terça-feira, 7 de junho de 2011

Retratos do Bullying e acenos de paz: olhar da inclusão e suas traduções

Menino, 9 anos
O trabalho desta exposição adveio de duas turmas: uma de alunos de Ciclo I (1o. ano ou Alfabetização) e a segunda é de uma turma de Ciclo II iniciante (4o. ano ou 3a. série).


Na turma 1, as crianças de 6 anos assistiram ao vídeo "Convivência" e a turma viajou junta na narrativa e através das imagens do livro "A Tartaruga Infeliz", de Therezinha Casasanta, conta a história que uma tartaruga gostava dos lustrosos pelos do coelho e de uma cachorrinha, além da agilidade deles na locomoção. Até que, no meio do passeio dos três amigos, uma mudança inesperada do tempo fê-los perceber que o casco duro servia sim como uma boa sombrinha, protegendo a amiga da chuva. E, ao contrário, os pelos dos dois amigos como barbantes encharcados. E ela mesma não mais se achou bicho sem graça. E "se você conhecer uma tartaruga infeliz conte esta história".


Já o vídeo "Convivência", retrata a forma de tratamento de quinze passarinhos, muito dos mal-educados, para com o passarinhão desengonçado com suas altas pernocas, bastante simpático e que tanto queria ser amigo deles. Sem acordo!


A conversa deu gosto a todos. Muita gente queria falar e tudo teve que se organizar direitinho. Um falava e outros ouviam. Assim todos puderam falar e ouvir. Os dizeres continuaram dando vazão às memórias casadas ao novo exibido ou narrado e assim as narrativas adequaram-se aos limites do papel e traduziram a imaginação e a relação de cada aluno com as experiências em comum na sala de aula.


Na turma da tarde, ao contrário, os alunos assistiram às mesmas apresentações expostas nos dois post anteriores, aqui e aqui, cantaram as músicas da paz, representaram seus saberes e emoções e, por último, formaram grupos operativos na hora do recreio e realizaram trabalhos em suas equipes.


Agrupamos algumas ideias por aqui.


1. Primeiro, o olhar de dois queridos alunos com necessidades educacionais especiais:
A menina, de 7 anos, foca a violência estampada na figura de corpo larvário. Sentiu medo?
O menino, de 6 anos, dá corpo à violência central, porém, ladeada pelo círculo da amizade, antagonismo que se defronta com a representação da professora (maior círculo azul na roda). São figuras continentes circulares. Bela mandala. Bela composição! Conversa nos trinques ao gosto da representação.
Os alunos frequentemente fazem desenho para a professora, ou outro leitor, como nós virtuais. Poucas são as representações que trazem os corpos relacionais, ou seja, que os protagonistas da cena interagem entre si, vivem o enredo, sem se preocupar de se mostrar ao leitor. Olhar dramático, com mais sentido e que sabe mostrar o significado das relações humanas. Alguns detalhes caminham para essa troca.


2. Retratos para o leitor - corpos frontais e alguns ainda combinam elementos de perfil, mostrando transição, pequena rotação, porém, é conflito natural das representações iniciais:
Menina, 9 anos. Não resolve na imagem, único quadro e um só tempo,
o problema exposto entre dois personagens à esquerda.
Menina, 6 anos, proteção reforçada às mudas (arco-íris escuro)
Menina, 6 anos. Meninos e Meninas em Paz.
Menina, 9 anos.  Deboche e Dança: violência e paz. Como integrar?
3. Corpos Interativos ou Relacionais: personagens dramatizam suas relações (bom esquema corporal).
Menino, 8 anos. No primeiro quadro, representa a violência, no segundo, busca  recuperar a amizade.
Observa-se sequenciação. São os mesmos personagens (de perfil, de frente ou de costa). Estes ainda sem as mãos.
Menina, 9 anos. Briga e reconciliação em tempos diferentes. Mesmos personagens de perfil. Pés com movimentos coordenados. Mãos um pouco ocultas ou indefinidas. Braços desproporcionais.
4. Letramentos incorporados: signos culturais
Menino, 6 anos. Linguagem das placas de trânsito e metáfora do coração.
(5) Encontramos esta representação de um aluno batendo na professora. Mostra o motivo da violência no balão. Inquietante!
Aluno, 9 anos. De onde vem esta memória? 
Acontece? Esperamos que sejam somente exceções. E muito raras. Sabemos que há casos igualmente esdrúxulos, de filhos que batem nos pais. De qualquer forma é um alerta. Falar palavrão em sala de aula, ou mesmo adulto preconceituoso que ofende crianças não são bons exemplos de educação. É igualmente pernicioso sejam os "educadores" pais ou professores. Adultos são sempre referências para as crianças.


Que seja só mais um pesadelo de criança, daqueles depois de ouvir uma história horripilante contada à meia-luz pelos mais velhos da casa... E do tipo "matinta-perêra", "mula-sem-cabeça" etc.

3 comentários:

  1. Maria!

    Que trabalho maravilhoso. Não me canso de admirar sua preocupação com o bem-estar e a evolução destes alunos.

    Sobre os desenhos, é mesmo incrível como as imagens são capazes de expressar os sentimentos mais contidos, e de difícil acesso, né? Puxa, que bom que temos este recurso!

    Sempre dou uma espiada no seu blogue, porque sei que sempre encontro algo enriquecedor aqui!

    Parabéns!

    E vamos nos falando!

    Nanuka

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  2. Nanuka,

    Na escola, a gente aprende bastante com os alunos e alunas. A forma como expressão seus sentimentos e como pensam suas atitudes através deles.

    Lógico que sempre animados também pela nossa mediação pedagógica. Que já começa com a escolha dos recursos e seus objetivos.

    Depois é o cuidado na leitura combinando nossas tantas leituras sobre linguagens e saberes.

    Agradeço o carinho!
    E vamos por aí nestes caminhos virtuais nos inspirando, eu por lá no "De desenhos e livros".

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  3. Errata: onde se lê, no comentário acima, expressão - leia-se: expressam. rs!

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