terça-feira, 21 de junho de 2011

Padrão de testes e a questão do não-aprender: médias ou situações marginais

[Clique na imagem para ampliá-la]. Quino, Toda Mafalda, p. 5.

Preocupa-me em ler tabelas e gráficos que estampam notas do alunado, escolas e sistemas. Ali os números falam das médias. Quando acompanhamos na escola os alunos que aprendem bem nos angustiamos com o não-aprender. E é aí que devemos reunir nossos esforços.

A média das escolas de "uma rede" gira em torno de 50% a 60%. Os números estatísticos variam percentual acima ou abaixo como margem de segurança. Neste perímetro, inclusive alunos que não vão tão bem no dia da prova oscilam por questão de humor ou saúde. Fora ainda a questão da inabilidade de manusear o cartão-resposta. Talvez, acrescenta-se ainda nesta margem mais 5%, além da margem do alunado com necessidades educacionais especiais.

Questão 1: Quem são estes alunos do miolo - da média? Há um perfil comum deles que se espalha nas diferentes escolas... a saber.

Material Dourado: possibilidades criadoras, contexto e lógica matemática
Questão 2: E os outros alunos dos 40% ou 50% que ficam à margem dos melhores resultados? Como aprendem? Programas de aceleração de aprendizagem atendem bem a qual objetivo? Espero que da felicidade de alunos e alunas, identificados em suas identidades ou respeitados em suas singularidades, as aprendizagens situadas e pelo objetivo das possibilidades criadoras e sonhos talvez.

A coisa fica mais feia quando nos deparamos com os resultados da matemática, a média de uma rede de escolas cai para 40% a 30% como segurança dos resultados mais bem-sucedidos.

Material Dourado e a (de)composição. Quantas dezenas tem em 2968?
O aluno responde? O professor conhece?
O que os números da matemática nos alertam? A dificuldade de pensar. Ainda mais quando descobrimos que os erros incidiram na questão da decomposição (contém – está contido – inclusão – agrupamento). Penso que o maior problema está mais é na “composição” desse conhecimento. Desconstruir saberes é ajudar o aluno no processo de andaimagem*, identificar o que o aluno conhece dentro dos saberes de seu cotidiano que permeiam seu fazer.

Qual é o grau de "consciência" e como fazê-lo tomar consciência do que sabe? Resgatar a auto-estima é um dos pressupostos. Aproximar-se do que sabem e gostam para ampliar o conhecimento do que sabem e gostam e ter gosto de ler, pensar e dizer. Saber ensinar é saber aprender e atuar na ZDP (zona de próximo desenvolvimento) de Vigotsky. Parece fácil nos discursos para alguns ou puro chavão para outros.

Se o teste é um padrão, o que está às margens dele? A escola sabe? O sistema sabe? Os avaliadores sabem? Como transformar esses saberes em conhecimento e melhor desempenho do alunado? Caso contrário, corre-se o risco de se procurar culpados e nada resolver.


Aprendizagem situada. Modelagem matemática. Textos matemáticos. Letramentos múltiplos. Leitura de mundo. A escola centra nos alunos que são da média, o erro é não olhar para o não-aprender.

Texto Matemático. (Quino. Toda Mafalda, p. 61). 
O discurso da escola é para alguns – de 30% a 60%. Varia de acordo com o lugar que ocupa esta escola. Do bairro e comunidade circundantes e a forma como lida com as emoções, as cotidianidades, as influências sociais e dentre elas, a violência que fica à margem dos padrões e belezas.

Material Cuisenaire: reguinhas coloridas, ideias matemáticas e equivalências. 
Sobem um pouquinho mais ou descem um pouquinho menos – previsível nas margens dos 10%. Margem estatística. Precisamos trabalhar a formação integral do alunado e continuada de educadores.

O que privilegiamos na escola, a formação da média ou a inclusão dos alunos que se situam na margem menos privilegiada? O que é mais difícil: dirigir o discurso aos alunos da média ou saber incluir todos no mesmo discurso? O que nos falta?

Quino. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 2003 (p. 63).


* Andaimagem é um conceito metafórico que se refere a um auxílio visível ou audível que um membro mais experiente de uma cultura pode dar a um aprendiz [...] em qualquer ambiente social onde tenham lugar processos de sociabilização. (Bortoni-Ricardo et. al., 2010, p. 26).


Referência
- BORTONI-RICARDO, Stella Maris; MACHADO, Veruska Ribeiro; CASTANHEIRA, Salete Flores. Formação do professor como agente letrador. São Paulo: Contexto, 2010.
FINO, Carlos Nogueira. Vygotsky e a zona de desenvolvimento proximal (ZDP): três implicações pedagógicas. Disponível em: http://www3.uma.pt/carlosfino/publicacoes/11.pdf

2 comentários:

  1. Fiquei aquí martelando meus neurônios, seguido da leitura desta postagem, procurando a resposta do que nos falta? O que me chamou a atenção nesta sua explanação foi a questão do real entendimento do nosso papel como educador. É preciso compreender o processo e buscar na sua potencialidade os caminhos que levam a uma compreensão, assim uma melhora no precesso de esnino e aprendizagem.
    Abraço
    Luiz

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  2. Pois é, Luiz,
    Muitas vezes a "simples" transposição didática da teoria nos parece tão complexa, como a questão de saber olhar como Wallon e saber escutar como Lacan, a fim de melhor intervir no processo, respeitando e movimentando as aprendizagens, de forma a chamar expressividades e a desafiar o melhor pensar.
    Constituimo-nos aprendentes nesse processo que tu também mencionas e acredita. A fórmula está na interação e na mediação.
    Abraço retribuído!

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