domingo, 30 de setembro de 2012

Linguagem, Expressões e Inclusão: a matemática da escola na cotidianidade das professoras


Qual é matemática que nos ensinaram e a que aprendemos? Escolhi a expressão numérica para conversar com as professoras e coordenadoras de nossa escola e conhecer um pouco mais da compreensão que tinham sobre concepção e conhecimento matemático. Este foi um dos objetivos da formação continuada durante o mês de setembro, revitalizar vínculos da matemática com a cotidianidade da vida.

Por que a matemática é o bicho-papão também no conceito das professoras? Ao final da mediação pelo menos consegui fazer com que este grupo de educadoras desconstruísse alguns mitos, pudesse olhar a matemática de uma forma bem mais positiva e provocar nelas o desejo de aprender diferente. Deu certo! 

“Professora quanto a senhora cobra a hora de estudos?”, “Professora eu quero aprender mais, é instigante e divertido”... e por aí vai, novos olhos perceberam essa linguagem tão especial que é a matemática.

É preciso enxergar a Linguagem Matemática na aprendizagem da Língua Materna e relacioná-las ao processo de alfabetização e letramento das crianças menores. Segundo Machado, “a Matemática e a Língua Materna representam elementos fundamentais e complementares, que constituem condição de possibilidade do conhecimento, em qualquer setor, mas que não podem ser plenamente compreendidos quando considerados de maneira isolada” (1993, p.83).

Destacam-se dois aspectos básicos da matemática na escola: (1) relacionar observações do mundo real com representações (esquemas, tabelas, figuras); (2) relacionar essas representações com princípios e conceitos matemáticos. Nesse processo, a comunicação tem grande importância e deve ser estimulada, levando-se o aluno a "falar" e a "escrever" sobre Matemática, a trabalhar com representações gráficas, desenhos, construções, a aprender como organizar e tratar dados.

Quantos alunos têm na nossa escola por turma e modalidade?
Qual é o total de alunos do turno da manhã?

Apresento aqui 2 (duas) formas de resolver o problema: expressões numéricas ou por tabela.


{[( a)] + [( a) + ( a)] + [( ) + ( a)]}

O primeiro colchete se refere aos alunos de 6 anos da turma do 1º ano do Ensino Fundamental.
O segundo colchete se refere aos alunos de 5 e 4 anos das duas turmas de Jardim da Educação Infantil.
O terceiro colchete se refere aos alunos de 3 anos das duas turmas de Maternal da Educação Infantil.

O “a” representa as meninas de cada turma e o “b” representa os meninos de cada turma.

Conforme a regra, primeiro resolvemos os parênteses, depois os colchetes e por último as chaves.

Neste caso, obteremos as seguintes somas:

- total de alunos por turma: primeiro parênteses, alunos de 6 anos da professora Francisca* (F); o segundo parênteses, alunos de 5 anos da professora Isabel (I); o terceiro parênteses, alunos de 4 anos da professora Marisa (M); o quarto parênteses, alunos de 3 anos da professora Taiz (T); o quinto parênteses, alunos de 3 anos da professora Denise (D).
- total de alunos por modalidade: o primeiro colchete se refere aos alunos do Ensino Fundamental; o segundo colchete se refere aos alunos da Educação Infantil de 4 a 5 anos (antiga pré-escola); o terceiro colchete se refere aos alunos da Educação Infantil de 3 anos (Maternal II - Creche).
- total de alunos da escola no turno da manhã: o cálculo final resulta nas chaves.

