terça-feira, 26 de abril de 2011

Mundo criativo, mundo relacionado: as relações aprendentes

Dois vídeos relacionados mostrando a dupla face textual dos prefixos: inter e hiper... Inter relaciona, traduz e vincula múltiplas relações (antonímia, complementares, recíprocas, correspondentes, participativas, associadas, solidárias...), hiper supera limitações do que é linear ou pode estar fragmentado, incompleto, tênue. Mas, o que relaciona as pessoas e suas histórias?


Para esta primeira reflexão trago o vídeo:


O prefixo inter atravessa nosso imaginário cultural e nos personaliza no turbilhão de ideias e histórias. Quem tem uma para contar? Quem está interessado em ouvir? Quem deseja escrever? Que argumentos arruma diante de tantas informações?


Na escola aprendemos a não fragmentar disciplinas e a promover relações interdisciplinares. Integração. Interfaces. Transversal. Intertextualidade. Histórias e imagens relacionadas. Polissemias. Nossas músicas atraem os pequenos? Cada um ouve a sua música, assiste ao seu programa, tem o seu computador, interesses diferentes. Como se relacionam?


Aqui o segundo vídeo demonstra a intermusicalidade, na relação de nossas histórias, mídias e a criatividade das crianças:

As crianças fazem o link? Com base em... [a pedagogia pode responder]


A escola sobrevive nesse redemoinho relacional na dita era tecnológica da informação conectada, digitalizada, "personalizada". Estamos enredados. Cada vez mais inspirados. A quantas anda nossa criatividade?


Cruzamento de textos variados, superação criativa de limitações lineares, diferente da sequência de antigos textos escritos. Compreendemos o significado da memória criativa, diferente da memória reprodutiva? A imitação é o primeiro estágio do pensamento, se vai internalizando. As crianças imitam, repetem os gestos de seus genitores, do convívio, aos poucos a expressividade contorna a pessoalidade. A pessoa se forma nas relações familiares, afins. Memórias importantes nos personalizam. Somos singulares em nossa pluralidade. Reinventamos a vida nas relações que nos humanizam. E a vida? É bonita e é bonita... (o que nos lembra?)


Textos variados interligam palavras. Palavras que estão ligadas a outras palavras. Outros textos. Ideias que fazem lembrar outras ideias. Sons outros sons. Música que faz relembrar outras músicas. Videoclips que nos fazem lembrar outras imagens.


Hoje em dia é difícil criar coisas completamente inovadoras. Privilegia-se a ligação em cadeia. Estamos enredados. Enredos relacionados. A diferença está nas relações. As pessoas relacionam. Os conteúdos são relacionais. E as pessoas tem histórias para lembrar, relacionar, enraizar-se, voar, retornar, valorizar, humanizar-se mais.


Quem lembra do artefato de madeira lendário grego? O presente venceu seu inimigo. Quem conta histórias para crianças? Temos tempo para nos relacionar? As crianças querem ouvir? Elas querem ler? O que escrevem? Pessoas sem narrativa se desestruturam. Os pequenos estão interessados nas conversas dos pais e das mães? A família tem momento diário de conversa, de olhar nos olhos, de tocar no outro, de abraços e refeições juntas, como as antigas ceias. Em seguida, vem a hora do conto, da história, das relações do dia, das reservas... (?)


Desistimos das relações familiares, ou ressignificamos as histórias. Não queremos mais tragédias como aquela de Realengo neste abril. Quem ainda lembra do episódio bullying? Vivemos cheio de trolls - trollando discursos - e assim tróia se fez tragédia - e com um cavalinho de pau! Criatividade tecnológica. Criatividade humana!


Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. O que nos lembra?

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Combate ao bullying na escola: alunos em grupos operativos

A função da escola dentro e fora dela é sempre educativa. É preciso criar uma rede de proteção e de inibição do comportamento bullying contribuindo com o bem-estar de todos e a melhoria do desempenho escolar do alunado.

Os motivos do não-aprender geram e apontam a desatenção ou a dificuldade de canalizar energias destrutivas - advindas das cargas agressivas que atropelam sentimentos, percepções e tomadas de consciência - para ações catárticas de liberação e terapia dessa força silenciosa e avassaladora.

A melhor forma de resolvermos o fenômeno bullying é contarmos com o protagonismo dos alunos desencadeando a sensibilização de professores e funcionários. O desenvolvimento da assertividade e da empatia alicerçam a escolha e a formação de representantes de turma, indicados pelo alunado após debates sobre grupo operativo e liderança.

O objetivo é fomentar a cooperação discente no combate ao bullying através de programas que favoreçam o cultivo da paz, fortaleçam as vítimas e despertem os espectadores. Sites como o da organização kidscape - que protege crianças e jovens molestados na Inglaterra, e inclusive, se dedica a prevenir crimes contra a infância na internet - nos ajudam a repensar estratégias importantes a partir do movimento de alunos e alunas da escola. Afinal, segundo eles, os episódios de bullying precisam ser Reconhecidos, Rejeitados e Relatados. Os três erres amigos em ação capaz de desmontar os ataques bullying.

