MAIS SABOROSAS?
A postagem feita, em 27.10.09, que me inquietou e igualmente levou educadores a refletir mais um pouco sobre a aprendizagem da leitura e da escrita e a relação alfabetização x letramento x cultura escrita foi provocada por uma aluna de Pedagogia, que atualmente estuda o sexto período do curso. Ver postagem original em noah chiavenato. Fico animada pelo que nós professores aprendemos com os nossos alunos que nos fazem refletir mais sobre o processo que estamos construindo em nossas interlocuções com leituras, práticas, debates, releituras e reescritas. E "dá-lhe" desconstruções! Somos aprendizes a nos deixar tocar e revisitar nossas próprias certezas. É com essa simplicidade que vamos caminhando, conversando e sobre contrariedades, identificações e reinvenções.
As nossas postagens e comentários refletem esse desejo permanente de aprendermos com o outro. Sabe-se que para ser um ato de conhecimento o processo de alfabetização demanda uma relação de autêntico diálogo. Aquela em que sujeitos do ato de conhecer se encontram mediatizados pelo objeto a ser conhecido. Nesta perspectiva, portanto, os "alfabetizandos" assumem, desde o começo mesmo da ação, o papel de sujeitos criadores.
Como nossos interlocutores trago alguns pensadores da área para, em conformidade, com a postagem crítica da Fátima em questão dos métodos, sobre a reportagem da Folha de São Paulo, a respeito das experiências de alfabetização no país e a relevância de como se dá ao método fônico contrapondo-se à forma de conceber a escrita enquanto representação da linguagem, ou seja, hoje nós da área re-olhamos a escrita não mais como simples código de transcrição gráfica de unidades sonoras. Mas, qual é o método mais acertado? Repetindo-se ao que Noah questiona (?!) e ao de tantos outros estudantes mais.
Sabemos que a criança aprende como um sujeito ativo que interage de forma produtiva com o objeto do seu conhecimento. Desta maneira, para apimentar o debate, segundo Pedro Demo (2009), o que se torna mais decisivo, nesse caso polêmico, é a qualidade do professor - "um bom professor alfabetiza o aluno, partindo do aluno, ajustando o método - método é algo instrumental, não é a razão de ser". E nesse debate reiteram-se:
Freire (1982): "aprender a ler e escrever já não é, pois, memorizar sílabas, palavras ou frases, mas refletir criticamente sobre o próprio processo de ler e escrever e sobre o profundo significado da linguagem".
Ana Teberosky (2005): "consegue ler bem quem teve algum tipo de oportunidade fora da escola. Os que dependem só dela são os analfabetos funcionais. A aquisição das habilidades de leitura e escrita depende muito menos dos métodos utilizados do que da reflexão que a criança tem desde pequena com a cultura escrita".
Emília Ferreiro (2001): "A escrita é importante na escola, porque é importante fora dela e não o contrário".
E por este motivo insisto no trabalho com crianças colaboradoras seja com estudantes de Pedagogia ou com professores em formação continuada a fim de aprender como Freinet (1979), pois, "meu único mérito como Pedagogo é talvez o de haver conservado uma influência tão marcante de meus primeiros anos: sinto e compreendo, como criança, as crianças que educo. Os problemas que elas se colocam, e que são tão grave enigma para os adultos, eu os coloco ainda para mim mesmo, com as claras lembranças de meus oito anos. E é como adulto-criança que detecto, através dos sistemas e métodos com que tanto sofri, os erros de uma ciência que esqueceu e desconheceu suas origens". No meu caso específico, aprendi a ler e escrever aos cinco anos de idade, na década de 60, entre 67-68, minha mãe me disse que de repente me viu lendo e escrevendo e não sabe explicar como. Por quê? Minha mãe, que era só normalista, se aposentou em 1976, e foi durante 33 anos professora de 1a. série. Eu frequentava a escola com ela desde os quatro anos de idade, andava de sala em sala e adorava ficar com as serventes e merendeiras da escola, ouvindo suas histórias e seus contos-cantos-encantos enquanto preparavam o lanche da meninada ou limpavam os banheiros tão cheios de escritas secretas em suas portas e paredes internas. Ah! eu adorava ler gibi. E ela não sabe ainda como aprendi...
Os 70 professores da escola, que eu trabalho como coordenadora, questionaram-se e aprenderam a ouvir melhor as suas crianças colaboradoras, em dezembro de 2008, re-olhando seus processos de aprendizagem:
- O que sabemos das crianças, de seus processos de desenvolvimento, da construção de seus conhecimentos, da ampliação de suas visões de mundo?
- O que conhecem sobre a escrita a partir do lugar de onde vivem? Como adquirem esses conhecimentos?
- Como interagem com a escrita – esse objeto cultural – e como interpretam o ato de leitura?
As perguntas foram as seguintes: "o que é escrita para você? para que se escreve? onde tem coisas escritas para se ler em casa? qual a palavra que você acha mais bonita? mais gostosa? etc.".
Os objetivos dessas entrevistas foram:
Geral: Analisar os processos de aquisição da escrita nas crianças, nas relações de ensino e no movimento das transformações histórico-sociais.
Específicos:
- Investigar processos e estratégias que crianças - da Educação Infantil aos primeiros anos - usam para interpretar a escrita no meio em que vivem.
- Identificar conceitos que a criança desenvolve a respeito deste tipo de linguagem antes do início de uma instrução formal.
Apresento alguns dos resultados na apresentação abaixo:
Cultura Escrita
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Oi querida, essa é uma questão que tem mobilizado muito nós que trabalhamos na perspectiva do socioconstrutivismo, acreditando na formação do leitor e escritor como desafios que precisam, necessariamente, mobilizar reflexão da criança e mergulho no universo letrado. Esta querela entre método fônico e perspectiva construtivista tem ganhado força aqui no RJ e algumas iniciativas nos preocupam. Muito importante colocar essa "bola no ar"! Abraço!
ResponderExcluirMuito bacana este seu texto! Adorei essa apresentação enriquecedora. Vou recomendar aos meu colegas da pedagogia da Unirio.Obrigada!
ResponderExcluirOlá Rocio.
ResponderExcluirInteressante ser um eterno aprendiz, é como me sinto, aprendendo a cada dia como criar nas nossas crianças a vontade de aprender de ser o melhor que puder, no que que eles quiserem, acho um desafio participar desta nova escola que está se colocando para nós, os professores, gostei muito do seu texto.Parabéns pelo blog e você também é um beija-flor.
MClara
Ficou feio o texto, reescrevo: no que , eles escolherem.Me desculpe.
ResponderExcluirAbraços.
MClara