sexta-feira, 28 de maio de 2010

Nosso lado humanamente frágil


Uma nova licença ao tema... Como definir a vocês sobre o que venho vivenciando há um pouco mais de um ano, entremeios a picos agudos e críticos de dor e dificuldade no andar? O quadro manteve-se resistente ao tratamento clínico.

A "doença" dos/nos joelhos é conhecida como "condromalácia patelar" congênita, além do processo degenerativo do menisco em ambos os joelhos, diferente da condromalácia por traumatismo (jogador de futebol, ciclista, bailarinos, atletismo...), se junta à "hiperpressão patelar" (fico a imaginar se também herdasse a obesidade), enfim, resulta no quadro de "meniscopatia medial" nos dois joelhos e consequentemente, apareceu também o "cisto de Becker" no joelho esquerdo. A meniscectomia por videoartroscopia só não vai dar conta de resolver o problema da doença que aprenderei a conviver... Posso vir a sofrer algumas sequelas, mas, o desgaste dos meniscos a própria doença tomaria conta. O processo inflamatório e dolorido nesta fase crítica vai melhorar (espero!). Não poderei deixar de fazer os exercícios fisioterápicos e do programa de reequilíbrio muscular, mas, estou proibida de subir/descer escadas-rampas, fazer bike e outras limitações como agachar/ajoelhar, sentar sobre as pernas flexionadas. Imagine só na posição de lótus? Nem meio lótus.

Não venho dormindo bem, quase de meia em meia hora, acordo com a posição modificada dolorida. Passo o dia sonolenta, coisa que muito raramente estive indisposta, aprendendo a conviver com as dores irregulares e sensação de instabilidades meio constantes...

A anestesia escolhida para o caso será peridural, conforme a médica especialista. A cirurgia marcada para o próximo dia 02/06, no Hospital Porto Dias, de Belém, terá a intervenção do Dr. Erick Nunes em quem confio muito. Enfim, devo deixar para depois a habilidade de me superar diante do quadro "estável" que ficarei. É mais um desafio que não imaginei ser acometida aos 47 anos, ou que tivesse "herdado"...

Ler, passear nas infovias - as estradas eletrônicas e blogosfera densa e levemente conectada, trabalhar em casa nesta limitação é uma forma de também distrair a dor... E ir levando. Embora, junte a esse todo, a ansiedade natural em buscar sempre por melhor qualidade nas aprendizagens... E sempre sonhar – e aqui resolvi navegar pelas palavras de Calderon de La Barca (1600-1681), em dois poemas abaixo...

LA NOCHE

Esos rasgos de luz, esas centellas
que cobran con amagos superiores
alimentos del sol en resplandores,
aquello viven que se duele de ellas.

Flores nocturnas son: aunque tan bellas,
efímeras, padecen sus ardores;
pues si un día es el siglo de las flores,
una noche es la edad de las estrellas.

De esa, pues, primavera fugitiva,
ya nuestro mal, ya nuestro bien se infiere;
registro es nuestro, o muera el sol o viva.

¿Qué duración habrá que el hombre espere,
o qué mudanza habrá que no reciba
de astro que cada noche nace y muere?


Da peça “A vida é sonho”, trad. Renata Pallotini, pela Ed. Hedra:

É certo; então reprimamos
esta fera condição,
esta fúria, esta ambição,
pois pode ser que sonhemos;
e o faremos, pois estamos
em mundo tão singular
que o viver só é sonhar
e a vida ao fim nos imponha
que o homem que vive, sonha
o que é, até despertar.


Sonha o rei que é rei, e segue
com esse engano mandando,
resolvendo e governando.


E os aplausos que recebe,
vazios, no vento escreve;
e em cinzas a sua sorte
a morte talha de um corte.
E há quem queira reinar,
vendo que há de despertar
no negro sonho da morte?


Sonha o rico sua riqueza
que trabalhos lhe oferece;
sonha o pobre que padece
sua miséria e pobreza;
sonha o que o triunfo preza,
sonha o que luta e pretende,
sonha o que agrava e ofende
e no mundo, em conclusão,
todos sonham o que são,
no entanto, ninguém entende.
Eu sonho que estou aqui
de correntes carregado
e sonhei que noutro estado
mais lisonjeiro me vi.


Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonho são.

Referência
BARCA, Calderón de La. A vida é sonho. São Paulo: Hedra, 2008.

Imagem 1: http://bemdelevenaalma.files.wordpress.com/2009/05/leveza-776589.jpg

9 comentários:

  1. Querida professora,

    Torço para que tudo dê certinho na cirurgia e por uma rápida recuperação. Temos, sim, nossas fragilidades. Entretanto, temos também uma força interior que nos dá suporte para enfrentar e superar os obstáculos do caminho. Sem contar no carinho dos familiares que nos cercam. Tenho certeza de que tudo vai terminar bem.

    Um grande beijo

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  2. Oi Max,
    Agradeço pelos desejos aupisciosos. O amor e o carinho expressados nos animam a trilhar caminhos...
    Outro grande beijo!

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  3. Olá Profª!
    Tenho um presentinho pra Sra lá em meu blog.
    Fique com Deus!
    Lela

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  4. Querida, bem sabe que tenho estado muito próxima dessas fragilidades tão tão humanas e se aprendo algo desses momentos, posso dizer é que de verdade, temos capacidade de ir nos transmutando, superando durezas, fortalecendo a confiança na vida, aprendendo a conviver com os limites e antever as novas possibilidades que esses mesmo limites nos abrem. Como o cego que, em não tendo a visão, desenvolve apurado olfato. Assim penso, joelhos que precisarão de cuidado, podem abrir espaço para outras forças que brotarão, com certeza. Muito amor,

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  5. OLá Maria do Rocio!
    Quanto tempo amiga! A gente some um pouquinho mas não fica longe dos amigos, estamos aqui de pertinho acompanhando tudo e, torcendo muito por vc, dando aquela força passando boas energias.
    Sua caminhada é de brilho e os obstáculos vão sendo vencidos com a capacidade de superação.
    Força Maria e conte sempre conosco.

    Bjus... amiga!!!

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  6. Queridas Lenira e Adrianne,
    Ter vocês nos recantos e trilhas virtuais alegra mais os caminhos a percorrer... Descobrirei diferentes possibilidades, é o tempo de me adaptar. O tempo é aquele que nos presentifica nos corações amigos. Sejam bem-vindas por cá! Estou sempre por lá em seus cantinhos...

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  7. Oi, querida! São essas coisas todas aqui em cima que nos ajudam a acolher melhor nossas dores e adaptações às mudanças necessárias. Você é, sem dúvida, muito querida! E com certeza passará por essa transformando tudo em grandes aprendências...
    Estarei, em 02/06, com meus pensamentos e boas energias voltados para sua cirurgia, pedindo a Papai do Céu que ilimime vc e toda a equipe q irá trabalhar na sua recuperção.

    Grande abraço, Bonita!

    Isa.

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  8. Olá Maria do Rocio!

    Como estás passando? E a cirurgia, foi tudo bem? Eu esto uainda em recuperação, aqui jogada e mfrente ao computador e cada vez encontro mais e mais coisas que me prendem a ele, embora eu esteja tentando (em vão) me policiar e fazer outras atividades. Nao é fácil superar essas limitações físicas e ain da bem que nem desconfiamos delas, antes dos procedimentos a serem tomados, mas graças a Deus, tudo volta ao seu lugar aos poucos. Espero que estejas bem. Beijo!

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  9. Oi Marli,
    Estou naquela fase de reaprender a fazer o que antes fazíamos automaticamente, como andar, sentar, levantar - bem, ajoelhar é pedir muito né? Mas, é uma outra instância das aprendizagens, sei que terei que conviver com as limitações e conhecer outras formas de superação, mas, tudo vale a pena quando a alma não é pequena", não é mesmo? Boas lições do mestre dos mestres também me ajudam a rever o caminho até então e continuar a caminhada.
    Assim você também está se desafiando e aprendendo a se respeitar, mantendo o equilíbrio em tudo, nem tanto ao céu, nem tanto ao mar - ah! nem tão presos à terra; vamos viajar, sonhar, por os pés no chão, olhar as estrelas, navegar, ponderar, criticar e também desenvolver a autocrítica...
    Mundos aí vamos nós!
    Beijinhos!

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