sábado, 21 de novembro de 2009

Educação, ética e tecnologia


Repressão ao crime ou reencantar a aprendizagem

Com a abertura do Shopping nesta semana em plena Avenida Visconde de Souza Franco, a Doca, cheia de charme e juventude, de caminhadas e buzinas, traz consigo as mazelas do progresso, tendência ao aumento da criminalidade na área e circunvizinha.

Outras palavras ouvidas nas palestras para diretores das escolas municipais proferidas por representantes da guarda municipal e da polícia militar, no dia 17 de novembro, na mesma data da inauguração: o maior câncer são as casas de jogos eletrônicos e as lan-houses que ficam próximos das instituições escolares.

O que é que há? O que está faltando? Vem-me leituras de contraponto, pois, a ciência e a tecnologia devem estar servindo à cidadania e à felicidade humana. Paulo Freire (1996) afirmava que “conhecemos para: entender o mundo – palavra, significação e mundo; para averiguar – o certo e o errado, numa busca da verdade e para interpretar e transformar o mundo”.

Nesses dezessete da tercina manhã belemense, estampou-se preocupação na maioria ouvinte, uma diretora declarou seu apavoramento com os números da violência que envolve menores, crianças ou adolescentes. 97% dos crimes contam com a participação de menores. Cerca de 15 denúncias diárias surgem das escolas municipais ou estaduais. Quem trafica a droga na escola não é mais o bombomzeiro pelo muro da escola, mas, o próprio aluno dentro da escola. Há mais de cinco vídeos eróticos produzidos por alunos em escolas, na competição cega de qual adolescente de qual escola é a mais ousada. Arrepia-se saber que as autoras fazem questão de mostrar a farda. Falam orgulhosas a respeito dos tantos minutos de fama na internet. Todos apreendidos no último mês. Consolo?

Os preletores falaram sobre a nova modalidade de crime, novas inteligências exigem mais inteligências, o seqüestro relâmpago passou a bola para a abordagem na escola, feita por alunos contra outros alunos e professores, tomam celulares e os trocados para o recreio que somam grande monta, além de cooptar novas crianças para a escola do crime. O ambiente escolar é visto como ponto frágil, vulnerável, interessante.

O menor em conflito aprende logo o significado da impunidade. Choque de realidade. A família entrega a criança para a escola e, ironicamente, a criminalidade a toma das duas instâncias educadoras. Pessimismo? Discurso impactante dos policiais.

Valores distorcidos. No mundo atual, o que não é valor está sendo valorizado.

Oração. Reverência. Respeito. Amor. Solidariedade. Humildade. Caminhadas pela paz. Criam dificuldades para a formação do meliante. Novo vocabulário. Novos sentidos.

O que me deixou triste neste dia foi escutar que o progresso, com destaque ao desenvolvimento da tecnologia, pode estar atrelado às mazelas existentes pela falta de diálogo, a falta de projetos pedagógicos que retratem a(s) realidade(s) que permeia(m) a escola, propostas educativas que saibam dialogar com a Vida circundante e relacionar saber-conhecimento-esperanças.

Podemos crucificar recursos e ações se não soubermos pensar, re-olhar ao derredor. As instituições educadoras demonstram que, por vezes, também precisam de colo. A formação continuada é sempre bem-vinda. É urgente saber trabalhar a educação para o sensível, para além da abordagem dos conteúdos, e o favorecimento do diálogo a partir de questionamentos éticos e reconstrutivos.

Um ponto comum com Terezinha Rios (1999), a escola é o espaço de “transmissão sistemática do saber historicamente acumulado pela sociedade”, que tem por objetivos formar indivíduos, capacitando-os a participar como agentes na construção dessa sociedade. Pais, mães, professores, professoras, alunos, alunas e todos que fazem a escola da vida são os protagonistas de uma nova história que precisa saber ocupar seu espaço na cotidianidade, comprometendo-se com a transformação do lugar, de vidas, pontos de vista a tracejar perspectivas.

Essa corrente educadora é por um mundo com mais equidade, comprometido com a alegria e os bens que nos circundam, se entrecruzam e interpenetram.

É o novo tom das aprendências! É preciso saber viver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário