domingo, 10 de abril de 2011

Desenhos de rir: crianças humoradas e criativas

[Pausa para as coisas sérias e importantes da vida] ...olha o trem surgindo detrás das montanhas azuis... "Ói é o trem!" (Raul Seixas). Traz recados de águas espumosas nas pedras, véus de noivas, tunéis, serras, despenhadeiros, medos, frio na barriga, risos, da luz no fim do túnel, do som surdo ou ensurdecedor da roda no trilho e dentro do túnel, de alívio - outro trem cruzou outro trilho... Olha a estação! Que trazem as pessoas de lá?


Desenho de Ariane (1991) 
Neste sobe e desce da serra, lembra o rio e histórias de crianças acerca do trem, do porto, do mar aberto. Lembrei assim dos riscos arremessados, das curvas, do semi-círculo, do enrolar, cruzar e perpassar... que corresponde ao ato da escrita, nas tentativas primeiras. É um vai e vem que toca no outro, une e juntos vão, garatujando e perfazendo grafismos, memória, identidade, imaginação, novidade afinada, esboço, ensaios, tentativas, buscas, olhares do outro, espanto interpretativo, correlações, risos... 


Experiências que trazem o curioso olhar da criança que ri, percorre, salta, foge, volta, vai, sua, aquieta, ouve, conta... Muitas leituras neles. Mistura sentimentos, sonhos, emoções, nuvens nos céus, sóis e sorrisos.


A máquina do vovô era bem parecida com esta daqui...
Lembra além do prazer de tocar a ponta do lápis no papel, a sensação daquela em que o dedo afunda uma tecla de ferro da máquina de escrever enferrujada, bem dura e a sensação de subir como em uma gangorra e o espanto de erguer o caracter pregado no papel enrolado no suporte da máquina escura e bem antiga. [E a dor de bater entre caracteres?!] Era do vovô e ficava escondida no sótão de casa. Mistérios em volta de coisas velhas e interessantes. Cheiro bom do passado que não conheci. Mas imaginei cenário, vestimentas, falas e tantas coisas de época. Fascinada descia às escadas e vasculhava livros do passado, enciclopédias dos irmãos mais velhos e de mãe professora. O prazer curioso atravessava fronteiras e relacionava números, informações, ciências, poéticas e culturas nessas viagens.


Para mim parecia difícil e impossível deixar de escrever no papel com lápis, borracha, pozinho voando, caneta e cores misturadas ou inventadas, algo artesanal que tinha cheiro, textura, temperatura e muita imaginação... E a tecnologia aos poucos foi nos possibilitando novas experiências, novos sentimentos, outras ideias.


Lembro dessas coisas e me faz bem. E tudo porque um querido amigo twittou assim do seu jeito descontraído de sempre acerca de que apesar do papo bom precisava pegar o trem e dormir... Acordei hoje nesta viagem.


Cruzei a linha do tempo e trouxe aqui duas coisitas:
1) O desenho de um aluno de 5 anos, o Rogério, guardo muitos deles, mas, este em especial está bem amarelado, mesmo assim [não riam, mostro aqui miudinho, pois, Enéas vive pedindo para eu jogar porque dá alergia] vou colar aqui pela traquinagem do aluno. Seus desenhos ocupavam a folha inteira, mas, este ele deixou quase no final, bem à direita da folha horizontal. Perguntei onde estava a novidade? Daí ele virou a folha...
Desenho número 1 do Rogério (22/04/1993)
Desenho número 2...
2) Os alunos contagiavam uns aos outros. A produção do Tiago José reinventando provocações mostra assim (agora é avião e não trem)... Veja bem, ali não estão nem o menino e nem o avião. Esta colagem ficava no canto superior esquerdo da folha horizontal.


[eles adoravam me causar surpresa até porque eu vivia aprontando com eles, e por isso nossa troca nos fazia rir de montão]: peço que não riam de novo do meu amarelado, está assim mesmo, outras guardo na memória, no coração e nos meus alfarrábios. Ali eu ainda escrevia na mesma superfície do papel dos alunos, logo em seguida deixei de fazer isso, até porque a produção deles é algo mais que sagrada, intocável, é a pele deles, da história, da identidade... Aprender é isso, aprender a errar. Tiago fez desta forma... colou papéis e me disse exatamente o que escrevi. Quanta gargalhada de fazer deitar no chão e rolar com eles de tanto rir. Eu era boba? Professor não faz isso? Pois bem eu fiz e não me arrependi.


Hoje eu sou feliz por tantas coisitas como essas. Essas são um pouco de minhas aprendências que se misturam às deles lá do passado. Quem era eu? professora de educação infantil e estes personagens que trago no blog eram dois meninos, tenho outras histórias e outros amarelados ou nem tanto. De fazer rir e aprender! As produções? Cada vez mais ricas. Misturavam escritas e desenhos.


Pois é amigo, o trem me levou longe e me fez sorrir de verdade!


Você tem algum desenho de alunos que te fizeram rir também? Se quiser fique à vontade para compartilhar por aqui... Ou me convide para ir lá...


Enquanto isso, se tiver tempo, clica aqui:

Trem das Sete com Expresso Polar: bela combinação!

2 comentários:

  1. Oi, Maria!

    Acho muito interessante como algumas coisas que a gente diz levam as pessoas a escrever. No caso, transformar fases simples (140 caracteres) num post como esse. Deve ser a quarta vez que isso acontece comigo. Daí, brinco com o pessoal no twitter e digo que levo a inspiração para eles...rs

    Quanto aos desenhos, recebi muitos deles que fizeram rir e me emocionar com o carinho dos alunos. Nada como sentar com eles no chão, em círculo, e falar a mesma língua (ou tentar). Nessa "brincadeira", nos reconhecem como alguém do grupo deles, uma criança diferente, um pouco maior. Maravilhoso!

    Gostoso demais esse post! =)

    Forte abraço.

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  2. Ei Max!

    140 caracteres igual como acorde inicial - sons multifônicos... É a imaginação que nos liga, o amor que nos une, a virtuosidade que nos encanta, a vida que nos faz vibrar! Dia a dia! Twitter a Twitter/Buzz ou tête-à-tête sem fim, face-to-face, blog-au-blog...

    Desenhos das crianças desencantam, acordam, despertam... fazem rir, distrair, viajar... Desde que haja interação, elas percebam isso como espaço criativo e comunicativo. Trocas intensas algumas mais sérias e outra demais da conta. Enfim, tudo vale a pena quando...

    Post?! É fruto de uma bela inspiração vinda de lá do Buzz com Twitter.

    Outro forte abraço!

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