As formas de saber são sempre e inevitavelmente locais, inseparável de seus instrumentos e de seus invólucros (Geertz, 1997, p.10).
Estou lendo os relatórios de professores/professoras e juntos re-olhamos a trajetória 2009.
Estou lendo os relatórios de professores/professoras e juntos re-olhamos a trajetória 2009.
Em uma das Unidades Pedagógicas da Escola Bosque, situada na Estrada do Poção que fica na Ilha de Cotijuba, encontram-se dentre alunos da Educação Infantil algumas crianças que nunca saíram do lugar de onde moram, sequer atravessaram o rio até o Distrito de Icoaraci, em Belém (PA). No começo do período letivo, em 2009, as crianças não se percebiam em um contexto ambiental, mesmo aquelas de séries mais adiantadas da turma multiciclada/multisseriada.
O projeto "Horta do Conhecimento" desenvolve ações com as crianças daquela localidade, que vão desde o cuidado com o ambiente, o preparo do solo, o cultivo orgânico de algumas hortaliças e a produção de lanches diferenciados, na época da colheita. É uma festa para as crianças que além do delicioso cachorro quente tomam suco verde da horta.
O projeto favorece o desenvolvimento da oralidade, a reconstrução dos processos de letramentos e narrativas, de forma lúdica e interativa, com o objetivo de cultivar o que é sagrado: a produção do alimento, o consumo de nutrientes, a (re)educação alimentar a revigorar as relações de interdependência a partir do locus regional, ou seja, de cada ponto das Ilhas onde estão situadas uma das Unidades da Escola Bosque.
As ações pedagógicas se efetivam durante todo o percurso, no entrelugar “da sala à horta”, de afetos e comunicações, observando os componentes naturais nesse caminho e entre trilhas desfilam fauna, flora, solo, vento, sol ou chuva, movimentos e sorrisos, gritos, falares e andares.
Lá na horta realizam-se práticas de cultivo desde o preparo do solo até a colheita, manuseios que dão vida aos sucos e sanduíches naturais, sopas e pratos feitos a partir de suas hortaliças, focando o valor nutricional, a importância da saúde e a compreensão da sustentabilidade. Aqui e ali são salas de aulas reconstruindo-se, olhar aberto às ações curriculares que se intensificam e fomentam competências e habilidades docentes favorecendo tessituras a subsidiar os conteúdos que se entrelaçam em saberes produzidos, conhecimentos discutidos e mediados na Língua Portuguesa, no Conhecimento Lógico Matemático, nas Ciências Naturais e Sociais, nas Artes, na Corporeidade, no Movimento, no Re-Pensar, no Sagrado, nas Representações, na Vida!
A comunidade participa de oficinas com o objetivo de reconhecer e melhor utilizar hortaliças e as frutas da própria localidade. As orientações valorizam a prática de cardápios com alto valor nutritivo e baixo custo, considerando a filosofia da escola de educar para a sustentabilidade.
Essa é a práxis de professoras preocupadas em dar significado às aprendizagens de alunos e alunas. Mas, sempre algo nos diverte no trabalho que realizamos com crianças.
A professora perguntou na turma, quase ao final do período letivo, o que é produzido na horta. Imaginem o que algumas delas responderam? Hortaliças? Alfaces? Hortelã? ... Pegaram naturalmente a professora de surpresa: “cachorro-quente!”. É o que faz a festa da colheita: sanduíches especiais.
É uma delícia trabalhar com as crianças, elas tornam o trabalho pedagógico mais lúdico e cheio de aprendizagens mútuas.
Você tem alguma tirada boa? Lembro-me das tiras das HQ, ou seja, os comics. Fico a imaginar nossa expressão... Como podemos trabalhar o conteúdo, as perguntas, as percepções, as linguagens, a retextualização?
O processo de ensino-aprendizagem é visto como um processo que se define não em função daquilo que o professor ensina, exemplifica ou dá asas aos diferentes laboratórios de aprendizagens, na escola ou na comunidade. Mas esse processo deve acontecer a partir do que os alunos são capazes de aprender.
