Acadêmicos do Curso de Pedagogia, no segundo semestre, vivenciam o Laboratório de Aprendizagem com as suas crianças colaboradoras e reconstroem-se no jogo intitulado "quanto tempo o tempo tem?" (roda de conversa, em 06.10.2009).
As regras do jogo:
1a. etapa: (a) desenhar usando somente retas no papel em todos os sentidos (vertical, horizontal ou diagonal); (b) não pode tirar o lápis do papel (de preferência não utilizar lapiseira, pois, a ponta pode quebrar com a pressão); (c) conta-se o tempo de 4 minutos na execução desta ação.
2a. etapa: (a) no tempo de mais 4 minutos, corrigir a gosto e/ou pintar o desenho realizado. A integração de novos elementos ou dúvidas referentes ficam a critério da criança. Como ela resolve problemas? A mediação, neste momento, observa.
3a. etapa: dar nome ao trabalho depois de pronto.
4a. etapa: relatar o processo vivenciado ao mediador ou a todos os colegas presentes se for uma ação coletiva. Avaliar o que a pressão, a tolerância, o controle, os limites, o processo criativo e o erro significam a cada pessoa, a cada criança. Não dar dicas sobre o relato. Observar o caminho do pensar e as emoções integradas.
1o. ato: os acadêmicos passaram primeiro pela experiência em sala de aula, o controle foi feito através de um instrumento, a ampulheta, a emoção guiada por música estilo new age, e, a mediação pela professora lembrando a todos sobre as regras firmadas.
2o. ato: Fazer o mesmo processo em casa sob as mesmas regras. Atribuir um nome ao desenho feito em casa e um título geral ao trabalho. Comparar os dois processos.
3o. ato: Vivenciar com a criança colaboradora, entre quatro a oito anos, e no processo inicial de letramento, que vai da educação infantil ao 3o. ano de 9 anos do ensino fundamental.
4o. ato: Descrever o processo através de relatórios.
5o. ato: Socializar aos colegas, em sala de aula, o processo vivenciado.
6o. ato: Pensar sobre os próprios significados ao mesmo tempo em que se formulam o(s) objetivo(s) do trabalho mediado.
As vivências com as crianças fizeram com que revisitássemos os seguintes conceitos vygotskyanos sobre a relação pensamento-linguagem-desenvolvimento:
- a criança modifica sua linguagem na interação com o outro e vai dando nova forma ao pensamento;
- nos atos e processos mediados se entrelaçam a imaginação (imagem em ação), o uso da memória (relações com o saber cultural) e o planejamento da ação (mais evidenciado nas crianças colaboradoras de 7 a 8 anos).
A linguagem (processos metacognitivos) sistematiza a experiência direta das crianças, como foi observado pelos acadêmicos (dúvidas expressas ou não: eu nunca fiz isto? como eu vou fazer? como eu vou começar? será que vai dar tempo?), sentimentos muitas vezes contrários ao fazer quando não se consegue perceber o sentido da ação.
Executam tarefas porque mandam e não porque querem. Remete-se à neurose da sociedade (Freud) em querer a todo custo que as crianças estejam na escola sem mesmo elas desejarem ir, a não ser vivenciar as práticas sociais lá dentro (recreio, merenda, brincadeiras, competição, cooperação, discriminação, isolamento, inclusão etc.). Por que tenho que ir para a escola? Por que aprender a ler e a escrever? Para que aprender a ler e a escrever? O que eu desejo aprender? São perguntas, dentre outras, que a criança se faz em vários processos de pensamento. Como se medeia?
Essa atividade vivencial é para mediar vários processos de pensamento e sentimento sob pressão interna e externa. Deixar vir à tona a fala internalizada (Vygotsky) ou linguagem egocêntrica ou socializada (Piaget). Há duas lógicas na linguagem infantil, segundo Piaget, o pensamento egocêntrico e a inteligência comunicativa, a lógica egocêntrica é mais intuitiva e seus raciocínios não são explícitos; a lógica comunicativa é mais dedutiva e torna explícita as proposições facilitando a mediação. Porém, para Vygotsky, a construção do real, do pensamento é mediado pelo interpessoal antes de ser internalizada pela criança, assim se procede do social para o individual. O pensamento não origina de forma egocêntrica por ser uma fala internalizada, revista, é a releitura da criança, como ela repensa e reinventa as coisas do seu meio e segundo sentimentos, desejos e interesses.
Aline com Beatriz (8 anos):
1a. etapa: A menina pediu uma pausa antes de começar. Insistiu em mais um pouquinho e disse estar pensando no que iria desenhar. Logo disse estar pronta. No meio do tempo retirou diversas vezes o lápis do papel. Ficou tensa com o flagrante e os traços saíram mais fortes. Terminou antes, em 2 minutos e 47 segundos. Limitou-se à idéia de casa, disse que não pensou mais em nada e perguntou sobre o que desenhar no resto do tempo. Olhou para o desenho e foi fazendo linhas curvas no telhado. Espantou-se com o erro. Tentou amassar o papel, levantou-se da mesa e começou a rir procurando outra folha para refazer o desenho. Aquietou-se quando soube que não era necessário.
2a. etapa: Mais animada, pediu para começar logo. Foi direto ao telhado e tentou consertar as curvas que fez. Mas, o giz de cera não conseguiu apagar. Integrou as maçanetas. O tempo acabou e meio triste disse "Aaaaaahhh!".
4a. etapa: a acadêmica perguntou: "por que casa?" e ouviu a resposta: "porque é uma casa!". Aline se sentiu "meio boba", pois parecia muito óbvio. Beatriz lhe disse que gostou mais de pintar, porque "para pintar a gente não tem muito trabalho e porque não gosto de pensar muito". Ao final, Beatriz não quis que Aline trouxesse o seu desenho para a faculdade, com vergonha dos erros.
Segundo Piaget, se a pessoa possui estruturas em formação, o professor deve trabalhar com a idéia de que o erro é construtivo, pode-se corrigir no processo através da mediação, ajudando o aluno a pensar e a superar suas dificuldades.
Qual é o significado do erro para a criança? O que ela vivencia em seu contexto? A mediação vai construindo a forma de interagir no processo da andaimagem, no diálogo com a criança. O erro é uma tentativa de acerto, a questão é descobrir o raciocínio e o ponto da dúvida. Deixá-la repensar o erro através da andaimagem.
A criança nessa faixa etária desenvolve mais o pensamento lógico-matemático, mais concreto, o desenho é o que é, funcional e objetivo. Para Piaget, os processos da inteligência representativa é correlativa a aquisição da linguagem que participa de um processo mais geral que consiste na composição da função simbólica. A criança cria novos sentidos aos objetos, são os progressos da inteligência representativa nos processos comunicativos.
Para os acadêmicos, os objetivos dessa vivência foram:
- observar o raciocínio da criança e do adulto sob pressão ao criar um desenho. Quando nós trabalhamos sob pressão, com regras predefinidas não é prazeroso, pois, não se deixa a criatividade fluir (Layse Costa);
- adaptar-se e se flexível às necessidades, mesmo sob pressão e limitação (Layse Costa);
- entender o que a criança sente quando o processo criativo é interrompido por predefinições que lhes obriga a seguir o que é imposto (Aline);
- como se colocar no lugar da criança: inibir ou soltar a criatividade? (Aline);
- perceber a agilidade da criança e a própria experiência de acadêmica e como aluna no passado (Simone);
- aprender a se organizar e a se adaptar com as coisas do mundo. Vivenciar sem pressão é menos exaustivo (Valdir);
- conhecer nossas limitações; saber onde se pode ir e chegar com certas limitações; encarar essas limitações como reta final ou como desafio a ser superado? (Lauriane).
Socializar experiências anteriores de outras turmas:
Geralmente sofrem impacto ao perceber que alguns alunos conseguem resolver bem o processo da "pressão" das regras sem deixar de planejar a ação no mesmo tempo que todos. Como podemos viver a vida agitada sem deixar de integrar razão e emoção com arte? Como a criança poderá ir para a escola e gostar de aprender?
- Onde está o DESEJO DE LER? DE REINVENTAR? DE SE PERCEBER NAS - E ENTRE AS - APRENDÊNCIAS?
Abaixo os dois desenhos produzidos, em 4 minutos, pela acadêmica Rozeane (ago.2007), só com linhas retas e sem tirar o lápis do papel. Em casa (Pensamento distante) e na Faculdade (Na teia da vida), tendo também mais 4 minutos para pintar e corrigir o erro. Quais inteligências percebemos nesse processo?


Nenhum comentário:
Postar um comentário