Saul Steinberg |
A criança precisa se perceber como um ser histórico na
realidade para atuar e compreender as relações estabelecidas nela, constituída
pela natureza e sociedade. Implica noções de tempo e espaço, produções de
necessidades e transformação, sobrevivência e transcendência, ética e estética.
A criança começa a se relacionar com o meio a partir do
estudo de seu nome e o seu ligar no mundo. Ser e Estar. Ter e Sonhar. Querer e
Poder. Os papéis maternos e paternos, seus irmãos e família, a moradia e suas
relações, a tecnologia e as possibilidades, os cuidados e a vida no seu
conjunto.
Repensamos, como educadoras em reuniões de formação
continuada, os eixos articuladores do processo educativo de construção do
conhecimento: o estudo da criança e os aspectos relacionais: SER HUMANO –
NATUREZA – TRABALHO.
A FAMÍLIA, na visão da criança de 3 anos, é a MAMÃE, porque o pai foi embora... |
Na educação infantil é importante considerar a própria
criança como ponto de referência para o desenvolvimento das noções básicas das
relações com a realidade a partir de seu meio, do lugar mais aproximado e
projetado dessas relações sociais e ambientais.
Família - Saul Steinberg |
Curricularmente pensamos e articulamos:
1.
Relações de trabalho
a.
Trabalho do aluno
b.
Trabalho das pessoas
c.
Trabalho da cidade – foco em Belém (Pará - Brasil)
d.
Trabalho do campo (é no lugar onde mora – Assentamentos
x Praia do Paraíso x Ilha de Mosqueiro)
2.
Relação com o meio ambiente
a.
Elementos do meio ambiente
b.
Elementos do meio cultural ou social
c.
Elementos do meio urbano (aspectos citadinos nesse
canto da Ilha)
d.
Elementos do meio rural (aspectos do campo nesta
parte da Ilha)
3.
Relações individuais e coletivas
a.
Atividades dos alunos
b.
Atividades das pessoas
c.
Atividades dos grupos na cidade
d.
Atividades dos grupos no campo
4.
Relação com o cotidiano
a.
O cotidiano do aluno: moradia, lazer, usos e costumes,
religiosidade, tecnologia
b.
A vida cotidiana dos grupos da cidade: lazer,
moradia, usos e costumes, religiosidade, tecnologia
c.
A vida cotidiana dos grupos do campo: lazer,
moradia, usos e costumes, religiosidade, tecnologia
d.
Questões do cotidiano da cidade e do campo,
noções de ecologia
Objetivo: Possibilitar, às professoras e coordenadoras,
discussão sobre situar-se no contexto educacional, a escolarização do
conhecimento, as formas de aprendizagem, a necessidade do planejamento coletivo
e a produção de projeto pedagógico próprio a partir dos saberes da criança e a
ser desenvolvido com o próprio alunado de sua turma no conjunto da escola, como
exercício de cidadania.
Saul Steinberg, 1952 |
Perpassamos por definições de planejamento e concepção de
criança repensando conceito de “situações significativas”, pois, é preciso planejar
um contexto educativo, envolvendo atividades e situações desafiadoras e
significantes que favoreçam a exploração, a descoberta e a apropriação de
conhecimento sobre o mundo físico e social e viabilizem as experiências do alunado
com o seu entorno, repensando as interações qualitativas entre
adultos-crianças, crianças-crianças e crianças-objetos-mundo físico:
(1) planejamento
baseado em listagem de atividades (definido pela necessidade de ocupar as
crianças, atividades de acordo com o tempo e não com o desenvolvimento e a
aprendizagem das crianças, a criança aparece passiva sem particularidades ou
necessidades específicas, espera pelo atendimento do adulto, sem nada a dizer
ou expressar, sem voz e nem vez);
(2) planejamento
baseado em datas comemorativas (não amplia o repertório da criança, menospreza
a capacidade de ir além do conhecimento fragmentado e infantilizado, a marca do
trabalho é a fragmentação dos conteúdos, qual é o papel da escola:
repetir/reproduzir o que circula na sociedade em geral ou discutir e questionar
os conteúdos e vivências que trazem as crianças? quem lucra com as datas
comemorativas é o comércio...);
(3) planejamento baseado
em aspectos do desenvolvimento (essa perspectiva considera aspectos
físico-motor, afetivo, social e cognitivo, secundariza ou desconsidera questões
relacionadas à construção do conhecimento, à aprendizagem, toma por certo a
existência de uma criança ideal não leva em conta a criança real, concreta, historicamente
