O projeto “Dança da Chuva: quinta estação” - concebido na poética do movimento a entrelaçar átomo, corpo e ecossistema, foi proposto pela professora de educação física que atuava, em 2009, diretamente com o alunado da educação infantil até o primeiro segmento do ensino fundamental. A quinta estação compunha o projeto “Átomo à biosfera”, pensado para a Feira da Cultura 2009, uma co-autoria a integrar professores das áreas de medicina veterinária, agronomia, engenharia ambiental, ecoturismo, educação física e envolver o alunado nesse pensar-fazer e na interpretação capaz de vincular os cinco ambientes recriados. Um laboratório vivo, aberto e interpretativo capaz de proporcionar muitas possibilidades de aprendizagem nas mais diversas áreas do conhecimento.
As relações de ensino e aprendizagem podem advir do imaginário do alunado, que também protagonizou as cenas, desenhando e recolocando problemas ambientais percebidos de forma a religar origem, corporeidade, ecossistemas, fatos, representações, conseqüências. Como o conhecimento se desdobra a partir dessas vivências? Desta forma o corpo docente da escola se anima a entrelaçar cenários e didáticas reconstruídos dos ânimos de seus interlocutores. Essas são as possibilidades amalgamadas, a exemplo dos múltiplos e alegres movimentos daquelas crianças e jovens que passaram pelas estações.
A quinta estação, aqui em destaque, inscreveu seu objetivo no intermédio da compreensão do próprio corpo (como sujeito, objeto e signo) e da necessidade do movimento humano elaborado na completa intimidade entre ser e estar presente que o capacita à interação profunda homem-natureza.
Metodologia desenhada: A estação cinco, “Dança da chuva: poética do movimento”, propôs o fechamento da caminhada do conhecimento sobre o átomo (desenvolvida antes pelos outros professores), em experimentações expressivas evocadas e vividas pelos educandos individualmente e em grupo numa dança-jogo utilizando o ritual primitivo da “dança da chuva” num espaço concebido cenicamente entre as trilhas da escola. É uma atividade rítmica de improviso corporal e sonoro.
A trilha utilizada foi “Etenhiritipa – Darö wihã”, canto de iniciação dos índios Wapté, Brasil. Após as experimentações é feito registro com transposição da linguagem corporal para linguagem das artes plásticas, desenho ou linguagem escrita.
Avaliação da professora: "a participação dos alunos foi muito significativa com seus questionamentos, embaraços, negações por estarem vivendo uma nova experiência corporal. Se autocensuravam com vergonha, depois que compreendiam a proposta ficavam mais à vontade e alegremente participavam. Parecia algo inusitado para eles e provocou nova ordenação criativa na expressividade do gestual no espaço levada até a transposição de linguagem". Interessante também foram os alinhavos com as questões ambientais quando a professora mostrava a imagem dos homens e a terra seca e devastada (Imagem 1) estimulando a livre associação com os conhecimentos já adquiridos. Assim considera que foi uma excelente e prazerosa experiência que viveu na área da inter e transdisciplinaridade com seus colegas professores e os alunos.
Para a professora, houve também a bonita e necessária inter-relação com os funcionários da escola. A concepção cênica e montagem do espaço contaram com a participação especial de um colega dos serviços gerais, que após conversar com a professora sobre o trabalho acrescentou idéias, coletou e confeccionou o material junto com a professora coadunando suas experiências estéticas. Resultou no ótimo trabalho ofertado a toda comunidade escolar que dela participou.
Encaminhamento didático:
Quero pedir-lhe que escreva um poema. Um pequeno poema com 5 linhas ou mais se você quiser. É simples... são seus sentimentos com a experiência vivida! Precisamos de você. Escreva, ouse, não se censure. Eu ajudo: olhe a foto, feche os olhos e relembre tudo o que viu e viveu desde o início de todo o trabalho, ao abri-los comece a escrever... Sem medo!
O que eles viveram antes da quinta estação? Vivenciaram brevilóquio a partir do som impactante do "big bang"; de olhos vendados, andavam descalços na trilha interpretativa especialmente preparada, no bosque da escola, pela professora de turismo e seus alunos, desfile de sensações, cheiros, texturas, percepções e sentimentos enquanto iam sendo conduzidos por alunos ou alunas do ensino médio e técnico até o espaço da “Dança da Chuva”.
Algumas das escritas vívidas e representativas dos ciclos iniciais (da educação infantil ao primeiro segmento do ensino fundamental), respeitando registros originais, sem trabalhar aspectos discursivos e processos de retextualização, pretextos pedagógicos pensados a interlocutores proficientes aqui personalizados:
Emylin: “Eu sitim medo e alegria. Natureza e vida e boa para caba atriteza, Eu seque si doprobemas”.
Eduardo: “Os idos dasuão e acradese a deus”.
Jennyfer: “Eu me senti tão legal fazendo essa dança que eu fiquei tão impressionada que eu me senti uma deusa do sol”.
Hellen: “Nesse desenho, eu acho que os homens destruíram tudo e querem de volta”.
Nathalia: “Lá dentro fez um barulho muito alto, mas no final eu balancei o meu esqueleto. Foi muito legal”.
Suzielly: “Eu percebi que os zomis estão dasado a musica dos índios”.
Fabiana: “Eu vivi uma grande emoção, ouvi uma grande explosão, pizei no baro”.
Warlene: “Eu sinto que os povos e homes estão muitos triste”.
Paulo Victor: “Os homens estão triste e estão batendo no chão com os galhos de árvore”.
As reflexões ali naqueles cenários preparados com carinho alinhavaram a pauta dos conteúdos sobre o aquecimento global e algumas de suas consequências:
- Aumento do nível dos oceanos: com o derretimento das calotas polares provocado pelo aumento da temperatura no mundo, tende a aumentar o nível das águas dos oceanos, podendo ocorrer, futuramente, a submersão de muitas cidades litorâneas.
- Crescimento e surgimento de desertos: desmatamento e queimadas somam ao aumento da temperatura, provocam a morte de várias espécies animais, vegetais e desequilibram vários ecossistemas contribuindo para o fenômeno da desertificação.
- Aumento de furações, tufões e ciclones: o aumento da temperatura potencializa esses tipos de catástrofes climáticas, porque o aquecimento faz com que ocorra maior evaporação das águas dos oceanos.
- Ondas de calor: muitas regiões de temperaturas amenas têm sofrido com as ondas de calor.
Assim hoje nos perguntamos: “2010, ano da biodiversidade: o que eu tenho a ver com isso?”.
Somos interdependentes: O que aprendemos com as crianças e os jovens nos “bancos” das escolas? O que é preciso para que cada aluno acredite que também pode ensinar? O que é aprender a aprender?
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Imagem 2: http://2.bp.blogspot.com/_WyQoRnesiRA/S87sazJ-0vI/AAAAAAAABE4/tu2bMwXBRF4/s1600/chu.jpg
Imagem 3: http://www.iande.art.br/musica/etenhiritipa.htm
Imagem 4: http://www.videonasaldeias.org.br/2009/video.php?c=65
Olá, Maria! Passei só pra dar um beijinho. Depois eu vorto pra ler com calma!
ResponderExcluirChêro!
Que linda experiência... bjos
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