terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Uma aula lá fora: códigos de linguagem, ciências humanas e da natureza entrelaçados




A experiência do processo ensino-aprendizagem, vivenciada por educadores e alunado das turmas do 7º,  8º e 9º anos, da nossa Unidade Pedagógica situada na Ilha de Cotijuba (Belém-Pa), encheu de ânimo toda a comunidade escolar ali representada no lugar chamado “Igarapé do Piri”, onde há plantação e cultivo de açaizeiros, com o consentimento do dono do local. Segundo uma aluna, a maioria estava como ela, super-hiper-mega animada.

Saindo para a Aula em Campo Aberto
Juntos os professores de Geografia, Artes, Matemática, Ensino Religioso e a Coordenação com a Professora de Língua Portuguesa, que também atua em Sala de Leitura, resolveram pensar algumas questões pedagógicas levantadas: “Por que os alunos não conseguem relacionar os saberes intrínsecos aos adquiridos em sala de aula?”, “Como tornar possível a autonomia dos sujeitos diante das (re)descobertas locais e seus problemas?”.

A questão em comum rezava sobre a dificuldade de escrita do alunado em questão, revista como “a pouca habilidade de leitura [índices de previsibilidade, explicitação do conteúdo implícito, levantamento de hipóteses, generalização, relação entre forma e conteúdo] que compromete na formação de leitores competentes e capazes de reescrever sua cidadania” e, no caso, de como ajudá-los a pensar a realidade a partir do lugar que vivem.

O objetivo dos professores neste projeto era de observar o modo como os alunos representam suas relações sociais e como valorizam a sustentabilidade ambiental nesse conjunto. Assim procederam com os objetivos específicos de reconhecer as palmeiras sob o olhar da ecologia local, seu valor econômico, o uso, aspectos da nutrição, o manejo e o processo criativo através das experiências da arte, além de ajudá-los a apreciar o comportamento social e a dinâmica dessas relações. O capítulo “Palmeiras”, do livro “Frutíferas e Plantas úteis na Vida Amazônica”, foi a referência desse estudo.
Conhecimentos dos Professores em Campo
Saberes entrelaçados:

- equilibrar-se em uma ponte longa, ajudados pelos alunos, que sabiam onde e como pisar;

- do senhor do lugar sobre as inúmeras palmeiras a destacar os açaizeiros e tucumanzeiros;

- professora de Geografia retrata a paisagem local;

- professora de Artes ressalta as cores, as texturas das plantas;

- professor de Matemática contribui com as reflexões sobre o manejo e as medidas de distância entre os pés e sobre densidade;

- professora de Língua Portuguesa sugeriu que expressassem e escrevessem sobre suas emoções e conhecimentos.
Saberes dos Estudantes em Campo
Alunos disseram que nunca tiveram aula ao ar livre com todos os professores juntos, apesar de se sentirem muito tímidos no grupo; outros que nunca saíram da terra mais firme, falaram sobre seus medos de atravessar ponte daquele tipo; houve quem dissesse não saber que uma touceira deve ter no mínimo três açaizeiros; alguns destacaram o aproveitamento de “coisas e restos de árvores”; uma aluna disse ter conhecido melhor seus colegas e professores naquele lugar e a sua colega frisou que foi muito bom se unirem à natureza sobre cuidados importantes no plantio, até porque descobriu que as árvores disputam nutrientes, mas, houve quem falasse da ansiedade que antecedeu a aula-passeio. Desta maneira e naquele auditório aberto foram se pronunciando e se desinibindo. Sem interação, há a negação do sentido humano do ato de educar. Quantas aprendências por lá!
Estudantes ensinavam os professores e outros colegas a atravessar a ponte longa...
O processo de ensino, ali naquele lugar sem paredes, pode determinar a correspondência dos objetivos propostos pelos professores e juntos orientar tomadas de consciência e decisão mediante atividades didáticas coordenadas, de forma que libertassem os falantes, seus discursos, a forma de saber ouvir e se relacionar no coletivo por lá composto com o ambiente natural.
Redescobrindo as Palmeiras
Os professores compreenderam que a avaliação não tinha a pretensão de julgar o sucesso ou o fracasso do estudante, mas, perceberam juntos com os alunos que aprenderam mais sobre o significado de "educar pela pesquisa" nas diferentes descobertas possibilitadas. Encontraram ainda a palavra satisfação e o significado do repensar no processo educativo que orienta outras tomadas de decisão. Ou seja, materializou-se no ato de avaliar a própria autoavaliação, componente crítico que supõe ação reconstrutiva.

Transporte Local ao Igarapé
Em sala de aula, os estudantes destas duas turmas do Ensino Fundamental escreveram sobre a aula diferente e deixaram dito que preferem aprender deste jeito integrado.

Ambiente Educativo ao Ar Livre
O que se deseja é desenvolver nos alunos de nossa escola uma alfabetização científica que suscite o desejo de aprender a aprender e possibilite à compreensão de questões científicas, técnicas, sociais e ambientais que estejam relacionadas às suas vidas e comunidades.

Referências
DEMO, P. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados, 1997.
SHANLEY, Patricia; SERRA, Murilo; MEDINA, Gabriel. Frutíferas e plantas úteis na vida amazônica. 2 ed. Bogor, ID: CIFOR, 2010.

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