sábado, 7 de maio de 2011

Minha Escola de Pesadelos e Sonhos

Para contribuir com nossas esperanças de um mundo melhor, revisito e aqui trago a redação de uma aluna, de 10 anos - e lá de tempinho atrás, ou seja, na transição deste milênio [estudava ela no segundo ciclo de uma escola municipal, equivale ao final do Ensino Fundamental I]. Naquele tempo nada se falava sobre bullying, mas alguns rumores já despontavam fora do Brasil, por aqui o "sem nome" se fazia motivo desta bela escrita. O título do post é o título de sua redação.

Queria Escolas sem grades, nos dá a impressão de liberdade e paz.
As paredes claras com desenhos infantis refletindo esperança no futuro.
As carteiras e cadeiras não deveriam ser riscadas, quebradas, pichadas ou desenhadas, demonstram que os alunos não têm cuidado e amor pela escola. E também serem pintadas de tons claros e não marrom dando impressão de sujeira e aspecto triste.
Todas as escolas deveriam ter material de pesquisa e estudos, uma biblioteca, videoteca e sala de computador rico de acervo educativo, para facilitar o acesso escolar dos alunos e sermos futuros pesquisadores.
Professores / educadores menos agressivos com os alunos / educandos, no seu tom de voz, nas palavras, nos seus hábitos e atitudes e violência física, no dia a dia na escola.
Que o carinho no olhar e falar deles, nos de mais segurança e esperança não ameaças.
Queríamos ir para a escola com alegria, que ela representasse para nós momentos igual a 'comer um sorvete de creme', gostoso e cheiroso e de prazer de estar lá estudando para a vida futura.
Deveriam ter outros tipos de recursos para os professores nos ensinarem, coisas diferentes e de melhor qualidade e do nosso interesse, nos perguntando e negociando o que gostaríamos de estudar durante as aulas, pois aprendemos mais com a sociedade e meios de comunicação, muitas vezes coisas ruins, faltam-nos melhor orientação.
Um recreio com muitas brincadeiras legais e divertidas, sem brigas e que todos se respeitem. Os professores ficassem participando das brincadeiras no recreio com nós, com isso iriam recordar seu tempo de criança diminuindo seu stress, ficaríamos assim mais próximos professores e alunos.
Queremos uma escola diferente, possível e com pessoas interessadas em nos ajudar a construir nosso futuro onde o amor e união devem permanecer.
Precisamos modificar as Escolas que estão aí e rever que estamos fazendo, como aluna e como educadores distribuir mais amor quando falamos e olhamos as pessoas. As flores são perfumadas, nós humanos não podemos perfumar as escolas? Amor, esperança, união e humildade.
Este é meu sonho, acredito que vamos conseguir conquistar. O que você acha?

- O que os sonhos desta menina conseguem mexer em nós?


É só uma criança que pensa como adulto. Alguns adultos precisariam ter sua sensibilidade. Apaixonei-me por esta escrita! Arrepiei-me! E a cada vez que releio.

Assim não posso deixar de revisitar, uma vez mais, Calderón (La vida es sueño, 1635), na fala de Segismundo logo após acordar, e em meio ao sonho e à realidade despertada, interstício que nos premia a uma das mais belas páginas poéticas de La Barca (p.71-73) e já escritas neste mundo afora e a dentro:
É certo; então reprimamos
esta fera condição,
esta fúria, esta ambição,
pois pode ser que sonhemos;
e o faremos, pois estamos
em mundo tão singular
que o viver é só sonhar
e a vida ao fim nos imponha
que o homem que vive, sonha
o que é, até despertar.

- Sonha o rei que é rei, e segue
com esse engano mandando,
resolvendo e governando.
E os aplausos que recebe,
Vazios, no vento escreve;
e em cinzas a sua sorte
a morte talha de um corte.
E há quem queira reinar
vendo que há de despertar
no negro sonho da morte?

- Sonha o rico sua riqueza
que trabalhos lhe oferece;
sonha o pobre que padece
sua miséria e pobreza;
sonha o que o triunfo preza,
sonha o que luta e pretende,
sonha o que agrava e ofende
e no mundo, em conclusão,
todos sonham o que são,
no entanto ninguém entende.

- Eu sonho que estou aqui
de correntes carregado
e sonhei que em outro estado
mais lisonjeiro me vi.

Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonhos são.
Calderón (2008, p.71): "mesmo em sonhos, / nada se perde em praticar o bem/ o homem que vive, sonha ".

- O que seria de nós sem nossos sonhos.
Abraços Afetuosos!
[e a todos leitores e aprendentes como também sou]

Referências
BARCA, Calderón de la. A vida é sonho. Tradução Renata Pallotini. São Paulo: Hedra, 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário