quarta-feira, 1 de junho de 2011

Cultura da Paz: Re-Cantos do primeiro tempo

Ouvir o aluno é um dos objetivos do retorno da discussão sobre bullying na escola. Entrelaçam-se as representações do alunado acerca do problema e as possibilidades de resolução. E, no primeiro tempo, a sensibilização e as trocas de percepções e conhecimentos.

Dois vídeos e duas músicas acompanharam o momento de sensibilização, discussão e suas representações. Antes entrou o momento de lembrança do que vivenciaram na primeira etapa da pesquisa na escola.

Destaco duas questões apresentadas depois das definições deles sobre o que entenderam por bullying. Um aluno de 12 anos, que estuda no 7º. ano (sexta série), disse ao mediador: "se bullying é sofrer agressão do outro, então nossa mãe comete bullying com a gente". Foi motivo de muita risada na turma, a maioria dos colegas foi contra. Para os colegas ajudarem a pensar, disse a eles que haveria alguma explicação para essa questão. Como foi em tom de questionamento, disse a ele que aquele que faz pergunta tem boa parte da resposta, e na outra podemos juntos interagir.

- A mãe se chateia ou apanha de alguém em outro lugar e resolve vir com o cabo de vassoura para cima dele. Uma colega disse: “se ela bate é porque a gente merece”. Outros ficaram pensativos e disseram que isto nem sempre pode acontecer. Falaram de mães que batem em bebês, que abandonam filhos ou abortam.

Em meio a tantos colegas da mesma escola, dois irmãos estão em outras duas turmas diferentes. Na turma da tarde, trabalhamos com alunos de 5º. ano (quarta série).

Por lá resolvemos primeiro cantar com o alunado, antes de apresentarmos os dois vídeos diferentes: um sobre a memória da pesquisa bullying (2010) e o outro sobre a cultura da paz, na continuidade. Enquanto instalavam os equipamentos, a turma cantou mais de uma vez, a letra da música abaixo. As crianças adoram cantar ou repetidamente assistir várias vezes o filme que se encantam. E esta é a palavra certa, eles estavam encantados com a música, cantavam em uníssono a melodia de seus corações. Olhinhos brilhantes. Outras turmas se inquietavam. Cantamos, sem brincadeira nenhuma, mais de cinco vezes. Parecia vitrolinha ligada e com um braço que retornava sozinho ao início da mesma faixa.

Eu não pedi para nascer / tenho direito a ser feliz / e a não querer morrer. A criança faz / o mundo mudar. Nós plantamos a semente / e retomamos nossa voz / que o futuro hoje / nos dê de presente / a paz em cada um de nós. Vejo a fome ser vencida / e a violência terminar / quero a rosa e a vida / aqui e agora / p’ra cada um poder brincar”.



"O Grito" (Skrik), por Edvard Munch, 1893.
Emoção no ar. A letra parecia falar de suas vidas. Destaco aqui uma das tantas tristes histórias. Um aluno chora ainda a morte de um irmão assassinado. Outro aluno viu a mãe ser morta quando tinha três anos pelo pai. Motivo: traição. O irmão também está na escola, tinha somente um ano. O fato por si só é chocante. Não bastasse, o pai foi solto da prisão para cuidar dos filhos. Mas, desgraça vinha marcar, a avó que cuidava das crianças, acabou tendo caso com o pai. A irmã de 16 anos cometeu suicídio neste mês. O menino maltrata meninas. Por quê? O que fazer?

Muitas vezes somos nós, a escola, os professores, a primeira referência de educadores do alunado. A nossa responsabilidade é muito grande nesse conjunto. E continuamos a cantar felizes com eles.

A turma da tarde, na data de ontem, chegou à conclusão que o problema do bullying está na inveja ou no ciúme. Na visão deles, a inveja surge por causa de um sapato novo, da roupa bonita, do corte de cabelo, do relógio de um ou do celular de outro que pode comprar. O ciúme vem por causa da professora que dá mais atenção para um do que para outro. Daí vem a perseguição ou a briga e a agressão.

Disseram que pedir desculpa é algo muito difícil para a maioria porque muitas vezes se sentem demais magoados e com raiva sem-fim.

Aqui nos pergunto: o que pensamos dessa realidade e das narrativas que marcam as tantas representações dos alunos e alunas, e nos inquietam a pensar sobre o que significa a "cultura da paz", por aqui nesta escola, por ali adiante, bem mais aí onde estás ou mais acolá onde podemos estar?

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