importante na construção da cidadania, na medida em que
a sociedade se utiliza, cada vez mais, de conhecimentos científicos e recursos
tecnológicos, dos quais os cidadãos devem se apropriar”.
· A atividade matemática escolar não é "olhar para
coisas prontas e definitivas", mas a construção e a apropriação de um
conhecimento pelo aluno, que se servirá dele para compreender e transformar sua
realidade.
· A aprendizagem em Matemática está ligada à compreensão,
isto é, à apreensão do significado; apreender o significado de um objeto ou
acontecimento pressupõe vê-lo em suas relações com outros objetos e
acontecimentos. Assim, o tratamento dos conteúdos em compartimentos estanques e
numa rígida sucessão linear deve dar lugar a uma abordagem em que as conexões
sejam favorecidas e destacadas. O significado da Matemática para o aluno
resulta das conexões que ele estabelece entre ela e as demais disciplinas,
entre ela e seu cotidiano e das conexões que ele estabelece entre os diferentes
temas matemáticos.
· A seleção e organização de conteúdos não deve ter como
critério único a lógica interna da Matemática. Deve-se levar em conta sua
relevância social e a contribuição para o desenvolvimento intelectual do aluno.
Trata-se de um processo permanente de construção.
· O conhecimento matemático deve ser apresentado aos alunos
como historicamente construído e em permanente evolução. O contexto histórico
possibilita ver a Matemática em sua prática filosófica, científica e social e
contribui para a compreensão do lugar que ela tem no mundo”.
É preciso saber “valorizar esse saber matemático cultural e
aproximá-lo do saber escolar em que o aluno está inserido, é de fundamental
importância para o processo de ensino e aprendizagem”. (BRASIL/MEC. Parâmetros
Curriculares Nacionais, 1998).
Solicitei para que as professoras de educação infantil e ensino fundamental ensinassem não somente com números de 1 a 9, doses pequenas, mas, que fizessem com que eles pensassem conceitos de estimativa.
- Quantos meninos tem na turma? (contagem em sala)
- Quantas meninas tem na escola? (dados com o secretário escolar)
- Tem mais meninas ou alunos? (experimentações)
- Tem mais meninas ou alunos? (experimentações)
- Quantos pratos e colheres tem na cozinha? (inventariar com a merendeira e a professora)
- É suficiente para todos os alunos que estudam na escola no mesmo turno? (estimativas a representar)
- Daqui a alguns dias saberemos do desempenho dos nossos queridos aprendentes-ensinantes que se misturam às nossas aprendências como ensinantes-aprendentes.
“Não se questiona a conveniência e mesmo a necessidade de
ensinar a todos a língua, a matemática, a medicina, as leis vigentes no país. Chegamos
a uma estrutura da sociedade e a conceitos perversos de cultura, de nação e de
soberania que impõem essa necessidade. Mas fundamental que se protejam a dignidade
e a criatividade daqueles subordinados a essa estrutura e que se procure
minimizar os danos irreversíveis que pode causar a uma comunidade, a uma cultura,
a um povo e sobretudo ao indivíduo, a falta de reconhecimento. Num de seus
escritos, o irreverente escritor dos anos 60, Charles Bukwoski, dizia que o que
o homem mais procura é reconhecimento” (D’Ambrósio, 2001, p.86).
* os nomes das professoras são fictícios.
Referências
BRASIL/MEC. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais. Brasília, 1998.
D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Etnomatemática: elo entre
as tradições e a modernidade. Minas Gerais: Autêntica, 2001.MACHADO, Nilson José. Matemática e Língua Materna: análise de uma impregnação mútua. 3 ed. São Paulo: Cortez, 1993.
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