quarta-feira, 30 de abril de 2014

Perder a mãe, quem está preparado?



Mudei minha vida, vamos lá penso que uns quase 270°, para poder estar em Paranaguá e morarmos todos juntos de novo. Quando fomos embora daqui, em 1991, ela já morava conosco, pois, fazia apenas dois anos que meu pai falecera. Durante nossos 23 anos em Belém, mamãe viajou muitas vezes, em média, um ano e meio passava conosco e outro tanto com meu irmão aqui em Paranaguá. Nesse ir e vir ficou conosco em Belém por 11 anos. E gostava de Belém. De início andava até sozinha de ônibus, enquanto eu trabalhava e as meninas estudavam. Não se aquietava. Da Pedreira ia lá para Presidente Vargas e as Ruas do Comércio a escarafunchar tudo. E voltava para preparar o nosso café como tanto gostava de fazer. E como andava ligeirinho. Quando fomos morar lá pelas bandas do Bairro Batista Campos, na Rua Apinagés, já adorava ficar na Praça Batista Campos, arrumava gente pra conversar nos bancos da praça e a tomar água de coco, ir ao Shopping ou na Igreja Santo Antônio de Lisboa. E como ríamos com ela. E tudo a pé, como preferia essa velhinha andarilha. Depois, nos mudamos bem próximo da Doca, no bairro do Umarizal, e o Supermercado Líder era o seu motivo de sair de casa, ou ficar na Praça bem de esquina da Doca de Souza Franco, a apreciar o intenso movimento da avenida em dias de festas, a Igreja era a de Nossa Senhora de Fátima e desde a época da Pedreira, que também ia na Igreja da Aparecida. E mais risadas tivemos por lá, em uma das casas da Vila Célia, entre a Rua Antônio Barreto e a Rua Diogo Móia.

Desde começo de 2013 minha mãe queria voltar para Belém. E nós viemos para Paranaguá perto do Carnaval e depois no mês de maio, e novamente em agosto. Minha mãe sentia dificuldades em se locomover. A distância era respeitosa demais: Pará – Paraná – Paranaguá. Eu sentia sua tristeza de querer passear pela Belém como sempre fazíamos. Aí olhei para as bandas daqui, tanto lugar bom para irmos juntas também. E as voltas do gira mundo chamavam-me para cá. Em agosto, decidi voltar pelo estado de saúde dela. Vamos rir para cá agora?

Ela vibrou com as possibilidades. Gente, como a vida muda, né? Mudança de cultura, de cotidiano, de trabalho... por ela e para ela. Valia a pena sim. Quantos amigos fizemos por lá nesses tantos anos, e com vínculos fortes de amizade. E os nossos daqui? Pois é, tudo mudou na Paranaguá de 1991. Cadê fulano, morreu, cada beltrano, aposentou... as ruas, as praças, os monumentos históricos, os bairros, a Paranaguá Histórica de quem morou desde que nasceu na Rua Dr. Leocádio; mudanças de culturas, mudanças na prefeitura. Triste ver, sob nosso olhar, uma Paranaguá tão mudada.

Mas, trouxemos Sofia e ela será nosso elo de re-ligação. Ei, mamãe, compramos nova casa e assim pensando em você. Sorria. Depois do carnaval, voltei a Belém para ajustes nas licenças e articular aposentadoria, após licença-prêmio, e volto e a mamãe adoece. E entra no Hospital.

E o mundo girou de volta. E lá está ela a nos sorrir e a nos lembrar dos inúmeros risos que nos envolvia em suas tantas histórias ou situações do cotidiano e a nos fazer esquecer dessa política tão sórdida de que participamos em cada eleição. Afinal, somos todos obrigados a votar, ou não pelo voto nulo ou branco, a contribuir de certa forma com o estado das coisas. A violência nos bate à porta, ou arranca a gente de casa e nos assola... Olho o Brasil e é como ver a Paranaguá depois de 23 anos. Pois é...

Saudades mamãe, quantas delas a nos fazer sorrir. Bom sonhar e vamos ver como iremos reconstruir nossos sonhos daqui por diante. Para onde vamos? Ainda estamos aqui na Paranaguá, de nossos avós e dos bisavós que escolheram morar no Brasil, vindos de Portugal, da Itália e da França. Chegamos no Brasil pelos DNAs do mundo todo, bem peregrinos.

É a vida, e é bonita, né, mamãe? Quem sabe consiga arrumar novos jeitos de rir ou sorrir simplesmente.

2 comentários: