Em uma de minhas visitas nas turmas, deparei-me com um grupo de alunos que estava reunido no ambiente do projeto "Asas da Imaginação". Aproximei-me e fiquei observando seus movimentos e conversas. São alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem.
Como psicopedagoga me preocupo com o processo de aprendizagem, o processo que o sujeito utiliza enquanto construtor de seu conhecimento. O contrário da aprendizagem é a não aprendizagem, e não a dificuldade de aprendizagem. Como vimos aperfeiçoando o olhar e a escuta sensíveis?
Como psicopedagoga me preocupo com o processo de aprendizagem, o processo que o sujeito utiliza enquanto construtor de seu conhecimento. O contrário da aprendizagem é a não aprendizagem, e não a dificuldade de aprendizagem. Como vimos aperfeiçoando o olhar e a escuta sensíveis?
As dificuldades de aprendizagem podem ser consideradas como sendo "fraturas no aprender", segundo a definição de Fernández (2001, p.52), "fomos estabelecendo uma diferença entre o fracasso de aprendizagem, ancorado no sistema educativo, o qual, por isso, preferimos chamar de fracasso escolar, e o fracasso na aprendizagem ancorado na criança e seu meio familiar. Reservamos o nome de problema de aprendizagem apenas para esse último". Diante disso me pergunto sobre o que fazemos, como educadores, com a criança que não aprende. Qual é a lógica de seu pensamento? E quais os saberes que vem acumulando?
No "Asas" e por cima das mesas agrupadas estavam letrinhas de plásticos avulsas e diversas, e reparei melhor e vi que um dos alunos mais irrequietos mexia com mais atenção. Fui conversar com as professoras que estavam na sala. E mesmo assim não tirava os olhos do menino e das letras nervosas.
No "Asas" e por cima das mesas agrupadas estavam letrinhas de plásticos avulsas e diversas, e reparei melhor e vi que um dos alunos mais irrequietos mexia com mais atenção. Fui conversar com as professoras que estavam na sala. E mesmo assim não tirava os olhos do menino e das letras nervosas.
Ele compôs com as letras, na horizontal, cinco vezes o seu segundo nome, como prefere ser chamado. O que achei interessante é que somente a letra D "maiúscula", bem central, aparecia invertida. Fui até à mesa e escolhi a letra "T" e inverti, colocando o traço horizontal para baixo enquanto montava uma outra palavra. Peguei o "Q" e fiz outra inversão. Ele me olhava. Ou melhor, olhávamo-nos um nos olhos do outro e com atenção nas letras a compor palavras. Bom jogo.
Aproveitei a deixa e perguntei a ele o que achava da disposição da letra "D" no nome dele. Disse-lhe que a forma da letra parecia como um pauzinho (reta) e uma bola (curva), e, sem modelos, perguntei sobre os seus saberes, se achava que a reta vinha antes ou depois da "bola", corrigi logo e falei "curva", ou ao contrário, primeiro a curva e só depois a reta (segmento de reta).
O aluno sem pestanejar disse-me que antes vem a "curva" para depois a reta. Madson acumula alguns insucessos pois é o mais velho de sua turma do Ciclo II (4o. ano ou 3a. série).
O aluno sem pestanejar disse-me que antes vem a "curva" para depois a reta. Madson acumula alguns insucessos pois é o mais velho de sua turma do Ciclo II (4o. ano ou 3a. série).
Pedi que fosse ao quadro e escrevesse o que ele me disse daquela letra de seu nome. O que ele fez? a letra minúscula. Essa era a sua lógica e por isso não estava com problema psicomotor ou de lateralidade. Sua teimosia tinha sentido sim, bastou que a gente pudesse vestir seus óculos.
Perguntei a ele se sabia o que eram letras maiúsculas e minúsculas. E tomei com referência a letra "B", e fiz notar pela sua descrição que ela tinha outra lógica e uma figura-ação diferente. E que tal falarmos de geometria (formas): semi-retas e círculos, esferas ou curvas..., de temporalidade (antes e depois) de posição (em cima, embaixo, acima, abaixo)? Mas, sem necessariamente didatizar, mas, saber conversar diante de um contexto como aquele. Quantos alunos estavam só nos observando ou dando seus palpites? E ele percebeu que se tentarmos descrever oralmente, na tentativa de fazer o outro entender, é bem diferente do que somente olhar ou montar a palavra. É um exercício que estimula o pensar para encontrar a melhor descrição do objeto. A lógica em ação na figuração.