O alunado em “grupo operativo” se reúne em torno de uma tarefa concreta e objetivo comum. Cada pessoa exercita sua fala, sua opinião, manifesta seu silêncio ou defende seu ponto de vista e assim constroem a sua identidade no grupo. O propósito do grupo é movimentar-se no reconhecimento, na prevenção, na aquisição de conhecimentos específicos, na proposição de ideias, em cooperação de atividades centradas na solução dos comportamentos bullying, no questionamento reconstrutivo, estimulado no processo que antecede ou permeia definições e ações coletivas como exercício de autocrítica.

O protagonismo “de aluno para aluno” acorda a sensibilização de professores e funcionários da escola, chama os pais, as mães, parentes e vizinhos para integrar a ação coletiva e até para além dos muros escolares.

A tarefa emergente da escola, nesse caso, é a campanha antibullying. O empoderamento de representantes de turma, também potencializado pela indicação da maioria de cada turma, deve advir de uma reflexão comum sobre o que é um grupo. Segundo Pichon-Rivére (1998, p.65-66), grupo se refere a um “conjunto restrito de pessoas ligadas entre si por constantes de espaço e tempo, articuladas por sua mútua representação interna interatuando através de complexos mecanismos de assunção e atribuição de papéis, que se propõe de forma explícita e implícita uma tarefa que constitui sua finalidade”, ou seja, as pessoas se movem por necessidades semelhantes e, nesse caso, os alunos se reúnem em torno do programa em busca da paz através de suas aprendências e cooperação.

Apesar de o grupo ser constituído de indivíduos com comportamentos diferenciados, os diferentes papéis interagem entre si, algumas vezes invertem suas funções, caracterizadas como: líder de mudança, bode expiatório, porta-voz, líder de resistência, e a dos representantes do silêncio, que muito se assemelham ao papel dos espectadores dentre os protagonistas do bullying.

O fio dessa mudança está em apresentarmos estratégias para despertar a maioria deles, os representantes do silêncio, os espectadores, e mexermos com suas incertezas. Vamos explorar o potencial desse grupo como agentes de mudança, sobretudo, porque sabemos que os autores de bullying só crescem com a adesão da platéia.

Se trabalharmos a conscientização inaceitável das condutas bullying, os espectadores podem, contrariamente, se tornar aliados das vítimas, e não mais protegendo os agressores com seus silêncios. A escolha e a formação continuada de representantes de turma na nossa escola é uma das funções do Núcleo de Acompanhamento Pedagógico (NAP), ou, na falta dessa equipe, em outras escolas, caberá aos coordenadores ou à direção escolar.

Em escolas com Ensino Médio, o protagonismo juvenil ou do próprio Grêmio Estudantil, transforma alunos em monitores ambientais principalmente, a partir das relações interpessoais e princípios que valoram auto-estima, respeito pelo outro buscando potencializar assertividade, empatia, compreensão e solidariedade.

Se ouvidos e bem estimulados alunos proativos e colaboradores podem reduzir episódios de bullying através de ações articuladas: tecnologia aprimorada na construção de vídeos, fotomontagens, murais de exposição interna ou internet, como veículo familiar de muitos deles, releituras teatrais, musicais, por desenhos, estruturar jogos e brincadeiras que não firam, humilhem ou magoem outras pessoas.

- Como tornar o ambiente escolar mais agradável a todos?
- Como monitorar os espaços da escola onde comumente se transformam em palco de ações bullying na escola?

- Perguntas outras podem desafiar os alunos a pensar. E outras mais que esse grupo de alunos monitores pode formular. Monitores que, são representantes de turmas, foram indicados como líderes dessas turmas, porém, dentre eles muitos exercem diferentes papéis na prática de bullying, conhecido como “terror silencioso”, capaz de surpreender familiares, escola, comunidade que temporiza e irrompe nas culturas midiáticas.

Referências
MALDONADO, Maria Tereza. A face oculta: uma história de bullying e cyberbullying. Desenhos Manuela Eichner. 5ª. reimpressão. São Paulo: Saraiva, 2011.
____. Bullying e cyberbullying: o que fazemos com o que fazem conosco. Moderna, 2011.
PICHON-REVIÉRE, Enrique. O processo grupal. Trad. Marco Aurélio Fernandes. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

domingo, 17 de abril de 2011

Bullying na escola: desenvolvendo fortalezas

Trago aqui a tirinha criativa, séria e bem-humorada de Nanuka Andrade para ilustrar o post. A quem agradeço cedência ao Aprendências.


É preciso ajudar as vítimas típicas a descobrir suas próprias fortalezas e assim superar seu medo com bastante inteligência e equilíbrio. O humor é um dos indicadores de resiliência. A tira nos dá ideia e abre boa discussão sobre a melhor abordagem. Ação cultural casando ação dramática, jogos educativos, dança, pintura, literatura, enfim, a multilinguagem compõe a didática inteligente e bem concertada (com c mesmo).

