quinta-feira, 24 de junho de 2010

No mundo da Lua: aprendizagem e vida longa aos planos de assistência e saúde


Persigam o que imaginam ser impossível, sonhem em grande, e façam com que o “impossível”, aconteça! (Eugene Cernan, 2009, último homem a caminhar no solo lunar)
A Lua não está vestida com uma superfície suave e polida, é áspera e desigual em todas as partes, caminhar por ela nos parece quase impossível, os astronautas pulavam, saltitavam, escorregavam, caíam, reerguiam-se. Lá no espaço, totalmente desprotegida de atmosfera, caem sobre ela meteoros e em velocidade desigual, as diferentes crateras em sua superfície vão se "conformando e recompondo-se" entre outras. Ela é o nosso escudo!
Assim no acaso, totalmente à revelia, me senti ao subir no disco de propriocepção. Mas, também ali, naquele cai não cai, até me sustentar em pleno ar sozinha, rindo de mim mesma, vi-me em plena produção contínua pela vida, movimentando meu metabolismo e conhecendo que também ali produzia a essência de algo fundamental para a vida. Fiz a releitura da “autopoiese” de Maturana, palavra combinada em pleno olhar entre o caminho das armas (o agir, o fazer) de Don Quixote e de sua literatura (a poiese, o pensar), no vôo da vida e pela ventura de viver. Segundo Maturana (2005), sem o comportamento autopoiético, os seres orgânicos não se sustentariam, não permaneceriam vivos! E nós ainda dizemos que não sabemos voar. E o que é ser bípede?! Só ali senti, naquele balançar-se, e pensei cheia de metáfora e vida...

E me volta Cernan, o último astronauta a andar na Lua, a me fazer refletir mais um pouco dessa nossa constituição, revisitando conhecimentos no processo de reeducação do movimento humano, pois, segundo ele, “a curiosidade é a essência da existência humana e a exploração do desconhecido sempre fez parte daquilo que significa ser humano”. E perguntas continuam surgindo nesse exercício de treinar equilíbrio e me reconstruir no vai e vem:

Como o ser humano aprende a ficar em pé? Como ele aprende a sentar e a levantar? O que nos constitui? O que nos torna autônomos?
Pois é! Essas são algumas das reflexões que venho me fazendo a cada sessão de fisioterapia. Deixar de usar as muletas cor-de-rosa, que o fisioterapeuta chamou carinhosamente de "patricinhas", é a perspectiva do momento. Como elas são úteis no meio de outras pessoas, após a cirurgia nos dois joelhos, ali na clínica vivemos nos esbarrando, eu com medo de cair, machucar mais os joelhos e incomodar os outros. Nesse estado os meus novos aprendizados a respeito da dor e superação.

Porém, se não bastasse os próprios limites e a angústia de trabalhar, estou enfrentando um pequeno grande obstáculo. Fui obrigada a interromper o tratamento fisioterápico ontem. Por quê? Na terça-feira, meu esposo foi ao Instituto de Previdência e Assistência do Município de Belém, para entregar a solicitação do médico para eu fazer mais dez sessões de fisioterapia e para surpresa nossa, não mais poderia continuar o tratamento na clínica onde estava. Cada beneficiário só tem direito a 30 sessões anuais de fisioterapia. Fiz vinte sessões antes da cirurgia e depois da cirurgia só estas dez. O médico indicou quarenta, dez por requisição, como parte do tratamento.

Teria eu que financiar as demais sessões. Meu esposo foi conversar com a assistente social para que estudassem o caso, indicaram a fisioterapia no próprio Instituto, fiquei receosa, porque sempre fiz fora e por indicação do próprio instituto, não é para ficar? Por que agora eu posso fazer por lá? Talvez por ser atendimento restrito e melhor ainda, porque não pagarei pelo serviço.

Preocupação dois: haverá estrutura, condições de acessibilidade e recursos para o meu caso? E a agenda será de atendimento diário como na clínica externa?

Serei atendida somente no dia primeiro de julho, ou seja, daqui a sete dias, isto porque é pós-operatório por lesão no menisco medial e ter condromalácia patelar congênita – ou seja, não adquirida!

- E os planos de saúde não mudaram?

Das aprendizagens básicas a me fazer pensar nos movimentos do corpo humano, valorizar ainda mais os profissionais da saúde e da educação motora, médicos, enfermeiros e fisioterapeutas, ou seja, aqueles que nesta etapa me lembram os professores de educação física. Antes da cirurgia, como parte do tratamento de um ano e meio, freqüentei hidroginástica e programação muscular específica em academias.

Ontem fiquei frustrada pela dor que sentia, ora fui privada de me sentir na lua, em cima de uma almofada de propriocepção (controle neuromuscular), no começo sentia medo de cair, mas, a presença do fisioterapeuta me assegurava a entender o que é ficar de pé, parecia uma “joana-boba” (rsrsrs!). Subir nesse disco ajuda a nos manter em pé, na reabilitação e fortalecimento de tornozelo, joelho, quadril e lombar, dando ênfase ao treino de equilíbrio, postura e coordenação motora. A cada movimento a advertência: "olha a elegância!". E eu ali a lembrar: "olha a dor". Diminuimos o tempo e aumentamos a pausa.


Às vezes, o tratamento nos angustia, pois a dor, muitas vezes impede de prosseguir com as atividades físicas. Comecei a sentar e a levantar, apareceram pequenos hematomas, mudou-se o tratamento para levantar pernas com pequeno peso, não deu e assim fomos chegando aos movimentos mais básicos para o meu caso. Passaram-se as dez sessões e agora que estávamos encontrando o caminho, fomos interrompidos pelo problema do plano de saúde.

