quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Horta escolar: as encantarias da vida

As atividades de horticultura fomentam maior interação com o meio escolar, de forma sensível e consciente, na prática da educação para a sustentabilidade.

Seres sensíveis, amorosos, questionadores, criativos, participativos e solidários compõem o perfil desejado e trabalhado durante mediações do projeto “Horta do Conhecimento”, cuja auto-estima revigorada, advinda dessas relações de cuidado e humanizadas, possa ampliar espaços para novos afetos, integração e co-autorias, revitalizando os corpos relacionais na teia dos saberes tecida pelas diferentes áreas do currículo escolar, através de um abraço complexo, como manifestos em torno de uma árvore centenária, enquanto trama a unir elementos importantes e entrelaçá-los em um complexo tecido planetário.

Aulas-passeio e valorização da horta, como espaço interdisciplinar da vida na escola, ajudam a dinamizar saberes, a remixar e caminhar nas trilhas interpretativas da escola retextualizando subsídios teóricos e metodológicos que encontramos em Capra, Freinet, Isabel Carvalho e outros colaboradores pedagógicos, e nos desafiam a recolocar a prática, a criar novas texturas, a desconstruir hábitos e atitudes em relação ao meio ambiente e a contribuir com o processo de formação do sujeito ecológico, reconsiderando a história, a cultura, as relações sociais e aprendentes.

A pedagogia deve facilitar o entendimento para uma vida sustentável. Na escola - que é espaço do atravessamento, espaço intermezzo entre cultura-sociedade-familia-sujeito, a horta nessa ação intervalar ajuda a ensinar e a repensar os princípios básicos da ecologia desde turmas de educação infantil. É a educação com um profundo respeito pela natureza viva e suas relações interdependentes abraçadas pelo tema comum da vida, do bem-estar e alegrias culturais.

A Alfabetização Ecológica restabelece, nas crianças da educação infantil e séries iniciais, a conexão com o fundamento da alimentação e com a própria Vida. O espaço da horta religa, segundo Capra (2005), as crianças aos fundamentos básicos da comida, ou seja, com a essência da vida.

A horta é como um lugar mágico para crianças e adultos aprenderem juntos o senso de pertencimento a um ecossistema. Ali tomamos com elas, em seus dizeres e releituras, a consciência de que fazemos parte da teia da vida, num determinado sistema social e cultural, recolocados num ecossistema e inseridos numa paisagem com flora e fauna características. Somos parte da beleza do nosso lugar. Somos natureza.

Nesse cantinho da escola todos aprendem a “cultivar” uma horta - e nela estudar os ciclos da vida e os fluxos de energia – como parte do currículo, pois, os ciclos do plantio, do cultivo, da colheita, da compostagem e reciclagem fazem parte de outros ciclos maiores: o das águas, o das estações etc., e assim formam conexões na rede planetária da vida.

Para o projeto importa que as crianças recebam informações que sejam incorporadas ao cotidiano como consciência ecológica, tornando-as agentes multiplicadores na família ou comunidade, nas brincadeiras, conversas ou estudos. O papel do educador, como sujeito ecológico, é dar condições à criança de tornar-se atuante e saudável, diante da “fome” e da multiplicidade de desejos e sentimentos, saberes e lugares, criando vínculos emocionais com a natureza e sendo capaz de reconstruir sua cidadania, com mais sabor, sentido e significado, na aplicação de conhecimentos ecológicos adquiridos, capaz de questionar, reconstruir ou preencher lacunas existentes entre a prática humana e os sistemas ecologicamente sustentáveis.

O projeto fomenta a apropriação do conhecimento e reescreve o currículo escolar quando atinge a comunidade por meio de: implantação de hortas caseiras em casas de alunos ou de hortas escolares em outras escolas parceiras ou comprometidas com a educação ambiental.

Seu desenvolvimento se dá de forma interdisciplinar, tendo a pesquisa como princípio educativo, onde realizamos estudo bibliográfico sobre a temática, pesquisa de material pedagógico, reuniões, formações, oficinas, mini-cursos, estágios, troca de experiências, cultivo prático de algumas hortaliças e o seu aproveitamento máximo no preparo de sucos, sanduíches naturais e refeições alternativas.

Atividades lúdicas, dinâmicas e interativas, despertam a sensibilidade e cooperam com o processo de conscientizar comunidades envolvidas a partir da realidade do ambiente dos alunos. A abordagem do lúdico chama envolvimento interdisciplinar e facilita a utilização de técnicas para o entendimento de questões ambientais, consequentemente, motiva a mudança de olhar e comportamento de professores e alunos, incluindo outros atores sociais na preservação ambiental.

Sabemos que a “brincadeira” é uma atividade inata ao ser humano, os jogos propiciam a simulação de situações-problema que exigem soluções imediatas. Planejam-se ações que também requeiram uma atitude positiva diante dos erros percebidos e que podem ser corrigidos, embora saibamos que a formação da consciência cidadã é um processo continuado de desenvolvimento humano.

Aproveitamos a cultura das brincadeiras locais, como a “corrida do bocó”, ou as mais tradicionais de roda ou cantadas, como a do “bom barqueiro ou passarás”, arrumamos espaços para o “cadinho de arte” e as expressivas paródias, recolocando a valorização dos recursos naturais, a expressão corporal, a percepção, a sensibilização e importância de uma alimentação natural, também como conteúdos.

As atividades desenvolvidas no projeto se estendem às Unidades Pedagógicas do Seringal e da Faveira, na ilha de Cotijuba, e a do Jamaci, na ilha de Paquetá, além da Escola Sede, na ilha de Caratateua. O projeto recebe visitas com ações práticas de cultivo com o preparo de sucos naturais envolvendo hortaliças e frutas regionais da época.

Reapresentamos aqui novas imagens das práxis desenvolvida na escola com turmas de educação infantil ao ensino médio profissionalizante, ampliando postagem anterior sobre Horta Escolar, para visualizá-la clique aqui:
Espaço Post-Scriptum

Por que reinterpretar as trilhas da escola? Toda pessoa escreve e reescreve o seu próprio lugar e tempo a partir de sentimentos, conceitos, princípios e valores que vão sendo constantemente ressignificados com a leitura de mundo e quer compartilhar saberes com outras pessoas. Com os recentes avanços tecnológicos e a ampliação das relações sociais na rede de computadores, começamos a remixar a realidade de forma mais participativa, dialógica, consciente e comprometida com tudo o que vivenciamos e repensamos em nosso cotidiano.
A arte de remixar essa realidade vívida modificou conceitos na arte de blogar na net, até chegando a twittar para melhor interagir conhecimentos, sentimentos, impressões e incluindo outros temas que rolam nas telas e aceleram a troca de idéias, informação, sensações, vivências e redimensionam o sistema nervoso da humanidade. Twittar é como remixar conceitos, saberes, conversas e humores on line. Nova escrita no ar.
O virtual se re-humaniza com os blog e mini-blog da virtuosidade humana. O problema para mim, neste momento, é arrumar o tempo para cuidar dessas dialogias que pululam na timeline, sei que tudo é uma questão de adaptação. Como melhor administrar o tempo diante de tantas prioridades, é o questionamento do momento que me faço e o desafio que me coloco a pensar.

Referências
ALVES, Rubem. A arte de produzir fome. Disponível em: http://rubemalves.wordpress.com/category/a-arte-de-produzir-fome/
CAPRA, Fritjof et al. Alfabetização ecológica: a educação das crianças para um mundo sustentável. São Paulo: Cultrix, 2006.
CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2008. 
ELIAS, Marisa Del Cioppo. Célestin Freinet: uma pedagogia de atividade e cooperação. 7 ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
FREINET, Celestin. Pedagogia do bom senso. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
_______. O método natural II: a aprendizagem do desenho. 2 ed. Lisboa: Estampa, 1977.
_______. O método natural III: a aprendizagem da escrita. 2 ed. Lisboa: Estampa, 1977.
MORIN, Edgar; LE MOIGNE, Jean-Louis. A inteligência da complexidade. 2 ed. São Paulo: Peirópolis, 2000.
SNYDERS, Georges. Alegria na escola. São Paulo: Manole, 1988.
Imagem 1:
Imagem 2: http://www.jardimplantasmedicinais.com/wp-content/uploads/2010/04/hortela.jpg

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