Meu maior receio, como psicopedagoga, é que a sociedade fique saturada do tema bullying pelo sensacionalismo que cerca eventos dessa natureza na mídia. Não se pode abandonar escolas à sua própria sorte. Mais do que leis de proteção é o desenvolvimento de estratégias educativas realizadas nas escolas e pelo conjunto de educadores como ação formativa a favor da não-violência.


O perfil de ex-alunos como o de Wellington, da Escola Municipal Tasso da Silveira, de Realengo (RJ), que protagonizou no seu tempo de escola a "vítima típica" e fê-lo agravar problemas psicológicos. Era um garoto tímido, quieto demais, com tal conduta apartada sentia dificuldade de olhar nos olhos do Outro, acabava se auto-excluindo e sofrendo no íntimo. Seu único amigo de lá também sofria bullying. Os dois eram ridicularizados o tempo todo.


Wellington planejou pouco a pouco, pormenor a pormenor, a sua vingança. Ficou claro que o alvo não eram os adultos da escola, professores ou funcionários, mas neste derradeiro tempo, focava alunos indefesos, transferindo-lhes toda fúria e raiva mal-resolvida. Essa carga destrutiva lhe consumia por dentro. Alucinações foram parte de sua energia retida e cancerígena. Wellington entrou nas mesmas salas que havia estudado, memória registrava ainda o mesmo turno e as mesmas séries. Os personagens é que eram outros. A obsessão lhe cegou. Alunos e alunas inocentes a ocupar cenário e as mesmas carteiras de seus antigos agressores ou provocadores.


Sabemos que muitos passam pela escola sem potencializar patologia mental como a dele. Porém, o sentido de exclusão, de forma disfarçada e até silenciosa, ainda persiste a discriminar alunos ou alunas com necessidades educacionais especiais ou que a maioria julga diferente. Wellington foi alvo de muitos apelidos, além de tudo mancava de uma perna, achavam-no esquisito, diferente e frequentemente era expulso do lugar que sentava.


Na escola em que trabalho aconteceu recentemente uma agressão física a um aluno atendido por uma das professoras de educação especial. Os cuidados fundados no conhecimento são importantes como prevenção ou processo de acompanhamento, que inclui orientação à comunidade escolar, sobretudo, envolve projetos de professores e professoras que atuam com o aluno entre outros alunos da mesma turma. É tempo de inclusão.


O bullying se caracteriza por um conjunto de agressões que um aluno ou aluna sofre constantemente de um agressor ou grupo de colegas e da mesma turma, conforme a maioria das pesquisas e estudos. Entretanto, o bullying só acontece se o outro permitir, resolver silenciar a procurar ajuda de adultos ou colegas. Até porque perversamente os agressores visam afastar, aos poucos, toda possibilidade de amizade que o alvo de suas chacotas e agressões físicas ou simbólicas ainda mantenha com alguns poucos colegas.


Os afastados protagonizam as cenas de intimidação, assédio ou agressão como espectadores, de certa forma "seduzidos" pelo agressor, ou vítimas agressoras, e preferem firmar o pacto do silêncio. Veja o exemplo ilustrado por um aluno de 13 anos, da nossa escola. Poucos como ele, em suas representações, focam o papel do espectador, recluso em seu medo, incertezas e zona de conforto.




A forma de atuação da escola é fundamental neste contexto quando se entrecruzam preconceitos e informações desencontradas, fora opiniões de não-especialistas no assunto, com poucos parâmetros e argumentos fundados no conhecimento, a repassar opiniões ou conceitos insipientes. A escola precisa atuar de forma a promover projetos pedagógicos que fortaleçam alunos e alunas em suas relações interpessoais com mais responsabilidade (responsa-habilidade).


A didática docente ajuda bastante a disseminar grupos fechados, criando sempre novas formas de trabalhar em equipe, misturando de forma inteligente e criativa o alunado de cada turma e, principalmente, observando se há algum aluno ou aluna que é excluído ou se auto-exclui do conjunto.


O trabalho pedagógico deve ser bem mais cooperativo. A competição deve ser evitada ou orientada. Como os "perdedores" são vistos pelos outros colegas? Como os valores - respeito e solidariedade por exemplo - são estimulados nas turmas?


Com toda a informação disponível na mídia e muitas orientações importantes vão nos ajudar a desenvolver estratégias pedagógicas que humanizem mais as relações interpessoais de toda e qualquer escola. Não basta boa vontade é preciso leituras, questionamentos, ação reconstrutiva, pesquisa e cooperação de todos aqueles que movimentam saberes escolares e as interações com a Vida.


Melhores dias na escola despontam horizontes mais humanos. É preciso acreditar e desenvolver a função estimuladora da expressão, da reflexão, facilitar o acesso ao conhecimento, assim como, valorizar a função de integração social e desenvolvimento pessoal, como fortalecimento da auto-estima, respeito ao Outro e cooperação. 


