Há um grande desafio social, penso que estamos enfrentando um novo grande ciclo da evolução da humanidade. Segundo Alvin Toffler (Future Shock, 1970), a onda agrícola foi a primeira, a segunda onda marcada pela era industrial, provocou grandes e profundas mudanças mundiais, a terceira se fez consolidar em fins do século passado, com o desenvolvimento da informática. Quando o eixo do poder vai mudando para a inteligência, dá-se destaque à era da comunicação e informação. O quarto grande momento coexiste com o anterior e se faz pela onda da produtividade, e a quinta onda vai dando seus sinais, caracteriza-se pelo aguçamento da imaginação e da intuição.
Acerca da questão sobre o que muda na alfabetização, no letramento, nos processos educacionais, na cultura digital advém a forma de ver a leitura e a escrita. E até que ponto, nós professores advindos do século passado, historicamente situados, transitamos diante dessa nova grande onda, mergulhados no aprender a aprender assim vamos aprendendo a lidar com a hipermídia após perpassar por cadernos, livros e os mais variados materiais impressos. Forças resilientes visionárias solidárias.
A escrita traz na tela uma amigável interface gráfica onde palavras, imagens, sons, ações e processos realizados pelo computador perfazem uma relação semítica. Por exemplo, através do Google, importante site de busca, o autor-leitor-colaborador-co-autor vê cenas (YouTube), lê parágrafos (acadêmico, docs etc,), assiste a uma sequência de fotografias (Picasa), ouve narração oral (talk), escuta trechos musicais (YouTube), lê mapas (Maps, Earth) etc. Vai se ressignificando ao produzir novos sentidos.
A página impressa antes era o espaço natural do texto escrito. Na tela, a escrita é fluída e dinâmica. O autor e o leitor estão bem mais próximos. O processo interativo facilita a comunicação. O autor escolhe o percurso que irá seguir e convida o leitor a construir ativamente sua trilha, que assim pode passear pelos textos relacionados. A característica da não obrigação de uma sequência linear, dada, vai possibilitando a se criar novos sentidos.
Como a escola pode lidar com a cultura do hipertexto? A escola se torna mais aberta quando aprende a interagir de maneira mais dinâmica com o currículo, o conteúdo, a informação e dá uma nova forma à ação pedagógica. O professor/A professora se percebe aprendente e aí reside a beleza dialógica e dialética do processo educacional, como vibrava Paulo Freire, a cidadania é real, situada e cheia de identidades. A que se teme?A escola é também uma instituição aprendente e em novos espaços de aprendizagem, recicla-se, pois, a realidade é concebida como objeto de conhecimento, não como algo pronto e perene, mas passível de mudanças, assim o desenvolvimento de seu currículo ajusta-se às exigências da sociedade atual.
A Internet está mudando a nossa relação com a leitura e a escrita, quando nos tornamos mais abertos e solidários, capazes de participar criativamente de uma rede colaborativa de aprendizagem. O computador é uma ferramenta que faz pensar, criar, interagir, reelaborar, e ao mesmo tempo socializa idéias, sentimentos, emoções, sonhos e perspectivas. Crianças, jovens e adultos vão interligando suas gerações, mediando e ressignificando a história acumulada e não só vivida, mas percebida e concebida.
A ética da computação está na forma de saber re-ligar conhecimentos e autorias, quanto mais leituras combinadas discursos escrito ou falado, músicas, sons, imagens, movimentos mais valor se dá ao processo hipermidiático. Mais novas autorias e co-autorias emergem. Sem tentar inventar rodas. Pensamos e resolvemos re-tomamos a frente das discussões... Sempre aprendentes interligamos gerações...
Em “2001, Uma Odisséia no Espaço” há uma relação entre o osso que sobe e rodopia e vira um satélite em órbita da Terra. E o mundo não acabou num cataclismo nuclear. 2001, passou, mas foi inevitável pensar na auréola de esperanças, medos e sentimentos tão complexos em torno de sua chegada. O que o filme nos mostrou? O que a tecnologia vem fazendo conosco? Não é o rio, não são as suas águas... Para Heráclito não se pode entrar duas vezes no mesmo rio. Ele não é mais o mesmo. Nem nós.
Mas eis que chega a roda viva e carrega o destino prá lá
Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente até não poder resistir
Na volta do barco é que sente o quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva e carrega a roseira prá lá
A roda da saia, a mulata, não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata, a roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa, viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva e carrega a viola prá lá
O samba, a viola, a roseira, um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa, faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva e carrega a saudade prá lá
(Chico Buarque de Holanda – Roda Viva, 1967).
Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda peão
O tempo rodou num instante nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente até não poder resistir
Na volta do barco é que sente o quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva e carrega a roseira prá lá
A roda da saia, a mulata, não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata, a roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa, viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva e carrega a viola prá lá
O samba, a viola, a roseira, um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa, faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva e carrega a saudade prá lá
(Chico Buarque de Holanda – Roda Viva, 1967).
E daí? A ética está nas fontes ressignificadas, mas referendado os devidos fios desse tear.
Corporeidade, subversão e prazer. O ser humano pode subverter o normatismo em tudo que tocar, contestar, perceber. Baco. Midas. Apolo. Orelhas de burro. O limiar entre o sublime e o grotesco é tão frágil. O capitalismo desenfreado subverte. O hipertexto é uma reunião de vozes, olhares, sentimentos, mas, ao mesmo tempo, instiga o enfrentamento de estar diante do eu, diferente do outro, respeito próprio, ser olheiro de si mesmo, e aí caímos, no que Bakhtin buscava, a possibilidade do diálogo, da negociação de sentidos, da construção coletiva de pensamentos. Talvez advenha a (re)descoberta da ética. Esse é o desafio atual de ensinantes-aprendentes.
Que dificuldades os leitores encontram na leitura apoiada por suportes virtuais? Pode ser a necessidade da pegada, de desconstruir os modos que lhes constitui, de deixar-se aprender, de lidar com a própria necessidade de adquirir novas habilidades e competências. De se permitir errar, se expor e autorizar-se a aprender, (re)conhecendo a beleza do significado da humildade e solidariedade. “Só sei que nada sei”, negação infinitamente aprendente.
O hipertexto valoriza a idéia da co-autoria. Insere-nos em uma rede colaborativa de aprendizagem. Viva! Vida. Morte. Severinos. Césares. Thomas. Franz. Ludovic. Galileu. Joanas. Charles. Karl. Lev. Jean. Mohandas. Vicent. Tarsilas ou Vivaldis. Michelangelamente renascidos. Insólitos. Artesões. Assim somos!
Oi, Maria. Excelente texto, muito bem escrito e com uma abordagem muito apropriada para nossos trabalhos com a Informatica Educativa. Parabens. Ah! Escrevi no "Este Blog..." uma postagem sobre a influencia da escrita na web e as normas gramaticais que, nalguns momentos, encontra eco no seu texto. Parabéns. Franz
ResponderExcluirTenho sessenta e dois anos e esse sublime texto me introduz num mundo novo. Parabéns ao escritor-professor! Que venha o novo, mas sempre com maravilhosas qualidades! Maria Oinda.
ResponderExcluirOlá, Maria Olinda!
ResponderExcluirFico feliz com teu comentário e por ter despertado em você o mundo novo que já estava ali movimentado-se em ti.
A gente sempre aprende um com outro.
E que o novo sempre nos aproxime uns dos outros!
Maria do Rocio