sábado, 28 de fevereiro de 2009

Como você SE chama?

Paul Klee, Siblings, 1930
Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês...
Eu enfrentava os batalhões,
Os alemães e seus canhões.
Guardava o meu bodoque
E ensaiava o rock
Para as matinês
Agora eu era o rei, era um bedel e também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz.
(Chico Buarque, João e Maria)



Aos alunos da Pós-Graduação em Psicopedagogia que, na manhã de 28 de fevereiro, concluímos juntos o primeiro módulo do curso, meu agradecimento pela possibilidade de aprendermos uns com os outros.


Findamos com algumas perguntas importantes: “qual é o teu nome? Como você se chama? Como ocorreu seu perfil no curso? Quais as palavras-chaves da disciplina?" Não sem antes (re)construírem-se à própria imagem, através de bonecos ou outra representação de melhor expressão no momento. Iniciamos o módulo dessa forma, assim como findamos, per-fazendo, mas, ao mesmo tempo, se posicionando acerca da função do psicopedagogo, após estudo de caso proposto, fundamentados em Alícia Fernández.


Moreno (1983) criador do psicodrama postulou acerca da saúde emocional quando favorece o “treinamento da espontaneidade” e dela e expressão livre do sujeito ator-autor, combinando com o ressignificado de Fernández (2001b). O protagonista sente-se à vontade de tornar público seu sentimento diante do outro, passo para desaprisionar sua forma de pensar ou desatar nós. E entre o possível e o provável a cena liberta-o da anterior. Nesse repente o que é impensável pode tornar-se pensável. Inclusive na assistência de uma platéia que se despoja. O publicável na roda de conversa, faz com que outros aprendam a olhar de outro jeito todo o fenômeno psicológico que nos envolve.


Combina-se esse fator com o processo lúdico que existe nessa criação, e aí lança-se mão do humor, como elemento de prevenção e descontração contra o estresse cotidiano, e nesse caso depois de uma atividade intensa de estudos, reflexões, descontruções e ressignificações.


O psicodrama é um projeto que nos chama à responsabilidade na condução e mediação de um trabalho no coletivo, ou na clínica, tão rico em relação a outro ser humano que está aprendendo a chamar o seu próprio nome, a se re-conhecer.


Antes de escrever sobre si mesmo, solicitei a todos que representassem a si mesmo através de bonecos e ao estilo próprio, subsidiada em Moreno para quem “o ato é anterior à palavra e a inclui”.


Construir bonecos facilita esse mergulhar-se, resgatar a própria história, assim o despojar-se pode fluir e acontecer, mesmo que através do se dispor a ouvir o outro. No aparente silêncio. Como psicopedagogos aprendemos a ouvir os motivos do outro que pode estar lhes impedindo o superar-se. A escuta psicopedagógica capta o sintoma, como nos mostra Fernández em suas obras e em nossas re-descobertas, e faz com que o conteúdo desse conflito tomem corpo nessas dinâmicas.A linguagem corporal e verbal, através da construção do boneco, da representação de seu eu, reflete as contribuições que o psicodrama traz à aprendizagem. Cada um se reconhece no objeto de criação. 


As experiências, os desejos e as fantasias se contextualizam. A linguagem re-busca e comunica parte de uma necessidade pessoal e que assim tem que fazer sentido, o sujeito produz sentidos ao que, talvez, não tivesse sido nomeado, chamado por ele mesmo.


A experiência foi boa, pois, as aprendentes e o aprendente do módulo foram cooperativos - para Piaget, significa - pensar e agir em conjunto. As imagens, desse momento, estarei disponibilizando em breve.


Referências
FERNÀNDEZ, Alicia. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família. Porto Alegre: Artmed, 1991.
_____. O saber em jogo: a psicopedagogia propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre: Artmed, 2001a.
_____. Os idiomas do aprendente: análise das modalidades ensinantes com famílias, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2001b.
_____. Psicopedagogia em psicodrama: morando no brincar. Petrópolis: Vozes, 2001.
MORENO, Jacob Levy. Fundamentos do psicodrama. São Paulo: Summus, 1983.
_____. Psicodrama. São Paulo: Cultrix, 1997.
PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: LTC, 1990.
WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

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