domingo, 15 de agosto de 2010

Quando o corpo fala: a interdisciplinaridade em jogo de emoções

Da conversa entre a professora de educação física e o professor agrônomo, apaixonados pela vida e cinéfilos de carteirinha, durante uma carona para a escola, surgiu a idéia de criar e ofertar alternativas diferentes na semana de “jogos educativos” - da escola que atuamos. Os jogos foram realizados em duas semanas distintas: uma para o alunado da educação infantil ao primeiro segmento do ensino fundamental. E na outra semana, exclusiva para o alunado do segundo segmento ao ensino médio, incluindo a EJA.

E daí você pode nos perguntar o que a proposta tem a ver com a educação física? Assim como a da postagem anterior? Quem sabe ao final possa também redefinir os sentidos da prosa e os significados recolocados. As aprendências nascem nessas trocas de percepções...

Dentre os objetivos desejados pela professora, redefino a pluralidade e a bricolagem de sonhos, projeções e ação, com a apresentada em seu relatório: “ressignificar as atividades físicas e promover novas leituras de mundo através dos meios tecnológicos como o cinema, dvd, computadores e os rituais do próprio corpo e suas emoções”.

- Como foi desenvolvido o programa para o alunado da segunda semana?

- Em cinco sessões, uma a cada dia, ocupando somente um período diurno, e com a duração de 3 horas. Cada sessão em 3 etapas: a) vivências corporais - jogos expressivos, por 30 minutos; b) sessão de filmes com duração de 90 minutos; c) responder a um questionário intitulado “jogo da emoção”.

Olha a programação dos filmes escolhida pela dupla vibrante, cuja resenha aqui transcrevo, com pouquíssimas interferências:

1º dia: O Cortejo – Cirque Du Soleil: o corpo em perfomance.

A técnica, o domínio, o treinamento e a disciplina com arte. O fascínio do novo circo ecologicamente sem animais.

2º dia: Hair

Musical, produzido em 1979, retrata as profundas mudanças sociais, o movimento hippie, a guerra do Vietnam, rebeldia e ideais dos jovens dos anos 60 e 70. Proibido no Brasil, só foi liberado nos anos 80. Duas canções tornaram-se ícones culturais, como “Let the Sunshine In” e, principalmente, “Aquarius”. A cena de um dos jovens em jeans, camiseta e tênis imundo, dançando em cima da mesa de um importante jantar também se tornou ícone no mundo todo. A rebeldia e a transgressão dos jovens da época, no Brasil foi retomada numa propaganda de tênis esportivos e fez grande sucesso nos anos 90/2000.

3º dia: Flash Dance

Outro musical, este de 1983. Traz o problema da moça pobre, dos subúrbios, que de dia trabalha como soldadora numa construtora e de noite dança num cabaré esperando a oportunidade de um teste que possibilite abraçar a carreira da dança erudita de forma séria e respeitada. As poucas oportunidades dos jovens pobres das periferias, os sonhos, a discriminação das carreiras artísticas e a importância da determinação e persistência para mudar de vida. O tema principal “Flash dance” também se tornou uma das canções mais conhecidas e dançadas do mundo.

4º dia: West Side Story

Terceiro musical (1961). Traz a intolerância racial entre os jovens dos países ricos e dos países pobres. Jovens dos guetos americanos contra os jovens imigrantes porto-riquenhos. A violência das gangues de rua. Considerada uma releitura “moderna” de Romeu e Julieta, de Shakespeare. No Brasil, recebeu o nome de “Amor sublime amor” e a trilha musical principal também eternizada dentre as canções de amor mais conhecidas no mundo.

5º dia: Bad (Michael Jackson).

Clip de 1987. Apresentado na íntegra. A inspiração poética na abordagem da mudança de comportamento do jovem do subúrbio que concluindo o ensino médio e valorizando a escola, volta para o gueto onde mora e se depara com os amigos ainda com comportamento marginal. Discriminado e desafiado adota uma postura falsa de criminalidade e desmascara os amigos. Luta entre o bem e o mal, as escolhas dos jovens, a auto-afirmação. Seu sucesso e sua obra são considerados de grande valor por promoverem a integração racial. Sua música e dança influenciaram muitos artistas do soul, jazz, hip-hop e música popular no mundo todo.

A terceira parte, a escrita, como proposta de aproximação semiótica e discursiva, para a assistência interlocutora expressar o vivenciado ali, teve como título o “Jogo da Emoção – Quando o corpo fala...”, organizado em duas colunas, com frases incompletas a insinuar complementação, espaço aberto de dizeres - olhares, silêncios, escritas: “EU SENTI...”, e na segunda coluna: “E PRECISO FALAR SOBRE...”. Abaixo, vinha escrito: Classificação/Importância, incentivando opiniões.

Temas relacionados com a escola, a vida e os problemas que hoje enfrentamos. Após a escrita, houve reflexões em conversas informais, para falar, ouvir ou debater impressões, expressões, percepções...

A intenção era criar outro espaço para vivenciar a experiência de educação para o sensível, para a paz - como proposta interdisciplinar relacionada aos jogos internos. Outra opção pensada para alunos que não participam dos jogos. Alguns docentes também se fizeram presentes nas programações ofertadas.

Na avaliação do público presente, o evento deve se repetir.

- O que o cinema tem a ver com a educação física e nas semanas de jogos escolares?


Imagem 1: http://terrydoesart.blogspot.com/2009/06/3-piece-jazz-10x12-acrylic-on-stretched.html
Imagem 2: http://www.nytimwa.com/2006/09/29/arts/design/29pica.html?_r=1
Imagem 3: http://portuguesbrasileiro.istockphoto.com/stock-illustration-1511367-free-flow-jazz.php

4 comentários:

  1. Oi, Maria

    Excelente projeto! E melhor ainda ver os professores trabalhando juntos em favor do aprendizado dos alunos.
    Parabéns pelo trabalho!

    Um forte abraço!

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  2. Oi Max!
    O legal foi também perceber a presença de outros professores, bem envolvidos e dali saiu um outro projeto transdisciplinar, apresentado na semana da cultura, envolvendo um grupo maior de professores da área de exatas, humanas e biológicas e alunos do ensino médio e técnico, denominado "Do átomo à biosfera". Boa parte da comunidade escolar adorou vivenciar este outro trabalho. Falarei em outra ocasião.

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  3. Maria,

    Vai dar outro post muito bom. Tenho certeza.
    Tomara que todos os professores, não só os da sua escola, consigam se adaptar e aprendam a trabalhar juntos. Todos têm a ganhar com isso.
    Vou ficar na espera do próximo post...aliás, como sempre.

    Um forte abraço

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  4. Max,
    O que mais dignifica o trabalho é o envolvimento do alunado, quando chamado como protagonista, no pensar a ação junto com professores atuando com a comunidade. A seriedade se mistura à alegria e contagia a todos com conhecimento e simpatia. Eles se envolvem e assumem compromissos no fazer pedagógico. Chamam seus colegas a participar. É a hisatória de que o maior marketing é o do boca-a-boca. Muito bom perceber isso, com muita espontaneidade.

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