O canto ouvido: à consciência deste meu analfabetismo, afinal, quais e quantos pássaros estavam na entoada de suas prosas matutinas nos telhados, porém, de cujo despertar hoje me ative? consequências das inconsciências que permeiam nossos afazeres e atribulações? quais e tantas e ao relento da saúde? insensibilidade ‘adulta’?
Belo despertar da ignorância circundante! Escolhas urbanas ou cercanias dos saberes de visão fragmentada, de razão lancinante... pela busca da inteireza de ser humano, decisão necessária pela vida, deixar-se acordar aos sons das aves que aqui gorjeiam.
Outras relações, pois, memórias pulavam na cama:
a) as vozes dos anjos:
- como superego dos pássaros, entoando juntas.
b) os sentidos:
- evocações da infância – pássaros-anjos – mundo mágico, sem efeitos alucinógenos, surgindo no vento a resvalar em folhas, deslizantes ou rodopiantes, pelo chão; do céu a chuva benfazeja, promesseira, temerosa com raios e trovões ou brincalhona a preencher as folhas da imaginação ou a empurrar barcos de papel em pequeninos córregos acidentais nos meios-fios ou em sulcos no solo.
c) sensações:
- cheiros das árvores circundantes inscreviam as letras de meu mundo, vicejando palavras que habitaram meus primeiros cadernos e moldavam o lápis de minhas escrituras ou emolduravam as minas que coloriam aspectos figurativos de meus símbolos de vida.
- sons advinham dos passos das formigas carregando folhinhas, cumprimentando colegas, indicando atalhos de seus tesouros de verão e adentravam cavernas dentre brechas dos tijolos antigos a sustentar o muro de casa.
E no acordar dessas harmonias fiquei a pensar sobre o que sentem as diferentes gentes que habitam as diferentes casas por aqui e bem acolá. E as condições panorâmicas e poéticas vividas e percebidas por aquelas que moram em condições insalubres de assentamentos, como as típicas palafitas de áreas de várzeas da periferia urbana, ainda andam sobre estivas e até tomam banho nessas águas.
Se acostumei-me a acordar automatizada por compromissos e responsabilidades e desacostumei-me dos sons da natureza que antes me embalavam, e mais uma vez as instâncias da memória semântica me acordaram aqui, porém, espero que por lá, a alegria entoe nessa mágica dos cantos. Talvez as persistências dos cantos evoquem outros ouvidos moucos e assim novas esperanças e atitudes necessárias ressurjam desacomodando borbulhas, pruridos, desconfortos e valorando a vida diária que a todos nós agracia e acolhe.
Essa é a mensagem dos pássaros desta manhã! A estética na ética da vida. Mundo globalizado, com espaços marginais desalinhados, assim, a estetização da vida persiste em despertar o grau zero da vida logo nos primeiros raios da manhã, concertados pelas aves, que emergem na singularidade desse discurso, permitindo vôo e revôo de tempos, porquanto, tempus fugit.
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Imagem 3: arquivo pessoal
Imagem 4: arquivo pessoal
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