Abro aqui os parênteses da compreensão do sentido buscado, aproximando-me mais do conceito piagetiano, como sentido de co-oper-ação (pensar e agir em conjunto), operar em comum, ou seja, ajustar ações por meio de novas operações de correspondência, reciprocidade ou complementaridade, as operações executadas pelos parceiros - com os parceiros. Fortalece assim a ação do trabalho em equipe, aprender com o outro, conhecer com o outro e desenvolver a autonomia e o sentido de alteridade.


Finalizo com a orientação de Freinet (1998) sobre a nova vida na escola, que, para ele, supõe como invariante pedagógica a cooperação escolar, ou seja, "a gestão da vida pelo trabalho escolar pelos que a praticam, incluindo o educador".


P.S. Sugiro aos leitores do blog que acessem aos links apontados nos comentários pelo colega Nanuka Andrade. Os vídeos ajudam a visualizar o projeto da Sokai Gakkai Internacional, apresentado no programa "Ação" da Rede Globo de Televisão por Serginho Groisman. 


Referência
Freinet, Celestin. Educação pelo trabalho. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
Piaget, Jean. Estudos sociológicos. Rio de Janeiro: Forense, 1973.

sábado, 16 de abril de 2011

Aprender bem: o aluno é o mestre

O mundo de Sofia, título do livro de Jostein Gaarder, nos leva a compreender e nos desafia a propor formas de aprender com as crianças. Quando li este livro há um tempinho atrás, no meio da década de 90, senti-me estimulada a criar a concepção amazônida do Planetário do Pará, em 1997, com uma proposta animadora e interdisciplinar buscando o desenvolvimento de uma visão transdisciplinar. O meu desafio era aprender e mostrar ao mundo como o homem ou a mulher amazônida aprendia com suas questões de olhar para o céu e as perspectivas desse olhar o mundo, além de como lê o cotidiano e o que dele pode nos ensinar.


O planetário deveria trazer o diferencial do povo amazônida... como os povos antigos nos ensinaram a amar pelo conhecimento, ciência milenar parceira da arte, beleza que ressignifica nossa cosmogonia... Tanto encanta porque sabe bem aproximar sabedoria popular e conhecimento científico.


Era o pensamento da etnoastronomia fundante, uma relação inextricável entre cultura, sujeito e linguagem. Assim, a pergunta que me fiz antes de conceber o projeto do planetário foi tentar responder: "como as pessoas olham para o céu daqui deste canto planetário e como podem chamar outros olhares para juntos pensarem novas perspectivas ao mundo que nos é comum e plural". E pela simplicidade! Assim vislumbrava Sofia aprendendo com seu professor de Filosofia. Na vida...


[Abro parênteses desse saber fazer inspirado em Freinet (1992), pois para ele, a aprendizagem através da experiência seria bem mais eficaz quando o aluno fizer um experimento e der certo, assim ele o repetirá e avançará no procedimento. Porém, não avançará sozinho contará com a cooperação do professor. E que professor será este?]


- Com a forma de olhar o céu de um povo ganhei o prêmio Jabuti 2000. Visão antropológica do céu. Olhar natural e consciente. Esse primeiro lugar devo, principalmente, à Gaarder pela forma literata de nos questionar sobre o que fazemos de singular em nossa pluralidade. E nessa interpretação como pode relacionar-se à valorização da simplicidade e com isso nos instigar a fazer bem feito.


Quem chamei para me ensinar a ler estrelas e o manto escuro do céu? Saberes que me foram ensinados pelo professor Germano Bruno Afonso, da UFPR. Embebidos pela inebriante posição de nos colocar no lugar de diferentes sujeitos ecológicos, olhares que observam e se orientam pelos céus brasileiros e mais especificamente pelos céus da amazônia paraense. Povos referentes dessa terra tupiniquim que compõem o patrimônio universal, dotados de consciência ambiental e bem maior que muitos de nós que estudamos em universidades e habitamos as grandes cidades.


A sabedoria popular e o valor da vida também reaprendi com Leonardo Boff, Dalai Lama, Edgar Morin, e outros como Trinh Xuan Thuan, Paul Ricouer, Jean-Yves Leloup, Hubert Reeves, André Comte-Sponville da coleção "Nomes de Deuses" e que me foi concedida por Ilya Prigogine através da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e os pesquisadores do "grupo da complexidade".


E nessa inspiração da vida, dos saberes, das leituras e releituras vejo que muito aprendi com o olhar simples, intuitivo, inspirador, curioso, questionador, instigante das crianças - de educação infantil - belo por ser capaz de reinventar as belezas naturais e ensinar novas formas de rever a nossa complexa humanidade.


Não só sobrevivemos mas transcendemos e cuidamos de tudo que é planetário. Olhares que valorizam o amor e consolidam a paz, o bem-estar e que sabe bem desacomodar-se. Formas de ver o mundo de forma tão esperançosa e capaz de mostrar que palavras como resiliência, tolerância e solidariedade são chaves para mudar o mundo.


Ciência Humana pela não-violência...


