Algo que me encanta em uma escola: a participação de
servidores que atuam na merenda, na higienização, na manutenção e nos cuidados de
todo e qualquer cantinho da escola, afinal, todos nós pedagogos sabemos que cada metro quadrado de uma escola - é pedagógico.
Lá no Paraíso não foi diferente, e em especial, fiquei mais
encantada ainda. Ontem em reunião de estudos e de muitas aprendências, que a
gente denomina de HP (Hora Pedagógica), com todos da escola, cuja orientação é
de tornar-se uma escola de tempo integral, e para crianças na faixa etária de 3
a 6 anos. Funciona atualmente com 112 crianças, 10 educadoras, 5 funcionários e
4 vigilantes, apesar de ainda não ter sido oficialmente inaugurada.
Ela é uma “ECO-ESCOLA”, voltada para educação ambiental e
cidadania - “Educação para a Sustentabilidade”. O programa das Eco é conhecido na
França, na Dinamarca e em Portugal por saber valorizar espaços de partilha,
onde professores, alunos e outros membros da comunidade escolar se reúnem periodicamente
para elaborar plano de ações ambientais a encorajar ações, reconhecer o
trabalho em benefício do meio ambiente e aplicar conceitos e ideias de educação
e gestão ambiental no cotidiano da escola – até porque “só verdadeiramente
aprende aquele que faz” (Freire, 1985).
- Quem ensina? Todos aprendem uns com os outros.
A nossa reunião pedagógica praticamente aconteceu dentro do
clima das aprendências, atuei no papel de mediadora a mais ouvir as leituras de
mundo, as releituras de vivências, suas apresentações, interações e a compreender
a linguagem das representações nos desenhos.
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Educadores Ambientais em suas Aprendências |
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Educadores Ambientais em suas Interações [e após apresentações as importantes e ricas participações dos grupos] |
A referência do dia foi o “Tratado de EA para Sociedades Sustentáveis
e Responsabilidade Global” (apud
Carvalho, 2008, p.56-7), porque trata da identidade da EA que vivemos e visa à
construção de sociedades sustentáveis, e no “Paraíso” - bastante revigorado - foi revisto
através do olhar de Cecília Meireles, em: Leilão de Jardim; A língua de Nhem; Canção
mínima; Meu pomar; A pombinha da mata; A arte de ser feliz.
Os educadores ambientais constituíram cinco grupos, duplas
ou trios compostos por professora, motorista, serviços gerais, coordenadora ou
merendeira para depois interagirem no coletivo.
Mas, o que eu mesma queria lhes dizer é sobre meu
encantamento com dois funcionários, capazes ali sim de reencantar a educação. O
Sr. Manoel e o Sr. Zé, cujo título de “operacionais” lhes dá muito prazer e orgulho
de pronunciar, sentimentos que se misturam com a história da comunidade, a
construção da obra e o trabalho na escola, pois, gostam de dizer que atuaram na construção dessa nossa escola, situada na “Praia do Paraíso - da Ilha de Mosqueiro” [veja no mapa, o tamanho
de Belém, da Ilha de Mosqueiro e localize aqui o Paraíso].
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BELÉM - OUTEIRO - MOSQUEIRO - e bem lá na pontinha, o "PARAÍSO". |
O Sr. Manoel nos disse que é natural do Paraíso e que há
alguns anos ele mesmo derrubou - sim, muitas árvores - para construir sua casa e
seu quintal, mas, sua consciência fez com que plantasse tantas outras e,
sugestivamente, ali nos falou que o calor - que sentíamos por volta do meio-dia - não aconteceria se estivéssemos embaixo das árvores de seu quintal, cujo clima é
bastante geladinho. Hummmm! Ah! Ele nos falou de um saboroso “pacu assado” que
sabe bem fazer. Já conhecido por alguns de seus colegas. Aiiiiiii!
O Seu Zé emocionou-se com o título que lhe foi dado, afinal,
ele é mesmo o nosso “criador de borboletas”, aqui alusão aos quintanares, pela iniciativa de plantar com
muita história e sabedoria as diversas árvores frutíferas do Paraíso, na
comunidade e na nossa escola que se “arrodeia” dessas sementes, de brotos e
pequeninos grandes pés de árvores.