- O que vocês querem aprender em 2010? É uma pergunta que guia toda uma avaliação diagnóstica que se antecipa às elaborações dos Projetos Pedagógicos. Importante para o exercício dos protagonismos.
Sobre sentidos e significados, Alves (1986) nos fala sobre uma filosofia culinária da educação, do saber-sabor, dos desejos, paladares e cheiros: “Não há palavra que possa ensinar o gosto do feijão ou o cheiro do coentro. É preciso provar, cheirar, só um pouquinho, e ficar ali, atento, para que o corpo escute a fala silenciosa do gosto e do cheiro... O que importa está para além da palavra. É indizível” (Alves, 1986, p. 92-3).
- Como a escola resgata os saberes locais durante a realização pedagógica? Como realiza a transposição didática?
- Como o cotidiano é organizado para melhorar a aprendizagem?
- Que tipos de saberes da Ilha, da Horta, da professora, dos alunos, seus olhares e percepções, a escola aprende a integrar, tecer, ressignificar e reduzir o distanciamento?
A horta tem gosto de cachorro-quente! Há algo que os professores precisam aprender com os cozinheiros; a horta do conhecimento é um lugar do saber-sabor! Viva!
Referências:
- ALVES, Rubem. Estórias de quem gosta de ensinar. 6 ed. São Paulo: Cortez; Autores Associados, 1986.
- GEERTZ, Cliford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
O projeto "Horta do Conhecimento" desenvolve ações com as crianças daquela localidade, que vão desde o cuidado com o ambiente, o preparo do solo, o cultivo orgânico de algumas hortaliças e a produção de lanches diferenciados, na época da colheita. É uma festa para as crianças que além do delicioso cachorro quente tomam suco verde da horta.
O projeto favorece o desenvolvimento da oralidade, a reconstrução dos processos de letramentos e narrativas, de forma lúdica e interativa, com o objetivo de cultivar o que é sagrado: a produção do alimento, o consumo de nutrientes, a (re)educação alimentar a revigorar as relações de interdependência a partir do locus regional, ou seja, de cada ponto das Ilhas onde estão situadas uma das Unidades da Escola Bosque.
As ações pedagógicas se efetivam durante todo o percurso, no entrelugar “da sala à horta”, de afetos e comunicações, observando os componentes naturais nesse caminho e entre trilhas desfilam fauna, flora, solo, vento, sol ou chuva, movimentos e sorrisos, gritos, falares e andares.
Lá na horta realizam-se práticas de cultivo desde o preparo do solo até a colheita, manuseios que dão vida aos sucos e sanduíches naturais, sopas e pratos feitos a partir de suas hortaliças, focando o valor nutricional, a importância da saúde e a compreensão da sustentabilidade. Aqui e ali são salas de aulas reconstruindo-se, olhar aberto às ações curriculares que se intensificam e fomentam competências e habilidades docentes favorecendo tessituras a subsidiar os conteúdos que se entrelaçam em saberes produzidos, conhecimentos discutidos e mediados na Língua Portuguesa, no Conhecimento Lógico Matemático, nas Ciências Naturais e Sociais, nas Artes, na Corporeidade, no Movimento, no Re-Pensar, no Sagrado, nas Representações, na Vida!
A comunidade participa de oficinas com o objetivo de reconhecer e melhor utilizar hortaliças e as frutas da própria localidade. As orientações valorizam a prática de cardápios com alto valor nutritivo e baixo custo, considerando a filosofia da escola de educar para a sustentabilidade.
Essa é a práxis de professoras preocupadas em dar significado às aprendizagens de alunos e alunas. Mas, sempre algo nos diverte no trabalho que realizamos com crianças.
A professora perguntou na turma, quase ao final do período letivo, o que é produzido na horta. Imaginem o que algumas delas responderam? Hortaliças? Alfaces? Hortelã? ... Pegaram naturalmente a professora de surpresa: “cachorro-quente!”. É o que faz a festa da colheita: sanduíches especiais.
É uma delícia trabalhar com as crianças, elas tornam o trabalho pedagógico mais lúdico e cheio de aprendizagens mútuas.