Assim relaciono tais conhecimentos ao respeito que devemos ter com a criança. Quem ensina e quem aprende com ela. Ou melhor, o que aprendemos com a criança? Já fomos crianças um dia, conservamos algumas características delas em nós, e por isso talvez consigamos responder a seguinte questão...


"O aluno aprende bem com professor que..."


Valorizo o "educar pela pesquisa", questionando as aulas chatas e decorebas, indagação própria e sugestiva de Pedro Demo. Por isso fecho aqui com a sua provocação pedagógica: "se a criança é levada a buscar seu material, a fazer sua elaboração, a se expressar argumentando, a buscar fundamentar o que diz, a fazer uma crítica ao que vê e lê, ela vai amanhecendo como sujeito capaz de uma proposta própria” (Demo, 2000).


E nós professores, o que aprendemos com as crianças - com os nossos alunos e alunas?






Referências
FREINET, Celéstin. Pedagogia do bom senso. 7 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
DEMO, Pedro. Aprender bem/mal. Campinas, SP: Autores Associados, 2009.
___. Saber pensar é questionar. Brasília: LiberLivro, 2009.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Valentões e seus pés de feijão: uma história meio ao contrário

Vocês se lembram de plantar feijões em algodão na escola? Atrás deste ato experimental também costumávamos viajar na fábula de João-pé-de-feijão e de subir no pé depois de crescido. Mas, na sequência, à idéia da harpa ou da galinha dos ovos de ouro acoplava-se o medo de encontrar o tal gigante amedrontador?

Ficávamos miudinhos ouvindo... E logo depois íamos crescendo ao saber que, com sua perspicácia e coragem, o menininho venceu o gigante que comia criancinhas. Seguiam-se a La Fontaine histórias dos mais fracos vencendo os mais fortes e outras modas como as do rato e o leão, o lobo e o cordeiro, a tartaruga e a lebre, a rã e o boi, o corvo e a raposa, o leão e o pernilongo... Talvez por tantas delas nós menores não nos intimidávamos com os maiores. E assim no enredo das histórias da vida sempre procurávamos formas inteligentes de vencer o suposto mais forte.


- "Quem lê tanta notícia? Por entre fotos e nomes. Sem livros e sem fuzil..." (Caetano Veloso, Alegria, alegria, 1968). E o que lê nela?

Diferente das histórias que as telas de hoje em dia contam. A violência impera no meio das crianças das escolas. Nesse ponto trago algumas perguntas de T. S. Eliot (Coros de "A Rocha", 1934, p.289), crítico e poeta: “onde está a vida que perdemos quando vivos? onde a sabedoria que perdemos no conhecimento? onde o conhecimento que perdemos na informação?”. Estamos tão cheio de informações e pouco tempo temos [ou motivos] para pensar, meditar, respirar, refletir, intuir e reinventar histórias mudando fatalismos tais, e quando até nas fábulas de antigamente conseguíamos suspirar aliviados ao final delas. Sabedorias milenares a ensinar os mais fracos, pequenos, miudinhos a serem fortes, resilientes e inteligentes na intenção de humanizá-los na roda da vida, aproximar-se dos outros.

Com Adélia Prado (1995), outra poetisa, aprendi a ver e a “entender a palavra pelo seu reverso”. O agressor pode ser vítima e a vítima pode ser agressor. O autor pode ser alvo e o alvo autor nas relações entre alunos da escola, por exemplo:

E nós professores, como aprendemos a lidar com a situação? Encontrei um livrinho muito interessante e que aqui recomendo a todos interessados em saber mais: “Valentões, fofoqueiros e falsos amigos: torne-se à prova de bullying”. É literatura infanto-juvenil, muito bem ilustrado e de linguagem acessível, cheio de testes que nos colocam de frente aos problemas íntimos e nos apontam ideias de olhar para esses eus inseguros ou cheios de si.

Por favor, me ajude a ser feliz! A tornar a escola mais bela prazerosa e feliz. Vamos espalhar mais beleza por aí. A educação ajuda a reencantar a vida, reencantar as aprendizagens. Repetindo o que Snyders (1998) reapresenta-nos como provérbio inglês: “O tempo para ser feliz é agora. O lugar para ser feliz é aqui”.

Bem sei eu que “o poeta faz amor com as palavras” (Rubem Alves), consegue transformar poesia em prosa da vida ou prosa poética. [Inspirei-me em post anterior sobre bullying: “do lodo belas flores brancas”]. Nas histórias dele deparei-me com uma bem diferente a nos fazer pensar: a de um urubu que batia asas como beija-flor e sugava todo o melzinho de uma flor de alamanda. Ele era triste, pois seus pais morreram de desgosto. Um urubu que não come carniça é algo bem bizarro! Na escola, logo descobriram seus gostos... Doeu muito a ele conviver com zombarias pela não aceitação de sua diferença. Carniça é manjar divino. Chupar mel é contra a natureza. É pecado mortal. Deve ser banido.

