quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Violência e Afetividade: palavras de impregnação mútua

O livro “A Semente: SOS Florestas”, de Eduardo Albini, serviu como pretexto para conhecermos a releitura de alunos e alunas do 4º ano do Ensino Fundamental e perceber, por intermédio de suas representações, as interferências entre conhecimento e desejo e de como percebem ali o próprio corpo enquanto lugar de experiência, caixa de ressonância emotiva e presença contínua do eu no mundo.

Sabemos que a relação do ser humano com o mundo é determinada pela linguagem nas suas múltiplas expressões: palavra, corpo e cultura. O corpo, sede da palavra e manifestação da cultura, manifesta sentimentos, evoca emoções, tece valores e, por isso, adquire habilidades sociais de exercitar processos criativos e comunicativos. A escola se insere nessa dialogia, reedita saberes e rediscute os processos perceptivos e comunicativos - inseparáveis da memória e dos sonhos - do eu no mundo, como exercício de habilidade social e autoria do pensamento.

Alunado meio agitado, meio quieto ou meio atento... mas, o meio dessas relações compõe a inteireza do ser. A leitura do livro de imagens de Albini faz parte da sequência dessa releitura do meio, também atrela-se à pesquisa em processo sobre fenômeno Bullying na escola. “A Semente” revitaliza os cuidados e sob perspectiva eco-relacional, porque busca estabelecer uma relação íntima de amor entre pessoas e vida em volta, entre humanidade e natureza, assim não separa o sentir do pensar e do agir, reconhece como inerente à condição humana.

A criança, o jovem e o adulto não aprendem destituídos de seu corpo, de seu desejo. A atenção se esvai. Na escola, o projeto AMA (Agentes e Monitores Ambientais), o projeto Horta e o Viveiro de Mudas possibilitam a percepção do corpo relacional e a figuração dos processos criativos atravessando questões intricadas do corpo sensível, corpo atuante e corpo pensante. O ciclo das plantas, o ecossistema, os cuidados mútuos fazem parte das vivências e releituras mediadas.

O ciclo da palavra, do corpo, das plantas e do meio cooperam no multiletramento e por múltiplas influências e conseqüências simultâneas ressonam na palavra-ação, palavra-encontro, palavra-valor, os ciclos-palavras articulados ao corpo-voz, corpo-vozes, corpo-ação, corpo-escrita inscrevem-se na dança da vida.

Aqui retrato da poética do corpo de parte do alunado do 4º. ano da escola, mas, algumas dessas representações não trazem o corpo de seu autor, porque se fazem corpo sublimado das coisas da vida, vamos re-olhar suas releituras e talvez nos descobrir nesse encontro:


O eu pode ser o pássaro no ninho, a planta no vaso, o carro na rua, o boneco sobre o Planeta, o cachorro, o pássaro, a flor enroscada no tronco da árvore ou a árvore cheia de lixo a seus pés, os braços abertos...


Sobre violência que atravessa os processos afetivos, esperamos aos poucos ressignificar a palavra pela fruição dos corpos. É possível!

O foco está na integração do movimento corporal das palavras, sons, cenas, cantos e encantos, memórias, desconstrução e processos criativos, a palavra-mundo de Martins (2008) nos re-liga à esperança: A ressonância da voz amplia a consciência criativa da dança do som dentro do corpo, nas suas relações com as estruturas musculares, ósseas e energéticas, com o tônus, o peso e o fluxo do movimento no espaço. Desde esta teia interconecta para a composição da dança-palavra-som através da ressonância vocal, alvorece o predomínio do sensório, da revitalização da experiência criadora por meio do corpo, de sua energia vital, sensações e impulsos, no processo de composição da palavra em cena, via dramaturgia corporal.

As crianças e jovens de todas as idades assim esperam!!! Afinal, "a linguagem não é apenas um instrumento, um meio, mas uma revelação do ser íntimo e do laço psíquico que nos une ao mundo e a nossos semelhantes" (Fazenda, 1979, p. 53).

Referência
ALBINI, Eduardo. A semente: SOS florestas. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
FAZENDA, Ivani Catarina Arantes (Org.).  Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou ideologia? São Paulo: Loyola, 1979.
MARTINS, Janaína Träsel. A ludicidade do jogo vocal no desenvolvimento da consciência criativa. Revista Científica FAP, Curitiba, v.3, p.25-38, jan/dez.2008.
PAÍN, Sara. Os fundamentos da arteterapia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

Um comentário:

  1. Boa noite!
    vim, te oferecer o selo - meu blog é puro estilo e o selo especial: Jesus te ama (está no lado esq. do blog)
    com o meu carinho
    san

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