Será que as professoras perceberam o raciocínio? Ao invés de dizer que ele estava errado e corrigi-lo, procurei antes da intervenção atuar na mediação, por processos de andaimagem, e assim saber o que Ele pensava da letra supostamente invertida, e pela quinta vez por sobre a mesa.
Recorro a Foucault para re-olhar a questão, o currículo da escola e suas verdades diante das realidades das crianças que se entrecruzam, e isto implica que nessa travessia possamos "pensar de outro modo o que já pensávamos ou perceber, desde um ângulo diferente ou mais preciso, o que já percebíamos".
- O que Madson ensinou? Talvez que temos muita pressa e com isso julgamos que eles é que estão errados ou não sabem escrever direito, atropelando seus movimentos de aprendizagens ou simplesmente dizemos que são tinhosos. A mediação faz aprender.
- O que Madson ensinou? Talvez que temos muita pressa e com isso julgamos que eles é que estão errados ou não sabem escrever direito, atropelando seus movimentos de aprendizagens ou simplesmente dizemos que são tinhosos. A mediação faz aprender.
Qual é a sua experiência acerca de aprender com alunos sobre algo que te parece um erro?
- O que te ensina o aluno que não aprende?
PARA SABER MAIS:
DAMÁSIO, António R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
DIMENSTEIN, Gilberto; ALVES, Rubem. Fomos maus alunos. 6 ed. Campinas, SP: Papirus, 2003.
FERNANDEZ, Alicia. Os idiomas do aprendente: análise de modalidades ensinantes em famílias, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2001.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 13 ed. São Paulo: Loyola, 2006.
TORRE, Saturnino de La. Aprender com os erros: o erro como estratégia de mudança. Porto Alegre: Artmed, 2007.
TORRE, Saturnino de La. Aprender com os erros: o erro como estratégia de mudança. Porto Alegre: Artmed, 2007.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Prática escolar: do erro como fonte de castigo ao erro como fonte de virtude. Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_08_p133-140_c.pdf.
MARCHESI, Álvaro. O que será de nós, os maus alunos? Porto Alegre: Artmed, 2006.
MARCHESI, Álvaro. O que será de nós, os maus alunos? Porto Alegre: Artmed, 2006.
Eu andei me estressando com o google porque o meu link saiu das páginas das pessoas. Quando tendo adicionar aparece uma mensagem dizendo "O proprietário desta página proibiu a sua entrada neste site".
ResponderExcluirNão sei como resolver porque as pessoas dizem que não me bloquearam, é muita gente. As que nunca havia adicionado eu consigo, mas as que já estavam adicionadas eu não consigo adicionar novamente.
E o carnaval ?
Oi Silvana!
ResponderExcluirO carnaval passo por aqui em casa mesmo, com alguns flash na televisão e outros mais nas leituras e nos relatórios de professores buscando sobretudo motivação para desenvolver um bom trabalho com as crianças, o verdadeiro motivo dessa dedicação. Ver um mundo mais humano e próprio para essas novas gerações e em harmonia com os outros elementos que compõem a Natureza. Assim consigo ser feliz e muito. Principalmente porque há "amor de muito" e respeito mútuo em casa, estímulo a mais recriar a amorosidade com o Outro. Sejamos felizes! E viva o Amor com mais alegria. Sempre!
olá, rocio.muito bem pensado este post.há pouco tempo fizemos uma discussão em HTPC de um texto da telma weiz onde ela aborda tópicos como este ( o que sabe o aluno que nada sabe),temos impressão que ele não aprende porque muitas vezes, na correria não paramos para fazer a mediação que você fez com o madson.tivemos ano passado uma turma de 6ªsérie com sérios problemas de aprendizagem.quando buscamos ajuda com as OTs da DE elas nos mostraram que eles sabiam uma porção de coisas que nós não enxergávamos. realmente, precisamos parar, prestar mais atenção ao que nos diz um aluno desses.é preciso muita paciência, dedicação e determinação.
ResponderExcluirgrande abraço vera
Este trabalho exige muita dedicação, experiência e amor. Beijos, amiga e obrigada por sua presença no Arca.
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