Cheia de esperanças, as reticências de aqui abrem-se com Pedro Demo (2000). A sua prosa poética sabe reunir conhecimento e sabedoria feito arte, beleza, aprendência contínua...

A razão nos dá a capacidade da análise,
enquanto o coração a de participar (p.32).

Coisas tão fundamentais como a felicidade
não encontram eco maior na ciência,
mas podem ser realçadas e realizadas pela sensibilidade à
flor da pele, capaz de emprestar ao ser humano
dimensão muito mais ampla e solidária.

Ao mesmo tempo, a arte liga-se à cultura e, como patrimônio histórico,
guarda sempre o sentido profundo do cuidar em torno das identidades.
(...) Arte e cultura são, em si mesmas, provas definitivas da mudança, da
capacidade de aprender, mas não se descolam da história, do lugar, do
contexto. Mal entendidas, podem puxar parar trás, mas, bem
entendidas, iluminam o futuro e mantém o humano (p.62).


Referências
Alexander, Jenny. Valentões, fofoqueiros e falsos amigos: torne-se à prova de bullying. Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
Alves, Rubem. As contas de vidro e o fio de nylon. São Paulo: Ars Poética, 1996.
____. Lições de feitiçaria. São Paulo: Ars Poética, 1998.
____. Navegando. São Paulo: Ars Poética, 1997.
Demo, Pedro. Saber pensar. 3 ed. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2002.
Eliot, T. S. A essência da poesia. Rio de Janeiro: Artenova, 1972.
Prado, Adélia. Poesia reunida. 4 ed. São Paulo: Siciliano, 1995.
Snyders, Georges. A alegria na escola. São Paulo: Manole, 1998.

domingo, 10 de abril de 2011

Desenhos de rir: crianças humoradas e criativas

[Pausa para as coisas sérias e importantes da vida] ...olha o trem surgindo detrás das montanhas azuis... "Ói é o trem!" (Raul Seixas). Traz recados de águas espumosas nas pedras, véus de noivas, tunéis, serras, despenhadeiros, medos, frio na barriga, risos, da luz no fim do túnel, do som surdo ou ensurdecedor da roda no trilho e dentro do túnel, de alívio - outro trem cruzou outro trilho... Olha a estação! Que trazem as pessoas de lá?


Desenho de Ariane (1991) 
Neste sobe e desce da serra, lembra o rio e histórias de crianças acerca do trem, do porto, do mar aberto. Lembrei assim dos riscos arremessados, das curvas, do semi-círculo, do enrolar, cruzar e perpassar... que corresponde ao ato da escrita, nas tentativas primeiras. É um vai e vem que toca no outro, une e juntos vão, garatujando e perfazendo grafismos, memória, identidade, imaginação, novidade afinada, esboço, ensaios, tentativas, buscas, olhares do outro, espanto interpretativo, correlações, risos... 


Experiências que trazem o curioso olhar da criança que ri, percorre, salta, foge, volta, vai, sua, aquieta, ouve, conta... Muitas leituras neles. Mistura sentimentos, sonhos, emoções, nuvens nos céus, sóis e sorrisos.


A máquina do vovô era bem parecida com esta daqui...
Lembra além do prazer de tocar a ponta do lápis no papel, a sensação daquela em que o dedo afunda uma tecla de ferro da máquina de escrever enferrujada, bem dura e a sensação de subir como em uma gangorra e o espanto de erguer o caracter pregado no papel enrolado no suporte da máquina escura e bem antiga. [E a dor de bater entre caracteres?!] Era do vovô e ficava escondida no sótão de casa. Mistérios em volta de coisas velhas e interessantes. Cheiro bom do passado que não conheci. Mas imaginei cenário, vestimentas, falas e tantas coisas de época. Fascinada descia às escadas e vasculhava livros do passado, enciclopédias dos irmãos mais velhos e de mãe professora. O prazer curioso atravessava fronteiras e relacionava números, informações, ciências, poéticas e culturas nessas viagens.


Para mim parecia difícil e impossível deixar de escrever no papel com lápis, borracha, pozinho voando, caneta e cores misturadas ou inventadas, algo artesanal que tinha cheiro, textura, temperatura e muita imaginação... E a tecnologia aos poucos foi nos possibilitando novas experiências, novos sentimentos, outras ideias.


Lembro dessas coisas e me faz bem. E tudo porque um querido amigo twittou assim do seu jeito descontraído de sempre acerca de que apesar do papo bom precisava pegar o trem e dormir... Acordei hoje nesta viagem.


Cruzei a linha do tempo e trouxe aqui duas coisitas:
1) O desenho de um aluno de 5 anos, o Rogério, guardo muitos deles, mas, este em especial está bem amarelado, mesmo assim [não riam, mostro aqui miudinho, pois, Enéas vive pedindo para eu jogar porque dá alergia] vou colar aqui pela traquinagem do aluno. Seus desenhos ocupavam a folha inteira, mas, este ele deixou quase no final, bem à direita da folha horizontal. Perguntei onde estava a novidade? Daí ele virou a folha...
Desenho número 1 do Rogério (22/04/1993)
Desenho número 2...
2) Os alunos contagiavam uns aos outros. A produção do Tiago José reinventando provocações mostra assim (agora é avião e não trem)... Veja bem, ali não estão nem o menino e nem o avião. Esta colagem ficava no canto superior esquerdo da folha horizontal.