Os números são estes:

{[( 6+8 )] + [( 5+20 ) + ( 13+13 )] + [( 10+8 ) + ( 9+10 )]} = {[( F )] + [( I ) + ( M )] + [( T ) + ( D )]}

{[( 14 )] + [( 25 ) + ( 26 )] + [( 18 ) + ( 19 )]} = {[( CI )] + [( JII ) + ( JI)] + [( MII ) + ( MII )]}

{[( 14 )] + [( 51 )] + [( 37 )]} = {[( CICLO I )] + [( JARDIM )] + [( MATERNAL II )]}

{[ 14 ] + [ 88 ]} = {[ ENSINO FUNDAMENTAL ] + [ EDUCAÇÃO INFANTIL ]}

{102} = alunos do turno da manhã

MENINOS E MENINAS POR TURMA E MODALIDADE 

1º ano
Jardim II
Jardim I
Maternal II
Maternal II
Total
Meninas
06
05
13
10
09
43
Meninos
08
20
13
08
10
59
Total
14
25
26
18
19
102

Alguns princípios dos “PCNs” sobre a Matemática: “A Matemática é componente importante na construção da cidadania, na medida em que a sociedade se utiliza, cada vez mais, de conhecimentos científicos e recursos tecnológicos, dos quais os cidadãos devem se apropriar”.

· A atividade matemática escolar não é "olhar para coisas prontas e definitivas", mas a construção e a apropriação de um conhecimento pelo aluno, que se servirá dele para compreender e transformar sua realidade.

· A aprendizagem em Matemática está ligada à compreensão, isto é, à apreensão do significado; apreender o significado de um objeto ou acontecimento pressupõe vê-lo em suas relações com outros objetos e acontecimentos. Assim, o tratamento dos conteúdos em compartimentos estanques e numa rígida sucessão linear deve dar lugar a uma abordagem em que as conexões sejam favorecidas e destacadas. O significado da Matemática para o aluno resulta das conexões que ele estabelece entre ela e as demais disciplinas, entre ela e seu cotidiano e das conexões que ele estabelece entre os diferentes temas matemáticos.

· A seleção e organização de conteúdos não deve ter como critério único a lógica interna da Matemática. Deve-se levar em conta sua relevância social e a contribuição para o desenvolvimento intelectual do aluno. Trata-se de um processo permanente de construção.

· O conhecimento matemático deve ser apresentado aos alunos como historicamente construído e em permanente evolução. O contexto histórico possibilita ver a Matemática em sua prática filosófica, científica e social e contribui para a compreensão do lugar que ela tem no mundo”.

É preciso saber “valorizar esse saber matemático cultural e aproximá-lo do saber escolar em que o aluno está inserido, é de fundamental importância para o processo de ensino e aprendizagem”. (BRASIL/MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais, 1998).

Solicitei para que as professoras de educação infantil e ensino fundamental ensinassem não somente com números de 1 a 9, doses pequenas, mas, que fizessem com que eles pensassem conceitos de estimativa.

- Quantos meninos tem na turma? (contagem em sala)
- Quantas meninas tem na escola? (dados com o secretário escolar)
- Tem mais meninas ou alunos? (experimentações)
- Quantos pratos e colheres tem na cozinha? (inventariar com a merendeira e a professora)
- É suficiente para todos os alunos que estudam na escola no mesmo turno? (estimativas a representar)

- Daqui a alguns dias saberemos do desempenho dos nossos queridos aprendentes-ensinantes que se misturam às nossas aprendências como ensinantes-aprendentes.

Não se questiona a conveniência e mesmo a necessidade de ensinar a todos a língua, a matemática, a medicina, as leis vigentes no país. Chegamos a uma estrutura da sociedade e a conceitos perversos de cultura, de nação e de soberania que impõem essa necessidade. Mas fundamental que se protejam a dignidade e a criatividade daqueles subordinados a essa estrutura e que se procure minimizar os danos irreversíveis que pode causar a uma comunidade, a uma cultura, a um povo e sobretudo ao indivíduo, a falta de reconhecimento. Num de seus escritos, o irreverente escritor dos anos 60, Charles Bukwoski, dizia que o que o homem mais procura é reconhecimento” (D’Ambrósio, 2001, p.86).

* os nomes das professoras são fictícios.

Referências
BRASIL/MEC. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, 1998.
D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. Minas Gerais: Autêntica, 2001.
MACHADO, Nilson José. Matemática e Língua Materna: análise de uma impregnação mútua. 3 ed. São Paulo: Cortez, 1993.

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