sexta-feira, 17 de abril de 2009

Imaginação ou Figuras


Imaginar ouvindo as estórias da carochinha da bisa, da vovó e do vovô. Saber das histórias da vila, do bairro, das pessoas de antigamente, dos costumes delas e suas cantigas. Imaginários! As imagens? re-inventadas pela criança que ouve.

Figuras sobre a mesinha da escola para pintar. Vergonhas amassadas sob a mesinha. Traços escondidos. Não é igual ao da professora. E do professor? Palavras apartadas. Crianças de educação infantil é só para mulheres. Palavras silenciadas.

- Desenha p'ra mim? Eu não sei fazer!!

A mídia acaba com o acontecer poético da criança. Tudo é dado. Sem interação e diálogo, o devir criativo tem pouca chance... Tudo disjuntivo.

- Colar caquinhos e produzir mosaicos!

Imagens, imaginação, combinar, rearrumar, mudar o tom, reinventar harmonia, trocar a roupa, rearranjar cenas, sair do prumo, inverter papéis, ressignificar a trama, a mensagem, o ruído, o lixo.

- Maestros silenciados. Porém, lá vem Cecília Meireles e nos diz que a imaginação torna tudo possível, pois,
"às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino".

Pois é, somos um pouco de tudo e muito da mídia. É o que nos fala. No passado deixamos nossa esplendorosa autoria, pois, achamos muito cedo que o nosso discurso, desenho ou escrita eram muito feios, pois, o da professora era melhor.

Aprendemos a copiar. Substituimos nossos desenhos pelo da mídia impressa ou televisiva. Desenhos de outros. Modelos favoritos. Os nossos eram sempre os mesmos: a mesma flor, a mesma casa, o mesmo sol, a mesma árvore, o mesmo menino e a mesma menina, o mesmo gato, o mesmo elefante, o mesmo pato. Desenhos massificados. Sempre iguais. Até hoje!

- Qual é a educação infantil que idealizamos?

Esse vídeo, abaixo, é inspirador, fala dos brinquedos, brincadeiras, sorrisos e toques. Tocamos o outro e nos tocamos. Tum-tum-tum. Auscultamos corações. Caimos e damos risadas. Batemos a sujeira colada no corpo. E sujamos de novo. Risos renovados.



As histórias nos fazem perceber que é possível re-olhar a infância. Reencontrar a estima. Os processos criativos. A sensibilidade. Ressurgir. Tons e afetos. Reencantar a educação. Salvar o mundo! Construir uma nova relação midiática. Ampliar a rede de relações. Estar alerta. Estar aberto. Imaginação. Inovação. Re-ligar.

Que venham os contos, puxe os fios da imaginação, tricote enredos, teça sonhos e fantasias, desfie o mistério, produza novos sentidos.

- Como foi a sua infância cheia de imaginação ou de figuras?

3 comentários:

  1. Olá, Maria! Excelente postagem! Abre-nos espaço para muitas reflexões. Observo sempre a diferença entre as crianças do campo e as da cidade. Alguns dos meus alunos passam um ano inteirinho sem vir ao centro da cidade ou, mesmo ao distrito mais próximo onde existe um pequeno comércio. Quer dizer, estão livres do consumismo! Claro que tem aqueles que pelo menos uma vez por mês acompanham os pais para fazerem as compras e voltam para a escola cheios de novidades. Todos tem muita noção do mundo que os rodeia, dos produtos que gostariam de consumir, só que, a distância os livra um pouco desse hábito e os levam a criar e improvisar os próprios brinquedos. Assim eles usam mais a imaginação.

    Bjus... Lenira

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  2. Obrigada pela visita. Gostei muito do seu texto. Trabalhei com 1ª a 4ª séries durante 10 anos e parece que me transportei. Minha infância foi de muita fantasia. Muito rodeada de livros, graças aos meus pais. Estarei sempre por aqui, pois seu espaço é delicioso.

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  3. Oieee! Estamos prestigiando seu belo trabalho com um lindo selinho. Passa lá no Alfabetização pra voce conferir.

    Bjus...

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