quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O saber, o aprender e o ensinar: autonomia da criança x autoridade do professor



A professora e a mãe: conversas sobre processos de mediação

Muitas vezes as mães se mostram inseguras e, até mesmo sem querer, criam dependências em seus filhas e filhos, nossos alunos e alunas. Elas querem que seus filhos aprendam, mas, não percebem os limites das aprendizagens e acabam gerando dependência mútua. A conversa entre uma acadêmica do curso e a mãe de uma criança colaboradora despertou-me a vontade de falar sobre tal assunto. A menina de seis anos é sua aluna na igreja de Escola Sabatina. A mãe se surpreendeu com a criança, a professora foi firme, amorosa e decidida na mediação. A criança confiante se sentiu livre para acreditar no seu próprio saber.

"No domingo à noite, após falar com sua mãe levei-a para uma sala reservada e expliquei sobre o trabalho. Antes sua mãe me falou que Marcelle escreve com uma pessoa falando para ela as letras, mas expliquei que ela iria escrever sozinha. Concordou em ajudar e dei as instrucoes. Comecei a ditar a primeira palavra (borboleta - após cantar com ela animadamente a música da borboletinha), e ela me perguntou qual era a letra. Falei novamente sobre escrever como sabia, e então começou a escrever. Soletrava sílabas enquanto escrevia, e assim continuou com o dedo na boca, pensando e soletrando. Quando chegou na palavra nariz, ela parou pensou, falou o som do iz no final da palavra e escreveu marisi. Na frase 'A borboleta está na cozinha', antecipou o s do está. Escrita alfabética, sem segmentação entre palavras. Escolheu a borboleta, o pau e o nariz. Falou bem baixinho, meio sem-jeito, sobre o fato de só saber desenhar o nariz como triângulo, como se desculpando".

O que é o erro? Por que no ato do desenho da borboleta, lembrou-se do nariz? Por sentir vergonha de desenhar assim o nariz e ter exitado em escrever a palavra? O erro deve ser entendido como uma oportunidade, um desafio e não uma ameaça. Na confiança da mediadora que lhe conferiu espaço para problematizar, questionar e reformular estratégias, a criança foi percebendo que o erro pode ser construtivo. Não apagou a sua primeira tentativa de escrever pau, apesar de ter rabiscado em volta. Se verbalizasse seu conflito, encorajada pela mediação, poderia rever saberes, problematizar e encontrar soluções remediativas. Mesmo em seu silenciar, ela encontrou o que buscava. Bons ensaios de Mediação! Comprovada Autoridade!

- E agora, mamãe? Para ajudar as mamães a repensar saberes e rever a função educadora também enquanto mediadoras do conhecimento na escola da vida, tão intensamente entrecruzada de olhares e tocares, idéias, vivências e confluências de sentimentos, emoções, razões, mitos, ilusões, sonhos, verdades e utopias...

Didática Piagetiana e a Orientação Pedagógica: o que as mães precisam saber para se sentirem mais tranquilas, sem deixar de serem amorosas.

A criança paparicada demais pode se sentir tolhida quando a mãe faz tudo por ela como prova do seu grande amor. A pequenina não come sozinha, não escolhe a roupa que quer vestir, não calça seu sapato, não pega um copo de água (?!).

A criança aprende é com a experimentação. O bebê cai e se levanta quando está aprendendo a andar. Ao tentar proteger o filho ou a filha para que não tenha nenhuma queda contribuímos para que essa criança se torne medrosa e receosa.

O meio termo é a melhor medida. A criança que se sente amada na medida certa se torna muito mais segura, se desenvolve cognitivamente, sente vontade de explorar, de aprender coisas novas, enfim, se sente equilibrada. É preciso amar com responsabilidade.

A afetividade é o motor da inteligência, segundo Piaget. E uma forma de se relacionar afetuosamente é demonstrar que se está realmente interessado na aprendizagem da criança. Em sua autonomia. E a nossa autoridade? Ressignificar os próprios sentimentos.

Desenvolvimento Cognitivo• Nunca subestimar a criança quanto as suas capacidades. É muito comum esperarmos que elas não sejam capazes de realizar determinadas tarefas e facilitarmos suas ações como a abrir uma lata de biscoito, a se limpar no banheiro, a desembalar uma bala, a alcançar um objeto que esteja no alto etc.
• Não fazer pela criança aquilo que ela pode fazer sozinha. Propor sempre que ela resolva por si mesma. Quando muito, dar uma pequena ajuda, mas nunca substituir a ação da criança pela sua.
• Não basta que ela faça algo é preciso que compreenda o que faz. Ela precisa construir e edificar as aprendizagens, através de seus próprios modelos, conceitos e estratégias.
• O adulto mediador gradua a atividade de acordo com o nível da criança. E o grau de dificuldade deve ser crescente, por andaimagem.
• Se a criança aprende pela própria ação é preciso deixar que ela tente, experimente, observe...
• Não ensinar verbalizando ou explicando. A criança aprende com a ação! É escrevendo que ela aprende a escrever. Deixá-la consultar suas "memórias", dar espaço para pensar e interpretar.
• Deixá-la e se sentir livre para ler o mundo, falar com o outro etc. A criança conversa quando trabalha. Conversa é socialização. Para ela, é difícil realizar uma tarefa sem conversar. É-lhe natural. Mais espontâneo.
• Se não for possivel uma ação sobre o conteúdo é porque não é útil para a criança. O conhecimento útil é passível de ser transformado numa ação apropriada (motora, representada ou verbal). Torna-se bem mais significativo.

No mundo atual, percebemos que os pais e as mães se sentem meio perdidos diante da correria, da influência midiática, do controle da própria ansiedade, no fortalecimento das próprias inseguranças olhando com a criança o tal amanhã. Nesse atropelo, ouvimos de um pai na escola que nos disse, em desabafo: "eu não sei mais o que fazer com meu filho, ele está aqui para que vocês façam alguma coisa por ele, entrego na mão de vocês ...". Somos mediadores no papel de orientadores educacionais. E vamos enfrentando as realidades assistencialistas e escassa geração de renda. Trabalhamos o imaterial: a formação das crianças.

- E o Brasil?

E daí? Como fica a professora, a coordenação pedagógica frente aos pais que se rendem a determinadas condutas de seus filhos-alunos? O que está errado? E a bolsa-professor? Inspirei-me na postagem da Jenny refletindo sobre a profissão-professor e o comentário que deixei lá em Professores do Brasil.

Um comentário:

  1. Oi Maria, concordo com as questões que colocou e acho que um dos nossos desafios como educadoras é justamente o de considerar que as famílias também fazem parte do processo de aprender a educar pois muitas vezes reagem a partir das próprias visões do que seja a melhor forma de educação. É na parceria que vamos construindo uma compreensão que vê a criança como sujeito potente e o adulto como parceiro mais experiente, que precisa investir confiança na criança e em sua pontência.
    Bjo

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