domingo, 2 de maio de 2010

Cuabamorandu: o céu de amazônidas


Este projeto foi muito especial, através dele conheci o Prof. Dr. Germano Bruno Afonso (UFPR) e, com ele, um pouco mais do céu regional visto através dos olhos dos índios Tembé. E de como eles se relacionam na escola da vida, com as influências cotidianas e recíprocas da natureza na natureza humana.

Desta forma compreendi melhor o significado da etnoastronomia, motivo principal para a construção do projeto pedagógico e institucional do Planetário do Pará. Esta foi a minha proposta. Convite recebido, proposta aceita e desafio assumido perante a sociedade paraense. Assim o projeto foi delineado em maio de 1997. Quando o Planetário do Pará foi inaugurado em setembro de 1999, entregamos nas mãos do governador da época, o primeiro exemplar do trabalho feito com os índios Tembé e outro exemplar da Cartilha à Capitoa Verônica, como retorno de nossas pesquisas. Assim estávamos nos alfabetizando nos saberes do povo da terra para melhor valorizar o olhar do homem e da mulher amazônidas para o céu. Somos Um.

Um compromisso ficou ainda a ser cumprido, por todos nós que fazíamos o Planetário, a missão de contribuir com a Capitoa Verônica, enquanto matriarca da Aldeia Tekohaw, situada próximo às águas do município de Paragominas. Em seu clamor sabiamente nos solicitava: "ajudem-me cuidar e guardar nossa história".

Um mês depois, enviei para a Câmara Brasileira do Livro a nossa inscrição para concorrer ao Prêmio Jabuti 2000. Muita coisa mudou a partir daí. E em janeiro de 2000, sai do Planetário do Pará, e assumi a Editora da Universidade do Estado do Pará - UEPA. Aliás, a editora não existia, fundei a editora.

Estudei mais um pouco sobre antropologia e etnopedagogia, assim publiquei livros de Edgar Morin, Ilya Prigogine, Maria da Conceição Almeida (UFRN) e Edgard Carvalho (PUC-SP), e dos professores da UEPA, dentre eles, o professor Iran Abreu Mendes, fiz parcerias com a Unesp quando entramos na Associação Brasileira das Editoras Universitárias.

Publicamos a coleção "Nomes de Deuses" (Noms de Dieux), da radiotelevisão belga RTBF Liège, entrevistas a Edmond Blattchen, em co-edição Uepa-Unesp. A coleção é composta por oito livros, cada um corresponde a um tema/entrevistado: Paul Ricoeur (O único e o singular), Ilya Prigogine (Do ser ao devir), Edgar Morin (Ninguém sabe o dia que nascerá), Trinh Xuan Thuan (O agrimensor do cosmo), Dalai Lama (A compaixão universal), Jean-Yves Leloup (Se minha casa pegasse fogo, eu salvaria o fogo), André Comte-Sponville (O alegre desespero) e Hubert Reeves (Os artesãos do oitavo dia).

Não deixei a peteca cair. Mas, quem respondeu à Capitoa Verônica? Ironia do destino, a cartilha dos Tembé, logo que saí do Planetário, dois meses após, por questões "políticas", foi indicada entre os três finalistas ao Prêmio Jabuti, na categoria dos didáticos. Chamaram-me e eu participei da premiação no Rio de Janeiro, em maio de 2000. Para surpresa de todos, a UEPA ganhou o prêmio de 1°. lugar na categoria dos Didáticos. Muitos flash me seguiram na ocasião e depois na capital paraense, mesmo a contragosto de alguns.

Volto à pergunta: e a capitoa Verônica?

Fico com a sua palavra: "Nós os índios, sempre cantamos e dançamos nas nossas cantorias, como forma de manter a unidade do nosso povo e a alegria da comunidade. Se a gente cantar e dançar, nós nunca vamos acabar".

E nós homens brancos, como nos chamam, como comemoramos nossas conquistas? A sabedoria deste povo precisa ser melhor compreendida.