Vale aqui registrar a nossa descoberta, Seu Zé, como é carinhosamente chamado, arriscou-se a escrever quando lhe solicitei que anotasse a função dele na lista de frequência, como os demais informaram, e ele assim escreveu PA, ou seja, "p" + "a", sua escrita é silábica com valor sonoro, o "P" é de "pe-racional", como falou no ato da escrita, e o "A" corresponde a sílaba final, representa o "nal", pois bem temos aí uma nobre missão.
Bem, os grupos de encantados com os depoimentos desses dois
grandes protagonistas do dia, se apresentaram e começaram a desenhar a ideia do
que seja investigar, tematizar e problematizar - como base importante da
construção do Projeto Político Pedagógico da Escola. Quem por lá não se
animaria?
No processo de pensar em equipes e no coletivo foram atingindo
os objetivos de “desenvolver e encorajar a diversidade, a complementaridade, a
cooperação, a interconexão, a emergência de significações, a escolha e as
decisões nas atividades, como educadores ambientais” que ali concebiam, propuseram
e vivenciavam.
Provoquei-os a pensar sobre a educação ambiental necessária à formação do alunado da escola e das importantes intervenções na comunidade.
Queixaram-se muito sobre os novos barraqueiros da Praia, pois, dos antigos
moradores somente dois tem barraca por lá. Os demais chegam de fora, compram
seus espaços, instalam-se confortavelmente, exploram o turista, vão embora e
deixam seus lixos e doenças por todo o canto do Paraíso.
Da queixa o convite à problematização... Animaram-se ainda
mais, e foram compreendendo a função do Projeto Político Pedagógico, como sendo
de fundamental importância, ouvir a comunidade do Paraíso e, até por onde o alunado se espalha, em toda Mosqueiro, para melhor cuidar de tudo que nos cerca.
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Equipe retrata a beleza e representa o problema... |
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Avenida Tito Franco (atual Almirante Barroso).
Foto 1, 1898 - Foto 2, 1921 - Foto 3, 1960. |
Para apimentar mais ainda mostrei-lhes uma foto bastante
antiga do “Bosque Rodrigues Alves”, neste dia antes da reunião, recebemos a
visita de uma educadora que atua na formação de professores da Rede Municipal,
como educadora e coordenadora do grupo de formação, perguntei se ela reconhecia o
lugar daquela foto 1, pensava ser o da entrada do “Paraíso”. Bem parecido mesmo, mas,
era da Av. Tito Franco (hoje a tão congestionada Av. Almirante Barroso,
principal via de Belém), em frente ao Bosque, em fins do século XIX.
Glup! O que será do Paraíso daqui a 20 ou 50 anos... pois é, o nosso tema não poderia ser outro, e na carona do grande evento internacional, que ocorrerá no Rio de Janeiro, no mês de junho próximo, propus algo referente a "Paraíso +20 ou +50". Bem, foi consenso pensarem negativamente sobre os tais amanhãs, encorajei-os às importantes atitudes que todos devemos tomar diante de tamanha perspectiva e desalento.
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O Bosque e o Tempo. E o bosque do Paraíso?
Bem, resposta só daqui a 5, 10, 20 ou 50 anos... |
Em nossa próxima reunião, sexta-feira seguinte, cada um deverá trazer suas proposições de temática e problematização, atividades pedagógicas e comunitárias a envolver toda a escola.
Na releitura, da primeira imagem abaixo, o Sr. Manoel nos disse que se tratava de uma "jacinta", como é conhecida por aqui a "libélula", e que ela sabe olhar bem, pois seus olhos veem para todos os lados... E para cuidar melhor do nosso "Paraíso" é preciso ter os olhos de Jacinta! Concordam?
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"Houve um tempo em que minha janela se abria para um chalé (...)
É preciso aprender a olhar, para poder vê-las- assim".
Cecília Meireles, em "A arte de ser feliz". |
Referências
- CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2008.
- FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 8 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.