[eles adoravam me causar surpresa até porque eu vivia aprontando com eles, e por isso nossa troca nos fazia rir de montão]: peço que não riam de novo do meu amarelado, está assim mesmo, outras guardo na memória, no coração e nos meus alfarrábios. Ali eu ainda escrevia na mesma superfície do papel dos alunos, logo em seguida deixei de fazer isso, até porque a produção deles é algo mais que sagrada, intocável, é a pele deles, da história, da identidade... Aprender é isso, aprender a errar. Tiago fez desta forma... colou papéis e me disse exatamente o que escrevi. Quanta gargalhada de fazer deitar no chão e rolar com eles de tanto rir. Eu era boba? Professor não faz isso? Pois bem eu fiz e não me arrependi.


Hoje eu sou feliz por tantas coisitas como essas. Essas são um pouco de minhas aprendências que se misturam às deles lá do passado. Quem era eu? professora de educação infantil e estes personagens que trago no blog eram dois meninos, tenho outras histórias e outros amarelados ou nem tanto. De fazer rir e aprender! As produções? Cada vez mais ricas. Misturavam escritas e desenhos.


Pois é amigo, o trem me levou longe e me fez sorrir de verdade!


Você tem algum desenho de alunos que te fizeram rir também? Se quiser fique à vontade para compartilhar por aqui... Ou me convide para ir lá...


Enquanto isso, se tiver tempo, clica aqui:

Trem das Sete com Expresso Polar: bela combinação!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Relação de poder em sala-de-aula: perspectiva da função catártica da emoção

A dessemelhança humana, a competição, a hipervalorização do sucesso pela sociedade, pela família, pela escola podem aniquilar a personalidade de alunos e alunas. Tenho esperança de movimentar as agressividades que atravessam os processos de ensino e nossas relações cotidianas na escola.

Como educar para a não-violência considerando o respeito mútuo, a compreensão e a cooperação entre alunado e entre docentes? Cada um de nós tem uma forma de lidar com a agressividade. Qual é o nível de nossa tolerância e como aprendemos a lidar com ela diante de situações conflitantes? O desafio está em mudarmos de paradigma e não fazer a violência crescer ainda mais.

Cartase significa alívio de tensões, desabafo que nos purifica das energias destruidoras e abre a porta para as energias construtivas. Importante para repensarmos as situações de bullying escolar que afetam muitas relações e vidas.

Para ilustrar a palavra e a ação trago aqui cenas do filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, direção de Peter Weir, como oportunidade de movimentar, potencializar ou ressignificar a palavra, a leitura, o discurso escrito, o gesto tímido, o dito sufocado, a marcha desencontrada, a marcha coordenada, a poesia que irrompe, a ousadia que faz crescer... Algumas cenas podem mexer mais alguns. Outras mexem com outros mais. Este filme traz, como protagonista, o Professor Keating (Robin Williams), apaixonado e criativo, que leva seus alunos a indagações sobre o significado do conhecimento e a importância da cultura, valorizando a auto-estima de sua turma como importante para conquista da autonomia.

A escola em tela mantém o mesmo padrão de ensino ministrado há cem anos e que a fizeram estar no topo da melhor escola preparatória dos E.U.A. No ano anterior colocou mais de 71% de seus alunos na Universidade. A escola prima por quatro princípios básicos que são: “tradição, honra, disciplina e excelência’. E que os alunos atrás da porta chamam de: tramóia, horror, decadência e excremento.

A sociedade dos alunos era secreta, pela necessidade de não se sentirem tão sufocados. O desejo de transgredir e de descobrir era constante em meio às tantas exigências. Destaco dez cenas e falas que podem se assemelhar de alguma forma com as nossas realidades situadas.
1) "Observem alguns rostos do passado. Não são diferentes de vocês. Mesmo corte de cabelo. Cheios de hormônios, assim como vocês. Invencíveis como vocês se sentem. O mundo lhes pertencem. Julgam-se destinados a grandes feitos. Os olhos deles estão cheios de esperança como os de vocês".
2) "Carpe diem. Aproveitem o dia, rapazes! Tornem a vida de vocês extraordinária! Agarre a oportunidade! As oportunidades vem pra você todos os dias. Hoje já foi futuro daquilo que você já esperou tanto no passado. O ideal nunca chega. Hoje é o dia ideal para quem o faz ideal. Viva o hoje. Viver amanhã é tarde demais, viva hoje. Tudo que temos é agora. O hoje bem vivido prepara tanto para as oportunidades quanto para os obstáculos de amanhã".

