Ninguém é igual a ninguém: o lúdico no conhecimento do ser, de Regina Otero e Regina Rennó, Ed. do Brasil, 1994. |
A novidade pode estar no saber conectar memórias, religar sentimentos e vivenciar emoções pela palavra. O novo e a memória podem assim ressignificar o cotidiano. Aí o valor da releitura coopera na formação do pensamento, na produção de narrativas, no fomento das múltiplas relações, comparativas, aproximadas ou contraditórias, conversas ou discursos escritos e imagéticos, de falas, livros, jornais, revistas ou textos, impressos ou virtuais.
O professor é um criador de ambientes de aprendizagem, parceiro e colaborador no processo de construção do conhecimento. Cada criança é capaz de construir a sua versão individual e subjetiva de sentidos, reinventando signos culturais. A palavra e a imagem ressignificam o todo dinâmico, fluido e complexo. Na primeira fase do ensino fundamental, o cotidiano revisitado e o processo de conscientização re-ligam professores e alunado e suas vivências dialógicas.
Ler para (trans)formar pensamentos, objetivo que ajuda a repensar o tema e o problema da violência, tomando como referência os relatórios de 2010 apresentados pelas professoras da Sala de Leitura. É preciso mudar a forma de pensar e agir até porque, segundo Fernando Pessoa, “a violência, seja qual for, foi sempre uma forma esbugalhada de estupidez humana. (...) Impotente para dominar e reformar a sua própria atitude para com a vida, que é tudo, ou o seu próprio ser, que é quase tudo, o homem foge para querer modificar os outros e o mundo externo. (...) Combater é não ser capaz de combater-se. (...) O homem de sensibilidade justa e reta razão, se se acha preocupado com o mal e a injustiça do mundo, busca naturalmente emendá-la, primeiro, naquilo em que ela mais perto se manifesta; e encontrará isso em seu próprio ser. Levar-lhe-á essa obra toda a vida. Tudo para nós está em nosso conceito do mundo” (Fernando Pessoa, como Bernardo Soares, em “Reformar é não ter emenda possível”. In: “O livro do desassossego”).
As crianças gostam de apelidar umas às outras por uma característica que marca a pessoa, porém, a pessoa pode também sofrer na pele o embaraço de ser apelidada. Pouco a pouco, o desenvolvimento moral vai permeando as relações.
Sobre situações de bullying é preciso: (a) criar estratégias de mediação de conflitos, identificação, análise e resolução de problemas comuns e nas crises; (b) incentivar ajuda entre iguais onde colegas atuam como conselheiros do outro conversando nas dificuldades; (c) aplicar estratégias para desenvolver assertividade que reforcem a autoestima das vítimas e para que se defendam dos agressores; (d) investir em estratégias de desenvolvimento da empatia para agressores, buscando restabelecer a sensibilidade emocional dos estudantes.
De acordo com Fante (2005), podemos propor para que cada grupo ou turma de alunos elabore o seu estatuto de como solucionar os problemas apontados na diagnose inicial. E no caso da nossa escola foi realizada no semestre anterior. Grupos operativos podem começar a conversar sobre algumas das questões respondidas no questionário, por exemplo: “Se cada um de vocês se sentiu maltratado ou agredido por algum(a) colega(a) da escola, imaginar o que aconteceu com você e com que freqüência ocorreu”. Podem surgir questões de ameaças, brincadeiras de mau gosto que constrangem ou chateiam, apelidos que incomodam, objetos retirados do outro, agressões físicas, acusações injustas, preconceitos, abandonos, chantagens diversas, exclusão de colegas das brincadeiras e que provocam reações diversas. O bom é que juntos podem se ajudar e fortalecer a amizade.
Os slides abaixo trazem releituras do livro “Ninguém é igual a ninguém”, de Regina Otero e Regina Rennó, realizadas por alunos e alunas do 4º. ano relacionando vivências na escola, na rua ou em casa:
Algumas representações acabam sendo curiosas como, por exemplo, o cabelo de borboleta, cujo repertório criador vale-se de elementos externos para exemplificar a “metáfora” do apelido.
Os desenhos trazem realismos intelectuais e visuais. Segundo Luquet (1979, p. 9): “o desenho pode em certo sentido ser considerado como um processo que permite representar objetos, tanto pelo conhecimento que temos dele ou pela maneira como o conhecemos, como pela aparência que oferecem aos nossos olhos”.
O realismo intelectual traz a transparência dos objetos representados e a noção de rebatimento, noção primeira da profundidade, demonstra conflito na representação.
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Realismo intelectual, transparência e rebatimento no telhado e nas dimensões da casa. |
No estágio do realismo visual, ao contrário, a criança reproduz o objeto do jeito que ela vê, relacionando tamanho e distância.
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Realismo visual, sem transparência, mas, o volume ainda não foi percebido/representado |
FANTE, Cléo. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. São Paulo: Verus, 2005.
LUQUET, G. H. O desenho infantil. Trad. Maria Teresa Gonçalves de Azevedo. Porto: Livraria Civilização, 1979.
SOARES, Bernardo. O livro do desassossego. http://pt.scribd.com/doc/2586920/bernardo-soares-o-livro-do-desassossego