Preocupa-me saber que o Brasil é o maior produtor de livro didático do mundo, mas, paradoxalmente, é o país em que a educação apresenta os maiores problemas, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) coloca o Brasil em 54º. lugar, entre os 57 países pesquisados, na frente somente da Tunísia, do Catar e Quirguistão. É o pior dos países sul-americanos, assim expõe o tamanho de um problema antigo: espanta o mau desempenho de nossos alunos em provas de ciências, matemática e português.
O Ministério da Educação (MEC) é o maior comprador de livros didáticos do mundo, quatro editoras dividem generosas fatias do bolo, pois, em 2005, foram investidos R$ 549 milhões na aquisição e distribuição de 110 milhões de obras para mais de 30 milhões de estudantes.
Silva (1998, p.63) fomenta discussões sobre esse suporte didático: “se os livros didáticos brasileiros fossem mesmo eficientes, o Brasil seria o melhor país do mundo em termos de educação e escola”. O problema é bem mais complexo e o livro não pode ser o responsável pelo “fracasso” na educação brasileira. As escolas têm uma parcela de culpa desse fracasso quando adotam livros distantes do seu projeto pedagógico institucional e quando utilizam de forma inadequada esses livros. Segundo Zilberman & Silva (2002, p. 115), “uma escola aspirante à mudança social espera que a leitura dos textos propostos constitua, antes de tudo, um instrumento de conscientização e liberdade dos leitores”.
Por que será que o livro didático ainda continua sendo um importante aliado na maioria das atividades docentes? Torna-se como uma ferramenta educacional e, desde que bem utilizada pode servir ao olhar crítico que apreende a leitura como algo que produz sentido, permeada de relações históricas importantes. A sala de aula deve ser o microcosmo de um mundo cultural e social maior e ao mesmo tempo dar conta de produzir subjetividades a partir das aprendizagens situadas. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, a palavra-mundo da criança, do jovem ou adulto leva à leitura do mundo, como nos legou Paulo Freire. A palavra-mundo traz envolvimento crítico com necessidades, desejos e as histórias das pessoas, que permeia o processo constante de questionamento, identidade, utopias e releituras.
Como se pode conciliar a dependência histórica do livro didático? E se o livro for construído pelos aprendentes? Os sujeitos decidem os textos a estudar, o conteúdo ressignificado nas buscas e escolhas, as imagens, o mapeamento das informações, as atividades baseadas no potencial criativo, nas articulações das diferentes linguagens, nas estratégias didáticas abertas e singulares, mas que trazem traços em comum com outras pessoas de diferentes lugares, culturas e interesses. Compartilharia sonhos, pensamentos, idéias e recombinaria situações diversas. Produziriam novos sentidos, com espaço programado para novos vôos.
Diante de tal investimento do MEC e considerando a disparidade econômica, o ideal seria que o livro didático fosse apenas um apoio e não o roteiro do trabalho do professor, totalmente descontextualizado e com ideologias subjacentes, que precisam ser mais bem avaliadas, requerendo revisão e atitude do(a) professor(a) quanto aos assuntos atuais abordados. A prática da pesquisa escolar deve estimular o aprender a aprender (Lüdke, 2001 e André, 1995). Faria (1986), sobretudo, critica que o livro didático é pouco criativo, pois, “foram encontradas estórias repetidas em uma editora para outra e até de uma série para outra, na mesma editora” (p. 72).
Silva (1998, p.63) fomenta discussões sobre esse suporte didático: “se os livros didáticos brasileiros fossem mesmo eficientes, o Brasil seria o melhor país do mundo em termos de educação e escola”. O problema é bem mais complexo e o livro não pode ser o responsável pelo “fracasso” na educação brasileira. As escolas têm uma parcela de culpa desse fracasso quando adotam livros distantes do seu projeto pedagógico institucional e quando utilizam de forma inadequada esses livros. Segundo Zilberman & Silva (2002, p. 115), “uma escola aspirante à mudança social espera que a leitura dos textos propostos constitua, antes de tudo, um instrumento de conscientização e liberdade dos leitores”.
Por que será que o livro didático ainda continua sendo um importante aliado na maioria das atividades docentes? Torna-se como uma ferramenta educacional e, desde que bem utilizada pode servir ao olhar crítico que apreende a leitura como algo que produz sentido, permeada de relações históricas importantes. A sala de aula deve ser o microcosmo de um mundo cultural e social maior e ao mesmo tempo dar conta de produzir subjetividades a partir das aprendizagens situadas. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, a palavra-mundo da criança, do jovem ou adulto leva à leitura do mundo, como nos legou Paulo Freire. A palavra-mundo traz envolvimento crítico com necessidades, desejos e as histórias das pessoas, que permeia o processo constante de questionamento, identidade, utopias e releituras.
Como se pode conciliar a dependência histórica do livro didático? E se o livro for construído pelos aprendentes? Os sujeitos decidem os textos a estudar, o conteúdo ressignificado nas buscas e escolhas, as imagens, o mapeamento das informações, as atividades baseadas no potencial criativo, nas articulações das diferentes linguagens, nas estratégias didáticas abertas e singulares, mas que trazem traços em comum com outras pessoas de diferentes lugares, culturas e interesses. Compartilharia sonhos, pensamentos, idéias e recombinaria situações diversas. Produziriam novos sentidos, com espaço programado para novos vôos.
Diante de tal investimento do MEC e considerando a disparidade econômica, o ideal seria que o livro didático fosse apenas um apoio e não o roteiro do trabalho do professor, totalmente descontextualizado e com ideologias subjacentes, que precisam ser mais bem avaliadas, requerendo revisão e atitude do(a) professor(a) quanto aos assuntos atuais abordados. A prática da pesquisa escolar deve estimular o aprender a aprender (Lüdke, 2001 e André, 1995). Faria (1986), sobretudo, critica que o livro didático é pouco criativo, pois, “foram encontradas estórias repetidas em uma editora para outra e até de uma série para outra, na mesma editora” (p. 72).
Como utilizo o livro-texto? A partir das contribuições dos alunos, fazendo levantamento do conhecimento que têm do tema em questão. Por exemplo, discute-se o título do texto e tudo o que eles pensam que o livro aborda. Se tiver imagens, sugere-se que leiam a ilustração e tentem ligar com o título. Depois, eles discutem as aproximações e os distanciamentos, o que foi surpresa e o que há de comum com as idéias do(a) autor(a). Se algo escapou no ato do pensar e no fluir da linguagem... possa ser reciclado enquanto pensamento divergente, inovador ou irreverente.
Essa metodologia de ensino tem sido estimulante, pois, há sempre a necessidade de buscar mais, de forma espontânea. Quando ministrava aula para crianças menores, na década de 80, já aproveitava os programas educativos da televisão, revistas, gibis ou jornais como forma de complementar o tema de estudo.
A práxis, enquanto exercício contínuo de perceber a teoria e a prática como indissociáveis, enfrenta cotidianamente o desafio reconstrutivo de também se desconstruir nesse processo dinâmico de valorizar o ser aprendente entre aprendentes. Este exercício nos autoriza a construir e reconstruir histórias e em co-autorias. Assim, se aprende a valorizar a dúvida, o erro, o questionamento, a reflexão, o retorno eterno - próprios de uma pedagogia maiêutica.
Essa metodologia de ensino tem sido estimulante, pois, há sempre a necessidade de buscar mais, de forma espontânea. Quando ministrava aula para crianças menores, na década de 80, já aproveitava os programas educativos da televisão, revistas, gibis ou jornais como forma de complementar o tema de estudo.
A práxis, enquanto exercício contínuo de perceber a teoria e a prática como indissociáveis, enfrenta cotidianamente o desafio reconstrutivo de também se desconstruir nesse processo dinâmico de valorizar o ser aprendente entre aprendentes. Este exercício nos autoriza a construir e reconstruir histórias e em co-autorias. Assim, se aprende a valorizar a dúvida, o erro, o questionamento, a reflexão, o retorno eterno - próprios de uma pedagogia maiêutica.
O mundo do “Sítio do Picapau Amarelo” possibilita o exercício pleno das inteligências múltiplas, seus textos acenam às possibilidades de integrar as multimídias. Os livros de Monteiro Lobato, inaugurando os livros paradidáticos, ajudaram muito a criar e sustentar elos críticos, criativos e cooperativos, que se materializam com a práxis freinetiana, a da livre expressão, das aulas passeio, a correspondência interescolar, o discurso e as condições materiais do texto livre. Freinet recebeu elogios de Piaget, contemporâneos. As práticas estão interligadas. O texto livre inclui desenho, dança, teatro, música etc., é um elemento central de uma práxis totalizante. A pedagogia Freinet contempla não apenas o social como também garante o mais pessoal. Freinet e Lobato se complementam na práxis que se liberta através da palavra-mundo e a leitura de mundo, porém, partindo da mangueira do quintal de nossa casa, cujo chão serviu como cenário e gravetos como ferramenta da primeira escrita que germinou o pensar e o fazer de Paulo Freire.
Referências
ANDRÉ, Marli. Etnografia da prática escolar. 13 ed. São Paulo: Papirus, 2007.
DEMO, Pedro. Aprender: o desafio reconstrutivo. Disponível em: www.senac.br/informativo/BTS/243/boltec243c.htm. Acessado em: 10.05.2007.
ELIAS, Marisa Del Cioppo (Org.). Pedagogia Freinet: teoria e prática. Campinas: Papirus, 1996. FARIA, Ana Lúcia G. de. Ideologia no livro didático. 4 ed. São Paulo: Cortez; Autores Associados, 1986.
FREINET. Celestin. Ensaio de psicologia sensível. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
_____. Pedagogia do bom senso. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
_____. O jornal escolar. Lisboa: Estampa, 1974.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 22 ed. São Paulo: Cortez, 1988.
LOBATO, Monteiro. Aritmética da Emília. 29 ed. São Paulo: Brasiliense, 1995.
_____. Dom Quixote das crianças. São Paulo: Brasiliense, 1992.
_____. Emília no país da gramática. São Paulo: Globo, 2008.
_____. Geografia de Dona Benta. São Paulo: Círculo do Livro, 1988.
LUDKE, Menga et al. O professor e a pesquisa. 3 ed. São Paulo: Papirus, 2001.
SANTOS, Maria Lúcia dos. A expressão livre no aprendizado da Língua Portuguesa: pedagogia Freinet. 2 ed. São Paulo: Scipione, 1993.
SILVA, Ezequiel Theodoro da; ZILBERMAN, Regina (Org.) Leitura: perspectivas interdisciplinares. 5 ed. São Paulo: Ática, 2002.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Criticidade e leitura: ensaios. Campinas: Mercado das letras, 1998.
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