3) “Um soneto de Shakespeare é ótimo tanto horizontal como verticalmente, com uma área considerável revelando ser o poema realmente bom”.
4) “Vocês aprenderão a pensar por si próprios. Aprenderão a saborear palavras e linguagem. O que quer que lhes digam, palavras e ideias podem mudar o mundo. “O que é a Sociedade dos Poetas Mortos? Os poetas mortos se dedicavam a sugar a essência da vida. Frase de Thoreau que invocávamos nas reuniões: ‘no encanto deixávamos a poesia cultivar sua magia’”.


5) “Fui à Floresta porque queria viver livre. Eu queria viver profundamente, e sugar a própria essência da vida… eliminar tudo o que não fosse vida...




 ... e não, ao morrer, descobrir que não vivi”. (Henry David Thoreau)




6) “Não é tarde para procurar um mundo mais novo. Minha meta é navegar além do pôr-do-sol. Embora não tenhamos a força que antigamente movia céu e terra... o que nós somos, nós somos. Uma boa índole e corações heróicos enfraquecidos pelo tempo, mas fortes na vontade de lutar, procurar, achar e não ceder”.
7) Quando pensam que sabem algo, olhem de outra maneira. Mesmo que pareça tolo ou errado, devem tentar. Não considerem só o que o autor pensa. Tentem achar sua própria voz. Dizia Thoreau: ‘A maioria dos homens vive em silencioso desespero’. Não se resignem. Libertem-se! Ousem ir em busca de novos campos. Componham um poema”.
8) O grito catártico que Andersen solta é animado pelo professor: “eu solto o meu yawp bárbaro sobre os telhados do mundo”, porque “pensa que tudo nele é insignificante e sem graça”. O grito é, simultaneamente, um símbolo de libertação e de revolta. Nesta mesma ânsia o professor Keating propõe que, antes de chutar uma bola de forma destemida, os alunos lessem, em voz bem alta, um excerto de um poema: “hora de herdar a terra”, “lutar sem grandes chances, encontrar amigos destemidos”, “ser um marinheiro do mundo, destinado a todos os portos”, “vivo para ser um regente da vida, não um escravo”, “avançar para as bocas das armas em perfeita indiferença”, “dançar, bater as mãos, gritar, rolar, flutuar”, “ter vida doravante, um poema de novas alegrias”, “ser realmente um Deus”.
9) Sua provocação começa bem antes, e em sala de aula, pois Andersen suava para falar em público, sentia dificuldades nos dizeres, na leitura ou escrita. O professor mexe com ele, que instigado declama em situação de cartase:

Uma imagem flutua ao meu lado.
Um louco dentuço suado golpeia meu cérebro.
As mãos dele me estrangulam. A verdade é como um cobertor
Que sempre deixa seus pés com frio.
Você empurra, estica, nunca há o suficiente...
Você chuta, bate, e ele nunca nos cobrirá
Desde que chegamos chorando até partimos mortos,
Só cobrirá seu rosto, enquanto você berra, chora e grita...
O caos grita!!


10) Uma das aulas de inglês (língua materna) aconteceu no pátio da escola, três alunos foram convidados a andar no pátio. Antes o professor Keating fala para todos: “não sei mas ouvi dizer que fazer poesia é ter poder”. Alunos bateram palmas e ele comentou: “todos precisamos de aceitação. Mas acreditem que suas crenças são únicas. Mesmo que outros as achem estranhas e que o rebanho diga: “meeeediocre!”. Cita Frost: “duas estradas seguiram diferentes rumos num bosque. Peguei a menos movimentada. Isso fez toda a diferença”. Chama três alunos para andar no pátio enquanto outros assistem: “agora quero que vocês achem o seus próprios passos. O seu próprio jeito, da forma que desejarem. Andem para qualquer direção que escolherem. Orgulhoso ou tolo. Como quiserem. Senhores o pátio é de vocês! Não precisam exibir-se. É para vocês mesmos!”. Dirige-se a um aluno que está encostado em um pilastre a observar, mas, fora do grupo: “vai andar conosco?”, e ele lhe responde: “exercitando o direito de não andar”. “Obrigado! diga claramente, ‘nadar contra a corrente’”.

O filme continua com seu enredo, mexendo com a emoção de cada um dos jovens que aos poucos conquistam seus espaços, mudando a forma de ver o mundo e suas relações. O professor ensina sem ser libertino, instiga, provoca, emociona, inova e não perde o respeito dos alunos. Difícil imaginar uma relação entre aprendentes que prescinda do afeto e do respeito mútuos. É exatamente assim que o conhecimento na escola pode ser emocionantemente mediado.

Talvez desta forma possamos diminuir a incidência do bullying escolar. O terror silencioso, como é chamado o fenômeno bullying, está a exigir do professorado maior atenção em seu projeto pedagógico. A sala de aula, infelizmente, é o local da escola que mais promove interações ásperas, veementes e violentas, de acordo com pesquisas nacionais e em nossa escola.

Como vocês estão enfrentando o bullying em suas escolas? Compartilhando experiências do gênero poderemos melhorar ainda mais a qualidade da educação tão afetada nos índices nacionais.