sábado, 18 de fevereiro de 2012

Alfabetização e a Diversidade das Palmeiras do Pará: o entrelaçar de saberes na Educação Infantil


A educação infantil não é feita para alfabetizar, mas, se for bem feita, alfabetiza. Sabemos que o problema da alfabetização deixou de ser estudado do ponto de vista do adulto porque passou a ser levado em consideração o posicionamento da criança. Não os saberes da cultura, mas, os saberes da criança. A forma como ela expressa a sua realidade. As palavras do lugar norteiam o estudo a partir da palavra da criança.


O destaque desse trabalho se deve à chamada das famílias que cooperam na indicação do lugar na comunidade próprio para apreciar, brincar e pesquisar.


Apenas um senão nesta discussão pedagógica. De volta à sala de aula, o que se trabalha? De repente, o conto de “O Patinho Feio” surge e com ele vem o estudo da palavra pato e o modelo sintético decorre à exaustão, muitas vezes dissociado do significado. A criança cansa de decorar. Embora saibamos que a memória é a base da aprendizagem. Mas, há necessidade de evocarmos a memória reflexiva e sua capacidade reconstrutiva.

O pato na cultura de Belém enriquece o almoço do Círio de Nazaré. “O Patinho Feio”, conto de Hans Christian Andersen, nos fala sobre rejeição e discriminação pela aparência física. Depois do tempo de intensas (re)descobertas, as palavras podem ajudar a compreender o conjunto das letras ali compostas e recompostas.

O que o pato tem a ver com as palmeiras? A teia pode até ser tecida desde que as crianças topem reinventar a palavra. Em que o açaí se parece com o buriti, a pupunha e o tucumã? Exercício de pensamento, a lógica matemática das comparações vem aí.
Buriti, Pupunha, Tucumã e Açaí: frutos da amazônia em suas palmeiras.
Algumas curiosidades das plantas ou seus frutos compartilhadas em aula, além das conversas sobre sabores, preferências e culinária dos frutos dessas palmeiras:

- Pescadores usam os bichos (larva de um besouro) dos caroços de Tucumã como isca, também como alimento, óleo medicinal ou creme de cabelo.

- A cor da casca do fruto da pupunha, assim como, o teor de óleo e tamanho são bastante variados. Quanto mais avermelhada for a polpa maior é o teor de vitamina A, boa para olhos, cabelos, unhas e pele. Seu óleo serve como remédio para dor de ouvido e garganta, além de alisar os cabelos.

- A raiz nova do açaí como chá combate a verminose. O cacho queimado do açaí serve como repelente. O sumo do palmito do açaizeiro ajuda a estancar sangue.

- As folhas adultas do Buriti servem para fazer pipas e o pecíolo fornece material para o artesanato e confecção de brinquedos. O fruto possui uma das maiores quantidades de Vitamina A, vinte vezes mais que a cenoura.

- A lenda do Tucumã é muito antiga como todas as outras e busca explicar sobre a criação da noite que estava guardada dentro do caroço do fruto, nele havia sapinhos coaxando e grilos cricrilando, pois é, daí o indiozinho resolveu jogar no chão e então... a história vai encantando a todos.
Releitura da Lenda Indígena sobre "A Criação da Noite", através da argila.
É o manejo sustentável dos saberes rediscutido em sala de aula ou nas proximidades da Praia da Saudade, na Ilha de Cotijuba (PA). A participação das famílias de nosso alunado foi muito importante nesta atividade pedagógica, até porque muitas delas vivem do extrativismo dessas plantas. São seis Unidades Pedagógicas além da nossa Escola Sede.
Crianças na Praia da Saudade identificando as quatro espécies de palmeiras.
Território de múltiplas aprendizagens.
Etapas do gostoso momento de ler, fazer e saborear um bolo de pupunha... hum-rum!
Leitura da Receita, Medidas e toda a Química na mistura e transformação

Vai ao forno... "Tic-tac passa tempo e não demora, chega logo tic-tac"
Nova Releitura em Sala de Aula
É a troca permanente entre professora, alunos, pais e mães, avós ou tios das crianças e coordenação que aprendem juntos a compreender e relacionar processos intuitivos e ciência, saberes e a leitura do livro. Conhecendo mais a palavra no seu contexto, juntos continuam a redescobrir as palavras do meio e a ampliar sua leitura de mundo.


A escrita é representação. O desenvolvimento da escrita, segundo Vygotsky (1998, p.131), se dá pelo deslocamento do desenho de coisas para o desenho de palavras. A criança precisa querer aprender a ler e a escrever, para isso é indispensável a mediação pedagógica. A própria criança abre a porta para a alfabetização e para que isto aconteça é importante que ela mesma perceba a cotidianidade dessa leitura no seu contexto, assim como a valorização de sua autoria no processo. Família e escola cooperam nessa produção infantil em seus diferentes contextos. Pelo desejo  e necessidade de pais e mães as crianças também estão na escola.


Referências
SHANLEY, Patrícia; SERRA, Murilo; MEDINA, Gabriel. Frutíferas e plantas úteis na vida amazônica. 2 ed. Bogor, ID: Cifor, 2010.
VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

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