terça-feira, 27 de abril de 2010

O clic do sapo leitor: viagens literárias, deleites e coisas e tal


Encontrei um espaço para o sapo leitor em minha casa... Era uma personagem que habitava a modesta biblioteca. Presente de há um tempo atrás. Gostei do pleonasmo (sic). Vício mantido. E continua entre os livros e as idéias.

Com ele ali ajeitado entre as plantas, e bem em cima da sacada de meu quarto, pude viajar em seu folhear...

Cheguei até Quintana, passando por Bandeira, Belinky e Caparelli. Imaginei tantos outros sapos revisitados, reinventados, incorporados, desenhados, assustados, felizes, surpresos...

Quantos risos e quantas alegrias.

O livro “Sapo Amarelo” de Quintana, em pequenos fragmentos, traz recordações de infância. Em cada frase uma agradável surpresa. E nada passa despercebido - uma paisagem depois da chuva, um amanhecer, o vento, a noite, os fantasmas, o sonho, o amigo, uma rãzinha verde, e o tal sapo amarelo... Você já leu?

E Tatiana Belinky, tão inusitada, tão musical, tão cheia de brincadeiras nos declama e encanta, pois,

“O sapo levou toda a prole
Para comer rocambole
É mole?”

Sérgio Caparelli, com seus sapos inventores, nos faz descobrir sonoridades, rimas, cadências.

“Eu sou o Sapo Inácio,
inventor do saponáceo.
Sou a Sapa Tuca,
inventei a sapituca.

Eu, a Sapa Tília,
descobri a sapatilha.

Apresento-me: sapo Antão,
criador do sapatão.

- E o sapo que aí está?
- Não sou sapo, sou sabiá,
Cê sabia ou não sabiá?

E Manuel Bandeira (1918) nos diverte ainda mais...

OS SAPOS
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
-"Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!"
- "Foi!"
- "Não foi".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…"

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei"
- "Foi!"
- "Não foi!"
- "Foi!"
- "Não foi!".

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- "A grande arte é como
Lavor de joalheiro.


Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
- "Sei!"
- "Não sabe!"
- "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio…


Estamos aqui nesta parte de Belém, entre asfaltos e prédios, a ouvir os sapos da memória através desse sapo da varanda, de livros, contos, poesias, plantas, ondas, águas e sonhos.

Ih! Vamos parar a conversa, pois, fui interrompida por um pernilongo ou, como se diz por aqui, neste pedaço paraoara, por um carapanã.

:-)

4 comentários:

  1. Amei esta postagem. Assim que eu fotografar algum sapo a postagem será em homenagem ao SAPO LEITOR.
    Um grande abraço e obrigada pelas visitas.

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  2. Que delícia, Daniela!
    Fiquei bem curiosa para ver a sua versão do Sapo Leitor. :-)

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  3. Boa Tarde!
    vi,agradecer sua visita ao toque e te oferecer o selo de 25 mil visitas e o selo do dia das mães também.
    Tenha um fds abençoado e cheio de graça
    com carinho
    san

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  4. Professora, muito prazer em conhecê-la, sou Cora, entrei aqui por acaso e me identifiquei com seu trabalho, e não por acaso, sua descrição é um poema da incrível Cora Coralina....!!
    Muito prazer, estarei sempre por aqui!!!
    Cora.

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