situada, com características diferenciadas, determinadas pelo seu contexto ou
origem sociocultural, situa-se no campo da educação infantil com objetivos em
si mesma);
(4) planejamento
baseado em temas (preocupa-se com aspectos que façam parte da realidade da
criança, coloca em foco suas necessidade e perguntas, considerando como
significativo todo conteúdo que faz parte da realidade imediata do aluno, mas,
na prática, a escolha do tema acaba sendo um pretexto para a listagem das
atividades, que passa a ser sua necessidade primeira e não os conhecimentos
envolvidos, o questionamento da criança, sua pesquisa e exploração);
(5) planejamento
baseado em conteúdos organizados por áreas do conhecimento (o canal de
articulação é o conhecimento socialmente produzido e historicamente acumulado
pela humanidade, é uma proposta conteudista – caráter pedagógico da educação
infantil, mas, conforme indica Machado (1996), o pedagógico não está na
atividade em si, e sim na postura do educador, pois, “não é a atividade em si
que ensina, mas, a possibilidade de interagir, trocar experiências e partilhar
significados é que possibilita às crianças o acesso a novos conhecimentos”, é o
que se passa nas trocas afetivas, em todos os momentos do cotidiano com as crianças,
envolve na educação infantil cuidado e educação, afinal, de contas a atividade
educativa não ocorre somente em momentos especialmente planejados, inclui o que
se passa nas trocas afetivas entre adultos e crianças, desde o horário de
entrada e as diferentes situações vivenciadas na escola);
(6) planejamento por
projetos (deve ter como base a observação do grupo de crianças e seus
interesses, a observação é o grande impulso para o planejamento por projetos,
privilegiando o olhar da criança, o que ela pede ou questiona, o educador
delineia a partir de uma séria e intensa pesquisa, as possibilidades de
trabalho, os assuntos a serem estudados, as situações a serem propostas, as
atividades a serem realizadas, ou seja, assuntos-atividades-situações
significativas se integram, estão em uma teia bem tecida, sem hierarquização, o
projeto pressupõe pesquisa e educar pela pesquisa através do questionamento
reconstrutivo e educadores e seu alunado. O educador cuida para não cair na
improvisação e sim guardar coerência entre o proposto e o viável, analisa
objetivos e procedimentos, estabelece tempo de projeto, nem sempre o previsto é
tempo real, entra aí a flexibilidade e a dinâmica através da avaliação
constante do processo).
Formação Continuada |
O planejamento compreende a atitude crítica de cada
professora diante de sua prática, pressupõe autonomia e cooperação. O
planejamento é como um roteiro de viagem e que podem incorporar novas
perspectivas, novos roteiros e novas aventuras. O olhar atento e a escuta
sensível do educador é primordial no processo dialógico das vivências
pedagógicas, o planejamento é como um porto-passagem, cujo ritmo se constrói com seu
grupo de crianças.
Alguns lances dessa práxis pedagógica de formação continuada
e em serviço:
Redescobrindo a Escrita do Nome Próprio e as suas Múltiplas Relações Processo de Colagem vivenciado por Crianças de 4 anos |
A palavra CASA redesenhando o contexto a partir de suas histórias |
- "Sala de Aula: eis uma realidade que contém muitas realidades" (Régis de Morais, 2008, p.7).
Referências
(1) Garrido, Elsa. Sala de Aula: espaço de construção do conhecimento para o aluno e de pesquisa e desenvolvimento profissional para o professor. In: Castro, Amélia Domingues de; Carvalho, Anna Maria Pessoa de (Org.). Ensinar a ensinar. São Paulo: Pioneira, 2001. (p.125-142)
(2) Machado, Maria Lúcia de A. Educação Infantil e currículo: a especificidade do projeto educacional e pedagógico para creches e pré-escolas. São Paulo, 1996.
(2) Machado, Maria Lúcia de A. Educação Infantil e currículo: a especificidade do projeto educacional e pedagógico para creches e pré-escolas. São Paulo, 1996.
(3) _____. (Org.) Encontros
e desencontros em educação infantil. São Paulo: Cortez, 2005.
(4) Morais, Regis. (Org.) Sala de aula: que espaço é esse? 21 ed. São Paulo: Papirus, 2008.
(5) Sacristán, José Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 1998.
(5) Sacristán, José Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 1998.
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