Você tem alguma tirada boa? Lembro-me das tiras das HQ, ou seja, os comics. Fico a imaginar nossa expressão... Como podemos trabalhar o conteúdo, as perguntas, as percepções, as linguagens, a retextualização?
O processo de ensino-aprendizagem é visto como um processo que se define não em função daquilo que o professor ensina, exemplifica ou dá asas aos diferentes laboratórios de aprendizagens, na escola ou na comunidade. Mas esse processo deve acontecer a partir do que os alunos são capazes de aprender.
- O que vocês querem aprender em 2010? É uma pergunta que guia toda uma avaliação diagnóstica que se antecipa às elaborações dos Projetos Pedagógicos. Importante para o exercício dos protagonismos.
Sobre sentidos e significados, Alves (1986) nos fala sobre uma filosofia culinária da educação, do saber-sabor, dos desejos, paladares e cheiros: “Não há palavra que possa ensinar o gosto do feijão ou o cheiro do coentro. É preciso provar, cheirar, só um pouquinho, e ficar ali, atento, para que o corpo escute a fala silenciosa do gosto e do cheiro... O que importa está para além da palavra. É indizível” (Alves, 1986, p. 92-3).
- Como a escola resgata os saberes locais durante a realização pedagógica? Como realiza a transposição didática?
- Como o cotidiano é organizado para melhorar a aprendizagem?
- Que tipos de saberes da Ilha, da Horta, da professora, dos alunos, seus olhares e percepções, a escola aprende a integrar, tecer, ressignificar e reduzir o distanciamento?
A horta tem gosto de cachorro-quente! Há algo que os professores precisam aprender com os cozinheiros; a horta do conhecimento é um lugar do saber-sabor! Viva!
Referências:
- ALVES, Rubem. Estórias de quem gosta de ensinar. 6 ed. São Paulo: Cortez; Autores Associados, 1986.
- GEERTZ, Cliford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
Salve!
ResponderExcluirEu adoro esses textos que nos levam a refletir sobre como estamos levando a nossa profissão de educador. Muito bom.
Bom dia para você.
Oi querida Maria! Saber com sabor, acredito muito nisso, professo e vivo isso desde sempre. Caminhos de descoberta e desafios para realizar um trabalho com essa fina sintonia com o que mobiliza crianças e adultos!
ResponderExcluirTem um selinho para vc no meu blog. bjin
Rocio, fiquei emocionada com este texto. Já pensou que maravilha se essas hortas se muitiplicassem por esse Brasil a fora? Principalmente nas cidades grandes como o Rio de Janeiro, naqueles colégios tradicionalíssimos em que uma criança ainda, em pleno século XXI, fica a maior parte do tempo sentada em uma carteira enfileirada sem poder dar asas à sua capacidade de aprender e de ler o mundo? Manoel de Barros diz que é necessário estar disponível para sonhar. Quando aprendi isso, percebi que, se temos tempo para sonhar, temos mais facilidade para aprender.
ResponderExcluirBeijinhos.
CURIOSIDADE: Vc já teve acesso ao Poeme-se ou só viu no meu blog?
Tati,
ResponderExcluirAdoro aprender com as crianças daqui das Ilhas paraoaras, elas sobem no pé de açaí brincando e depois infelizmente algumas acabam abreviando as delícias da infância e iniciam o trabalho na família, trazendo o açaí (sangue grosso que alimenta a paixão desse povo) - a que preço?
O "Poeme-se" eu tive o prazer de conhecer pelo Blog, mas, já está na lista do que quero ler em 2010. O título me faz viajar e imaginar o que irei encontrar. Darei notícias sobre a leitura.
Beijinhos!
Maria do Rocio
Oi, Rocio! Que bom saber que meu Poeme-se está na sua lista de leituras. É uma honra para mim. Se vc não tem o livro, mande-me seu endereço por email que lhe envio um exemplar. A tiragem está terminando e eu ainda tenho alguns em casa. Estou tentando fazer uma versão online. Depois te explico.
ResponderExcluirBeijinhos