Paciência de professor, de funcionário público na cidadania brasileira. E o corpo deverá esperar mais sete dias.
Voltei a falar do que meu coração está cheio... São as novas alfabetizações, novas aprendências. Disse eu ao Max, amigo virtual, lá de Bagé, da nossa região Sul, que estou eu bem - e aos demais que me escrevem, ligam ou deixam recados na rede virtual de blogs ou e-mail, estou entre armas e literatura (coisas de Quixote). Porém, deixei a clínica com a programação interrompida e cuidadosamente acompanhada e fico à disposição do instituto daqui. [snif! snif!]. Por ser algo reservado penso que deva ser melhor, afinal, são poucos aqueles que conseguem fazer as sessões de fisioterapia no próprio Instituto.

As esperanças continuam. Somos educadores! E assim aprendemos a educar-a-dor.



Para saber mais a respeito de Maturana e da compreensão humana:
MATURANA, Humberto R.; VARELA, Francisco J. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. 5 ed. São Paulo: Palas Athena, 2005.

Imagem 1: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Moon-craters.jpg
Imagem 2: http://www.fisiostore.com.br/product.aspx?idproduct=PFOX-DISPP
Imagem 3: http://www.sistemaodia.com/noticias/por-que-as-pessoas-gritam/fotos-10533-0.html

9 comentários:

  1. Oi, querida! Que chato essas coisas hein! Mas espero que, ao final, você consiga terminar o tratamento. Que dê tudo certo, apesar das dificuldades.

    Fico aqui a pensar no quanto é difícil aprender a conviver com a dor, para só depois superá-la. Entre armas e literatura, que a belezura das palavras viajantes possa amparar suas dores e continuar acalentando suas (e nossas) esperanças de uma boa recuperção, e também na melhora do sistema de saúde.

    Beijos, bonita! E se comporte durante os jogos, hein! (rsrsrs)

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  2. Mais das vezes, parece que o corpo que precisa se ajuda não nos pertence. Entram os especialistas a nos dar zilhões de informações e mais fácil é entregar a eles a condução da nossa própria saude. Quando decidimos que o corpo é nosso, a saúde também, vivemos com intensidade esse processo que é o de olhar para si própria. Querida, vc está pequenina de novo no aprender do andar, mas com um baita back-ground. Beijo

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  3. Oi Isabele, Oi Adrianne...
    Fico a imaginar quantas pessoas passam e passaram pelas mesmas situações que eu, eu aqui passarinho a esperar pela reabilitação. Sobre os planos, bem, políticos vão e vem... e não devem atravancar nosso caminho, a saúde é um bem precioso, merece mais respeito e melhor organização. Aqui neste momento, estou muito feliz por ter amigas como vocês a animar a alma que vivifica o nosso corpo.
    O poeminha do contra de Quintana nos ajuda a ver a mágica presença das estrelas, dá-lhe esperanças! Beijinhos!

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  4. Maria,

    Aprender a conviver com a dor é algo difícil. A gente quer mesmo é se livrar dela. Eu, como ex-atleta, adquiri algumas dores que hoje me parecem velhas companheiras, mas o nosso convívio é pacífico.
    Tenho certeza que as futuras sessões de fisioterapia vão lhe ajudar muito. Continuo por aqui, firme na torcida.

    Um forte abraço!

    P.S. Professora, sou natural de Bagé e, atualmente, moro nessa cidade.

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  5. Ei Max!
    Como se denomina aos nascidos em Bagé? Desculpe-me o equívoco, mas, de fato procurei te situar e somente presumi (rsrsrs), estava no fundo esperando a tua confirmação. A dor vale pela transcendência... Quando tive minha primeira filha, que hoje está com 29 anos, na época estava eu com 18 anos, optei por um parto normal sem anestesia e assim foi, para surpresa do médico e das enfermeiras que me acompanhavam, junto com minha mãe e esposo, pois, não chorei ou gritei, assim sempre me comportei na dor, suportá-la. Pensava nas índias e seus partos de cócoras e em tantas outras mães que partem filhos em casa sem assistência e morrem. Queria que minha filha viesse mais consciente sem estar envolvida por anestésicos... Tudo foi maravilhoso, senti dor sim, mas, nasceu uma linda filha saudável e feliz!
    A torcida do amigos nos trazem boas energias. Muito agradecida pelos bons fluidos.

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  6. Oi, Maria!

    Quem nasce aqui é bageense.
    É isso aí, professora. Continue firme que essa dor será passageira.
    Continuamos firme na torcida.

    Abraços

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  7. P.S. Não sei se é por causa da operadora, mas sempre aparece como se eu estivesse em Pelotas. Portanto, a sua conclusão não foi tão equivocada...rs

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  8. Oi, amiga!

    Minha nossa! Que coisa chata essa de atrapalhar um tratamento por questões meramente burocráticas, e a gente aí, pagando nossos impostos, cumprindo com a a nossa parte... ai, ai,... só mesmo metaforiando pra ficar mais forte e encarar tudo com imenso otimismo...

    Continue firme nessa luta. São as batalhas que nos são impostas e que temos que enfrentar. Estamos solidárias.

    Admiro muito a forma como encaras tudo isso. Você aprendendo com a sua dor, nós aqui aprendendo com a suas aprendizagens.

    Abraços fraternais...

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  9. Oi Lenira!
    A gente aprende nessa troca, nesse vai e vem do diálogo, da dialética, das contrariedades, das dores... Falando em aprendizagens, está ótima aquela sessão de postagens dos alunos e alunas no teu blog, "êta aprendizagem das boa"!!! (rsrsrsrs). Esta última da copa está maravilhosa! Beijinhos nas crianças! Como elas estão se sentindo com as postagens?

    Olá bageense! Obrigada pelo feedback!

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