sábado, 31 de outubro de 2009

Alfabetizar-se letrando na cultura escrita...

RECEITAS NOVAS?
MAIS SABOROSAS?

A postagem feita, em 27.10.09, que me inquietou e igualmente levou educadores a refletir mais um pouco sobre a aprendizagem da leitura e da escrita e a relação alfabetização x letramento x cultura escrita foi provocada por uma aluna de Pedagogia, que atualmente estuda o sexto período do curso. Ver postagem original em noah chiavenato. Fico animada pelo que nós professores aprendemos com os nossos alunos que nos fazem refletir mais sobre o processo que estamos construindo em nossas interlocuções com leituras, práticas, debates, releituras e reescritas. E "dá-lhe" desconstruções! Somos aprendizes a nos deixar tocar e revisitar nossas próprias certezas. É com essa simplicidade que vamos caminhando, conversando e sobre contrariedades, identificações e reinvenções.

As nossas postagens e comentários refletem esse desejo permanente de aprendermos com o outro. Sabe-se que para ser um ato de conhecimento o processo de alfabetização demanda uma relação de autêntico diálogo. Aquela em que sujeitos do ato de conhecer se encontram mediatizados pelo objeto a ser conhecido. Nesta perspectiva, portanto, os "alfabetizandos" assumem, desde o começo mesmo da ação, o papel de sujeitos criadores.

Como nossos interlocutores trago alguns pensadores da área para, em conformidade, com a postagem crítica da Fátima em questão dos métodos
, sobre a reportagem da Folha de São Paulo, a respeito das experiências de alfabetização no país e a relevância de como se dá ao método fônico contrapondo-se à forma de conceber a escrita enquanto representação da linguagem, ou seja, hoje nós da área re-olhamos a escrita não mais como simples código de transcrição gráfica de unidades sonoras. Mas, qual é o método mais acertado? Repetindo-se ao que Noah questiona (?!) e ao de tantos outros estudantes mais.

Sabemos que a criança aprende como um sujeito ativo que interage de forma produtiva com o objeto do seu conhecimento. Desta maneira, para apimentar o debate, segundo Pedro Demo (2009), o que se torna mais decisivo, nesse caso polêmico, é a qualidade do professor - "um bom professor alfabetiza o aluno, partindo do aluno, ajustando o método - método é algo instrumental, não é a razão de ser". E nesse debate reiteram-se:

Freire (1982): "aprender a ler e escrever já não é, pois, memorizar sílabas, palavras ou frases, mas refletir criticamente sobre o próprio processo de ler e escrever e sobre o profundo significado da linguagem".
Ana Teberosky (2005): "consegue ler bem quem teve algum tipo de oportunidade fora da escola. Os que dependem só dela são os analfabetos funcionais. A aquisição das habilidades de leitura e escrita depende muito menos dos métodos utilizados do que da reflexão que a criança tem desde pequena com a cultura escrita".
Emília Ferreiro (2001): "A escrita é importante na escola, porque é importante fora dela e não o contrário".

E por este motivo insisto no trabalho com crianças colaboradoras seja com estudantes de Pedagogia ou com professores em formação continuada a fim de aprender como Freinet (1979), pois, "meu único mérito como Pedagogo é talvez o de haver conservado uma influência tão marcante de meus primeiros anos: sinto e compreendo, como criança, as crianças que educo. Os problemas que elas se colocam, e que são tão grave enigma para os adultos, eu os coloco ainda para mim mesmo, com as claras lembranças de meus oito anos. E é como adulto-criança que detecto, através dos sistemas e métodos com que tanto sofri, os erros de uma ciência que esqueceu e desconheceu suas origens". No meu caso específico, aprendi a ler e escrever aos cinco anos de idade, na década de 60, entre 67-68, minha mãe me disse que de repente me viu lendo e escrevendo e não sabe explicar como. Por quê? Minha mãe, que era só normalista, se aposentou em 1976, e foi durante 33 anos professora de 1a. série. Eu frequentava a escola com ela desde os quatro anos de idade, andava de sala em sala e adorava ficar com as serventes e merendeiras da escola, ouvindo suas histórias e seus contos-cantos-encantos enquanto preparavam o lanche da meninada ou limpavam os banheiros tão cheios de escritas secretas em suas portas e paredes internas. Ah! eu adorava ler gibi. E ela não sabe ainda como aprendi...

Os 70 professores da escola, que eu trabalho como coordenadora, questionaram-se e aprenderam a ouvir melhor as suas crianças colaboradoras, em dezembro de 2008, re-olhando seus processos de aprendizagem:

- O que sabemos das crianças, de seus processos de desenvolvimento, da construção de seus conhecimentos, da ampliação de suas visões de mundo?

- O que conhecem sobre a escrita a partir do lugar de onde vivem? Como adquirem esses conhecimentos?

- Como interagem com a escrita – esse objeto cultural – e como interpretam o ato de leitura?

As perguntas foram as seguintes: "o que é escrita para você? para que se escreve? onde tem coisas escritas para se ler em casa? qual a palavra que você acha mais bonita? mais gostosa? etc.".

Os objetivos dessas entrevistas foram:
Geral: Analisar os processos de aquisição da escrita nas crianças, nas relações de ensino e no movimento das transformações histórico-sociais.

Específicos:
- Investigar processos e estratégias que crianças - da Educação Infantil aos primeiros anos - usam para interpretar a escrita no meio em que vivem.
- Identificar conceitos que a criança desenvolve a respeito deste tipo de linguagem antes do início de uma instrução formal.

Apresento alguns dos resultados na apresentação abaixo:


4 comentários:

  1. Oi querida, essa é uma questão que tem mobilizado muito nós que trabalhamos na perspectiva do socioconstrutivismo, acreditando na formação do leitor e escritor como desafios que precisam, necessariamente, mobilizar reflexão da criança e mergulho no universo letrado. Esta querela entre método fônico e perspectiva construtivista tem ganhado força aqui no RJ e algumas iniciativas nos preocupam. Muito importante colocar essa "bola no ar"! Abraço!

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  2. Muito bacana este seu texto! Adorei essa apresentação enriquecedora. Vou recomendar aos meu colegas da pedagogia da Unirio.Obrigada!

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  3. Olá Rocio.
    Interessante ser um eterno aprendiz, é como me sinto, aprendendo a cada dia como criar nas nossas crianças a vontade de aprender de ser o melhor que puder, no que que eles quiserem, acho um desafio participar desta nova escola que está se colocando para nós, os professores, gostei muito do seu texto.Parabéns pelo blog e você também é um beija-flor.
    MClara

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  4. Ficou feio o texto, reescrevo: no que , eles escolherem.Me desculpe.
    Abraços.
    MClara

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