Qual o meu aprendizado? Compreendi muito acerca da "etnopedagogia e etnoalfabetização" com o povo da aldeia Tekohaw. Por isso mesmo valeu a experiência que passei durante dois anos, um na criação do projeto, outro na implantação e um período bem pequeno na coordenação de todo o complexo.

Dez anos se passaram e recebi a homenagem da UEPA e do Planetário do Pará, no dia 30 de setembro de 2009, em meio às diversas autoridades do Estado. E nos dizeres da placa constava: "Em comemoração aos 10 anos do Planetário do Pará, temos a honra de prestar esta homenagem por suas contribuições". Fiquei muito emocionada a lembrar de todo o processo e seu desdobramento.

O que queríamos? Bem mais, o povo Tembé era somente a primeira nação indígena a nos ensinar sobre a inteireza do ser em sua relação cotidiana com as naturezas... O projeto sobre etnoastronomia findou ali. Hoje o Planetário tem novos objetivos. Ficarei muito contente se responderem aos anseios da Capitoa. Esta sim será a melhor homenagem que rendemos ao povo que fez a diferença entre os diversos planetários brasileiros e cuja identidade ganhou notoriedade em diferentes países da Europa e do nosso continente, na época da difusão do conhecimento pedagógico e científico vivenciados em Planetários, na versão Pará-Brasil, principalmente, porque aprendemos muito com os grupos étnicos.

Deixo, logo abaixo, uma pequena amostra desse trabalho, porém, o melhor é ler a cartilha e saber mais sobre as constelações indígenas e suas influências. Poderão conhecer o conjunto de estrelas que perfazem a Ema, a Siriema, a Anta, o Queixo da Anta, o Beija-flor, o Jabuti, a Canoa. Concepções que giram em torno do Sol e da Lua, as relações com o Cruzeiro do Sul e a Via Láctea. Os desenhos nessa apresentação foram feitos pela professora Maria Cristina Mascaro.

Quem eram os povos ágrafos? Com quem aprenderam? Pelo menos percebemos em nosso cotidiano que eles sabem muito mais respeitar a natureza que os homens e mulheres que estudaram muito. Como está o nosso Planeta?

Vamos cuidar de nosso povo? Os índios são a memória viva de nossos antepassados a frear nossos costumes, muito presos aos determinantes socioculturais do povo da cidade.

Check out this SlideShare Presentation:
Missão incompleta!

4 comentários:

  1. Olá Profª!
    Tenho um premio para seu blog me visite e pegue o seu.

    ResponderExcluir
  2. Oi querida, estou um pouco mais presente por aqui no mundo virtual de novo! Primeira visita: você, claro. Não sei se entendi bem, esse texto foi escrito por quem? Não localizei a autoria. Muito bacana o trabalho e fiquei curiosa para conhecer as publicações de Edgar Morin, Paul Ricoeur e outros...
    Beijos
    Adrianne

    ResponderExcluir
  3. Oi Adrianne!
    O texto é meu, assim como a aprensentação. A pesquisa com os Tembé é do Prof. Germano Bruno Afonso, doutor em etno-arqueoastronomia pela Universidade de Paris. Quem foi até a aldeia e falava a lingua Tupi é o professor. O desafio que eu fiz a ele na ocasião e ele topou foi de fazermos um relatório para crianças, em forma de cartilha, ao invés de só um relatório técnico-científico para a Universidade.
    Os livros de co-edição você pode encontrar nas livraria on-line ou então na própria Unesp ou Bienais do Livro. São livros de bolso e bem charmosos.

    ResponderExcluir
  4. Oi, Rocio. Conheci um pouco sobre esse universo mítico Tembé numa exposição no Goeldi, faz alguns anos. Vc. passou por lá, deixou sua marca, É assim que as coisas são. Vc. sabe que é somente depois da chuva que as sementes bortam e tudo visceja, não é? Parabéns, beleza de trabalho.
    Franz

    ResponderExcluir